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quarta-feira, 30 de setembro de 2020

Descobertos traços genéticos que explicam maior resistência de gado africano

Uma equipa internacional de cientistas anunciou hoje a descoberta de novos traços genéticos no gado africano, resultantes do cruzamento com espécies asiáticas, que o tornam mais tolerante ao calor e à seca e mais resistente a doenças.

A investigação está a ser realizada pelo International Livestock Research Institute (ILRI), com sede em Nairobi (Quénia) e Adis Abeba (Etiópia), Universidade Nacional de Seul e Universidade de Nottingham, Reino Unido, entre outras instituições.

“Acreditamos que este conhecimento pode ser utilizado para criar uma nova geração de gado africano com algumas das qualidades do gado europeu e americano – que produzem mais leite e carne por animal – mas com o rico mosaico de características que tornam o gado africano mais resistente e sustentável”, explicou Olivier Hanotte, cientista sénior do ILRI.

O estudo, que procurou compreender como o gado evoluiu rapidamente com traços que lhe permitiram prosperar em todo o continente africano, traçou mil anos de criação pastoril africana e sequenciou os genomas de 172 bovinos nativos.

Os resultados, publicados na edição de outubro da revista científica ‘Nature Genetic’, indicam que ocorreu um “choque evolutivo” entre 750 e 1.050 anos atrás com a chegada de raças de gado asiáticas à África Oriental, portadoras de traços genéticos adaptados ao exigente ambiente africano.

O cruzamento resultou em gado com características para sobreviver em climas quentes e secos, típicos do gado asiático conhecido como “Zebu”, e ao mesmo tempo suportar climas húmidos onde doenças como a tripanossomíase (doença do sono) são comuns, traços típicos das raças de gado africanas chamadas “Taurine”.

“Sem gado milhões de pessoas em África teriam sido forçadas a caçar animais selvagens em busca de proteínas”, apontou, por seu lado, a especialista do ILRI, Ally Okeyo Mwai.

“Isso teria sido devastador para o ambiente africano e para a sua incrível diversidade de vida selvagem”, acrescentou.

Para muitas famílias africanas, especialmente as mais pobres, o gado continua a ser o bem mais valioso, fornecendo uma fonte de rendimento, mas também de proteínas e micronutrientes.

Os animais também fornecem estrume para as culturas e algumas raças pecuárias africanas podem sobreviver em condições onde não são viáveis culturas alimentares, o que permite aos agricultores uma potencial estratégia de adaptação para lidar com a crise climática.

“Ao estudar os genomas do gado nativo, pode ver-se que a adaptação tem sido a chave para o sucesso da produção pecuária em África”, disse Steve Kemp, outro autor de estudo e cientista do ILRI.

“E isso tem de ser o fator nos nossos esforços futuros para criar animais mais produtivos e mais sustentáveis. Se o objetivo é apenas a produtividade, está condenado ao fracasso”, acrescentou.

https://www.agroportal.pt/descobertos-tracos-geneticos-que-explicam-maior-resistencia-de-gado-africano/

terça-feira, 29 de setembro de 2020

Governo diz que, em 2030, 80% da eletricidade de Portugal será de fontes renováveis

O ministro do Ambiente, Matos Fernandes, disse hoje que 80% da eletricidade de Portugal será de fontes renováveis em 2030, mas prometeu que em termos de exploração de novos modelos “todos os projetos grandes” terão “avaliação de impacto ambiental”.

“Portugal está e estará preparado para os desafios do futuro e para a sustentabilidade da economia. São muito claros os limites do sistema terrestre. Não vale a pena colocarmos isso em causa. O crescimento europeu da economia e em Portugal também, tem de passar por investimentos no setor da sustentabilidade. Mobilidade suave, energias renováveis, eficiência energética”, disse João Pedro Matos Fernandes.

O ministro, que falava aos jornalistas no Porto à margem de uma conferência sobre os desafios estratégicos na ação climática, disse que atualmente “57% da eletricidade consumida em Portugal tem origem em fontes renováveis”.

“E vamos mesmo chegar a 2030 com 80% da eletricidade a partir de fontes renováveis. Isso significa muito menos importações e grandes ganhos para a balança comercial e autonomia energética. Mas a eletricidade não resolve todos os problemas. Tem de continuar a existir gás – numa fase de transição, o gás natural – mas devemos passar para gases renováveis”, acrescentou.

Já sobre o uso de hidrogénio, Matos Fernandes referiu que “o que começou por ser um projeto do Governo português, é agora um projeto de Portugal”, mas prometeu “acautelar cuidados”.

“Todos os projetos grandes têm de ter avaliação de impacto ambiental. Não podemos dizer que queremos energias renováveis e depois não ter onde fazer parques escolares, mas teremos em conta as diferenças dos territórios”.

O ministro do Ambiente sublinhou a convicção de que “Portugal não pode ter um metro quadrado de território abandonado”, avançando que “o próximo quadro comunitário de apoio vai desenhar políticas concretas para as regiões que onde há uma maior necessidade de intervenção”.

“Temos de definir planos de mobilidade adaptados aos territórios de baixa densidade. Rede equipamentos capaz para esses cuidados”, concluiu.

https://24.sapo.pt/atualidade/artigos/governo-diz-que-em-2030-80-da-eletricidade-de-portugal-sera-de-fontes-renovaveis

quarta-feira, 9 de setembro de 2020

De que forma os raios prejudicam as árvores e os ecossistemas tropicais?


A trovoada é um fenómeno metereológico comum em todo o mundo, com uma ocorrência média de 20 milhões anualmente, cita o IPMA.

Um novo estudo da Universidade de Louisville, publicado na revista Global Change Biology, investigou a ocorrência da trovoada e as consequências das descargas elétricas nas florestas tropicais. A equipa concluiu que as florestas com maior incidência de raios têm menos árvores grandes por hectare, afetando a longo prazo sua biomassa no total. Um só raio pode afetar mais de 20 árvores, e num ano, cerca de 6 morrem.

Os cientistas utilizaram satélites e sensores de solo para avaliar o impacto. “Achamos que cerca de 830 milhões de árvores são atingidas por raios e um quarto delas, cerca de 200 milhões, são mortas”, afirma Evan Gora, uma das autoras do estudo, ao Scientific American.

Entre 2013 e 2018, os ecossistemas tropicais tiveram perto de 100.4 milhões de relâmpagos por ano.

Além da ação humana, também fatores naturais como estes afetam as florestas, que são vistas como os pulmões do Planeta. Os especialistas temem que o aquecimento global propicie a uma maior frequência de trovoadas, levando à diminuição destes seres vivos essenciais para a nossa sobrevivência; É por isso fundamental fazermos o que está ao nosso alcance para mitigar as alterações climáticas.

https://greensavers.sapo.pt/de-que-forma-os-raios-prejudicam-as-arvores-e-os-ecossistemas-tropicais/

Tubarão-frade: um turista acidental nos Açores


O tubarão-frade é poucas vezes observado nos Açores, mas isso pode apenas querer dizer que a espécie é ainda mal conhecida…

O dia 10 de Fevereiro de 1956, num dos meses mais frios de que há memória em Portugal e que levaria inclusivamente neve ao Algarve, John Collins, telegrafista de profissão, estava prestes a assistir a um acontecimento inédito nos Açores. Do corpo de um enorme cachalote que ocupava a rampa de desmanche da fábrica da baleia do Porto Pim, no Faial, foi retirada uma presa inesperada: um exemplar de tubarão-frade, o segundo maior peixe do mundo. Este tubarão não era conhecido como presa de cachalote e os seus avistamentos eram uma raridade nos Açores. A primeira ocorrência documentada da espécie no arquipélago fora descrita apenas em 1939. Em que circunstâncias extraordinárias se encontrava ali aquele exemplar?

Meio século mais tarde, ao largo da ilha de São Miguel, foi pela primeira vez fotografado um exemplar vivo desta espécie no arquipélago. De permeio, segundo documentaram os biólogos Filipe Porteiro e Pedro Niny, alguns tubarões-frade arrojaram em São Miguel e na Terceira, mas os avistamentos deste gigante no arquipélago dos Açores continuaram a ser acidentais. Observado com alguma regularidade junto à costa continental portuguesa, o animal continuou a ser visto nos Açores como uma raridade. 

O hábito de se deslocar vagarosamente junto à superfície e próximo da costa tornou o tubarão-frade um alvo para a pesca nas águas costeiras da maioria dos países onde é avistado. O método tradicional de captura desta espécie era igual ao da baleia, através do arremesso de um arpão. Esta prática abrandou na década de 1910.

O nome tubarão-frade é uma derivação da sua designação original – tubarão-peregrino. Este nome resulta do seu hábito de deambular, aparentemente sem rumo definido, à superfície da água. O nome científico Cetorhinus maximus provém do grego e designa um monstro marinho de grande rostro. É provável que esta injusta descrição se baseie na percepção que os primeiros naturalistas tiveram de uma enorme silhueta que pode medir 12 metros de comprimento, muitas vezes observada junto à superfície, com a sua boca de tal forma aberta que o nariz parece saltar fora de água.

Actualmente, porém, sabe-se que as deslocações vagarosas deste animal nos dias soalheiros próximo da costa e junto à superfície se devem ao facto de o tubarão-frade, tal como outros grandes peixes cartilagíneos, ser um tubarão filtrador que se alimenta de plâncton, principalmente, de crustáceos, pequenos peixes, larvas e ovos de peixes. 

Na chegada da Primavera, inicia-se o seu ciclo biológico nas águas temperadas frias. O progressivo aumento da temperatura desencadeia um frenesi de produção de organismos microscópicos que compõem o fitoplâncton, multiplicando-se em densidades astronómicas e originando explosões de vida. Os tubarões-frade perseguem esta abundância primaveril próximo das costas. Ao seguirem selectivamente manchas de maior densidade de plâncton, podem filtrar o equivalente a cinco mil toneladas de água por hora. E é nessa fase, em que navegam perto da superfície, que são avistados.

Em terra, seria impossível que um animal do tamanho de um autocarro e com o peso equivalente a quatro veículos ligeiros passasse despercebido nas suas deambulações migratórias. Nas profundezas do mar, porém, o tubarão-frade é uma gota de água, um gigante tímido e desconhecido. Durante décadas, soube-se pouco sobre a sua distribuição e comportamento e o pouco que se sabia resultava de encontros ocasionais em alguns sítios historicamente visitados por esta espécie no final da Primavera e início do Verão, a que se seguiam longos meses de ausência. 

As investigações recentes descobriram que o tubarão-frade mergulha frequentemente a profundidades na ordem dos 1.000 metros. É possível que se movimente com mais frequência do que o esperado junto das ilhas atlânticas portuguesas, mas a profundidades que o tornem quase indetectável. 

A quebra do volume de zooplâncton nas zonas costeiras era apontada como a causa da migração no Inverno dos tubarões-frade para águas mais profundas. Chegou a ser levantada a hipótese de estes animais hibernarem durante meses, fazendo uso das reservas energéticas do seu enorme fígado. Também a informação sobre a sua anatomia era tão escassa que a maioria dos estudos se baseava em dados recolhidos por dois cientistas (Leonard Matthews e Hampton Parker) em 1947. A convite do dono de uma fábrica pesqueira na ilha escocesa de Soay, os dois britânicos dissecaram e estudaram dez tubarões-frade, recolhendo dados que, 50 anos mais tarde, ainda serviam de fundamentação para estudos científicos. No entanto, a ajuda à ciência desta vez veio literalmente do céu.

No dia 10 de Setembro de 2007, um satélite da NOOA (Agência Norte-Americana para os Oceanos e Atmosfera) captou informações transmitidas de um emissor que flutuava no Atlântico Norte. Oitenta e dois dias antes, uma embarcação licenciada pelo Departamento de Agricultura, Florestas e Pescas da ilha de Man aproximara-se de um tubarão-frade fêmea com oito metros de comprimento. Um dardo foi projectado da embarcação, alojando-se na base da barbatana dorsal que se projectava da superfície. Ligado por um fio de nylon a este dardo, encontrava-se um aparelho colector e emissor de dados programado para se soltar cerca de cem dias mais tarde e emitir dados de temperatura, profundidade e níveis de luz durante este período. Mauvis Gore, o coordenador deste projecto, talvez não sonhasse então com o volume de informação que viria a ser fornecido por um único animal.

Alcunhado Tracy, o tubarão marcado percorreu 9.589km, iniciando a sua viagem no mar da Irlanda, abandonando a plataforma continental, atravessando o Atlântico, passando a norte do arquipélago dos Açores e chegando ao largo da Terra Nova, no Canadá, em apenas 82 dias. A sua rota é a primeira prova da utilização de águas profundas para além da plataforma continental e de uma migração transatlântica das populações de tubarão-frade da Europa e da América, o que leva Pedro Afonso, biólogo do Departamento de Oceanografia e Pescas da Universidade dos Açores especializado em estudos de telemetria, a referir que “as investigações recentes demonstraram que o offshore também é um habitat relevante para esta espécie e que a amplitude desse habitat é bem maior do que se pensava”.

Os dados relativos à migração vertical deste tubarão foram igualmente surpreendentes. Após permanecer em águas pouco profundas durante cinco dias, Tracy seguiu para profundidades na ordem das duas centenas de metros, nas quais se manteve durante dez dias. Ao chegar ao fim da plataforma continental, realizou mergulhos até uma profundidade recorde de 1.264 metros e passando pelo menos uma dúzia de vezes a profundidades superiores a mil metros. A informação sugere uma procura activa de alimentos na coluna de água, uma vez que é aí que existem os copépodes mesopelágicos, as suas presas naturais. Os últimos 40 dias foram passados junto à superfície numa zona abundante da sua presa favorita, o pequeno copépode da espécie Calanus finmarchicus, de apenas 5mm de comprimento. 

É perigoso extrapolar os dados obtidos com um indivíduo para toda uma espécie, porque existe grande plasticidade comportamental entre indivíduos. Pedro Afonso refere mesmo que “o comportamento do mesmo indivíduo pode variar muito ao longo dos anos”. De todo o modo, os dados da rota migratória de Tracy ofereceram mais uma pista para compreender os avistamentos ocasionais da espécie, que se julgava confinada às plataformas continentais. Na verdade, Tracy dispersou-se muito mais do que aquilo que era admitido pela comunidade científica. 

Este indício viria a ser suportado um ano mais tarde, em 2009, com a publicação de um artigo mais abrangente, que utilizou a mesma técnica de recolha de dados no Massachusetts, agora aplicada a 25 diferentes tubarões-frade. Os dados recolhidos por satélite pela equipa de Gregory Skomal indicaram que o tubarão-frade é um dos poucos animais marinhos capazes de atravessar o equador durante as suas migrações. Nada entre 200 e 1.000 metros de profundidade, seguindo zonas de termoclinas frias, passando semanas a meses longe do olhar humano, a grande profundidade em águas tropicais. Vários indivíduos marcados no Verão em zonas costeiras nas águas temperadas do Massachusetts atravessaram o equador, permanecendo em locais tão improváveis como a boca do rio Amazonas e orientando provavelmente o seu comportamento em função da disponibilidade de presas. 

Os Açores encontram-se provavelmente no limite meridional do seu território de alimentação estival, o que explicaria os avistamentos ocasionais à superfície. Mas para Pedro Afonso há uma hipótese adicional: é possível que a espécie “passe com mais frequência na região mas a grandes profundidades, tal como demonstrado neste estudo com a população americana, ao passo que nas águas do Norte já estará em ‘modo de superfície’”. O biólogo acrescenta: “Está por esclarecer de que forma os comportamentos sociais afectam também as movimentações da espécie.” Por outras palavras, podem existir outras razões que expliquem a presença em habitats profundos que não a alimentação, tais como o acasalamento.

Os Açores encontram-se provavelmente no limite meridional do seu território de alimentação estival, o que explicaria os avistamentos ocasionais à superfície.

Graças a estes esforços, tem-se hoje como provável que o tubarão-frade se sinta à vontade em águas profundas, tenha capacidade para sobreviver em águas tropicais e realize migrações de um hemisfério para outro. Ao mesmo tempo, estes dados demonstram a necessidade de esforços globais para a protecção desta espécie classificada na “Lista Vermelha da União Mundial de Conservação da Natureza” como “vulnerável” em termos globais e “em perigo” no Atlântico e Pacífico Norte. “Tal como já se demonstrou com várias outras espécies, como a tintureira, é preciso conceber o habitat em toda a sua extensão, na medida em que ele nada muito para lá da plataforma continental, e nas várias profundidades em que ele vive”, comenta Pedro Afonso.

No entanto, talvez o maior desafio para a preservação da espécie seja o preenchimento das lacunas ainda existentes em relação à ecologia da segunda maior espécie de peixe dos nossos oceanos. As descobertas sobre as rotas migratórias dos tubarões-frade obrigaram à revisão de dados que eram tidos como certos em relação a esta espécie, mas ainda há lacunas. Dada a plasticidade de comportamentos e as usuais variações oceanográficas entre anos, quem sabe para onde nadará Tracy no próximo ano? 

https://nationalgeographic.sapo.pt/natureza/actualidade/2272-tubarao-frade-um-turista-acidental-nos-acores

terça-feira, 1 de setembro de 2020

Investigadores da Universidade de Évora descobrem uma nova planta rara nos charcos temporários



Os charcos temporários do Parque Natural do Sudoeste Alentejano e Costa Vicentina, continuam a revelar-se uma “arca de noé” de plantas que resistem, nalguns casos, há milhões de anos. Carla Pinto Cruz, professora do Departamento de Biologia da Universidade de Évora (UÉ) acaba de anunciar a descoberta de uma nova espécie de planta “endémica, rara e fortemente ameaçada”, a Helosciadium milfontinum, que cresce nestes habitats. A designação atribuída é uma alusão à sua área de ocorrência, ou seja, Vila Nova de Milfontes.

Nas informações prestadas ao PÚBLICO, a investigadora refere que o levantamento efectuado permitiu confirmar que a planta de se encontra “restringida a nível mundial a pequenas áreas da Costa Vicentina.”

Na descrição que faz da nova espécie é realçada a “importância da descoberta”. Trata-se de uma planta que se apresenta com um conjunto de flores que “faz lembrar um pequeno guarda-chuva, semelhante às flores do agrião que floresce entre Julho e Agosto e frutifica no início de Setembro”. Tem caules rastejantes, “que enraízam em nós e as folhas são lobadas e têm as margens dentadas”, acrescenta a investigadora.

O trabalho de investigação realizado envolveu botânicos da Universidade de Évora e da Universidade de Oviedo e permitiu diferenciar a nova espécie de uma outra previamente identificada como Apium repens, uma planta com flor pertencente à família Apiaceae de que fazem parte a cenoura, o aipo, a salsa, a erva-doce, os cominhos e outras plantas aromáticas. Esta espécie tem uma área de distribuição mais abrangente no território europeu que o habitat da Helosciadium milfontinum, que se reduz a algumas zonas do parque natural, observa Carla Cruz. Com efeito “foi através da identificação de pequenas sequências de DNA, que tornou possível a descoberta da Helosciadium milfontinum” acrescenta a investigadora, frisando que a planta “já foi alvo de alguns esforços de conservação”, quer nos charcos temporários da região onde pode ser encontrada.

Assim, cada espécie de planta é designada por uma combinação exclusiva de duas palavras em latim: primeiro o “género” e depois o epíteto específico, atribuindo-se um nome único para cada espécie -reconhecido mundialmente por todos os cientistas - tal como se verifica com esta descoberta e cujo epíteto específico atribuído milfontinum” por ser alusivo à sua área de ocorrência, ou seja, Vila Nova de Milfontes.

Carla Cruz destaca o trabalho coordenado pela UÉ que correspondeu a uma iniciativa do Instituto de Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF), em parceria com o Fundo Ambiental através do projecto “Recuperação de Valores Naturais - Habitats e Espécies de Zonas Húmidas Temporárias.”  

O levantamento que foi feito dos charcos temporários da região alentejana permitiu constatar que as ameaças à sua conservação são cada vez mais fortes. São “um habitat único que alberga uma grande diversidade de organismos e onde a diversidade biológica vai sendo perdida à medida que cada espécie se extingue”, alerta a investigadora.  

A realização de acções de conservação e o seu planeamento adequado “é essencial” recorda, referindo que, “são observadas diariamente as consequências das nossas acções no planeta e o ritmo acelerado a que se produzem alterações”, motivo para afirmar “que só tendo um bom conhecimento das espécies, como neste estudo viemos demonstrar, podemos perspectivar e priorizar adequadamente os esforços de conservação” concluiu Carla Cruz.

https://www.publico.pt/2020/09/01/local/noticia/investigadores-universidade-evora-descobrem-nova-planta-rara-charcos-temporarios-1929970