Os produtos de limpeza e higiene podem estar a tornar as bactérias resistentes aos químicos e antibióticos, pelo menos na Inglaterra. Um estudo feito pelas Universidades de Birmingham e Warwick, que recolheu amostras de solo em muitos locais, mostra que existem níveis altos de bactérias com genes resistentes a antibióticos.
Segundo a investigação, os amaciadores, desinfectantes, champôs e outros produtos de limpeza estão a promover a resistência das bactérias. “Todos os anos, a nação [Inglaterra] produz 1,5 mil toneladas de esgotos fabris em que a maioria acaba espalhada na terra agrícola”, disse William Gaze da Universidade de Warwick. O investigador explicou que esses resíduos contêm bactérias resistentes a antibióticos cujo crescimento é desencadeado pelos detergentes. “Ainda para mais, lançamos todos os dias 11 mil milhões de litros de água a partir das casas e das fábricas para os rios e estuários, o que também espalha a resistência.”
A investigação debruçou-se principalmente no ião de amónia, que é muito utilizado nos produtos de limpeza. Em altas concentrações não há dúvida que o composto mata os microorganismos, mas no sistema de esgotos a substância fica diluída o que permite às bactérias criarem resistências.
“Isto é a evolução natural em movimento”, disse Gaze ao jornal “Guardian”. “Se outras bactérias são mortas, as que são resistentes à amónia vão sobreviver e, sem competição, vão multiplicar-se rapidamente. No entanto, o pedaço de ADN que confere esta resistência também contém genes que dão resistência aos antibióticos.”
Os antibióticos utilizados de uma forma irresponsável ou padrões de higiene baixa no dia-a-dia dos hospitais deixam assim de ser as únicas causas para o desenvolvimento de microorganismos multi-resistentes. “A nossa investigação mostra que a resistência aos antibióticos não está reduzida aos hospitais. Está espalhada e a cada momento está a erodir a nossa capacidade de controlar infecções”, explicou ao “Guardian” Liz Wellington, professora e investigadora em Warwick e também responsável pelo estudo. “É extremamente preocupante”, concluiu.
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