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segunda-feira, 18 de maio de 2015

Notícia - O reino dos gigantes

Os oceanos pré-históricos eram lugares perigosos, povoados pelos mais sanguinários monstros marinhos. Reconstituímos esses tempos.

O mar tem sido tradicionalmente considerado um lugar perigoso, cheio de mistérios. Privado das adaptações necessárias para poder viver dentro de água, o ser humano criou uma mitologia diversificada de terríveis criaturas ocultas nas profundezas, numa atitude que reflectia o grau de desconhecimento que tinha, até há pouco tempo, de tão extenso meio. Na realidade, porém, não era necessário recorrer à mitologia nem à imaginação: durante boa parte da sua história, os oceanos foram espaços habitados por perigosas feras, autênticos monstros aquáticos. Esses seres eram o resultado da evolução ao longo de dezenas de milhões de anos e o reflexo dos processos de adaptação ao meio marinho. O estudo dos vestígios petrificados permitiu aos paleontólogos desvendar os remotos mundos oceânicos, actualmente sepultados sob as rochas abissais. Os estratos geológicos contêm uma antiquíssima história da qual, por enquanto, ainda só conseguimos arranhar a superfície.

Os mares de finais do Devónico (há cerca de 375 milhões de anos) tinham águas cálidas e eram ricos em fauna e flora marinhas. Entre os invertebrados, havia abundantes briozoários, braquiópodes, corais, amonites e trilobites. Havia também uma grande variedade de peixes, como os ostracodermos, que não pos­suíam mandíbulas, e os placodermos, que apresentavam, pelo contrário, um maxilar forte e contavam com férreas couraças protectoras. Neste último grupo, o rei incontestado era o Dun­kleos­teus, um terrível gigante cuja secção frontal estava protegida por uma autêntica armadura de placas. Em vez de dentes, o predador possuía um conjunto de projecções pontiagudas de osso que podiam penetrar na carne das vítimas ou mesmo partir-lhes o esqueleto. Um estudo elaborado, em 2007, pelos zoólogos Philip S.L. Anderson e Mark W. West­neat indica que exercia uma extraordinária força quando mordia, capaz de penetrar a couraça de qualquer outro placodermo que tivesse o azar de atravessar-se no seu caminho. A poderosa mordedura, aliada ao comprimento de seis metros, transformava o Dunkleosteus terrelli no campeão daqueles mares.

Ao longo do Devónico, os peixes diversificaram-se de forma impressionante. Todavia, não foram os únicos vertebrados a dominar o meio marinho. Cerca de 60 milhões de anos depois, durante o Pérmico (há 290 milhões de anos), os répteis começaram a invadir os habitats marinhos. O seu apogeu chegaria no Mesozóico (há cerca de 250 milhões de anos), a “idade de ouro” dos dinossauros. Naquele período, que se prolongou por 185 milhões de anos, os grandes lagartos também cederam parte do protagonismo aos répteis de água salgada, os quais viveram os seus dias de glória durante o Triássico, primeira etapa da era secundária.

No início, surgiram três grupos: Sauropterygia, Ichthyopterygia e Thalattosauria (este juntou-se aos outros dois passados seis milhões de anos). Os sauropterígios chegaram a alcançar uma diversidade próxima dos cem géneros, mas foi no grupo dos ictiopterígios que se encontravam alguns dos gigantes mais espectaculares, incluindo os ictiossauros, cuja forma, semelhante à de peixes e golfinhos, lhes valeu a denominação: em grego, ichthyosauria significa “lagartos-peixes”.

Foi no Triássico que se registou a maior diversidade de ictiossauros. O que atingiu maior tamanho foi o género Shonisaurus, que chegou até nós através de duas espécies. Nas montanhas Shoshone, no estado norte-americano do Nevada, o paleontólogo Charles Camp descobriu a primeira variedade, o Shonisaurus popularis. Os ictiossauros devem ter-se sentido confortáveis naquelas águas, pois a equipa de Camp recuperou mais de uma trintena de exemplares do réptil, que chegava a alcançar 15 metros de comprimento.

Uma segunda jazida, desta vez situada na Colúmbia Britânica (Canadá), permitiu descobrir outra espécie ainda maior. Tratava-se do Shonisaurus sikanniensis, que ostentava uns fabulosos 21 metros de comprimento. Apesar disso, os especialistas Elizabeth L. Nicholls e Makoto Manabe consideram que pode ter havido espécimes ainda mais corpulentos, uma proeza que transformaria o Shonisaurus no maior réptil marinho da história. Dado que os exemplares adultos não tinham dentes, podemos imaginar como seriam estes enormes e plácidos animais a alimentar-se através da sucção de enormes quantidades de lulas e belemnites (moluscos cefalópodes).

Em finais do Triássico (há cerca de 199 milhões de anos), produziu-se uma extinção em massa e grande parte das famílias de répteis neptunianos desapareceu. No entanto, alguns grupos de sauropterígios e ictiossauros sobreviveram e deram origem a novas formas ao longo do período jurássico (há 199 a 145 milhões de anos). Alguns podem ser incluídos na lista de predadores mais sinistros que os ocea­nos conheceram. Por sua vez, a Plesiosauria é uma das ordens do grupo dos Sauropterygia cujos membros atingiram grandes dimensões. A característica fundamental foi a evolução das extremidades para uma forma de barbatana rígida; importantes modificações ao nível do pulso e do joelho permitiram que utilizasse essas barbatanas para nadar mais vigorosamente do que outros sauropterígios.

Em função da forma do corpo, a ordem divide-se em dois tipos diferentes. Os que tinham o pescoço comprido e uma cabeça pequena são os plesiossauros, enquanto os que exibem o aspecto oposto (pescoço curto e cabeça maior) apresentam a disposição física característica dos pliossauros.

É entre estes gigantes de pescoço comprido que encontramos um monstro que aterrorizava a fauna marinha do Jurássico médio, há 164 milhões de anos: o Liopleurodon. Era um majestoso superpredador que passeava pelos oceanos, orgulhosamente, um corpo que atingia os cinco ou seis metros. Além disso, exibia um aspecto verdadeiramente ameaçador, com fabulosos dentes afiados de tamanho diferente, marca inconfundível de um carnívoro voraz.

Todavia, aquelas águas não foram apenas o cenário escolhido por numerosos répteis, pois houve também peixes enormes. De facto, foi no Jurássico médio que viveu o maior peixe de todos os tempos, o Leedsichthys. Com cerca de nove metros, tratava-se de um gigante sem dentes que pertencia a uma estranha família aquática já extinta, a Pachycormidae. Pensa-se que o Leedsichthys,tal como os actuais grandes vertebrados oceânicos, se alimentava de organismos muito pequenos, como plâncton e peixinhos diminutos. Assim, para comer, só tinha de abrir a boca e filtrar selectivamente a água e os alimentos. Além disso, do ponto de vista paleoecológico, os cadáveres de Leedsichthys devem ter sido como uma espécie de “bufete de praia”, pois propocionavam uma espectacular quantidade de nutrientes a répteis marinhos necrófagos e outros organismos.

O domínio dos “pescoços curtos” e “cabeçudos”, ou seja, dos pliossauros, estende-se até ao Jurássico superior (há 161 a 145 milhões de anos), se tomarmos em consideração uma recente descoberta ocorrida no arquipélago de Svalbard (Noruega), junto das águas do Árctico. Ali, uma equipa de paleontólogos da Universidade de Oslo, liderada por Jorn Hurum, encontrou um espécime espectacular. Em Junho de 2008, desenterraram do gélido solo polar um enorme pliossauro com cerca de 15 metros, um dos maiores descobertos até agora e um verdadeiro tesouro que ainda está a ser estudado. Os jornais baptizaram-no como “o Monstro”, mas os especialistas que se dedicam à sua análise preferem chamar-lhe “Predador X 3”, pois ainda não recebeu uma denominação científica específica.

Com 147 milhões de anos, o mediático Monstro parece bater todos os records pliossáuricos: os primeiros estudos preliminares indicam que pesava cerca de 45 toneladas, que se tratava de um nadador rápido e enérgico, e que possuía uma força de mordedura absolutamente demolidora. O biólogo evolutivo Gregory M. Erickson, que se especializou no estudo de dentadas de répteis, concluiu que o bichinho tinha uma força de mordida dez vezes superior à de qualquer animal actual. Assim, parece que nenhum habitante dos mares jurássicos estaria a salvo dos maxilares da fera.

A dinastia de pliossauros predadores não termina no Jurássico. Durante o Cretácico inferior (há 145 a 100 milhões de anos), os oceanos foram habitados por outro sinistro senhor dos mares, o Kronosaurus: com nove a dez metros, exibia um crânio robusto de dois metros de comprimento e cada dente possuía uma coroa de 12 centímetros.

No decurso do Cretácico superior, manteve-se a rica diversidade de peixes e répteis de água salgada, moradores de oceanos que continuavam a ser lugares extremamente arriscados. Partilhavam as águas tanto gigantes pacíficos, como o Bonnerichthys, com seis metros de comprimento, como sanguinários caçadores, caso do Xiphactinus, de cinco metros. Equipado com enormes dentes afiados que enchiam uma boca semelhante à de um buldogue, este caçador foi um feroz carnívoro.

Um exemplar célebre foi descoberto, em 1952, pelo paleontólogo George Fryer Stern­berg no condado norte-americano de Gove (Kansas). Sternberg desenterrou um espécime de Xiphactinus em excelente estado de conservação e que até continha um “brinde”no seu interior: outro peixe inteiro, um Gillicus, de 1,8 metros de comprimento. A explicação mais provável é que o animal engolido, ao agitar-se com toda a força, tenha causado lesões irreversíveis em alguns órgãos internos do sôfrego Xiphactinus. Bem diz o ditado que “pela boca morre o peixe”; neste caso, o glutão não reparou no tamanho da iguaria, pelo que também se poderia dizer que “quem com ferro mata, com ferro morre”.

Não eram os únicos “vizinhos” dos oceanos, pois por ali também navegavam os plesiossauros, esses gigantes de cabeça pequena e pescoços que chegavam a alcançar uma extensão difícil de imaginar. O campeão, até à data, parece ser o Styxosaurus, que tinha 12 metros no total e um pescoço que atingia os seis metros de comprimento (o das girafas ronda os dois metros). Muito se tem debatido a função e a utilidade de semelhante anatomia, e trata-se de uma questão para a qual ainda não se encontrou uma resposta definitiva. O facto é que a flexibilidade do pescoço era muito limitada, devido às rígidas articulações entre as vértebras cervicais. Por isso, o Styxosaurus não podia dobrá-lo de forma ondulante, nem pôr a cabeça fora de água como se fosse um periscópio. O longo cachaço talvez lhe servisse para se aproximar das presas sem que estas pudessem detectar o seu grande corpo.

Os plesiossauros devem ter sido perseguidos por formidáveis esqualos como o Cretoxyrhina e o Squalicorax, os quais podiam alcançar sete e cinco metros, respectivamente, com uma envergadura e porte semelhantes aos dos actuais tubarões brancos. No entanto, apesar de grandes e bem equipados, estes peixes não podiam competir com os grandes senhores da época, os mosassauros. Um espécime, o Tylosaurus, foi encontrado numa jazida norte-americana. Com cerca de 15 metros de comprimento, tinha uma alimentação carnívora variada: alguns dos fósseis mostram o conteúdo das últimas refeições, que incluem peixes, aves marinhas e mesmo outros mosassauros menos ditosos. Houve também géneros mais sibaritas que se especializaram em comer marisco, como é o caso do Globidens e do Prognathodon. Os seus membros possuíam dentes arredondados em forma de cavilha que podiam triturar conchas e outros moluscos.

Grandes carapaças

As tartarugas também não quiseram ficar para trás e, após um tímido começo no Cretácico inferior, chegaram a produzir majestosos espécimes. Podemos referir o Protostega, de três metros, e o Archelon, que, com quatro metros de comprimento, é a maior tartaruga de todos os tempos. É difícil imaginar semelhantes animais, do tamanho de um automóvel utilitário e com um estilo de vida provavelmente não muito distinto daquele das actuais tartarugas. Todavia, a maior parte dos répteis marinhos desapareceu há 65 milhões de anos devido a uma gigantesca catástrofe: o impacto de um enorme bólide contra a Terra provocou a célebre extinção do Cretácico, a qual acabou também com os dinossauros.

A estirpe dos esqualos não terminou na altura mas atingiu, pelo contrário, o seu apogeu, com exemplares como o megalodon, com perto de 20 metros de comprimento. Não se dispõe de muitos dados sobre o animal, pois nunca se recuperou um exemplar completo, mas sabe-se que foi o maior tubarão da história e que dominou, durante mais de 20 milhões de anos, os oceanos do planeta. Para alívio de mergulhadores e surfistas, o megalodon extinguiu-se há 1,8 milhões de anos, possivelmente devido ao arrefecimento das águas ou porque a sua principal fonte de alimentação (os cetáceos) começou a diminuir.

As histórias dos monstros marinhos pré-históricos chegaram até nós na forma de fósseis, e essas rochas são verdadeiros tesouros que nos revelam como eram esses déspotas das profundezas.


Grandes dentadas
Os estudos de Jeff Liston, o maior especialista do mundo em Leeds­ichthys, indicam que o enorme peixe também não estava a salvo das mandíbulas dos superpredadores jurássicos. Liston estudou um exemplar de Leeds­ichthys com uma dentada de cerca de 13 centímetros e marcas de dentes de 47 mm de diâmetro. Uma mordedura de semelhante calibre só pode ter sido feita por um pliossauro que tentava caçá-lo sem o conseguir, pois a zona mostra um processo regenerativo. O segundo peixe analisado por Liston apresenta uma mordedura mais pequena, possivelmente feita por um plesiossauro ou um pliossauro ainda jovem.

Super Interessante
M.G.B.

sábado, 16 de maio de 2015

Notícia - No rasto das trilobites



Uma viagem aos mares do Paleozóico
As trilobites surgiram, viveram e extinguiram-se sem deixar quaisquer descendentes muito antes de o Homem ter surgido na Terra. O biólogo Jorge Nunes segue a pistas destes artrópodes marinhos e desvenda algumas das suas inúmeras curiosidades.

As trilobites, parentes afastados dos crustáceos actuais, foram os principais representantes dos artrópodes (grupo a que também pertencem, por exemplo, os caranguejos e os insectos) nos mares do Paleozóico (há 540 a 250 milhões de anos). Dominaram todos os ambientes marinhos, de uma forma similar ao domínio exercido pelos dinossauros durante o Jurássico e o Cretácico, e eram de tal modo abundantes que esse período de tempo geológico também é denominado como “Era das Trilobites”.

Esses organismos surgiram do Big Bang biológico (explosão de vida, com variadas formas) que ficou conhecido por “Explosão Câmbrica” e que correspondeu a uma enorme diversificação evolutiva dos animais, em que a maioria dos filos actuais e outros extintos surgiram. Tiveram uma ampla distribuição geográfica e uma pequena repartição estratigráfica, isto é, cada espécie teve um período de vida relativamente curto, sendo por isso considerados bons fósseis de idade, uma vez que permitem datar as rochas onde se encontram.

Atingiram o seu apogeu durante o Ordovícico (500 a 435 M.a.), quando terão existido 63 famílias agrupadas em oito ordens, entrando em progressivo declínio que culminou com o seu desaparecimento no final do Pérmico (280 a 230 M.a.), altura em que ocorreu uma extinção em massa, a maior da história da vida na Terra, em que terão desaparecido cerca de 90 por cento das espécies marinhas e terrestres.

Criaturas enigmáticas
Pensa-se que terão existido cerca de 15 mil espécie de trilobites. Contudo, uma vez que constituem um grupo de artrópodes marinhos completamente extinto, se quisermos ter uma ideia do seu aspecto teremos de nos deslocar a um oceanário para contemplar o caranguejo-ferradura (Limulus sp.), o organismo actual (vive nos oceanos Atlântico, Índico e Pacífico) mais parecido com uma trilobite. Trata-se de um crustáceo que é considerado um “fóssil vivo”, uma vez que quase nada evoluiu quando comparado com o seu registo fóssil do Triássico (230 a 195 M.a.), período em que se julga que terá aparecido na Terra.

No entanto, apesar das parecenças entre ambos, muitas são as diferenças que os distinguem, pelo que, se pretendemos conhecer verdadeiramente as famosas trilobites, não nos resta outra alternativa que não seja vasculhar as jazidas fossilíferas à cata dos seus vestígios, esperando que eles nos dêem pistas sobre estas misteriosas criaturas. Neste capítulo, Portugal está bem servido.

As trilobites, cuja designação resulta de o seu corpo estar segmentado longitudinalmente em três lobos, também apresentam uma nítida divisão transversal em três partes articuladas entre si (céfalo, tórax e pigídio). O lobo central continha a maioria dos órgãos vitais associados aos sistemas alimentar e nervoso, enquanto os laterais ofereciam protecção aos apêndices ventrais e a órgãos relacionados com o sistema circulatório. O facto de os segmentos torácicos serem articulados permitia que se enrolassem como resposta a alterações bruscas no meio ou, possivelmente, quando pressentiam algum perigo, como acontece na actualidade com o bicho-de-conta.

As suas carapaças rígidas mineralizadas ofereciam protecção mas obrigavam, de modo similar ao que se verifica com os artrópodes actuais que possuem exosqueletos quitinosos, a mudas regulares, para permitir o crescimento dos respectivos inquilinos. Sob as suas carapaças couraçadas, escondiam-se corpos moles, dotados de numerosos pares de patas, que só muito raramente ficaram fossilizados.

O tamanho das trilobites é muito variável, podendo ir de alguns milímetros até várias dezenas de centímetros, embora na maior parte dos casos apresentem um comprimento que varia entre os três e os dez centímetros. Apesar de serem muito raros os espécimes com mais de 30 centímetros, em Portugal, mais precisamente nas ardósias do Ordovícico com 465 milhões de anos extraídas na Pedreira do Valério em Canelas (Arouca), espécimes com essas dimensões são relativamente comuns.

São oriundas dessa jazida fossilífera as maiores trilobites do mundo, que atingem cerca de 70 cm (Ogyginus forteyi). Existe mesmo um exemplar incompleto com 21 cm, da espécie Hungioides bohemicus, em que a reconstrução do resto do animal permitiu deduzir que teria aproximadamente 90 centímetros de comprimento. Este gigantismo nas trilobites de Canelas ainda constitui um verdadeiro mistério, dado que as mesmas espécies surgem noutras localizações da Península Ibérica com dimensões bem mais modestas.

Para além das deformações provocadas pela tectónica (forças que actuam no interior da Terra), que terão originado o achatamento das carapaças, pensa-se que os tamanhos XL poderão ter sido uma adaptação às baixas temperaturas da água, tal como acontece nas faunas boreais de artrópodes marinhos actuais, dado que Canelas corresponderia à margem de um grande paleocontinente que no Ordovícico se localizava no pólo sul (a região correspondente à actual Península Ibérica situava-se na plataforma continental desse continente).

Estes organismos, que se reproduziam através de ovos, possuíam antenas e um par de apêndices locomotores articulados por segmento, localizados na face ventral. A maioria tinha olhos compostos por várias lentes mais ou menos desenvolvidos, de natureza idêntica à dos insectos actuais, existindo no entanto algumas espécies cegas, como acontecia com a Placoparia sp., relativamente comum em algumas jazidas fossilíferas portuguesas.

A rota das trilobites
Em diferentes lugares, as camadas rochosas fazem lembrar páginas petrificadas de gigantescos livros onde se pode ler a história da vida na Terra e conhecer as estórias do seu passado mais remoto. Dado que chegámos tarde para podermos observar as trilobites no seu ambiente natural, resta-nos procurar esses lugares e escutar com atenção os segredos que podem revelar-nos sobre os mares primitivos onde elas reinavam. Ao calcorrear o país num memorável roteiro geológico que permite fazer uma viagem ao passado recuando mais de 250 milhões de anos, podem encontrar-se vestígios diversificados dessas criaturas, desde somatofósseis (que correspondem a partes do corpo fossilizadas) até icnofósseis (indícios da sua actividade vital, como pistas de locomoção, fezes fossilizadas, ninhos com ovos, etc.).

Curiosamente, apesar de estarmos a falar de animais marinhos, as principais jazidas fossilíferas portuguesas do Paleozóico localizam-se longe do mar, algumas a centenas de quilómetros do oceano. Isto explica-se porque esses lugares, terrestres na actualidade, estiveram submersos pelas águas costeiras e fizeram parte do fundo marinho onde se formaram as rochas que actualmente podemos contemplar à superfície e que guardam nos seus estratos valiosos tesouros: os fósseis de trilobites e de muitos outros habitantes dos mares paleozóicos.

Para escolher o rumo e descobrir onde aportar, basta consultar a Carta Geológica de Portugal e procurar os terrenos da Era Paleozóica. Como o objectivo é achar os vestígios das trilobites, será importante saber que em Portugal estes são mais frequentes em rochas dos períodos Câmbrico, Ordovícico e Silúrico. Do Câmbrico, destaca-se Vila Boim, próximo de Elvas; do Ordovícico, Valongo e Arouca, nas proximidades do Porto, e Penha Garcia, no concelho de Idanha-a-Nova; e do Silúrico, Sazes de Lorvão, nas imediações de Penacova.

Dado que nos últimos anos se tem assistido a um grande incremento das actividades de protecção e divulgação do património geológico, alguns desses locais, através das suas autarquias em parceria com instituições de ensino superior, investiram em projectos de conservação e promoção da herança geológica, tendo já sido agraciados com o Prémio de Geoc­onservação (Penha Garcia em 2004, Valongo em 2005 e Arouca em 2008), ou estando inseridos na Rede Europeia de Geoparques: Penha Garcia no Geoparque Naturtejo da Meseta Meridional, desde 2006, e Canelas no Geoparque de Arouca, desde 2009.

Uma viagem ao passado
Embora o Câmbrico de Vila Boim seja notável pela sua fauna de trilobites, a ausência de estruturas de apoio aos visitantes torna difícil aos mais leigos a descoberta do seu património paleontológico. Assim, será recomendável seguir a peugada dos prémios de Geoconservação, onde qualquer curioso, mesmo que pouco letrado em geologia, poderá encontrar sempre, nas estruturas de acolhimento e informação ao público, quem o guie na viagem ao Paleozóico e o auxilie na observação e interpretação das jazidas fossilíferas, verdadeiras janelas abertas para um passado longínquo.

Começando esta viagem através dos tempos geológicos pelo magnífico canhão fluvial do rio Ponsul, em Penha Garcia, descobrem-se, brotando das fragas quartzíticas, as famosas “cobras pintadas”, que fazem parte da memória colectiva local desde tempos imemoriais. Neste lugar recôndito, a mais de 160 quilómetros do oceano, considerado como uma das mais importantes jazidas paleontológicas do Paleozóico português, os fósseis esqueléticos (somatofósseis) são muito raros, pelo que os icnofósseis, que correspondem a vestígios de actividades paleobiológicas de invertebrados, são tudo o que resta dos habitantes dos mares primitivos.

As “cobras pintadas”, como lhes chama o povo devido a fazerem lembrar curiosas esculturas de cobras petrificadas, além de terem servido para alimentar o lendário da região, desempenharam um papel muito importante no conhecimento do modo de formação das pistas do tipo Cruziana. Estas são icnofósseis de alimentação das trilobites e de outros artrópodes morfologicamente similares e correspondem a sulcos essencialmente horizontais, bilobados, com uma crista central mais ou menos definida, apresentando intricados padrões ornamentais de estrias. Para percebermos a sua formação, torna-se fundamental regressar ao passado e imaginarmos uma trilobite a alimentar-se de matéria orgânica contida nos sedimentos, escavando e revolvendo o fundo marinho e deixando atrás de si rastos bem delimitados, que são o resultado da escavação do substrato por acção dos apêndices locomotores.

Em Penha Garcia, as pistas cruzianas são salientadas pela sua particular diversidade, pelas dimensões ímpares atingidas por algumas estruturas e pela preservação delicada, muito perfeita e rara, aspectos que tornam este geo­monumento um parque icnológico único a nível nacional e singular no contexto mundial. Estão de tal modo fossilizadas que em determinados momentos do dia, com luz rasante, é possível observar até as mais delicadas marcas dos apêndices locomotores das trilobites que os produziram. Assim, não é de estranhar que alguns dos exemplares de Cruziana encontrados nestas paragens figurem entre os icnofósseis mais bem preservados que se conhecem a nível mundial.

Fazendo eco das palavras de Carlos Carvalho, geólogo da Faculdade de Ciências de Lisboa, os icnofósseis de Penha Garcia “permitem determinar o modo de vida das comunidades bióticas e suas adaptações às variações ambientais, como sejam as modificações da composição do substrato”. Além disso, a granulometria e o grau de consolidação dos sedimentos, em íntima relação com as peculiares condições paleoambientais quando os fundos marinhos fervilhavam de vida, possibilitam igualmente a observação dos “órgãos da zona ventral, incluindo o aparelho locomotor das trilobites, cuja morfologia, modo de funcionamento e aplicações podem ser conhecidas a partir dos diversos icnofósseis atribuídos a este grupo de organismos”.

Em resultado da tectónica e da erosão fluvial, obtém-se em Penha Garcia uma montra invulgar de grandes lajes com inúmeros icnofósseis. Estes são de tal modo abundantes na região que foram comummente utilizados no passado como matéria-prima para a construção de estradas, muros e carreiros pedonais, como se pode verificar na escadaria de acesso ao castelo e ao longo das veredas que atravessam o magnífico vale do rio Ponsul.

Carapaças abandonadas
No roteiro das trilobites, segue-se o Parque Paleozóico de Valongo, localizado nas imediações do Porto. Este parque, que tem o seu nome associado à era geológica em que se formaram as mais importantes rochas da região, visa precisamente preservar e valorizar o seu património natural e em particular o património paleontológico. Apesar de originalmente terem sido formadas no fundo do mar, as rochas mais antigas de Valongo encontram-se actualmente à superfície, em resultado dos movimentos tectónicos, ostentando importantes jazidas fossilíferas de trilobites e outras formas de vida da Era Paleozóica.

A grande quantidade de fósseis de trilobites que surgem nas jazidas de Valongo corresponde, geralmente, a carapaças abandonadas e posteriormente fossilizadas, e não aos exemplares fósseis do organismo completo. Estas carapaças antigas foram libertadas aquando das mudas sucessivas que permitiram o crescimento dos animais, que entretanto segregavam novas carapaças. Nesta região, principalmente em rochas do Ordovícico, foram assinalados vinte e nove géneros de trilobites, sendo os mais frequentes de Placoparia, Neseuretus, Colpocoryphe, Salterocoryphe, Eodalmanitina, Ectillaenus e Nobiliasaphus, que podem ser admirados na exposição patente ao público no Centro Interpretativo. Destes merecem destaque os dois últimos, por corresponderem a espécies que atingiam frequentemente os 50 centímetros de comprimento.

Finalmente, rumamos à Pedreira do Valério, em Canelas, para findar em beleza este périplo pela rota das trilobites. Curiosamente, as formações geológicas que ocorrem na área enquadram-se na continuidade dos terrenos paleozóicos de Valongo, que se estendem numa estreita faixa de 310 a 425 metros desde Valongo até às proximidades de Castro d’Aire, segundo a direcção NW-SE. Destaca-se, pela sua relevância, o conteúdo paleontológico das ardósias do Ordovícico Médio, onde foram encontradas as maiores trilobites do mundo.

O opúsculo escrito pelo punho de Armando Guedes lembra que “nas rochas negras de Canelas podem ser encontradas uma quinzena de espécies diferentes de trilobites, associadas a graptólitos (pequenos organismos coloniais hoje também extintos), a conchas de braquiópodes, a cefalópodes, etc.”. No Centro de Interpretação Geológica de Canelas, localizado dentro da propriedade da empresa Ardósias Valério & Figueiredo, realizam-se sessões pedagógicas de divulgação científica que dão a conhecer aos visitantes alguns aspectos da vida dessas misteriosas criaturas que aí viveram há 465 milhões de anos. Depois de aguçado o apetite, segue-se um passeio por diversos locais de interesse geológico que culminará com o visitante de martelo na mão (fornecido pela instituição!) a partir pedra, resgatando com entusiasmo os magníficos fósseis de trilobites que se escondem nas ardósias do Ordovícico. Esta é verdadeiramente uma experiência imperdível para qualquer candidato a paleontólogo amador.

Para quem não tenha fôlego para palmilhar montes e vales à cata dos enigmáticos artrópodes marinhos, deixa-se a sugestão de uma visita aos museus paleontológicos que se orgulham de apresentar alguns dos melhores exemplares jamais recolhidos em Portugal. Desde o Museu Geológico de Portugal e o Museu Mineralógico e Geo­lógico, em Lisboa, ao Museu de Mineralogia e Geologia da Universidade de Coimbra e ao Museu de Paleon­to­logia Wenceslau de Lima, no Porto, não faltarão oportunidades para seguir o rasto das trilobites.

J.N.SUPER 150

terça-feira, 12 de maio de 2015

Notícia - Subida ao Pico limitada a 160 pessoas em simultâneo


A subida ao Pico, a 2351 metros de altitude, está limitada a 160 pessoas em simultâneo, determina o regulamento de acesso ao ponto mais alto de Portugal, prorrogado ontem pelo Governo Regional dos Açores até 30 de Setembro. O Regulamento de Acesso à Montanha da Ilha do Pico estabelece ainda que a capacidade máxima de carga do Pico Pequeno é de apenas 40 pessoas em simultâneo, que não podem permanecer no local mais do que 30 minutos.

Este regulamento aplica-se a todos os visitantes individuais ou em visitas organizadas, que devem pedir autorização para acesso ao trilho na Casa de Apoio à Montanha do Pico.

O trilho balizado por postes de sinalização é o único permitido para o acesso ao Pico, segundo estabelece o regulamento.

A Casa da Montanha, inaugurada a 5 de Junho de 2008, dispõe de um posto de controlo para registar as subidas e descidas dos visitantes e uma equipa de bombeiros está em permanência pronta para actuar em caso de emergência.

No ano passado, as autoridades regionais começaram a disponibilizar a todas as pessoas que pretendam subir à montanha mais alta de Portugal pulseiras equipadas com GPS, que permite saber, em qualquer momento, onde se encontram, de forma a facilitar eventuais operações de socorro.

As subidas à montanha do Pico contam com o apoio de 48 guias credenciados pela Secretaria Regional do Ambiente e do Mar.

O percurso até ao cimo demora cerca de quatro horas, através de um trilho com cerca de 3800 metros de extensão, de nível médio de dificuldade. Os especialistas consideram que a subida ao Pico exige alguma preparação física, não sendo um passeio pedestre acessível a todos devido ao grau de dificuldade que apresenta.

Segundo números do governo regional, em 2007 subiram ao Pico mais de seis mil pessoas.

domingo, 10 de maio de 2015

Notícia - Núcleo da Terra gira mais devagar do que se pensava

Uma equipa de geofísicos descobriu que o núcleo da Terra gira muito mais devagar do que se pensava, afectando o nosso campo magnético, segundo um artigo publicado na revista “Nature Geoscience”.

O núcleo interno da Terra situa-se a 5200 quilómetros de profundidade (Foto: Marcelo del Pozo/Reuters)

Investigações anteriores mostraram que o núcleo da Terra girava mais depressa do que o resto do planeta. Agora, cientistas do Departamento de Ciências da Terra da Universidade de Cambridge, no Reino Unido, descobriram que as estimativas anteriores de 1 grau "de avanço" por ano (em relação ao resto do planeta) são imprecisas. Na verdade, dizem, o núcleo gira muito mais devagar - o avanço acumulado será de aproximadamente 1 grau a cada milhão de anos.

O núcleo interno cresce muito devagar ao longo do tempo, através da solidificação do fluído das camadas externas que se acumula à sua superfície. Durante este processo, uma diferença na velocidade nos hemisférios Este-Oeste do núcleo fica registada na sua estrutura . “Uma rotação mais rápida seria incompatível com a estrutura dos hemisférios que observámos no núcleo interno”, explicou Lauren Waszek, autor do estudo, em comunicado. “O nosso estudo é o primeiro em que os hemisférios e a rotação são compatíveis”, acrescentou.

Para obter estes resultados, os cientistas utilizaram ondas sísmicas que atravessaram o núcleo interno do planeta, 5200 quilómetros abaixo da superfície da Terra, e compararam-nas com o tempo de viagem das ondas reflectidas na superfície do núcleo.

Apesar de o núcleo interno do planeta estar a 5200 quilómetros abaixo dos nossos pés, o efeito da sua presença é especialmente importante à superfície. À medida que o núcleo interno cresce, o calor que liberta durante a solidificação conduz a convecção do fluído nas camadas externas do núcleo. Estes fluxos de calor dão origem aos campos magnéticos que protegem a superfície terrestre da radiação solar e sem os quais não haveria vida na Terra.

Lauren Waszek acredita que os resultados da sua investigação trazem uma perspectiva adicional para compreender a evolução do nosso campo magnético.

sexta-feira, 8 de maio de 2015

Notícia - Supercontinente Amásia deverá formar-se junto ao Pólo Norte

A Terra terá um novo supercontinente dentro de 50 a 200 milhões de anos. Amásia resultará da junção da América e da Ásia junto ao oceano árctico, estimam geólogos da Universidade de Yale num artigo publicado nesta quinta-feira na revista Nature.

Os actuais continentes do planeta serão empurrados para uma massa de terra única, em redor do Pólo Norte, escrevem os investigadores, que propõem um modelo dos movimentos lentos dos continentes nas próximas dezenas de milhar de anos.

“Primeiro deverão fundir-se as Américas e depois irão migrar para Norte, colidindo com a Europa e a Ásia, mais ou menos onde hoje existe o Pólo Norte”, disse Ross N. Mitchell, geólogo da Universidade de Yale e principal autor do estudo, na revista Nature. “A Austrália deverá continuar a mover-se para Norte e fixar-se perto da Índia” e o oceano Árctico e o Mar das Caraíbas desaparecerão, dentro de 50 a 200 milhões de anos.

A última vez que a Terra assistiu ao nascimento de um supercontinente foi há 300 milhões de anos, quando todas as massas terrestres se fundiram no equador, dando origem à Pangeia, situada onde hoje está a África ocidental.

Depois de estudar a geologia das cadeias montanhosas em todo o mundo, os geólogos têm assumido que o próximo supercontinente se irá formar no mesmo local da Pangeia. Mas Ross N. Mitchell, geólogo da Universidade de Yale, e os seus colegas têm uma ideia diferente: a Amásia deverá formar-se no Árctico, a 90 graus do centro geográfico do supercontinente anterior, a Pangeia.

Os geólogos chegaram a esta conclusão depois de analisar o magnetismo de rochas antigas para determinar as suas localizações no globo terrestre ao longo do tempo. Além disso mediram como a camada directamente abaixo da crosta terrestre, o manto, move os continentes que “flutuam” à sua superfície.

“A forma como os continentes se movem tem implicações para a biologia – por exemplo, pode afectar os padrões da dispersão das espécies – e para as dinâmicas no interior da Terra”, disse um dos autores do estudo, Taylor M. Kilian, da Universidade de Yale, em comunicado no site desta instituição.

“Compreender a disposição das massas dos continentes é fundamental para compreendermos a história da Terra”, disse Peter Cawood, geólogo na universidade britânica de St Andrews, citado pela revista Nature. “As rochas são a nossa janela para a história.”

O geólogo David Rothery da Universidade Aberta, em Milton Keynes, no Sul da Inglaterra, disse à BBC que não está preocupado com o choque de continentes. “Podemos compreender melhor o Ambiente da Terra no passado se soubermos exactamente onde estavam os continentes”, disse. “Não me interessa se os continentes vão convergir no Pólo Norte ou se a Inglaterra vai colidir com a América num futuro longínquo. Prever o futuro tem muito menos importância do que saber o que aconteceu no passado.”

quarta-feira, 6 de maio de 2015

Notícia - Especialista diz que sismos são normais

De acordo com uma especialista em Sismologia da Universidade do Algarve, as actividades sísmicas que se têm verificado são algo “perfeitamente normal” e não passa de “uma coincidência” ter havido tão grande número sucessivo de abalos.

Maria da Conceição Neves explica que “mais de 90 por cento da actividade sísmica situa-se ao longo das cristas oceânicas onde não há estragos” e que as zonas onde as placas tectónicas convergem estão “sempre” a ser atingidas.

De acordo com a Lusa, a especialista não acredita que agora haja mais abalos sísmicos do que antes. A diferença, no seu entender, é que existem mais meios de comunicação, o que contribuiu para que estes fenómenos naturais sejam mais comentados.
“Não há motivo para alarme”, assegurou Maria da Conceição Neves que afirma não haver uma explicação cientifica para justificar a ocorrência dos sismos nos últimos meses que têm causado a morte de milhares de pessoas e a destruição de inúmeras cidades.



P.M.C.

segunda-feira, 4 de maio de 2015

Notícia - Os dias estão mais curtos

Primeiro o Haiti, com cerca de 300 mil mortos. Depois o Chile, com centenas de vítimas, e Japão, onde, por sorte, não ninguém morreu. Em pouco mais de um mês a Terra tremeu como nunca se viu.

Mas foi o terramoto chileno o que maiores repercussões teve no Planeta, libertando energia equivalente a vinte mil milhões de toneladas de TNT (1333 vezes a potência da bomba de Hiroxima) – a Terra tremeu nas latitudes abaixo do Equador.

Segundo a NASA, o sismo pode ter encurtado a duração do dia na Terra em cerca de 1,26 microssegundos (um microssegundo é a milionésima parte de um segundo). A conclusão é de uma equipa de cientistas liderada por Richard Gross que fez os seus cálculos através de um complexo modelo computadorizado. Investigadores alemães já contestaram esta teoria.

Segundo Richard Gross, os terramotos podem deslocar até centenas de quilómetros de rochas, o que modifica a distribuição da massa no Planeta, afectando a rotação da Terra. O cientista calcula que o abalo sísmico tenha movido o eixo do Planeta (eixo imaginário sobre o qual a massa da Terra se mantém equilibrada) cerca de oito centímetros.

Ao contrário do terramoto de Sumatra, em 2004, que provocou o maior tsunami da história e também pode ter reduzido a duração do dia em 6,8 microssegundos, o sismo chileno aconteceu nas latitudes abaixo do Equador, o que o torna mais eficaz na mudança do eixo do Planeta.

Por outro lado, a falha (placa tectónica) responsável pelo sismo chileno é mais profunda e num ângulo ligeiramente mais acentuado do que a falha responsável pelo terramoto de Sumatra. Isso faz com que a falha no Chile seja mais eficaz para deslocar verticalmente a massa da Terra e a sua mudança de eixo.

Por causa destes dois sismos – o do Chile, com magnitude de 8.8 na Escala de Richter e o de Sumatra que chegou aos 9.1 – o dia deixou de ter 24 horas. De salientar, porém, que esta alteração não tem impacto na segurança do Planeta.


Os efeitos colaterais do sismo do Chile ainda não terminaram. Primeiro foi o alerta de tsunamis no Pacífico (que não tiveram a intensidade esperada), agora é a hipótese de erupções vulcânicas explosivas, outro dos fenómenos mais destrutivos da natureza. Será bom recordar que o Chile possui 123 vulcões activos, 60 deles com actividade durante os últimos séculos, incluindo dois dos mais violentos da América do Sul: Villarrica e Llaima. Foi Charles Darwin um dos primeiros cientistas a sugerir a relação entre os fenómenos, e hoje os cientistas confirmam que depois dos terremotos de 1906 e 1960 (com magnitudes de 8.3 e 9.5, respectivamente) a frequência de erupções vulcânicas desses anos se multiplicou por quatro numa área de 500 km em redor dos epicentros.

Mário G

sexta-feira, 1 de maio de 2015

Notícia - Telescópio Hubble encontrou galáxia mais distante e antiga jamais vista no Universo

Os astrónomos levaram as capacidades do telescópio espacial Hubble, da NASA (agência espacial norte-americana) até ao limite e descobriram aquela que poderá ser a galáxia mais distante e antiga alguma vez vista no Universo.

Esta galáxia ter-se-á formado quando o Universo tinha apenas 480 milhões de anos (Foto: NASA)

Esta galáxia ter-se-á formado quando o Universo tinha apenas 480 milhões de anos - hoje terá cerca de 13,7 mil milhões de anos. A galáxia terá existido quando o Universo teria apenas quatro por cento da sua idade actual, precisa Rychard Bouwens, astrónomo da Universidade da Califórnia que estuda a formação e evolução de galáxias, e a sua equipa, que publicaram o estudo na revista “Nature” de ontem.

A luz da galáxia, captada através da câmara de infravermelhos do telescópio, terá sido emitida há 13,2 mil milhões de anos. Ainda assim, os astrónomos são prudentes e falam da sua descoberta no condicional. “Este resultado está no limite das nossas capacidades. Mas passámos meses a fazer testes que o confirmaram e agora estamos seguros”, comentou Garth Illingworth, da Universidade da Califórnia e um dos autores do estudo.

Os astrónomos ainda não sabem ao certo quando é que apareceram as primeiras estrelas no Universo mas começam a compor o quadro de quando as estrelas e as galáxias começaram a surgir, depois do Big Bang.

“Esta última descoberta do Hubble vai aprofundar o nosso conhecimento do Univerno”, salientou Charles Bolden, administrador da NASA, em comunicado publicado no site da agência norte-americana.

Para chegar mais longe e vislumbrar o período em que se formaram as primeiras estrelas e galáxias, os astrónomos vão precisar do sucessor do Hubble, o telescópio espacial James Webb, que tem lançamento previsto para 2014. Por enquanto, os primeiros 500 milhões de anos da existência do Universo continuam a ser o capítulo que falta.

O Hubble, lançado há 20 anos, é um projecto internacional fruto da cooperação entre a NASA e a Agência Espacial Europeia.

quarta-feira, 29 de abril de 2015

Notícia - À espera que um ET nos telefone

A fórmula consagrada nos desenhos animados e nos filmes de ficção científica de série B norte-americanos é "Take us to your leader!" É isto que dizem os extraterrestres quando a sua nave espacial chega à Terra (a Washington ou Nova Iorque, onde havia de ser?). E os terrestres, estupefactos e aterrados, tratam de levar o ET ao mayor, à ONU ou a outro sítio qualquer.

Há 50 anos que o SETI começou a procurar ETI. Têm sido 50 anos de silêncio (Reuters)

Por estranho que possa parecer, saber exactamente que diálogo deve ser encetado com os ET é matéria de estudo científico. A prova disso é que a revista Philosophical Transactions A da conceituada Royal Society britânica acaba de publicar uma edição inteiramente dedicada à "detecção de vida extraterrestre e as suas consequências para a ciência e a sociedade".

No site daquela sociedade científica (rsta.royalsocietypublishing.org/content/369/1936.toc etoc), é possível ter acesso às conferências proferidas por uma constelação de especialistas de "astrobiologia" - vulgo, vida extraterrestre -, num encontro que decorreu em Londres há um ano. Nesse encontro, vários participantes apelaram a uma colaboração das Nações Unidas na definição dos protocolos a adoptar em caso de eventual contacto com uma espécie alienígena inteligente.

Dois meses depois daquele encontro, o célebre físico britânico Stephen Hawking (que não era um dos oradores) lançava, por seu lado, um surpreendente alerta num documentário realizado para o canal de televisão Discovery. Hawking, que acha muito razoável pensar que existe vida inteligente lá fora, dizia que, se algum extraterrestre inteligente quisesse comunicar connosco, o melhor seria ficarmos calados e não respondermos. Porque, se fossem alertadas para a nossa presença, forças alienígenas à procura de mundos habitáveis ou com recursos exploráveis poderiam desembarcar na Terra - com consequências tão nefastas para nós como foi para os índios a chegada à América dos conquistadores espanhóis em finais do século XV.

Mas será que as coisas são assim tão dramáticas? De facto, quando lemos os textos que foram agora postos online, este cenário de contacto físico fica relegado para um plano secundário, como algo de muito improvável - e talvez até impossível.

Uma coisa é certa, contudo: a existência de vida extraterrestre (não necessariamente inteligente) ganhou adeptos na comunidade científica na última década, em especial com a descoberta de planetas extra-solares - e, mais recentemente, com a constatação de que planetas rochosos parecidos com o nosso, em órbita em redor de estrelas parecidas com o nosso Sol, não são a excepção e, pelo contrário, serão mesmo bastante vulgares. A questão já não parece ser a de saber se estamos sozinhos ou não. É apenas uma questão de tempo, dizem muitos especialistas, até encontrarmos vida num desses planetas.

Há uns 50 anos, Frank Drake, fundador do SETI, calculou graças a uma fórmula matemática que leva o seu nome que deveriam existir umas 10 mil civilizações inteligentes no Universo. O SETI (Search for Extraterrestrial Intelligence) é o famoso projecto de procura de vida extraterrestre inteligente, que chegou a ser um programa da agência espacial norte-americana NASA nos anos 1990, mas que é hoje gerido pelo SETI Institute, uma entidade privada com sede na Califórnia.

O número obtido por Drake poderá ser exagerado (de facto, ninguém sabe calculá-lo ao certo). Mesmo assim, como o Universo contém, segundo as estimativas, centenas de milhares de milhões de galáxias (e a nossa Via Láctea, por exemplo, até 400 mil milhões de estrelas), não há razão para o nosso sistema solar e o nosso planeta serem únicos.

Mas, para além dos argumentos puramente numéricos em favor da existência de outros cantinhos habitáveis, porque é que deveria necessariamente haver vida nos planetas parecidos com a Terra que sem dúvida orbitam em torno de algumas estrelas? E se, mesmo nesses, nada tivesse acontecido?

segunda-feira, 27 de abril de 2015

Notícia - Cientistas analisaram pela primeira vez a atmosfera de uma super-terra

Uma equipa de cientistas analisou pela primeira vez a atmosfera de uma super-terra. A experiência olhou para o planeta GJ 12114b, utilizando o Very Large Telescope do Chile, e chegou à conclusão que a atmosfera deste exoplaneta é formado ou por vapor de água muito denso, ou por nuvens grossas. O estudo foi publicado esta semana na revista Nature.

A super-terra GJ 12114b está a 40 anos-luz. (Paul A. Kempton)

O interessante nas super-terras é que “são uma transição entre planetas rochosos como a Terra, Vénus e Marte e os gigantes gelados como Úrano e Neptuno”, explicou Jacob Bean, primeiro autor do artigo, que trabalha no Centro de Astrofísica da Universidade de Harvard, nos Estados Unidos.

Esta classe era desconhecida até a comunidade científica começar a olhar para os planetas que estão fora do nosso Sistema Solar. Neste caso, o GJ 12114b tem um diâmetro três vezes maior do que a Terra e uma massa 6,5 vezes maior, situa-se a 40 anos-luz e foi descoberto em Novembro de 2009.

A descoberta desta super-terra foi feita graças ao seu trânsito celeste. O GJ 12114b passa à frente da estrela mãe e sempre que isso acontece a luz que chega à nossa Terra é menor. Isto permiti detectar a existência deste planeta e quantificar o seu diâmetro.

A medição da atmosfera foi feita de uma forma semelhante. A equipa utilizou o Very Large Telescope para verificar se determinados comprimentos de onda que no espectro da luz caem no infra-vermelho, ao atravessarem a atmosfera do GJ 12114b eram alterados, denunciando a sua composição.

A partir do conhecimento que os cientistas tinham sobre o planeta, havia três hipóteses sobre a sua atmosfera que foram postas à prova. Poderia ser formada por uma camada densa de vapor de água, poderia ser formada por uma atmosfera fina de hidrogénio e hélio – próprio de planetas gelados e rochosos, ou poderia ser uma mistura de gases vulcânicos.

Através da experiência os cientistas conseguiram retirar a hipótese da atmosfera fina de hidrogénio e hélio. O telescópio procurava uma influência da atmosfera através da absorção de raios de luz, mas depois de retirar o atrito causado pela nossa atmosfera terrestre, não obteve nada.

“O que mais determina o parâmetro que governa as características de absorção é a espessura da atmosfera do planeta – a extensão, a densidade, não necessariamente a abundância de um elemento”, explicou Bean citado pela BBC News.

Neste caso, o facto das leituras do telescópio não darem nenhuma indicação pode querer dizer que estamos perante um planeta com uma atmosfera formada por vapor de água tão denso que fica compactado junto da superfície da super-terra. Desta forma, a maioria dos raios passa por cima e não é influenciada pela atmosfera.

A outra alternativa é que o GJ 12114b tem uma atmosfera constituída por nuvens que bloqueiam a passagem dos raios deste comprimento de onda.

“Este é o resultado mais significativo do último ano sobre medições da atmosfera de um exoplaneta – e um ano é muito tempo neste campo”, defendeu em declarações à BBC News Drake Deming, do Laboratório de Sistemas Planetários da NASA, que fez um comentário sobre o artigo na mesma edição da Nature. O especialista refere que, apesar da grande frequência com que se descobrem novos exoplanetas, esta experiência mostra a dificuldade que é a pesquisa na área.

O próximo passo vai ser a análise da atmosfera através de outros comprimentos de onda no infra-vermelho. Mas Jacob Bean diz que antes disso vai haver mais novidades sobre o GJ 12114b. “Este é o exoplaneta mais interessante que está aí e há muitas pessoas focadas nele.”

sábado, 25 de abril de 2015

Notícia - Galáxias escuras

No nosso grupo local (GL) de galáxias, conhecem-se mais de trinta galáxias esferóides anãs (ou dSph, na sigla como são conhecidas na literatura internacional), um tipo que parece ser dos mais abundantes no Universo. Com pouca actividade estelar e exibindo baixa luminosidade, o seu elevado factor de massa/luminosidade leva a pensar que as dSph contêm grandes quantidades de massa escura. Assim as dSph de Draco, Sextans e Fornax (entre outras) são dos alvos preferenciais para estudos de aniquilação de neutralinos ou outros candidatos a massa escura. Algumas estimativas apontam para que a massa visível das dSph seja da ordem das 10^7 a 10^8 massas solares, ou seja, dez a cem vezes menos do que a sua massa escura.

Estas dSph são satélites da nossa galáxia; relativamente pequenas, portanto. Conhece-se, porém, um exemplo em que toda uma galáxia não evidencia actividade estelar, sendo praticamente confundida com o fundo espacial. Trata-se de VirgoHI21 e foi descoberta em 2005 por uma equipa internacional liderada por astrónomos britânicos, a trabalhar a partir do radiotelescópio Lovell da Universidade de Manchester. Esta galáxia roda como outras, mas não contém estrelas, pelo que, sem produzir luz visível, a sua natureza individualizada só foi estabelecida através da radiação de 21 cm, resultante da transição hiperfina dos átomos neutros de hidrogénio (H). Traçando a rotação deste gás ao longo dos contornos de VirgoHI21, a quantidade detectada é muito pequena para manter a galáxia escura sem se desmembrar, devido às forças centrífugas resultantes da rotação rápida. Calculou-se então que a quantidade de massa escura seja mil vezes superior à do H, sendo esta razão cem vezes menor na Via Láctea. Se VirgoHI21 fosse uma galáxia normal, dada a sua dimensão, deveria ser brilhante ao ponto de ser visível até por um bom telescópio amador.

Localizada no enxame galáctico da Virgem, a cerca de 15 Mpc do Sol, VirgoHI21 é uma raridade, até hoje não se conhecendo mais exemplos em diversos rastreios espaciais. Outros objectos similares encontrados anteriormente acabaram por revelar uma população estelar, quando observados pelos maiores telescópios ópticos. Outros ainda são o remanescente de colisões galácticas. As primeiras observações de VirgoHI21 ocorreram, aliás, em 2000, tendo-se levado cinco anos a descartar todas as hipóteses alternativas, o que incluiu observações nos radiotelescópios de Arecibo (Porto Rico) e Westerbork (Países Baixos) e confirmação óptica no telescópio Isaac Newton (Canárias).

A simulação da evolução da estrutura de larga escala no Universo é largamente dependente do tipo de massa escura considerada e das suas interacções. A massa escura do tipo frio entra na maioria dos modelos mais usados, prevendo, porém, a existência de cerca de dez a cem vezes mais dSph do que as conhecidas no GL.

Remanescentes da formação do GL, existem milhares de nuvens rápidas de H neutro (HVC, na sigla inglesa) que se deslocam a velocidades mais elevadas do que o disco galáctico, estando fora do seu plano. Em 2003, um grupo da Universidade da Califórnia em Berkeley descobriu a HVC 127-41-330, com dimensões típicas das dSph, mas, ao contrário destas, sem aparente população estelar. As HVC poderão ser demasiado pequenas para induzir a “ignição” estelar, mas esse já não é o caso de VirgoHI21. Em qualquer caso, conhece-se outra dezena de HVC candidatas a pequenas galáxias escuras, que também evidenciam rotação. É um problema interessante, pois poderá colmatar parte das dSph em falta.

Retirado de:
SUPER 147 - Julho 2010

quinta-feira, 23 de abril de 2015

Notícia - Astrónomo português recebe prémio internacional na Arménia

O astrónomo Nuno Cardoso Santos, investigador do Centro de Astrofísica da Universidade do Porto (CAUP), recebeu ontem, na Arménia, o prémio internacional Viktor Ambartsumian.O prémio - partilhado com os seus colegas Michel Mayor (Universidade de Genebra) e Garik Israelian (Instituto de Astrofísica das Canárias) - foi atribuído pelo trabalho no estudo das estrelas que têm planetas em órbita e que fornecem indícios essenciais para a compreensão dos processos de formação planetária, informou o CAUP.

O galardão, no valor de cerca de 385 mil euros e considerado o mais importante na astrofísica depois do Prémio Nobel, será distribuído pelos três investigadores.

O Prémio Viktor Ambartsumian é atribuído de dois em dois anos e distingue investigadores, de qualquer país, por excepcionais contributos para a Ciência.

Este ano, foram nomeados 14 investigadores ou equipas, cabendo o prémio ao trio liderado pelo Professor Michel Mayor, que em 1995 codescobriu o primeiro exoplaneta à volta de uma estrela do tipo solar (51 Pegasi).

O júri que atribuiu o prémio é composto por físicos e astrónomos de renome, dos quais se destacam Martin Rees (Master do Tinity College da Universidade de Cambridge), Catherine Cesarsky (ex-directora geral do ESO e ex-presidente da União Astronómica Internacional) e Geoffrey Burbidge (editor das revistas "The Astrophysical Journal" e "Annual Review of Astronomy and Astrophysics").

Nuno Cardoso Santos é autor de 128 artigos científicos publicados, com mais de 5200 citações.

Ao ter conhecimento do prémio, o investigador manifestou-se “obviamente muito feliz” e acrescentou “esperar, sobretudo, que este reconhecimento possa, de alguma forma, ajudar a astronomia nacional a fazer cada vez mais e melhor”.

Em comunicado, o CAUP refere que actualmente são conhecidos cerca de 500 planetas extra-solares, muitos dos quais (em especial os de pequena massa) descobertos pela equipa liderada pelo professor Michel Mayor. Entre eles está o mais pequeno exoplaneta descoberto, Gliese 581e, com apenas 1,9 massas da Terra.

“Apesar do já elevado número de planetas extra-solares detectados, os mecanismos de formação destes sistemas são ainda pouco compreendidos. Por isso a equipa dedica-se também a tentar compreender melhor as propriedades destes sistemas planetários (e das suas estrelas-mãe), de modo a melhorar os actuais modelos de formação planetária”, acrescenta.

O Centro de Astrofísica da Universidade do Porto (CAUP) foi criado em Maio de 1989 e iniciou as actividades em Outubro de 1990. É a maior unidade de investigação na área da Astronomia em Portugal, considerada como “Excelente” nas últimas avaliações de Unidades I & D, efectuada pela Fundação para a Ciência e Tecnologia (FCT).

terça-feira, 21 de abril de 2015

Notícia - A estrela mais pesada do Universo está a emagrecer



Se a Terra girasse à volta da estrela R136a1, a luz que iríamos receber seria tão forte como o brilho do Sol é em relação à luz da Lua. Até agora, pensava-se que as estrelas não poderiam ter uma massa superior a 150 vezes a massa do nosso astro-rei, mas a R136a1 tem 265 vezes a massa solar e já emagreceu um bocado desde o seu nascimento. "Ao contrário dos humanos, estas estrelas nascem pesadas e perdem peso à medida que envelhecem”, disse Paul Crowther, num comunicado do Observatório Europeu do Sul. Há um milhão de anos este astro estava a formar-se no aglomerado estelar RMC 136a, que fica a 164 mil anos-luz do nosso sistema solar, perto da galáxia chamada Grande Nuvem de Magalhães. Na altura, a estrela teria 320 vezes a massa do Sol.

Crowther liderou a equipa da Universidade de Sheffield, Inglaterra, que com o grande telescópio no Chile (Very Large Telescope) e informação recolhida pelo telescópio espacial Hubble, identificaram várias estrelas gigantes neste e noutro aglomerado estelar, NGC 3603. Segundo diz, a R136a1 já está a meio da vida e perdeu um quinto da sua massa inicial. Mas brilha dez milhões de vezes mais que o nosso Sol. Estas regiões do Universo, carregados de pó e gases, geram estrelas com massas incríveis, mas com um tempo de vida limitado.

A descoberta altera o limite do tamanho destes astros. “As estrelas mais pequenas têm um limite mínimo de tamanho oito vezes acima de Júpiter, abaixo do qual são estrelas falhadas ou anãs castanhas”, explicou Olivier Schnurr, do Instituto Astrofísico de Potsdam na Alemanha. O limite superior expandiu-se, para cerca de 300 vezes a massa do Sol.

Ao contrário da nossa estrela, que tem os contornos definidos, a R136a1 expulsa tanta matéria da região mais externa que se torna difícil definir os seus contornos. À superfície, a sua temperatura é de 40 mil graus, mais de sete vezes superior ao nosso Sol.

No fim da vida, as estrelas mais maciças dão origem a supernovas, que se transformam ou numa estrela de neutrões ou em buracos negros. Os astrofísicos pensam que a morte das novas gigantes resulte numa supernova extremamente brilhante, que disperse quantidades de ferro equivalentes a dez massas solares. No lugar da estrela não fica nada.