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terça-feira, 28 de agosto de 2018

Lista - Plantas de Sombra



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Lista - Plantas para Margens Rípicolas


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Lista - Plantas por nome cientifico e por família


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Resumo - Morfologia da Planta - Caule


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Resumo - Morfologia da Planta - Raíz

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Resumo - Morfologia da Planta - Folha


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Resumo - Morfologia da Planta - Flor


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Resumo - Morfologia da Planta - Fruto


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Resumo - Polinização e Fecundação

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Resumo - Morfologia e Fisiologia Vegetal


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Documento - Forma das Folhas


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domingo, 19 de agosto de 2018

Fotografias da Natureza








Macrofotografias

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Fotografias da Natureza








Macrofotografias

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Fotografias da Natureza








Fotografias da Natureza







Fotografias da Natureza








Fotografias da Natureza








quarta-feira, 15 de agosto de 2018

Powerpoint - Reino Monera



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Vigilantes do ambiente


Numa fase em que os avanços tecnológicos parecem imparáveis, a utilização de líquenes para monitorizar a qualidade do ar pode parecer uma prática retrógrada. O biólogo Jorge Nunes mostra como estas fascinantes manchas vivas têm vindo a afirmar-se na monitorização ambiental e a conquistar seguidores em Portugal.

A maioria dos líquenes assemelha-se a salpicos de tinta que parecem ter caí­do de uma tela de pintura, formando manchas coloridas espalhadas ao acaso pela paisagem. São organismos bastante ubíquos, encontrando-se desde os píncaros mais agrestes das montanhas geladas até às inóspitas zonas das marés, ao nível do mar, onde apenas organismos altamente especializados conseguem sobreviver à dureza da rebentação das ondas e à ininterrupta alternância entre o mundo terrestre e aquático. Com as suas múltiplas cores e formas geralmente bizarras, qualquer superfície lhes serve de suporte, desde o património natural (rochas, troncos de árvores, etc.) ao construí­do pela mão humana (monumentos, muros, telhados, etc.).

Ainda que a maioria das pessoas já tenha reparado nestas curiosas pinturas abstractas, estão longe de imaginar que, por detrás daqueles borrões, se escondem curiosos seres vivos que se contam entre os mais antigos da Terra. Custa a acreditar que aquelas estranhas manchas possam nascer, crescer e reproduzir-se como a maioria das plantas e dos animais que conhecemos, mas quanto a isso parece não haver quaisquer dúvidas. Aliás, as curiosidades dos líquenes não se ficam por aqui, pois julga-se que possam existir actualmente mais de 15 mil tipos de “manchas”, ou seja, mais de 15 mil espécies de líquenes, cada uma com os seus segredos e especificidades.

A palavra “líquen” tem a sua etimologia no grego e significa literalmente “musgo das árvores”. Foi utilizada pela primeira vez por Teofrasto (372–287 a.C.) para se referir aos organismos que cresciam sobre as cascas das oliveiras. Até ao século XVIII, os líquenes foram incluídos no reino das plantas, mais propriamente no grupo dos musgos. Contudo, com a evolução da tecnologia e concomitantemente das ciências biológicas, por volta de 1869, o botânico alemão Schwendener desvendou uma das mais fascinantes características dos líquenes, constatando que não são um único organismo, mas a associação de dois seres vivos diferentes que se ajudam mutuamente, vivendo em estreita cooperação. Esta descoberta foi tanto mais importante quanto a constatação de que os organismos que constituem o líquen são oriundos de reinos diferentes: geralmente, uma alga verde (pertencente ao reino dos protistas) e um fungo (reino dos fungos). Actualmente, sabe-se que os líquenes até podem envolver seres de três reinos distintos, uma vez que as algas verdes poderão dar lugar a (ou coexistir com) cianobactérias, também conhecidas por “algas azuis”, que pertencem ao reino Monera.

Os líquenes surgem em quase todos os ecossistemas da Terra, desde os desertos gelados dos pólos às regiões áridas e escaldantes dos trópicos. Esta capacidade de sobreviver em condições extremas advém-lhes do facto de serem organismos simbióticos, que resultam da união e cooperação de vários parceiros. Existe um fungo, também denominado “micobionte”, a que se juntam um ou mais indivíduos fotossintéticos, chamados “ficobiontes”, como as algas verdes (que estão presentes em cerca de 85 por cento das espécies de líquenes) e as cianobactérias (que surgem em aproximadamente 10% dos líquenes). Os restantes 5% resultam da presença simultânea de dois tipos de ficobiontes (Protistas e Moneras).

A que se ficará a dever esta associação tão estranha entre dois seres vivos tão diferentes? A resposta em relação ao fungo é relativamente óbvia: ele recebe do parceiro fotossintético os compostos orgânicos necessários para a sua nutrição. Contudo, a forma como retira os nutrientes do ficobionte é pouco condizente com o que seria de esperar de uma união coo­pe­rativa. O enlace entre os dois seres não é propriamente uma romântica história de amor, pois começa com o fungo a capturar do meio as algas que mantém cativas no seu interior.

Como se não bastasse a reclusão das algas, o fungo ainda desenvolve filamentos sugadores que penetram no ficobionte e extraem dele a preciosa seiva que lhe vai servir de alimento. Esta aparente submissão do ficobionte ao micobionte levou vários investigadores a considerar os líquenes mais como um exemplo de parasitismo, onde o fungo nitidamente explora a alga, do que um caso de cooperação. Só que, embora se torne mais difícil enumerar os ganhos para o ficobionte, eles na realidade também existem. As algas são organismos muito frágeis e dependentes da água, que jamais sobreviveriam durante muito tempo sem a protecção dos filamentos do fungo (que evitam a exposição à luminosidade intensa e a desidratação resultante das temperaturas elevadas).

Esta, no entanto, parece ser uma relação perversa e um verdadeiro casamento por interesse. As algas e os fungos parecem viver em equilíbrio precário, pois se fornecermos ao fungo condições nutritivas ideais, tais como hidratos de carbono dissolvidos, ele não se preocupará mais com a alga, acabando por asfixiá-la. Do mesmo modo, a alga apresentará vida livre na presença de condições ideais de luminosidade, disponibilidade de água e sais minerais. Perante estes factos, há quem defenda que a liquenização só se justifica quando os dois organismos encontram condições relativamente desfavoráveis que os impedem de sobreviver sozinhos.

Contudo, convém não esquecer que o líquen possui a sua própria individualidade, pelo que faz muito mais sentido analisar os benefícios do líquen como um todo do que as vantagens parcelares dos organismos que o constituem. É a união de dois seres vivos tão distintos que confere aos líquenes a resistência a condições ambientais totalmente adversas e faz deles espécies pioneiras em ambientes inóspitos (como é o caso das ilhas vulcânicas ou de qualquer outro lugar da Terra onde exista vida), criando as condições necessárias à fixação progressiva de espécies vegetais e animais cada vez mais complexas, num processo denominado de “sucessão ecológica”. Nesses lugares hostis, o fungo, sozinho, não conseguiria obter as substâncias nutritivas de que necessita e as algas, isoladas, seriam rapidamente destruídas. Juntos podem conquistar novos biótopos que de outro modo lhes seriam completamente interditos e isto traz-lhes manifestas vantagens.

Manchas vivas
Embora os líquenes sejam vulgarmente referidos como “manchas vivas”, convém esclarecer que nem todas as 15 mil espécies surgem sob a forma de manchas e, mesmo quando isso acontece, apresentam formas e cores muito variadas. Quem nunca reparou nos estranhos “cabelos” esverdeados que pendem dos ramos de diversas plantas ou nas ramificações multicolores que decoram os monumentos e os troncos de muitas árvores?

No que respeita às cores, vão desde o vermelho ao azul, passando pelo verde e o amarelo. Para além das cores padrão, apresentam uma enorme diversidade de tons que variam de espécie para espécie e dentro da mesma espécie em função do substrato onde se fixam.

Quanto à morfologia, podem considerar-se três tipos de líquenes: incrustados (semelhantes a manchas), folhosos (imitando folhas) e fruticolosos (idênticos a pequenos arbustos). As espécies incrustadas formam uma crosta colada ao substrato, geralmente rochas e cascas de árvores, estando por isso bem adaptadas para sobreviver nas mais extremas condições ambientais e tornando difícil ou impossível a sua remoção sem destruir a estrutura do líquen. Os líquenes folhosos, como sugere o seu nome, assemelham-se a pequenas folhas e encontram-se fixos ao substrato de forma mais ténue. Quanto aos fruticulosos, parecem pequenos arbustos mais ou menos ramificados que se encontram fixos ao substrato de forma bastante incipiente. Estes últimos si­tuam-se entre os maiores dos líquenes, podendo atingir dois metros de comprimento.

Os três tipos de líquenes não são apenas distintos do ponto de vista morfológico, mas a sua organização estrutural condiciona igualmente muitas das suas características, como, por exemplo, a longevidade. Assim, os líquenes fruticulosos, como a Cladonia, vivem no mínimo dez anos, enquanto os incrustados, como o Rizocarpon, podem ultrapassar um século de vida. Quando os líquenes vivem tantos anos, geralmente possuem um crescimento muito lento, que é muitas vezes inferior a um milímetro por ano. Nas espécies foliáceas, de que é exemplo a Peltigera, que apresentam uma longevidade intermédia, o crescimento é mais rápido, podendo atingir os três centímetros anuais.

Ao contrário da maioria dos seres vivos, não é fácil dizer quando é que um líquen está morto, dado que, mesmo quando totalmente seco durante vários anos, bastarão algumas singelas gotas de água para fazê-lo “ressuscitar”. Esta notável capacidade de passar rapidamente a um modo de vida retardado inibindo as funções vitais, devido à perda repentina da maior parte da água da sua constituição, poderá ser um dos mais significativos aspectos que têm contribuído para o sucesso dos líquenes. É esta invulgar capacidade que permite a algumas espécies suportar um frio próximo de –196 ºC e a outras temperaturas de cerca de 100 ºC, sendo quase todas resistentes a temperaturas que oscilam entre os –20 ºC e os 70 ºC.

Os líquenes incrustados, que se desenvolvem sobre as rochas nos desertos, podem mesmo sobreviver vários meses num estado totalmente dessecado. Conseguem retirar da humidade atmosférica ou do orvalho matinal uma quantidade de água suficiente para reactivar as suas funções vitais durante um curto período de tempo, antes do calor tórrido voltar a bloqueá-las.

Curiosamente, também ao nível estrutural o fungo tem a supremacia, pois é dele que depende em grande medida o aspecto do líquen. Assim, o micobionte ocupa a maior parte do líquen, dando-lhe forma, enquanto as algas e as cianobactérias se distribuem mais ou menos homogeneamente pelo seu interior. Esta localização interna leva a que também ao nível da reprodução o líquen pouco ou nada dependa do ficobionte, cabendo essencialmente ao fungo a produção de estruturas reprodutivas, quer sexuadas, quer assexuadas. Devido a esta hegemonia do fungo na relação simbiótica, os líquenes passaram a ser considerados e classificados como um grupo particular de fungos, com várias peculiaridades biológicas.

Inspectores da qualidade do ar
Por volta de 1866, o liquenologista escandinavo Nyland notou que alguns líquenes observados em certas árvores nos arredores urbanos de Paris não eram encontrados nas mesmas espécies arbóreas que estavam plantadas no centro da cidade. Deduziu que, apesar de essas espécies já terem existido nos parques e jardins citadinos, teriam desaparecido devido à acção de poluentes que foram contaminando progressivamente a atmosfera. A partir daí, veio a comprovar-se que os líquenes são susceptíveis aos gases atmosféricos, dado que absorvem e acumulam os poluentes, podendo servir como indicadores biológicos da qualidade do ar.

Embora tenham sido capazes de se adaptar a ambientes inóspitos e de sobrevivência difícil, os líquenes não são indiferentes às condições do meio. São extremamente sensíveis às variações da poluição atmosférica, em especial à provocada pelo dióxido de enxofre, sendo esta a principal causa da regressão e do desaparecimento de diversas espécies em várias regiões urbanas e industrializadas da Europa.

O dióxido de enxofre, embora possa ocorrer naturalmente na atmosfera, é um poluente que resulta essencialmente da queima de combustíveis fósseis utilizados em diversos processos industriais e dos gases libertados pelos escapes dos veículos. Trata-se de um gás incolor, irritante para as mucosas dos olhos e das vias respiratórias, podendo ter, em concentrações elevadas, efeitos agudos e crónicos na saúde humana, nomeadamente ao nível cardiovascular e do aparelho respiratório.

A eleição dos líquenes como bioindicadores não foi feita ao acaso, mas resultou, essencialmente, das suas peculiares características e exigências ecológicas. De entre as mais importantes, salienta-se não possuírem camadas protectoras (que são comuns nas folhas das plantas); não terem raízes e não retirarem do substrato os seus nutrientes (captando-os, essencialmente, da atmosfera); produzirem o seu próprio alimento através da actividade fotossintética das algas que os constituem; apresentarem crescimento ao longo de todo o ano; serem bastante resistentes às condições atmosféricas de humidade e temperatura adversas; possuírem uma ampla distribuição geo­gráfica; serem fáceis de identificar e estudar; terem a capacidade de acumular poluentes atmosféricos e apresentarem grande sensibilidade às variações da contaminação do ar.

Os poluentes atmosféricos induzem vários efeitos nos líquenes, que vão desde a redução do potencial reprodutivo e a diminuição do crescimento até às modificações morfológicas e às alterações fisiológicas (ao nível da fotossíntese e da respiração). Portanto, as diferentes espécies de líquenes não reagem do mesmo modo à contaminação atmosférica e desse modo a vitalidade e abundância de uma dada espécie permitirá estimar a quantidade de poluentes e a respectiva qualidade do ar.

A sensibilidade dos diferentes líquenes aos poluentes atmosféricos está bastante dependente do tipo de líquen, uma vez que, como facilmente se percebe, os líquenes fruticulosos e folhosos, porque possuem uma área de contacto com o ar muito maior, são geralmente mais sensíveis e mais utilizados. Pelo contrário, as espécies incrustadas, devido à sua grande adesão ao substrato, apresentam uma menor área de contacto com o ar e com as eventuais substâncias químicas que aí surjam, sendo o seu efeito mais difícil de observar, dado que o organismo demorará mais tempo a reagir à sua presença.

Embora as máquinas de medição atmosférica sejam muito mais precisas na quantificação dos poluentes, jamais conseguirão demonstrar o impacte dos valores medidos nos seres vivos que habitam nesses locais. Assim, em pleno século XXI, em que os avanços tecnológicos parecem imparáveis, a utilização dos líquenes para monitorizar a qualidade do ar continua a conquistar seguidores e parece apresentar evidentes vantagens, que não são de menosprezar. Mencione-se, entre outras, a facilidade de utilização, o baixo custo, a obtenção rápida de resultados e o facto de permitir o acompanhamento da evolução da qualidade do ar num dado local, através da variação da variedade e da vitalidade das espécies liquénicas. Um outro benefício, referido amiúde pelos investigadores, relativamente a este “método natural”, é não permitir apenas determinar a qualidade do ar (inferindo a quantidade de poluentes existentes num dado local), mas mostrar claramente os seus efeitos nos seres vivos.

Isto não significa que a biomonitorização ambiental (recorrendo aos líquenes e musgos) deva substituir a monitorização física (realizada através de estações de amostragem constituídas por tecnologia muito avançada e com elevados custos de aquisição, instalação, operação e manutenção), mas que seja entendida como um seu complemento.

Diz-me que líquenes vês...
Embora os líquenes possam ser muito fiáveis como bioindicadores, é necessário conhecer muito bem a morfologia e a fisiologia das espécies que são usadas, de modo a que as interpretações ecológicas sejam consideradas válidas para um dado local, isto porque estes organismos não se comportam exactamente da mesma forma em todos os locais onde surgem. Este facto obriga a que as conclusões de estudos liquénicos realizados numa dada região ou país não possam ser directamente extrapolados para outros locais sem antes garantir que o comportamento dessas espécies é similar.

Quando os investigadores pretendem utilizar uma determinada espécie de líquen para estudos de poluição atmosférica e ela não existe nesse local, podem fazer transplantes a partir dos lugares onde a espécie se desenvolve com vitalidade. Esta técnica de transplantes tem demonstrado enorme fiabilidade, uma vez que, desta forma, é possível utilizar espécies amplamente testadas, conhecendo-se, desde o início, o modo como elas se comportam em determinadas condições atmosféricas durante vários meses ou até anos. Durante esse período, os cientistas monitorizam parâmetros como as alterações morfológicas, ultraestruturais e fisiológicas dos líquenes e a acumulação de substâncias contaminantes.

Para a utilização dos líquenes como bioindicadores da qualidade do ar, recorre-se geralmente a escalas qualitativas que permitem relacionar a ausência/presença de determinadas espécies e a sua vitalidade (dimensões, estruturas reprodutoras, etc.). Contudo, de modo a obter dados fiáveis e representativos das áreas em estudo, é necessário utilizar escalas adaptadas a essas mesmas regiões, tendo em conta a diversidade de espécies liquénicas e as condições climáticas.

No caso de Portugal, uma equipa de investigação coordenada por Cecília Sérgio, da Faculdade de Ciências de Lisboa, iniciou trabalhos de campo em 1978 e tem produzido vários estudos nos quais são utilizados os líquenes (e briófitos) como indicadores biológicos da poluição atmosférica, designadamente na região de Lisboa e Vale do Tejo. Na sua peugada, muitos outros investigadores têm realizado diversos estudos um pouco por todo o país. Um dos mais propalados foi o projecto SinesBioar, um estudo de monitorização e gestão da qualidade do ar da região de Sines, em que se empregou a diversidade de líquenes e a acumulação de substâncias tóxicas (enxofre, azoto, chumbo, cobre, níquel, alumínio, ferro, titânio, silício, magnésio, manganês, cobalto, mercúrio, cálcio, potássio, cádmio) como indicadores da intensidade e do tipo de contaminação atmosférica. Através do estudo dos líquenes, foi possível elaborar mapas que mostraram ao redor de Sines e expandindo-se para Sueste, no sentido dos ventos dominantes, a distribuição dos poluentes.

Se quiser saber a qualidade do ar que se respira num dado local, basta fazer um pequeno passeio e prestar atenção aos troncos das árvores. Se observar muitos líquenes, isso é um bom sinal, principalmente se forem fruticulosos. É caso para dizer: diz-me que líquenes vês, dir-te-ei o ar que respiras!


J.N.
SUPER 154 - Fevereiro 2011

terça-feira, 14 de agosto de 2018

Vídeo - Tecnologia de ponta para preservar património


O laboratório Hércules, em Évora, utiliza tecnologia de ponta para conhecer e preservar o património. Através das técnicas utilizadas podemos ficar a conhecer os segredos que se escondem num quadro ou a melhor forma de restaurar e preservar uma peça.
Nos seus laboratórios pode-se descobrir que pigmentos foram utilizados por um determinado mestre para elaborar um quadro, ou que desenho fez na tela ou na madeira antes de colocar a tinta. Pode-se ainda ajudar a identificar a autoria de uma pintura ou escolher o corante que deve ser utilizado na recuperação de um tecido.

São muitas as técnicas utilizadas neste laboratório criado em 2009 pela Universidade de Évora. Os equipamentos permitiram já a intervenção em vários restauros por todo o país e o seu objetivo é tornar-se uma infraestrutura de referência dedicada ao estudo, conservação e valorização do património cultural.

segunda-feira, 13 de agosto de 2018

Powerpoint - Reino Fungi

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Matriarca do ambiente



Judith Cortesão: do Porto para o resto do mundo
É difícil encontrar, no Brasil, um ambientalista que não se sinta devedor do legado de Judith Cortesão. No entanto, a vida aventureira desta portuense tem muito mais facetas, convergindo num ponto focal: Judith era uma entusiasta da felicidade geral.

Até à década de 1970, nenhuma criança sabia o que era ecologia, poluição, etc.”, dizia, em 2000, a ambientalista Judith Cortesão, constatando com algum optimismo a clara mudança de mentalidade ambiental que ocorreu nas décadas seguintes. Se a transformação não estava ainda perto de resolver todos os problemas ecológicos, ela era, para esta incansável luso-brasileira, “a maior força de esperança de um futuro em que haja mais dignidade para todos os seres e mais paz entre os homens”.

Através da “formação de quadros”, como gos­tava de dizer, da criação e concretização de projectos nas mais diversas áreas, das pes­qui­sas realizadas ou das batalhas empreendidas em nome da conservação e da integração, Ju­dith (que morreu aos 92 anos, em 2007) foi uma das grandes pioneiras desse processo no Bra­sil, com uma trajectória que lhe rendeu o ape­lido de “matriarca do ambientalismo brasileiro”.

Mas mesmo com o destaque cada vez maior dado aos assuntos ecológicos em todo o mundo e após uma eleição presidencial em que os temas “verdes” pautaram como nunca o debate político brasileiro, o nome de Judith Cortesão manteve-se, de modo geral, restrito aos círculos ambientalistas no Brasil, apesar de os seus feitos serem visíveis por todo o país. Em Portugal, de modo semelhante, pouco se sabe de Judith para além do facto de ser filha do historiador Jaime Cortesão ou de ter sido casada com o filósofo Agostinho da Silva.

Judith não procurava fama ou dinheiro, mas apenas concretizar os seus projectos e mudar as mentes, levasse isso o tempo que levasse. E assim participou, citando uma pequena parte dos seus feitos, em expedições à Antárctida, na concepção de organizações não-governamentais como o SOS Mata Atlântica e o Instituto Acqua, na criação de diversas reservas ecológicas e na redacção da Constituição do Brasil no capítulo dedicado ao meio ambiente, além de ter sido consultora da UNESCO, representante do Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional do Brasil (SPHAN), professora de pós-graduação em educação ambiental na Universidade Federal do Rio Grande (Rio Grande do Sul) e muito mais.

Vida de aventura
Para Judith, a vontade de acção, a militância e a busca de aventuras nunca se desligaram de uma insaciável sede de conhecimento. Ao longo da vida, frequentou seis cursos universitários (medicina, letras, biblioteconomia, antropologia, climatologia e meteorologia), estudou desde a espeleologia à história e aprendeu 14 línguas, incluindo árabe e chinês. Mas a sua incrível trajectória começara muito antes de tudo isso, ainda no Portugal do início do século XX.

Cidadã de ideias mais do que de países, como a definiu o intelectual português Manuel António Pina, Maria Judith Zuzarte nasceu no Porto em 1914 e teve uma vida digna de filme. Ainda jovem, mudou-se para Paris, onde cursou letras na Sorbonne, voltando a Portugal para continuar os estudos em Lisboa. Por pouco tempo: perseguida pelo governo de Salazar, a família Cortesão muda-se para Barcelona nos anos 30. Durante a Guerra Civil, o edifício em que vivem é bombardeado e Ju­dith fica ferida num braço. A família foge para França, atravessando os Pirinéus a pé. “Ela muitas vezes me contou dos horrores que presenciou na Guerra Civil. Com certeza foi o despertar da ambientalista, estrategista devota pela preservação da vida em todas as suas formas”, diz Manuel Touguinha, amigo próximo de Ju­dith e seu parceiro em projectos no Brasil a partir dos anos 90.

No fim dos anos 30, Judith é presa pelo regime salazarista quando regressa a Portugal, mas foge da prisão, e em seguida do país, regressando a Espanha. É nessa época, já durante a Segunda Guerra Mundial, que a família se transfere para o Brasil, onde recebe asilo e onde Jaime Cortesão se dedica aos estudos da história do país. Nesse período, convivem com importantes nomes da intelectualidade brasileira, como Manuel Bandeira, Murilo Mendes, Sérgio Buarque de Holanda, Assis Chateaubriand e Cecília Meireles, o que viria a influenciar muito a formação de Judith.

No Brasil, Judith casa com Agostinho da Silva, que também abandonara Portugal perseguido pelo governo de Salazar. Nos anos seguintes, o casal tem seis filhos e mora sucessivamente no Rio de Janeiro, em Itatiaia, em Santa Catarina e também no vizinho Uruguai.  Ali, já separada de Agostinho, durante o regime militar, no início dos anos 70, Judith é novamente presa e torturada, sob a acusação de estar ligada aos guerrilheiros tupamaros. “Contava que deixava os torturadores mais agressivos, porque nos interrogatórios ela dormia profundamente, de propósito, e não sentia os golpes de tortura”, conta Touguinha.

Após passar pelo Chile, pelo Peru e possivelmente por muitos outros lugares (nunca parou muito tempo no mesmo sítio), Judith regressa a Portugal e vive intensamente os dias da Revolução dos Cravos. No final dos anos 70, volta ao Brasil, onde se estabelece e, já com mais de 60 anos, mas com o espírito aventurei­ro de sempre, começa a sua trajectória mais directamente ligada ao ambientalismo.

Ambientalista educadora
Em tudo o que fazia, Judith carregava um persistente optimismo e um olhar profundamente humanista. Com uma visão sempre à frente do seu tempo, compreendeu e difundiu a necessidade de preservação ecológica antes mesmo de o ambientalismo se tornar um movimento organizado, em meados dos anos 80.

E preservar, para ela, significava pensar o homem integrado na natureza, sabendo das necessidades humanas e do dever de melhorar a qualidade de vida, principalmente num país tão desigual como o Brasil. “Nunca vi a Judith dizer: vamos salvar tal coisa em detrimento daquela população. Ou seja, se for preciso desmatar alguma coisa para poder plantar, porque não se tem o que comer, ela achava isso possível”, diz o ambientalista Theodoro Hungria, discípulo de Judith e seu parceiro em projectos no cerrado do país.

Assim, de facto, definir Judith apenas como “ambientalista” ou “ecologista” parece excluir as suas incontáveis outras facetas, ­áreas de interesse e de actuação: a antropóloga, a historiadora, a bióloga ou a médica (idealizou um dos mais importantes centros de formação de médicos na renomada rede de hospitais Sarah Kubitchek). Mas, para ela, falar em ecologia incluía tudo isso e muito mais; incluía animais e homens, natureza e sociedade, desenvolvimento e conservação, já que não compartilhava de uma visão segmentada do mundo. “Tudo era uma grande teia da vida. Nada estava separado e tudo se unia”, explica Touguinha.

Bom exemplo dessa visão é o seu depoimento para o documentário Intérpretes do Brasil, no qual explica aspectos da colonização brasileira e da mentalidade portuguesa da época a partir da beleza da ecologia marinha: “Os relatos [dos portugueses] falam da transparência das ondas e dos pequenos peixes rubros. Aquelas ilhas representavam o triunfo da vida sobre a matéria (...), eram cheias de coisas extraordinárias. Tudo isso é natural que tenha levado os navegadores ao mito, que tenha feito com que o Brasil, pela circunstância do esplendor e da variedade de sua paisagem, virasse a terra, por excelência, do mito.”

É difícil encontrar entre os mais importantes ambientalistas brasileiros de hoje (nas ONG, nas universidades, no governo, etc.) quem não tenha tido alguma influência, directa ou indirecta, de Judith. A sua vontade de formar “agentes multiplicadores de educação ecológica”, fossem crianças ou jovens universitários, moradores das comunidades, políticos e gente variada, parece ter resultado.

Legado de direitos e deveres
“Ela nunca falava com o cargo, ela falava com a pessoa. Então, era um relacionamento humano, em todos os sentidos. Você via almirantes trocando confidências com a Judith da mesma maneira que o pescador, um indígena ou um ambientalista. E essa facilidade dela de falar com as pessoas e ir encantando, isso teve um peso muito grande”, diz Clayton Ferreira Lino, presidente da Reserva da Biosfera da Mata Atlântica, um dos projectos que teve a mão de Judith.

O seu encanto fazia parte da sua estratégia. E com essas estratégias Judith foi criando infindáveis projectos ao longo da vida. Quando eram tantos que não podiam ser executados pela própria criadora, Judith instigava os seus discípulos a levá-los por diante. “Todos os dias nascia um projecto novo”, conta Touguinha. E foi com ele, em 1998, que a senhora Cortesão se mudou para Ilópolis, uma pequena cidade de colonização italiana no Sul do Brasil, onde concebeu, além de projectos ecológicos, a recuperação dos históricos moinhos de farinha da região.

Já muito doente e fragilizada, Judith muda-se para a Suiça em 2002, para cuidar da saúde e para “estar com os meninos”, já que a maioria de seus filhos vivem na Europa. Em 2003, ainda regressou ao Brasil para receber do presidente Lula da Silva a Grã-Cruz da Ordem do Mérito Cultural Brasileiro, o que fez com grande satisfação e a sensação do dever cumprido. Em 2007, morreu na Suiça, sem deixar fortuna (fora a grandiosa colecção de livros e de artesanato), mas legando muitos olhos abertos para “o esplendor da vida no planeta”, e atentos para os deveres que este esplendor implica.

M.G.F.
SUPER 154 - Fevereiro 2011

sábado, 11 de agosto de 2018

Powerpoint - Evolução dos Sistemas de Classificação

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O que diz a Antárctida



Estudar o aquecimento global no meio do gelo
Durante um mês, acompanhámos o trabalho e partilhámos o frio com os cientistas norte-americanos na base polar Palmer, onde se estudam os efeitos das alterações climáticas.

Da ponte do navio oceanográfico, vemos surgir seis construções de metal ondulado à luz cremosa do amanhecer. Chegámos à mais pequena das três estações de investigação norte-americanas na Antárctida, a mais distante do Pólo Sul geográfico. Ancorada num promontório rochoso na encosta do glaciar Marr, nas margens da ilha de Anvers, a Base Palmer assenta num pedaço de gelo fendido onde nem uma avioneta pode aterrar. É difícil conceber um local mais solitário e isolado.

Este reduto da civilização existe desde 1974 para estudar a comunidade biológica da península antártica, a mais rica do continente branco. Durante um mês, convivemos com as dezenas de pessoas que se dedicam a conhecer a reacção de um ecossistema particularmente sensível à mudança climática, desde a forma como afecta uma simples molécula de água até uma baleia. Alguns dos cientistas já visitam regularmente esta animada estação há quatro décadas.

Devido a diferentes circunstâncias oceanográficas, atmosféricas e geológicas, a península antárctica está a aquecer até cinco vezes mais depressa do que o resto do planeta. Através do projecto Investigação Ecológica a Longo Prazo (LTER, nas siglas em inglês), coordenado pelo Marine Biological Laboratory (MBL) do Massachusetts, procura-se compreender como irá reagir o resto do globo. Os resultados obtidos em Palmer ao longo de várias décadas são tão exactos e minuciosos que têm constituído a base de diversas legislações e acordos internacionais.

Manda o gelo
Equipados com laboratórios relativamente complexos e seis lanchas Zodiac, os biólogos estudam, ao longo de quase todo o ano, a evolução de aves e peixes, mamíferos marinhos, fitoplâncton, crustáceos, invertebrados, bactérias e o zooplâncton conhecido por krill, principal fonte de alimento dos habitantes do extremo sul do planeta. Observam igualmente as alterações produzidas na composição química da água, o modo como a luz a penetra e a estrutura dos glaciares.

“A resposta reside no gelo”, assegura Hugh Ducklow, investigador principal em Palmer e director do Centro de Ecossistemas do MBL, que se dedica há décadas ao trabalho de campo na zona. “Quando o seu volume aumenta ou diminui, as alterações químicas, físicas e biológicas associadas a essa variação afectam o planeta a nível global. Configuram a base de muitos processos, numa cadeia que começa no mar e na atmosfera e termina nas nossas despensas e bolsas.”

A diversidade biológica da península antárctica e das suas águas costeiras evoluiu no contexto de um clima que permaneceu relativamente estável durante milénios. Aqui, onde a profundidade do mar desce, abruptamente, dos 700 para os 3000 metros, a corrente circumpolar antárctica despeja na superfície gigantescas quantidades de nutrientes. Esse “tapete rolante” aquático que rodeia o continente, com a força e o caudal equivalentes aos dos dez maiores rios do mundo multiplicados por cem, recebe água quente dos outros oceanos e transfere a temperatura para o litoral da península antárctica.

“É neste lugar que principia o efeito dominó”, explica Chris Neill, do MBL. “A brancura do gelo reflecte em direcção à atmosfera 80 por cento dos raios solares, e evita assim que estes aqueçam o planeta. Porém, com a redução da camada de gelo, a água absorve o calor solar e o degelo aumenta, o que faz subir, por sua vez, a temperatura do mar. Deste modo, o ciclo é reforçado: é aquilo a que chamamos ‘amplificação polar’. Por exemplo, o glaciar Marr chegava, anteriormente, a escassos metros dos laboratórios de Palmer. Agora, encontra-se a três quilómetros.”

Icebergues do tamanho de países
Por sua vez, Ducklow avisa que, se o aquecimento prosseguir, “a temperatura invernal subirá acima do ponto de congelação em mea­dos deste século, um acontecimento que provocará enormes alterações no ecossistema”: “O gelo que cobre a superfície marinha diminuiu cerca de 40%, e o tempo de duração dessa camada viu-se reduzido em 80 dias. Nos últimos 25 anos, desprenderam-se plataformas de gelo de tamanho semelhante a pequenos países, como a Larsen B e a Wilkins (de 150 por 110 quilómetros).” Este declínio afecta várias frentes, incluindo as aves marinhas voadoras e os pinguins, que habitam a tripla fronteira entre o gelo, o ar e a água.“

Aqui, havia uma colónia de pinguins-de-adélia (Pygoscelis adeliae); ali outra e, acolá, mais outra”, assinala a bióloga Kristen Gorman enquanto caminhamos, com a neve pelos joelhos, no meio das afiadas arestas de granito da ilha de Torgersen. “Nesta zona, chegaram a viver cerca de 9000 casais; agora, restam menos de 2000. É frustrante”, queixa-se, enquanto inicia uma rápida contagem dos membros da colónia. Com pouco mais de quatro quilos e uma altura de 70 centímetros, o Pygoscelis adeliae é uma das duas espécies de pinguins autóctones do gelo antárctico (a outra é o imperador, Aptenodytes forsteri). Habitam ilhas rochosas no meio do manto de neve e os seus ninhos cónicos são feitos de pedras.

Detemo-nos diante de uma comunidade com cerca de 500 casais, em pleno processo de nidificação. Há um forte odor a guano no ar, mas as biólogas nem se apercebem disso. Machos e fêmeas, alguns com o peito manchado de excrementos, fazem turnos para chocar os seus dois ovos. Colocam-nos mesmo no meio de uma dobra de pele abdominal, revestida de uma espessa rede de vasos sanguíneos que transferem o calor para o ovo. As primeiras crias da estação estão a nascer neste preciso momento; o débil piar perde-se entre o estridente clamor dos adultos, que, surpreen­den­temente, se reconhecem pela voz.

“Os pinguins precisam dos blocos e das extensas camadas de gelo que cobrem o mar para descansar sobre eles. Além disso, se houver menos gelo, são obrigados a nadar para mais longe para obter krill, pois esses crustáceos põem os ovos sob a água em estado sólido”, explica Gorman. Os pinguins-de-adélia formam uma das espécies mais robustas do planeta: parecem esferas de músculo sólido e conseguem nadar quase 6000 quilómetros durante as migrações invernais. Todavia, estão a ficar encurralados pelo aquecimento.

Descobertas inesperadas
“Não se trata apenas da comida”, indica Bill Fraser, director da investigação sobre estas aves, acrescentando: “Com menos gelo, há mais evaporação, o que se traduz num aumento das quedas de neve durante o Verão, a qual se acumula em locais protegidos do vento. É aí, precisamente, que as colónias tendem a estabelecer-se. Quando vem o sol, a neve derrete, inunda os ninhos e mata tanto os ovos como as crias recém-nascidas.”

Alguns exemplares migraram em direcção a Sul. Todavia, como adverte Fraser, há-de chegar o momento, à medida que as temperaturas continuarem a subir, em que já não terão mais Sul para onde ir. Até agora, apenas os 300 mil casais que habitam a península antárctica estão em perigo. Os outros 2,2 milhões de pinguins-de-adélia, distribuídos por outras zonas, encontram-se a salvo. “Mas por quanto tempo?”, interroga-se o especialista. Enquanto diminui a população dos pinguins-de-adélia, aumenta a do pinguim-gentoo (Pygoscelis papua), de bico vermelho, uma espécie subantárctica destas aves esfenisciformes que evita o gelo, pois depende das águas limpas para obter alimento.

O território onde os cientistas da base Palmer desenvolvem as suas actividades já não é o mesmo. “Em apenas 30 anos, assisti à transformação do sistema polar em subantárctico”, explica Fraser. “A lição número um é que os habitats podem mudar num nanossegundo. Os animais, as plantas e os insectos do planeta já estão a adaptar-se a uma alteração climática moderada, adiando as datas de migração ou os ciclos de acasalamento e floração. Os organismos que não se adaptam desaparecerão em muito pouco tempo.”

A confluência de diferentes instrumentos e disciplinas na estação está a dar frutos. Por exemplo, se não seguisse a pista dos pinguins, outro grupo de biólogos não teria descoberto que o fitoplâncton (algas fotossintéticas das quais se alimenta o krill) está a mudar a sua localização na coluna de água. “Descobrimos que, na ausência de gelo, grande parte desse plâncton vegetal tende a concentrar-se nos íngremes declives subaquáticos. O Slocum Glider, um robô autónomo que vai obtendo todo o tipo de parâmetros oceanográficos durante semanas, só teve de seguir os pinguins marcados com transmissores controlados por satélite para descobri-lo. É o género de interacção que enriquece a ciência moderna”, esclarece Alex Kahl, da Universidade de Rutgers (Nova Jersey).

O Slocum Glider é um sofisticado tubo amarelo carregado de sensores. Em 2009, uma versão relativamente maior fez história após atravessar, de forma autónoma, o Atlântico, entre Nova Jersey e os Açores. A versão antárctica ajudou Kahl e o seu colega Brian Gaas a recolher informação sobre a geologia local e a verificar o estado de saúde dos nutrientes marinhos.

“O robô está equipado com um sistema que dispara impulsos de luz ultravioleta”, explica Gaas. “Se estiverem em boas condições, os minúsculos seres vegetais reagem e absorvem ou reflectem os flashes. Usamos também uma grua com sensores para determinar, até aos cem metros de profundidade, até onde penetram os raios solares, assim como os níveis de salinidade e temperatura.” Esses parâmetros são cotejados com outros, como a concentração e a qualidade do krill e das bactérias e a alimentação dos pinguins. A informação ajuda igualmente a interpretar os dados fornecidos pelos satélites.

Um dos elementos essenciais é a quantidade de azoto, na forma de nitrato, que se encontra dissolvida na água. “Esse sal é consumido pelo fitoplâncton, que produz clorofila. Na gíria científica, é costume dizer que é o elemento que determina o seu crescimento. Por isso, é preciso medir a concentração de azoto quase diariamente”, afirma Maggie Waldron, uma jovem bióloga do MBL.

Costeletas de porco e vinho tinto
Sob a neve e as rajadas de vento, ajudamos Maggie a recolher as amostras de água a cinco profundidades diferentes (entre os dez e os 50 metros), sempre nos mesmos dois locais. “Trata-se de verificar o que acontece com os microrganismos (por exemplo, as bactérias), à medida que o Verão avança e tanto a concentração de azoto como os restantes parâmetros se alteram”, explica a bióloga.

De regresso ao laboratório, tiramos o incómodo fato que nos permitiria flutuar no caso de cairmos nas águas gélidas (estão a um grau negativo) e começamos a processar as amostras antes de as condições ambientais em que foram recolhidas se alterarem demasiado. Depois, voltamos ao conforto da estação. O almoço consiste em costeletas de porco acompanhadas de vinho tinto. As grandes janelas da cantina dão para a baía, povoada por blocos de gelo esculpidos em formas caprichosas. Três baleias-corcunda deixam ver as suas caudas dentadas enquanto se aproximam do cais. “A grande diferença em relação aos outros mares é que o plâncton vegetal só pode introduzir biomassa no sistema quando há luz suficiente, isto é, durante o Verão austral. Isso significa que se produz, na época estival, uma enorme alteração energética que penetra na cadeia alimentar”, explica Alex Kahl.

“Isso leva-nos a pensar na variação dos níveis de gelo formados sobre o mar”, prossegue este perito em ecossistemas polares, enquanto observo os cetáceos com os binóculos. “Os pinguins-de-adélia precisam de uma plataforma gelada para repousar durante as suas expedições em busca de alimento. Todavia, nos últimos tempos, essa camada começou a deslocar-se para Sul, onde chega menos luz do Sol. O problema é que será difícil, nessas zonas mais austrais e sombrias, prosperar o plâncton vegetal responsável pela função da fotossíntese.”

O dia extingue-se numa claridade leitosa tingida de tons alaranjados, rosa e violeta. O fulgor estival coloca os investigadores sob o risco de sofrerem de extremo cansaço: esquecem-se, simplesmente, de dormir. Os 35 comensais dispersam em todas as direcções. Uns vêem vídeos sentados em cómodos sofás de pele; outros tiram fotos das mil faces do gelo; há os que escrevem diários e os que marcam encontro no fumegante jacuzzi voltado para a baía.

Os peritos em baleias ainda não chegaram à estação. Ao longo dos anos, aprenderam a ajustar as suas deslocações e horários aos das baleias-corcundas. Todavia, este ano, os cetáceos parecem ter-se antecipado aos humanos. Será melhor os cientistas adaptarem os seus itinerários aos novos ciclos biológicos.

A.P.S.
SUPER 154 - Fevereiro 2011

quinta-feira, 9 de agosto de 2018

Powerpoint - Critérios de Classificação dos Seres Vivos

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Temos um ano para salvar o Planeta

A comunidade internacional foi advertida, esta segunda-feira, na abertura da conferência sobre alterações climáticas, em Poznan, oeste da Polónia, de que dispõe de um ano para se reunir e salvar o Planeta de um aquecimento fatal.

No encontro foi lançado um apelo para que seja concluído, no fim de 2009, em Copenhaga, um acordo global ambicioso no intuito de travar as alterações climáticas, apesar das dificuldades agravadas pela crise financeira.

Perante 9.000 delegados, cerca de 185 países reunidos a partir de hoje, e até 12 Dezembro, para a XIV Conferência das Nações Unidas sobre Alterações Climáticas, o presidente dos trabalhos e anfitrião do encontro, o ministro do Ambiente polaco, Maciej Nowicki, considerou que "a humanidade, através dos seu comportamento, já levou o sistema do Planeta ao seu limite".

"Continuar assim provocaria ameaças de uma intensidade nunca vista: enormes secas e inundações, ciclones devastadores, pandemias de doenças tropicais (...) e mesmo conflitos armados e migrações sem precedentes", afirmou, aconselhando os negociadores a não "cederem aos obscuros interesses privados (quando) devemos modificar o perigoso rumo que a humanidade tomou".

O presidente do Grupo de Peritos sobre a Evolução do Clima (GIEC) e prémio Nobel da Paz de 2007, Rajendra Pachauri, referiu também os graves impactos da "inacção".

Um número suplementar de pessoas, mais 4,3 mil milhões a 6,9 mil milhões, ou seja, "quase a maioria da humanidade", que vive nas grandes bacias fluviais, arrisca-se a ser afectado pela seca, alertou.

Em Dezembro de 2007, a conferência de Bali fixou um roteiro que deveria levar os 192 Estados signatários da Convenção da ONU sobre as alterações climáticas (CNNUCC) à conclusão, até 2009, de novos compromissos contra o efeito de estufa.

Esses compromissos foram reforçados e alargados para incluir os Estados Unidos e as grandes economias emergentes, entre as quais a China, que se tornou o primeiro poluidor mundial.

Até hoje, apenas 37 países industrializados (todos, excepto os Estados Unidos) que ratificaram o Protocolo de Quioto estão obrigados a uma redução de emissão de poluentes, no período entre 2008 e 2012.

"O trabalho que vos espera é, ao mesmo tempo, difícil e crítico: mas perante cada dificuldade surgem oportunidades, se souberem concentrar-se naquilo que vos une em vez daquilo que vos divide", afirmou o secretário executivo da Convenção da CNNUCC, Yvo De Boer.

"Têm um ano, de agora, até Copenhaga. O tempo voa. É preciso andar a uma velocidade superior", disse, admitindo que a crise financeira vai complicar a tarefa.

"A realidade é que mobilizar os recursos financeiros à escala necessária constituirá um verdadeiro desafio", disse.

Contudo, ressalvou, esta "crise não nos deve impedir de nos comprometermos no que diz respeito ao clima ou à redução da pobreza", considerou o primeiro-ministro dinamarquês, Anders Fogh Rasmussen.

"Não nos podemos permitir abrandar o passo", afirmou, por sua vez, Brice Lalonde, embaixador de França para o clima, país que detém actualmente a Presidência rotativa da União Europeia. JN