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terça-feira, 31 de julho de 2018

Powerpoint - Sistemática dos Seres Vivos

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Caracol gigante é uma ameaça em Miami



As autoridades na região de Miami, no Sul da Florida, estão preocupadas com a infestação do caracol-gigante-africano que, nas próximas semanas, se vai tornar mais activo à medida que começa a estação das chuvas. O gastrópode, que pode alcançar o tamanho de uma ratazana e que devora todas as plantas que lhe aparecem à frente, chegou ao Estado norte-americano em Setembro de 2011.

Desde essa altura já foram apanhados 117.000 indivíduos. Por semana apanham-se mais de 1000 destes gastrópodes. “Eles são enormes, andam por aí, parecem que estão a olhar para as pessoas e a comunicar com elas, e as pessoas gostam disso”, explica Denise Feiber, porta-voz do Departamento para a Agricultura e para os Serviços dos Consumidores. “Mas as pessoas não se apercebem da devastação que esta criatura pode causar e libertam-nas num ambiente onde não têm inimigos naturais e prosperam”, diz, citada pela Reuters.

O caracol-gigante-africano, Achatina fulica, é original do Leste de África. Atinge os 18 centímetros de comprimento. Esta espécie é hermafrodita e cada indivíduo põe, em média, 1200 ovos por ano. A espécie já foi introduzida em locais tão diversos como a China ou o Brasil.

Nas próximas semanas os avistamentos destes caracóis vão tornar-se mais frequentes, à medida que os indivíduos vão saindo da terra onde estiveram em hibernação.

Esta não é a primeira vez que a Florida assiste a uma infestação da espécie. Em 1966, um rapaz trouxe de Miami três caracóis que, provavelmente, vieram no bolso do seu casaco. A avó do rapaz libertou os caracóis no seu jardim. Durante sete anos, a população cresceu, alcançando um efectivo de 17.000 caracóis. O Estado teve de gastar um milhão de dólares e demorou dez anos a erradicar a espécie.

O caracol também chegou a algumas ilhas da Caraíbas. Na ilha de Barbados, que está completamente infestada pelo gastrópode, a situação é tão grave que nas vias rápidas a carapaça do caracol fura pneus de carros que passam por cima. Por outro lado, o pavimento e as paredes estão preenchidos por baba e excremento do caracol. “Torna-se uma porcaria pegajosa”, descreve Denise Feiber.

As criaturas acabam por infestar as casas para se alimentarem de estuque e gesso e conseguirem assim obter o cálcio necessário para a carapaça. O caracol também é um hospedeiro de um verme que pode causar meningite nas pessoas, embora a doença ainda não tenha sido detectada nos Estados Unidos.

Não há certezas como é que a espécie chegou de novo à Florida. Uma pista que está a ser investigada é o grupo religioso Miami Santeria, com raízes na África Ocidental e nas Caraíbas. Em 2010 descobriu-se que estavam a utilizar estes caracóis para fazerem rituais. Mas a espécie pode ter chegado numa carga ou, inadvertidamente, na bagagem de um turista.

“Se alguém estiver na Jamaica ou na República Dominicana e tiver uma sanduíche de fiambre ou uma laranja, e não a comer totalmente, se a trouxer para os Estados Unidos e deitar o resto para o lixo em algum momento vai emergir alguma coisa destes produtos”, exemplifica Feiber.

Na semana passada, em Gainesville, na Florida, houve um simpósio sobre o caracol-gigante-africano. Os especialistas estiveram a discutir as formas mais eficazes para erradicar o molusco.

Esta não é a primeira vez que as autoridades da Florida se vêem obrigadas a lidar com uma espécie exótica e infestante. Desde 2000, que têm um grave problema com uma espécie de pitão que passou a habitar a região de Everglades, no Sul do estado.

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domingo, 29 de julho de 2018

Powerpoint sobre os Diferentes Sistemas de Classificação

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No cimo da serra da Estrela já não se ouve o coaxar do sapo-parteiro



O alerta foi dado em 2009. Ibone Anza passeava-se na serra da Estrela e, numa das zonas do planalto superior, a investigadora do Instituto de Investigação de Recursos Cinegéticos, na Cidade Real, em Espanha, encontrou sapos-parteiros mortos junto a uma lagoa. Quando se analisaram os cadáveres, descobriu-se que estavam infectados com um fungo que causa uma doença - a quitridiomicose - que é responsável pelo declínio de muitas espécies de anfíbios.

Nos dois anos seguintes, Gonçalo M. Rosa andou a contar sapos-parteiros na serra da Estrela, num projecto para avaliar o impacto da infecção. Os resultados mostraram um cenário negro: houve uma diminuição de 67% de sapos-parteiros acima dos 1200 metros de altitude, conclui o estudo agora publicado na revista Animal Conservation por uma equipa internacional. É a primeira vez que se documenta em Portugal o declínio de uma espécie de anfíbio devido a esta doença.

Em poucos anos, o sapo-parteiro deixou de se ouvir durante a época de acasalamento, quando os machos faziam as suas vocalizações. Nem sequer se encontram sinais da praga. "Não tenho visto grande mortalidade porque simplesmente já não há indivíduos. Está-se ali com o camaroeiro, à procura de girinos, e não se encontra nada", diz Gonçalo M. Rosa, doutorando do Instituto Durrell da Conservação e Ecologia na Universidade de Kent, no Reino Unido, e no Centro de Biologia Ambiental da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa (FCUL). "O sapo-parteiro pode desaparecer desta região."

O Alytes obstetricans, o nome científico do sapo-parteiro-comum, existe na Região Centro e Norte de Portugal. Passa a sua vida adulta longe da água, escondido nas rochas. Na serra da Estrela, a espécie reproduz-se a partir da Primavera. Depois, os machos transportam os ovos - daí o nome de sapo-parteiro -, e só quando os girinos estão prestes a sair dos ovos é que os machos os libertam para a água. Quando, finalmente, se completa a metamorfose, os animais saltam para terra.

"A Ibone viu os indivíduos mortos depois de terem terminado a metamorfose", diz o investigador de 29 anos. Foi na água que apanharam a infecção. Ainda ninguém sabe a 100% de onde emergiu o fungo Batrachochytrium dendrobatidis. Pensa-se que a doença provém de África e terá sido transportada para o resto do mundo com grande ajuda do homem.

Até ao início da década de 1990, não havia registos de mortes. Mas subitamente começaram a aparecer relatos do fungo em todos os continentes. O primeiro foi na Austrália, em 1993. Hoje, já infectou mais de 508 espécies, ameaçando de extinção 30% dos anfíbios e acelerando o declínio geral deste grupo de vertebrados que, antes, já tinha de lidar com a redução drástica do habitat e a poluição. Mas não se sabe há quanto tempo é que o fungo já estava na natureza.

Na Península Ibérica, foi identificado pela primeira vez o fungo no sapo-parteiro-comum na serra de Guadamarra, em Espanha, em 1997, por Jaime Bosch, do Museu Nacional de Ciências Naturais de Madrid, um dos autores do novo estudo.

"A quitridiomicose está associada aos insectos e esta é a primeira espécie descrita a infectar vertebrados", explica Gonçalo M. Rosa. O estádio adulto deste fungo lança células microscópicas com flagelo, que nadam na água e se agarram a superfícies vivas com queratina. A queratina é uma proteína que está na pele dos mamíferos e na dos anfíbios. Os girinos do sapo-parteiro só têm queratina na boca, e é lá que o fungo se instala. Depois da metamorfose, cresce para a pele.

"A pele do sapo-parteiro fica com uma vermelhidão na zona ventral - barriga e pernas. Os animais começam a largar pele com muita frequência e em grande quantidade, o que não é saudável", explica o biólogo. "O fungo começa a causar buracos na epiderme e provoca uma perturbação da função da pele." No caso dos anfíbios, há uma boa parte da respiração que é cutânea e fica comprometida com a doença. O animal fica prostrado e morre.

Durante a década de 1990 Pedro Moreira (FCUL) e José Conde (Centro de Interpretação da Serra da Estrela) - outros autores do estudo actual - analisaram a abundância do sapo-parteiro na serra da Estrela. No caso dos girinos, contabilizaram-nos e, nos indivíduos já metamorfoseados, avaliaram a sua presença.

Em 2010 e 2011, a equipa voltou aos mesmos locais: riachos, tanques, lagoas e represas acima dos 600 metros de altitude. O objectivo era ter uma comparação da evolução da espécie. Depois, avaliou-se a presença do fungo em sapos-parteiros vivos, mortos e em girinos.

Pensa-se que o fungo está mais activo durante mais tempo em temperaturas baixas e o resultado da monitorização revelou-se desastroso para os habitats acima dos 1200 metros. A equipa concluiu que o sapo-parteiro "desapareceu de 67% dos pontos onde foi encontrado no passado, a reprodução está limitada a 16% dos locais e as larvas são menos abundantes e estão muito infectadas pelo" fungo. A altitudes mais baixas, o fungo está presente, mas não existe esta mortalidade.

Gonçalo M. Rosa vai voltar à serra em Maio. A seca prolongada de 2012 confundiu a altura de reprodução dos anfíbios e o biólogo não sabe o que o espera no campo. Ao mesmo tempo, tornou-se num detective. Está à caça de espécimes de anfíbios da serra da Estrela que museus portugueses e internacionais possam ter recolhido no passado para tentar saber mais sobre o agente da quitridiomicose. Não se sabe "se o fungo chegou recentemente ou já lá estava há dezenas ou centenas de anos".

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sexta-feira, 27 de julho de 2018

Powerpoint - Fungos


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Alterações climáticas podem levar lince-ibérico à extinção neste século



Modelo mostra que nas próximas décadas o Sul da Península Ibérica deixará de ter condições para o felino mais ameaçado da Terra. Paradigma de conservação tem de mudar para salvar a espécie, defende estudo

O lince-ibérico é o felino que está mais próximo da extinção. Na última década, o número de animais não ultrapassava na natureza a centena e meia. Em Portugal, avistar um deles passou a estar no patamar dos sonhos, com uma ou outra excepção. Os imensos esforços de conservação reverteram, para já em Espanha, esta tendência e a população de linces tem aumentado. Mas de acordo com um novo estudo, este esforço não chega. As alterações climáticas podem mudar, em poucas décadas, as paisagens do Sul da Península Ibérica e tornar inviáveis as regiões onde hoje o felino tem condições para viver: se nada for feito, o lince desaparecerá da face da Terra ainda neste século, avança um artigo publicado agora na revista Nature Climate Change.

"As alterações climáticas vão rápida e severamente diminuir a abundância do lince e provavelmente levar à extinção da espécie na natureza dentro de 50 anos, mesmo que haja um forte esforço global de mitigar as emissões de gases com efeito de estufa", avança o artigo da equipa internacional que conta com dois portugueses.

A equipa teve em conta os cenários anuais do clima futuro na Península Ibérica fornecidos pelo Painel Intergovernamental para as Alterações Climáticas das Nações Unidas, mas cruzou esses dados com a ecologia das populações de lince-ibérico e coelho-selvagem. "A maior parte dos modelos aborda as alterações climáticas e os solos, nunca aborda as interacções bióticas", explica ao PÚBLICO Miguel Araújo, coordenador do estudo e que divide o seu tempo entre a Universidade de Évora e o Museu Nacional de Ciências Naturais de Madrid.

Para sobreviver na natureza, o lince-ibérico (Lynx pardinus) está dependente do coelho-bravo (Oryctolagus cuniculus), que perfaz 90% da alimentação do felino. Nas últimas décadas, o coelho tem-se debatido com duas doenças que dizimaram as populações. Além disto, a diminuição do habitat disponível, a caça e uma terceira doença que afecta o lince-ibérico têm sido fatais para este felino. A área do lince reduziu 33 vezes entre 1950 - quando existiam mais de 5000 animais na Península Ibérica - e 2005. Neste ano, já só ocupava 1200 quilómetros quadrados, em Espanha. E as alterações climáticas podem dar o golpe de misericórdia, se nada for feito. "Se houver menos pluviosidade [um dos efeitos esperados para o Sul da Península Ibérica], há menos vegetação e menos coelhos", diz o biogeógrafo. "Menos coelhos implica menos linces."

O artigo mostra que, na melhor das hipóteses - tendo em conta a conservação actual que só contempla a reintrodução da espécie no Sul e uma mitigação agressiva da emissão de gases com efeito de estufa -, o lince-ibérico tem 89% de probabilidades de extinção. O que ocorrerá por volta de 2065. Apesar de os modelos não incluírem todos os aspectos, "a mensagem qualitativa da extinção nas próximas décadas é robusta", diz o investigador português.

Mas há uma alternativa. "Está nas nossas mãos assegurar a continuação da espécie, só que isso exige uma alteração de paradigma", defende o biogeógrafo. "Se tivermos uma política de reintrodução do lince-ibérico tendo em conta critérios geográficos e ambientais, poderemos esperar um aumento da população até aos 800 indivíduos [no final do século]."

Atendendo a esses novos critérios, o lince-ibérico deveria ser introduzido em várias zonas mais a norte da Península Ibérica, como a meseta ibérica, a costa da Catalunha, a zona perto dos Pirenéus e ainda na Beira Alta, a Beira Baixa e Trás-os-Montes. Todos estes locais, onde o lince-ibérico já existiu no passado, vão ter no futuro as condições climáticas para o coelho e o lince viverem.

"A mensagem mais geral é que as políticas de conservação têm de passar a considerar as mudanças de paisagem devido às alterações climáticas", resume o cientista.

Para Eduardo Santos, da Liga para a Protecção da Natureza e um dos coordenadores do Projecto LIFE Lince Moura/Barrancos - um dos potenciais locais onde o lince poderá ser reintroduzido em Portugal -, este artigo é importante quando se pensa na conservação a médio prazo deste felino. "O tempo e o investimento para fazer a conservação é grande e depende do esforço de diferentes entidades, não só das da conservação mas de proprietários, agricultores, caçadores e da sociedade em geral", considera. "A reintrodução sozinha não tem sucesso", diz.

Mas Eduardo Santos concorda com esta nova equação que inclui os efeitos das alterações climáticas: "Enquanto novo paradigma, faz todo o sentido."

Noticia retirada daqui

quarta-feira, 25 de julho de 2018

Powerpoint - Reino dos Fungos


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m em cada cinco répteis está ameaçado de extinção



Aproximadamente um em cada cinco espécies de répteis está em risco de desaparecer para sempre da Terra, segundo um estudo que faz pela primeira vez uma avaliação global da situação desta classe de animais.

No estudo, publicado na revista Biological Conservation, cientistas avaliaram uma amostra aleatória de 1500 espécies de répteis e concluíram que 19% estão ameaçadas de extinção. Não havia, até agora, uma indicação fidedigna do estado dos répteis a nível global. A Lista Vermelha de Espécies Ameaçadas, mantida e actualizada anualmente pela União Internacional para a Conservação da Natureza (UICN), identifica 807 répteis “criticamente ameaçados”, “em perigo” ou “vulneráveis”. Mas apenas 39% das 9547 espécies descritas de répteis foram até agora avaliadas, segundo dados da Lista Vermelha. E a avaliação não tem sido sistemática, incidindo mais sobre determinadas áreas do globo ou sobre alguns tipos de répteis.

Está em curso uma avaliação completa dos répteis do mundo (Global Reptile Assessment). Mas enquanto isso não fica concluído, o estudo agora publicado oferece um atalho, através de uma amostra com representatividade global. “É basicamente um retrato imediato do estado dos répteis”, disse ao PÚBLICO Philip Bowles, da Comissão de Sobreviência das Espécies da UICN e um dos autores principais do estudo.


Cerca de duas centenas de cientistas, de vários países, estiveram envolvidos nesta avaliação. Os resultados serão validados à medida que a avaliação global dos répteis for avançando, explica Philip Bowles.

A percentagem estimada de espécies ameaçadas não é tão grande como a da classe dos anfíbios – onde duas em cada cinco corre o risco de se extinguir. “Não é tão mau como poderia ser. Mas não são boas notícias”, afirma Philip Bowles.

As espécies ameaçadas concentram-se sobretudo nas regiões tropicais, onde têm sido vítimas da destruição do seu habitat, para dar lugar à agricultura ou à exploração de madeira. Os répteis de água doce apresentam maior número de espécies em risco: 30% no total e 50% só para as tartarugas.


De acordo com Philip Bowles, o estudo, embora seja apenas uma primeira abordagem à escala global, permite identificar desde já espécies para as quais é prioritário adoptar medidas de conservação.

segunda-feira, 23 de julho de 2018

Powerpoint - Reino Fungi


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Tubarão, um senhor dos mares ameaçado

Os tubarões são dos mais bem sucedidos predadores de sempre, tendo surgido há cerca de 350 milhões de anos e tendo permanecido particamente imutáveis nos últimos 70 milhões. Só agora é que o Homem os está a ameaçar.

"Tudo nele era lindo, excepto as mandíbulas". É com esta frase que o escritor norte-americano Ernest Hemingway começa a descrever um magnífico tubarão, no seu célebre romance "O Velho e o Mar".

Os tubarões são um grupo fascinante de peixes que sempre provocaram nos seres humanos sensações de temor, até certo ponto exageradas, mas que podem ser comparadas aos sentimentos de medo e respeito que todos os grandes predadores despertam. No entanto, apesar de existirem muitos predadores marinhos, é ao tubarão que se aplica a identificação estereotipada de "assassino dos mares".

Inúmeros mitos sobre tubarões têm sido construídos ao longo dos tempos. Em determinadas regiões, onde este animal está presente desde sempre, verdadeiras religiões foram criadas divinizando-o, como aconteceu nas Ilhas Salomão, onde é conhecido por "takw manacca". Ainda no ínicio do século XX, os habitantes destas ilhas realizavam sacrifícios humanos ao deus tubarão. Mas embora na cultura ocidental os mitos tenham expressões bem diferentes, assistimos com frequência a manifestações mistas de receio e admiração materializadas, por exemplo, nos sucessos de bilheteira de filmes em que o tubarão é o vilão protagonista, como a sequela "Jaws" (O Tubarão), de Steven Spielberg ou, mais recentemente, o filme de Renny Harlym, "Deep Blue Sea" (Do Fundo do Mar).

Na realidade, os tubarões têm muito mais motivos para recear os seres humanos, do que o contrário, pois nesta história os papéis estão invertidos e é o tubarão que necessita de protecção. Todos os anos são mortos mais de 50 milhões de tubarões, para fins comerciais. Para além da sua carne ser muito apreciada, muitas das capturas têm apenas como objectivo as barbatanas, usadas na preparação de uma famosa sopa asiática. O fígado destes animais, por ser muito rico em óleos, é ainda utilizado como lubrificante, a pele como matéria-prima na produção de lixas e as cartilagens são extraídas para utilizações terapêuticas "duvidosas".

Estas mortes têm um impacto bastante relevante nos ecossistemas oceânicos e são responsáveis pelo desequilíbrio das cadeias alimentares de que os tubarões fazem parte, uma vez que a maioria das espécies são predadoras de topo. É por este motivo que conseguem regular o balanço entre as diferentes espécies marinhas. Quando estes predadores são removidos, espécies comercialmente importantes podem entrar em competição com espécies de menor interesse, que anteriormente eram por eles controladas. Um outro aspecto negativo da alteração da estrutura dos ecossistemas marinhos pode ser demonstrado pelo que aconteceu na Austrália, há alguns anos atrás. A pesca excessiva do tubarão desencadeou um crescimento explosivo da população de polvos, o que não parece ser muito grave, já que o polvo é um molusco muito apreciado. O problema é que o aumento da população de polvo provocou uma diminuição acentuada nas populações das suas presas, o que já é extremamente preocupante em termos económicos, quando estamos a falar de lagostas!

Por outro lado, os tubarões não predam indiscriminadamente, mas realizam uma selecção relativamente ao tipo, ao tamanho e ao estado de saúde das presas. Deste modo, são responsáveis pela remoção dos animais mais fracos e debilitados do ecossistema, actuando como uma ferramenta da selecção natural, impelindo a evolução a continuar o seu curso.

Em Abril deste ano, realizou-se a XI Conferência da CITES em Nairobi, no Quénia, onde 150 países discutiram quais as espécies ameaçadas do mundo que precisam de maior protecção. A tentativa por parte de organizações ambientalistas e de alguns governos de colocar certas espécies de tubarões (nomeadamente o Tubarão Baleia e o Tubarão Branco) no anexo II da Convenção, que impõe restrições ao seu comércio, revelou-se infrutífera, pois não se atingiram os dois terços necessários para a aprovação desta medida.

Para além da necessidade de travar a comercialização não controlada, a desmistificação do tubarão "caçador-de-homens" é fundamental para a sua conservação. Esta visão universal e simplista está a ser, lentamente, substituída por uma visão mais equilibrada e racional do papel que este animal desempenha nos ecossistemas dos quais faz parte e do balanço entre prejuízos/benefícios que pode causar.

Mas qualquer que seja a visão que se possui, existem factos inegáveis que permitem olhar para os tubarões como uma obra-prima no mundo dos predadores. Eles surgiram há mais de 350 milhões de anos, muito antes do Homem e permaneceram praticamente imutáveis nos últimos 70 milhões de anos. Apesar de viveram num ambiente que é razoalvelmente tolerante às alterações e que, até agora, não tem sido muito afectado pela actividade humana, para sobreviver tanto tempo numa escala geológica, deverão estar a fazer "as coisas bem feitas"!

No entanto, as mesmas características que lhes garantiram tão grande sucesso, estão agora a ameaçar a sua sobrevivência. Uma vez que cada fêmea produz apenas um número suficiente de crias para substituir as taxas naturais de mortalidade, as populações que sofrem maiores pressões estão a declinar perigosamente porque, devido à intervenção humana, actualmente essas taxas nada têm de natural. Como os fenómenos evolutivos só produzem resultados à escala de tempo geológico, muitos destes "senhores dos mares" correm sérios riscos de deixarem de o ser.

Maria Carlos Reis

sábado, 21 de julho de 2018

Powerpoint - Artropodes Auxiliares Comuns


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Tubarões do Mediterrâneo e do Mar Negro em risco de extinção



As populações de tubarões nos mares Mediterrâneo e Negro estão em risco de extinção, podendo levar a graves consequências para os ecossistemas marinhos e a cadeia alimentar, adverte um estudo divulgado nesta quinta-feira pela Organização das Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação (FAO).

De acordo com a investigação feita pela organização, o número de tubarões tem vindo a diminuir significativamente ao longo dos últimos dois séculos. O estudo Elasmobrânquios do Mediterrâneo e do Mar Negro: estado, ecologia e biologia, foi realizado pela Comissão Geral das Pescas do Mediterrâneo (CGPM), um dos órgãos regionais da FAO dedicado à indústria da pesca.

“O número de tubarões e o peso das capturas no Mediterrâneo diminuíram mais de 97% nos últimos 200 anos. Se a actual pressão da pesca continuar, correm o risco de extinção”, refere o documento. No Mar Negro, embora a informação seja escassa, as capturas das principais espécies de tubarão também diminuíram para quase metade em relação às capturas do início dos anos de 1990.

“Esta perda de grandes predadores pode ter implicações graves em todo o ecossistema marinho, afectando substancialmente a cadeia alimentar na região”, de acordo com o estudo.

O documento adverte que as espécies de peixes cartilaginosos, como os tubarões e as raias, “são de longe o grupo mais ameaçado de peixes marinhos no Mediterrâneo e no Mar Negro, onde se conhece a existência de até 85 espécies diferentes”. Das 71 espécies estudadas no Mediterrâneo em 2007, constatou-se que 30 (42%) foram consideradas ameaçadas.

Os peixes cartilaginosos têm os esqueletos constituídos por cartilagem em vez de ossos e dentro desse grupo, os tubarões e as raias têm o nome científico de elasmobrânquios. As suas características biológicas, incluindo a baixa fecundidade, a maturidade tardia e o lento crescimento, tornam-nos mais vulneráveis do que os peixes ósseos devido às suas taxas de regeneração mais lentas.

Em geral, os tubarões e as raias não têm sido pescados propositadamente no Mediterrâneo e no Mar Negro, mas são capturados acidentalmente.

Os desembarques totais anuais registados no Mediterrâneo e no Mar Negro são actualmente de cerca de 7000 toneladas, em comparação com as 25.000 toneladas em 1985, uma indicação da gravidade do declínio das espécies. No entanto, tem-se intensificado a captura de tubarões devido à crescente procura por barbatanas, carne e cartilagem.

A situação é ainda agravada pelos danos ou alterações aos seus habitats, causados pelo transporte marítimo, pela construção e mineração submarina ou por poluentes químicos, pelo ruído e pela contaminação electromagnética.

Entre as medidas mais recentes tomadas pela comissão para proteger os tubarões e as raias encontra-se a proibição da prática de finning (remoção das barbatanas no mar e descarte das carcaças) e limitações à pesca de arrasto a menos de três milhas da costa para aumentar a protecção aos tubarões costeiros.

A comissão também recomendou aos países da bacia do Mediterrâneo e pelo Mar Negro que invistam em programas de investigação científica destinados a identificar áreas potenciais de criação e que considerem encerramentos sazonais de certas áreas para proteger os tubarões e as raias juvenis das actividades pesqueiras.

Outras iniciativas levadas a cabo pela comissão incluem a organização de várias reuniões e cursos que visem uma melhor compreensão destas espécies e dos seus habitats e a criação de uma base de conhecimento regional para orientar os membros da CGPM no desenvolvimento de planos nacionais para proteger as principais espécies.

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quinta-feira, 19 de julho de 2018

Powerpoint - Reino Fungi


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Aquecimento global afeta crescimento dos peixes


O aumento das temperaturas atrasou o ritmo de desenvolvimento das larvas dos peixes, o que os tornou mais vulneráveis aos predadores reduzindo a sua possibilidade de sobreviver.
O aumento da temperatura da água do mar está a prejudicar o desenvolvimento dos peixes na zona equatorial, ameaçando a sua sobrevivência e a das comunidades que vivem da pesca, alerta um estudo divulgado hoje na Austrália.
A investigação, realizada por cientistas da Universidade James Cook, analisou o impacto do aumento da temperatura da água em larvas de peixes recolhidas numa área de 2.000 quilómetros entre o sul da Grande Barreira de Coral e o norte da Papua Nova Guiné, próxima da linha equatorial.
"Descobrimos que onde as temperaturas aumentaram acima de um ponto perto do Equador, para 29 graus, o ritmo de desenvolvimento das larvas atrasou-se", disse o autor do estudo, Ian McLeod, num comunicado da universidade.
A maioria dos peixes marinhos atravessa uma etapa de desenvolvimento larval no mar aberto que os torna mais vulneráveis aos predadores e se passam muito tempo nesta situação têm menos possibilidades de sobreviver.
"O crescimento rápido durante a etapa larval dá-lhes vantagens de sobrevivência porque podem desenvolver-se mais cedo e sair com mais rapidez dos perigosos ambientes marítimos", explicou o cientista australiano.
O coautor do estudo, Philip Munday, alertou para a vulnerabilidade dos peixes equatoriais ao aquecimento global, enquanto outro investigador, Geoffrey Jones, advertiu que milhões de pessoas nas zonas equatoriais dependem da pesca para viver.
"Muita gente nas regiões equatoriais como a Papua Nova Guiné depende dos peixes, que são a sua principal fonte de proteínas, pelo que o estudo faz-nos refletir sobre o futuro da segurança alimentar nestes lugares", sublinhou Geoffrey Jones.

terça-feira, 17 de julho de 2018

A diversidade de formas de vida e a sua classificação

As primeiras tentativas de organizar o mundo vivo, categorizando-o, deram-se na Antiguidade. As Ciências que se constituíram com este objectivo são actualmente ferramentas indispensáveis para compreender o equilíbrio da Biosfera.

Desde há mais de 3000 milhões de anos atrás, quando surgiram as primeiras formas de vida sobre a Terra, até aos dias de hoje, o número de espécies de seres vivos tem vindo a aumentar. Este processo, designado por especiação, tem sido, no entanto, acompanhado por diversos períodos de extinções maciças. Calcula-se, por exemplo, que no Ordovício se tenham extinguido 50% das espécies animais que existiam até então, no Devónico 30%, no Pérmico 50% e no Triássico 35%. No entanto, durante os intervalos de milhões de anos entre cada vaga de extinções, o aparecimento de novas espécies foi-se dando a um ritmo superior ao dos desaparecimentos, sendo esta a razão para que o número máximo de espécies, alguma vez existente sobre a Terra, tenha sido atingido na nossa era, há apenas 30 000 anos. Desde então, esse número tem vindo a decrescer a um ritmo inversamente proporcional ao do aumento da população humana.

De todos os seres vivos que constituem actualmente a biosfera, já foram identificadas cerca de 1 413 000 espécies. Estas incluem: 1 032 000 espécies de animais, das quais apenas 10% são vertebrados, 248 500 espécies de plantas, 69 000 de fungos e 26 000 de algas. Apesar destes números serem muito elevados, é de esperar que o número real de espécies se possa situar entre os 5 e os 10 milhões ou, de acordo com alguns autores, até entre os 30 e os 150 milhões de espécies, pois grande parte da biodiversidade ainda não é conhecida. Mesmo assim calcula-se, por exemplo, que o número de espécies de plantas e animais vivas represente apenas cerca de 1% de todas as espécies que já existiram.

Se alguns grupos, como os vertebrados ou as plantas, são bastante estudados, outros, como as bactérias ou os fungos, permanecem bastante desconhecidos. Crê-se, por exemplo, que para além das 4 800 espécies de bactérias já descritas, possam existir ainda 1 000 000 espécies por descrever.

Estas divisões entre categorias de seres vivos resultam do trabalho de uma ciência designada por Taxonomia. Uma das primeiras pessoas a fazer uma tentativa para classificar e organizar os seres vivos em diferentes categorias foi Aristóteles. Apesar de não se ter baseado nos mesmos critérios que hoje utilizamos, Aristóteles idealizou uma organização que, tal como a que actualmente vigora, partia do geral para o particular, associando os organismos em grupos cada vez mais restritos. A visão de Aristóteles perdurou por quase 15 séculos, até serem realizadas novas tentativas para solucionar o problema. Isto aconteceu quando, como complemento da Medicina, foram desenvolvidos diversos estudos no domínio da Botânica, (que propiciaram o desenvolvimento da Taxonomia. Nessa sequência viria, por exemplo, a ser proposta, em 1703, uma divisão dentro das Angiospérmicas, que actualmente corresponde a duas subclasses, as Dicotiledóneas e as Monocotiledóneas.

Em 1758, o pai da Nomenclatura moderna, Carolus Linnaeus, propõe finalmente a nomenclatura binominal. Apesar do contributo de Linnaeus ter sido fundamental, ele era um fixista, pois achava que o número de espécies era constante e imutável. No entanto, o rigor da sua classificação era fundamentalmente superior ao de Aristóteles, porque levava em consideração um maior número de características, na organização dos grupos de seres vivos. Fruto do seu rigor, Linnaeus chegou indirectamente a grupos evolutivamente coesos.

A par dos desenvolvimentos das teorias da evolução, e como resposta a avanços técnicos, como o aparecimento do microscópio, foi necessário abandonar um modelo de dois Reinos: Animal e Vegetal. Em 1866, Haeckel propõe um sistema de classificação com três Reinos: Animal, Vegetal e Protista, que serviria para agrupar os animais primitivos. Já no século XX, Copeland proporia a separação dos Protistas sem núcleo individualizado num novo Reino: Monera. Finalmente, em 1969, Whittaker elabora o modelo actualmente mais aceite, que reconhece a existência de cinco Reinos: Monera, Protista, Fungos, Plantas e Animais.

A Taxonomia moderna, ao contrário da clássica, que se limitava a agrupar os organismos em função de características comuns, frequentemente resultantes de evolução convergente (como agrupar os peixes com os cetáceos, porque ambos nadam), passou, a partir do desenvolvimento das teorias da evolução, a recorrer à leitura dessas características para construir árvores filogenéticas. Desta forma, a arrumação dos seres vivos (ciência da Sistemática) passou a obedecer a uma lógica de proximidade evolutiva entre os membros de um determinado grupo. Em ambos os casos, a identificação dos organismos e das suas características são o primeiro passo para os rotular de acordo com uma categoria já existente, ou para criar uma nova. O constante desenvolvimento de métodos de diagnóstico, como a comparação genética de diferentes organismos, obriga a permanentes revisões das classificações anteriormente efectuadas. A Sistemática é, por isso, forçosamente dinâmica, e deve ser concebida como uma abstracção, ou uma esquematização de um processo contínuo e extremamente complexo. O próprio conceito de espécies é bastante ambíguo e seria seguramente possível dividir todos os seres vivos de acordo com outros critérios, e noutros grupos, não se chegando forçosamente a um resultado incorrecto.

De qualquer das formas, a Taxonomia e a Sistemática têm conseguido responder, por um lado, à necessidade de estabelecer e esquematizar as relações de proximidade e distanciamento entre todos os organismos e, por outro lado, têm sido uma ferramenta imprescindível para a identificação das espécies e para a homogeneização da nomenclatura.

De acordo com o sistema de classificação proposto por Whittaker, todos os seres vivos conhecidos estão dispostos numa árvore filogenética, que está compartimentada em cinco grandes grupos, os Reinos. Por sua vez, cada Reino está subdividido em grupos ou Taxa sucessivamente mais restritos: Filo, Classe, Ordem, Família, Género e Espécie. Cada uma destas categorias pode ainda ser subdividida noutras mais restritas. O Homem é, por exemplo, um animal, cordado, mamífero, primata e hominídeo.

Apesar da diversidade de formas de vida ser imensa, frequentemente focamos a nossa atenção sobre grupos razoavelmente restritos de organismos. As Plantas e os Animais são claramente os Reinos a que temos dedicado maior atenção. Mesmo assim, se pensarmos que 90% das espécies animais são invertebrados, rapidamente percebemos que tendemos a prestar desproporcionadamente maior atenção aos vertebrados que nos estão mais próximos. Mesmo numa perspectiva conservacionista, tendemos por vezes a menosprezar Reinos inteiros. É seguramente mais difícil compreender a importância de investimentos avultados para preservar um microorganismo, do que um animal felpudo, de aparência enternecedora, como o Panda. Não obstante a importância da conservação do Panda, nos tempos que correm, é um desafio reflectir sobre a riqueza do património biológico como um todo, em que nada fique para trás.

Na realidade, os esforços de conservação concentram-se nas espécies mais mediáticas, enquanto os restantes organismos são menosprezados. Entre estes últimos estão aqueles que pertencem ao Reino Monera, como as Bactérias ou as Algas azuis . Algumas Bactérias são responsáveis por graves doenças, como a cólera, e presentemente discute-se a legitimidade de exterminar da face da Terra seres como estes. Também entre os unicelulares Protistas podemos encontrar os responsáveis por diversas patologias, como a doença do sono ou a malária, e o dilema ético do seu eventual extermínio também se coloca. Os Fungos foram os últimos seres a surgir sobre a Terra, e entre eles podemos encontrar formas tão distintas quanto o bolor, os cogumelos ou as leveduras. Alguns deles são prejudiciais ao Homem e outros são muito úteis, tal como o que produz a penicilina.

O conhecimento de todas as formas de vida que colonizam a Terra é uma tarefa interminável, mas a percepção da riqueza e da importância do equilíbrio da biosfera, são uma razão de peso para que se continue a investir no aprofundar dos conhecimentos nesta área. Num universo tão vasto, são necessárias regras que padronizem a identificação, a classificação e a nomenclatura biológica, mas actualmente existe um reconhecido défice de taxonomistas, provavelmente porque nos dias que correm se estejam a preterir as ciências descritivas em favor das analíticas.

Alexandre Vaz

Cem mil árvores para nos plantar uma ideia na cabeça



Se mora na Área Metropolitana do Porto é possível que nalgum passeio por uma zona verde das redondezas se tenha deparado com um pilarete em madeira com a seguinte inscrição: “Estamos a criar uma floresta nativa com a ajuda de muitos cidadãos voluntários. Preserve-a”. O alerta resume o que têm sido os últimos cinco anos da bióloga Marta Pinto e da pequena equipa que mobilizou centenas de pessoas e organismos vários em torno de Futuro: o Projecto das 100 Mil Árvores, que tem andado a plantar uma ideia na cabeça de milhares de cidadãos.

É assim todos os Verões, na época dos fogos. Nas últimas semanas, muito se tem falado da importância das espécies nativas para o ordenamento florestal português e para a resistência da floresta contra os incêndios. Mas, há cinco anos, as instituições reunidas na rede informal do Centro Regional de Excelência - Educação para o Desenvolvimento Sustentável (CRE-Porto), fundado pela Católica, a Direcção Regional de Educação e a Área Metropolitana decidiram que era preciso acordar a população para a importância de árvores cujos nomes deixamos de conhecer ou nunca nos foram sequer ensinados.

Assim, os pilriteiros - um arbusto das rosáceas - as pereiras-bravas que vemos em alguns bosques primordiais do Gerês, os azereiros, que também por lá encontramos e que quase desapareceram da paisagem portuguesa, ganharam o seu espaço num projecto que inclui o carvalho-alvarinho (o mais plantado), o carvalho-negral, o medronheiro, ulmeiros, castanheiros, freixos, azevinhos, pinheiros-mansos, cerejeiras, loureiros, sabugueiros, tramazeiras, teixos, aveleiras, gilbardeiras, num total de 41 espécies.

Enquanto o país se atém a combater os fogos - e Marta Pinto, ainda não sabia, há dias, os efeitos destes numa área de intervenção do projecto em Arouca - o grupo coordenador aproveita o Verão para planear as próximas acções de plantio e monitorização e para avaliar o trabalho feito até aqui. E o último relatório sobre o projecto é bem claro quanto à dimensão que ele atingiu. Em cinco anos, houve mais de 11.300 inscrições online nas acções de voluntariado (sendo que mais gente participou, inscrevendo-se na hora), que implicaram a oferta, por parte destes cidadãos, de 36 700 horas de trabalho gratuito. “Gente muito diversa”, de profissões que nada têm a ver com a área, nota Marta Pinto, assinalando que a estes se juntaram os técnicos das autarquias, e do Instituto de Conservação da Natureza e das Florestas, entidades com as quais as iniciativas são articuladas, e que contribuiram - muitas vezes aos sábados - com 110 mil horas de trabalho profissional.

Esta capacidade de articulação entre gente dos municípios, das organizações não governamentais, dos baldios, e os voluntários têm sido um dos segredos para o sucesso da iniciativa. “Muitas vezes vemos surgir apelos voluntaristas, para reflorestar uma determinada área ardida, mas sem consequências práticas por falta de coordenação”, assinala Marta Pinto, que em 2013 foi premiada com o “Terre de Femmes” pela Fundação Yves Rocher por causa deste projecto que se alimenta de milhares de plantas produzidas no horto municipal do Porto.

O projecto não se cinge ao plantio das árvores. Organiza também acções de formação para técnicos e voluntários, tentando melhorar o seu conhecimento das espécies em causa, e a melhor forma de as gerir. E depois, é preciso monitorizar a evolução das áreas de intervenção. “As mudanças são sempre lentas, mas estamos a fazer alguma diferença”, admite Marta Silva. A iniciativa das cem mil árvores pretende de facto chegar a esse número - foram 81.369, em 37 espaços, num total de 190 hectares de 15 concelhos, até agora - mas tem outro objecto confessado: reaproximar populações urbanas e periurbanas do meio florestal envolvente, comprometê-las, através do conhecimento, com a evolução destes ecossistemas que não se cingem sequer ao arvoredo, mas a toda a vida que este proporciona e que pode ser geradora de riquezas que têm sido pouco exploradas.  

Apesar de ter sido pensado para cinco anos, o Futuro - O Projecto das 100 mil árvores vai prosseguir. Não apenas porque ainda há quase 19 mil árvores para chegar ao número mágico, mas porque a “magia”, assume Marta, está precisamente no envolvimento das populações, que não pode parar. Com o passar dos anos, o projecto foi-se alargando para outras dimensões, como as acções de  controlo de invasoras ou a organização de rotas de vista a núcleos florestais da região (onde não há só eucaliptos e pinheiros, apesar destes dominarem a paisagem), mas vai continuar a apostar na reflorestação. “Poderíamos fazer mais, mas somos poucos na coordenação do projecto”, diz Marta Pinto que, cinco anos depois, assume que ela própria, enquanto bióloga, aprendeu imenso sobre a floresta portuguesa.

Informação retirada daqui

domingo, 15 de julho de 2018

Os Cogumelos e os seus Venenos

De Norte a Sul de Portugal muitos são os apreciadores que se deslocam para colher silarcas, míscaros, tortulhos, boletos, laranjinhas e outros cogumelos silvestres comestíveis. Porém, a actividade de recolha de cogumelos silvestres, que tanto prazer proporciona a todos os apreciadores, pode acarretar sérios riscos, pois várias espécies consideradas tóxicas ou mortais produzem cogumelos bastante semelhantes aos comestíveis.

Entre as milhares de espécies de fungos produtoras de cogumelos, apenas algumas dezenas contêm quantidades significativas de micotoxinas. As intoxicações por ingestão de micotoxinas presentes nos cogumelos podem ser classificadas em dois grandes grupos, de acordo com seu tempo de latência, definido como o intervalo que se verifica desde a ingestão até o aparecimento dos primeiros sintomas de envenenamento. Num primeiro grupo incluem-se as intoxicações com períodos de latência curtos, em que o intervalo desde a ingestão até o aparecimento dos primeiros sintomas é inferior a 4 horas. Estas intoxicações são regra geral consideradas como “leves”, não existindo risco de vida por mais aparatosos que sejam os sintomas. No segundo grupo incluem-se as intoxicações com períodos de latência longos em que o intervalo desde a ingestão até o aparecimento dos primeiros sintomas é superior a 4 horas. Estas intoxicações são consideradas como “muito graves”, podendo decorrer vários dias até surgirem os primeiros sintomas. Geralmente, as toxinas envolvidas neste último grupo de intoxicações provocam a falência das células de órgãos vitais, podendo ocasionar a morte.

As micotoxinas não são as únicas responsáveis por casos de intoxicação por cogumelos. Outros incidentes resultam de reacções alérgicas (hipersensibilidade a determinadas substâncias), consumo excessivo (especialmente de cogumelos crus) ou intoxicações alimentares (ingestão de cogumelos podres). Nestes casos, náuseas, vómitos e diarreias são os sintomas mais frequentes. Registaram-se ainda alguns episódios de manifestações de desconforto após a ingestão de cogumelos sem que existisse uma base fisiológica para tal. Estas ocorrências devem-se ao facto das pessoas duvidarem do que estão a ingerir (efeito psicossomático).
Por último, nunca é demais reafirmar que não se deve comer um cogumelo, a menos que se esteja seguro que é comestível!

Confiar em crenças, mitos e outras sabedorias populares para identificar cogumelos venenosos é uma estratégia perigosa, pois muitas destas convicções não têm rigorosamente nenhuma base científica. De facto, as duas causas mais comuns de envenenamento por ingestão de cogumelos continuam a ser a negligência e a ignorância.

Descrevem-se em seguida alguns exemplos comuns de crenças e mitos nos quais NÃO devemos confiar:

“Todos os cogumelos brancos são comestíveis”
Assumir que todos os cogumelos brancos são comestíveis pode conduzir a intoxicações fatais. Nem todos os cogumelos venenosos possuem cores garridas. Amanita verna (Anjo da destruição) é apenas um exemplo gritante de um cogumelo branco e mortal.

“Os cogumelos venenosos enegrecem os objectos de prata, os comestíveis não”
Este mito tem sido disseminado ao longo de gerações sem ter qualquer base de verdade.
Até à data não são conhecidas toxinas que reajam com a prata. Contudo, algumas substâncias, como o enxofre, reagem com a prata enegrecendo-a e alguns cogumelos, comestíveis ou não, têm uma elevada concentração de enxofre.

“Todos os cogumelos, desde que cozinhados prolongadamente, podem ser comidos”
Esta afirmação está completamente errada, pois a maioria das toxinas não é destruída pela temperatura elevada.

“Os insectos e outros animais evitam os cogumelos venenosos”
Não é verdade! Um cogumelo pode ser tóxico para os seres humanos e não o ser para insectos e outros animais. Por exemplo, os coelhos e as lesmas consomem Amanita phalloides (Chapéu da morte) pois são imunes às suas toxinas.

“Os cogumelos venenosos têm sabores amargos, azedos ou desagradáveis”
O sabor desagradável não significa que o cogumelo é venenoso. Algumas Amanita venenosas possuem sabores agradáveis e até adocicados. Em oposição, Lactarius piperatus não é tóxico, mas possui um sabor extremamente picante e desagradável.

Casos notáveis de intoxicação por cogumelos
De acordo com algumas fontes, Siddhartha Gautama, mais conhecido por Buda, morreu envenenado acidentalmente devido à ingestão de cogumelos tóxicos no ano de 479 A.C..

Tiberius Claudius, imperador Romano, diz-se ter sido assassinado no ano de 54 D.C. por sua esposa Agripina que, segundo rezam as lendas, lhe terá preparado um prato mortal de Amanita phalloides (Chapéu da morte).

Existem alguns rumores de que também o Imperador Romano-Germânico Carlos VI (séc. XV), o Papa Clemente VII (séc. XVI) e a Czarina Natalia Naryshkina (séc. XVII) morreram após terem ingerido acidentalmente Amanita phalloides.

Ambos os pais do físico Daniel Gabriel Fahrenheit, criador da escala de temperatura Fahrenheit, morreram em 14 de Agosto de 1701 em Danzig (actual Gdansk, Polónia), após ingestão acidental de cogumelos venenosos.

De acordo com uma lenda popular, o compositor Johann Schobert (séc. XVIII) terá morrido em Paris por ingestão de cogumelos tóxicos, juntamente com sua esposa e um de seus filhos, depois de insistir que certos cogumelos venenosos eram comestíveis.

Mais recentemente, no século XX, um famoso micologista alemão, Julius Schaeffer, morreu depois de ingerir Paxillus involutus. O micologista identificou correctamente os cogumelos, que à data eram considerados comestíveis, mas que hoje se sabe poderem provocar reacções alérgicas muito graves.