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domingo, 21 de março de 2021

Falta de oxigénio empurra tubarões para a superfície

Os ecossistemas de profundidade estão a mudar. As alterações climáticas estão a expandir as zonas de oxigénio mínimo, que tipicamente se encontravam entre os 200 e os 800 metros nas regiões tropicais. Essa mudança diminui fortemente o habitat disponível para os grandes peixes pelágicos, como os tubarões azuis. E em busca de concentrações de oxigénio mais elevadas, essas espécies rumam à superfície, onde correm maior risco de caírem em redes de pesca industrial.

Este trabalho estudou o efeito que uma dessas zonas de oxigénio mínimo no Nordeste Atlântico, próximo de Cabo Verde, tem nos movimentos e na distribuição do tubarão azul. Para conseguirem os seus objetivos, os investigadores marcaram vários espécimes com transmissores de satélite, registando as profundidades máximas de mergulho. "Ao seguir os movimentos horizontais e o comportamento de mergulho dos tubarões marcados, conseguimos observar mudanças no seu comportamento, com períodos de maior permanência à superfície, como forma de evitar o défice de oxigénio das águas profundas", explicou David Sims, um dos responsáveis pelo estudo.

Em simultâneo, a equipa de investigação monitorizou as deslocações dos barcos de pesca por palangre de superfície e confirmaram que a zona de oxigénio mínimo da Costa Ocidental Africana é uma área de pesca intensiva, nomeadamente de tubarões azuis. "A compressão de habitat em tubarões azuis torna a sua captura potencialmente mais fácil e deverá continuar de futuro, se esta situação se mantiver", alertou o biólogo Nuno Queiroz, que co-liderou este estudo.

Esta investigação foi publicada na revista científica eLife e tem como primeira autora Marisa Vedor, que foi orientada por Nuno Queiroz e David Sims. A equipa internacional de cientistas responsáveis por este artigo integra cientistas do MARE - Centro de Ciências do Ambiente e do Mar e do CIBIO-InBIO.

https://www.dn.pt/ciencia/falta-de-oxigenio-empurra-tubaroes-para-a-superficie-13481470.html

sexta-feira, 19 de março de 2021

Reencontradas 17 espécies de plantas consideradas extintas, uma delas nativa de Portugal

A informação foi divulgada em comunicado pela Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, que dá conta que as 17 espécies agora redescobertas são nativas sobretudo da bacia do Mediterrâneo.

Dezassete espécies europeias de plantas consideradas extintas foram reencontradas na natureza ou preservadas em colecções, segundo um estudo publicado na revista científica Nature Plants. A informação foi divulgada em comunicado pela Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, que dá conta que as 17 espécies agora redescobertas são nativas sobretudo da bacia do Mediterrâneo, e que três das espécies foram encontradas na natureza, duas preservadas em jardins botânicos europeus e bancos de sementes, e as restantes reclassificadas “através de uma extensa revisão taxonómica”.

David Draper, um dos autores do estudo, investigador do Centro de Ecologia, Evolução e Alterações Ambientais e do Museu Nacional de História Natural e da Ciência da Universidade de Lisboa, disse à agência Lusa que uma das plantas é originária de Portugal, mas precisou que nesse caso ainda são necessários mais estudos de confirmação. A espécie em causa é a Armeria arcuata, uma espécie endémica do Litoral Sudoeste de Portugal cujos últimos registos datam do final do século XIX. Através do estudo, os investigadores encontraram a espécie preservada no Jardim Botânico da Universidade de Utrecht, na Holanda.

Cauteloso, o investigador disse que é agora preciso fazer estudos genéticos para confirmar a redescoberta, porque há 150 anos que a planta estava desaparecida e pode haver “uma má identificação”. David Draper explicou que é um processo moroso, tanto mais que em tempos de pandemia de covid-19 os laboratórios estão fechados.

Caso se confirme que se trata da Armeria arcuata, e questionado se será devolvida ao seu habitat natural, o investigador explicou que o ideal seria devolvê-la à natureza, mas adiantou que como existem apenas “três ou quatro pés” é preciso primeiro um trabalho longo de recuperação, nomeadamente através da sua dispersão, primeiro, por vários jardins botânicos. Em termos gerais a descoberta agora anunciada vai permitir lançar programas de conservação para várias das espécies, consideradas raras ou sob ameaça de uma extinção definitiva.

A investigação “exigiu um trabalho minucioso de detective, especialmente para verificar informações, muitas vezes imprecisas, reportadas de uma fonte para outra, sem as devidas verificações”, disse David Draper citado no comunicado. A investigação foi liderada por Thomas Abeli e Giulia Albani Rocchetti, investigadores da Universidade Roma Tre (Itália). Foram analisadas 36 espécies endémicas europeias cujo estatuto de conservação era “extinto” na lista da União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN, na sigla em inglês).

Além de monitorização contínua na natureza, envolvendo universidades, museus, jardins botânicos e bancos de sementes, foram usadas técnicas avançadas para estudar a variabilidade das espécies. Nas declarações à Lusa, David Draper salientou ainda que os investigadores confirmaram que as restantes 19 espécies analisadas se perderam para sempre. Poderão algumas destas espécies ainda ser reencontradas também? “Pode acontecer, mas é cada vez mais difícil”, disse o investigador. David Draper considerou fundamental prevenir extinções de plantas, mais fácil do que procurar depois “ressuscitar” espécies, pelo que é preciso investigar e criar condições para que não se chegue ao ponto de extinção.

https://www.publico.pt/2021/03/10/ciencia/noticia/reencontradas-17-especies-plantas-consideradas-extintas-nativa-portugal-1953779

domingo, 14 de março de 2021

Reencontradas 17 espécies de plantas consideradas extintas, uma delas nativa de Portugal

Dezassete espécies europeias de plantas consideradas extintas foram reencontradas na natureza ou preservadas em colecções, segundo um estudo publicado na revista científica Nature Plants. A informação foi divulgada em comunicado pela Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, que dá conta que as 17 espécies agora redescobertas são nativas sobretudo da bacia do Mediterrâneo, e que três das espécies foram encontradas na natureza, duas preservadas em jardins botânicos europeus e bancos de sementes, e as restantes reclassificadas “através de uma extensa revisão taxonómica”.

David Draper, um dos autores do estudo, investigador do Centro de Ecologia, Evolução e Alterações Ambientais e do Museu Nacional de História Natural e da Ciência da Universidade de Lisboa, disse à agência Lusa que uma das plantas é originária de Portugal, mas precisou que nesse caso ainda são necessários mais estudos de confirmação. A espécie em causa é a Armeria arcuata, uma espécie endémica do Litoral Sudoeste de Portugal cujos últimos registos datam do final do século XIX. Através do estudo, os investigadores encontraram a espécie preservada no Jardim Botânico da Universidade de Utrecht, na Holanda.

Cauteloso, o investigador disse que é agora preciso fazer estudos genéticos para confirmar a redescoberta, porque há 150 anos que a planta estava desaparecida e pode haver “uma má identificação”. David Draper explicou que é um processo moroso, tanto mais que em tempos de pandemia de covid-19 os laboratórios estão fechados.

Caso se confirme que se trata da Armeria arcuata, e questionado se será devolvida ao seu habitat natural, o investigador explicou que o ideal seria devolvê-la à natureza, mas adiantou que como existem apenas “três ou quatro pés” é preciso primeiro um trabalho longo de recuperação, nomeadamente através da sua dispersão, primeiro, por vários jardins botânicos. Em termos gerais a descoberta agora anunciada vai permitir lançar programas de conservação para várias das espécies, consideradas raras ou sob ameaça de uma extinção definitiva.

A investigação “exigiu um trabalho minucioso de detective, especialmente para verificar informações, muitas vezes imprecisas, reportadas de uma fonte para outra, sem as devidas verificações”, disse David Draper citado no comunicado. A investigação foi liderada por Thomas Abeli e Giulia Albani Rocchetti, investigadores da Universidade Roma Tre (Itália). Foram analisadas 36 espécies endémicas europeias cujo estatuto de conservação era “extinto” na lista da União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN, na sigla em inglês).

Além de monitorização contínua na natureza, envolvendo universidades, museus, jardins botânicos e bancos de sementes, foram usadas técnicas avançadas para estudar a variabilidade das espécies. Nas declarações à Lusa, David Draper salientou ainda que os investigadores confirmaram que as restantes 19 espécies analisadas se perderam para sempre. Poderão algumas destas espécies ainda ser reencontradas também? “Pode acontecer, mas é cada vez mais difícil”, disse o investigador. David Draper considerou fundamental prevenir extinções de plantas, mais fácil do que procurar depois “ressuscitar” espécies, pelo que é preciso investigar e criar condições para que não se chegue ao ponto de extinção.

https://www.publico.pt/2021/03/10/ciencia/noticia/reencontradas-17-especies-plantas-consideradas-extintas-nativa-portugal-1953779

domingo, 7 de fevereiro de 2021

Heracleum mantegazzianum, a terrível planta que pode provocar ferimentos graves

Esta planta, com cinco metros de altura, larga furocumarinas, um produto químico tóxico que modifica a estrutura das células da pele e a torna mais sensíveis aos raios ultravioletas. Em 24 horas, e num prazo máximo de 48 horas, a pele desenvolve queimaduras e irritações que podem provocar cicatrizes permanentes e bolhas. E se esse composto químico chegar aos olhos, pode levar à cegueira.

Numa reportagem emitida pelo canal BBC, Oskars Mezhniyeks, dono de uma fazenda na Letónia trava uma batalha constante contra a planta. “Se eu não a matar aqui, ela vai tomar conta da minha plantação”, explica. “Elas têm um valor nutricional consideravelmente alto e, por isso, foram cultivadas como potencial alimento para o gado. Mas devido aos efeitos que causaram nos humanos foi abandonada rapidamente, só que continuaram a espalhar-se, já que uma só planta pode produzir muitas sementes”, acrescenta Pior Rzymski, investigador da Universidade de Poznan, na Polónia.

A planta é natural da Ásia, muito comum na Rússia e Geórgia, mas veio para os jardins europeus por causa das flores brancas que exibe. É comum encontrá-la também junto aos rios ou estradas no norte da Europa. Em Portugal não há registos da existência da planta. Há forma de limitar os efeitos caso a seiva encoste na pele. “Deve lavar a pele com sabão e água fria e evitar a exposição ao Sol”, aconselha Rzymski.

https://greensavers.sapo.pt/heracleum-mantegazzianum-a-terrivel-planta-que-pode-provocar-ferimentos-graves/

domingo, 31 de janeiro de 2021

Zoo de Lourosa lidera programa internacional sobre calau de casco cinzento



O Zoo de Lourosa, em Santa Maria da Feira, vai liderar um programa internacional apostado em aumentar a população selvagem do calau de casco cinzento, revelou hoje o único parque ornitológico do país a propósito dessa ave ameaçada.

O projeto envolve outras cinco instituições inscritas na Associação Europeia de Zoos e Aquários (EAZA), que escolheu o parque do distrito de Aveiro para coordenar a gestão em cativeiro das populações do calau da espécie ‘Ceratogymna atrata’, que é nativa das florestas do Centro-Este africano, está pouco identificada no seu habitat natural e integra a lista do Programa Europeu de Espécies Ameaçadas – também conhecido como “EAZA Ex-situ Programme”.

Como o Zoo de Lourosa tem vindo a monitorizar desde 2016 vários indivíduos dessa espécie, foi em 2020 convidado pela EAZA para aplicar a sua experiência na coordenação de um programa envolvendo outros 10 parques em território europeu.

“Dentro da EAZA existem 30 aves desta espécie de calau em cativeiro, mas poucos zoos têm conseguido a sua reprodução. Como o de Lourosa é dos poucos a nível mundial a ter sucesso reprodutivo com esta espécie e já monitoriza a respetiva população há alguns anos, foi proposto que ficássemos nós a coordenar o programa e o Comité Europeu de Espécies Ameaçadas confiou-nos essa responsabilidade”, explicou à Lusa Salomé Tavares, diretora da estrutura portuguesa.

O trabalho com o calau ‘Ceratogymna atrata’ será supervisionado pela curadora Andreia Pinto, e visa estudar o verdadeiro estatuto da espécie em estado selvagem com vista a travar “o decréscimo significativo da sua população devido ao tráfico”.

O projeto irá assim implicar investigação demográfica e genética, assim como “partilha de informação entre as várias instituições envolvidas”, no que a intenção é “manter elevados padrões de maneio da espécie em cativeiro e criar condições para que se reproduza com sucesso”.

Salomé Tavares realça que também cabe à equipa do Zoo de Lourosa “localizar potenciais futuros participantes no programa e fazer recomendações sobre a colocação dos descendentes da espécie, com o intuito de manter a sua diversidade genética”.

Em 2016 existiam apenas 13 calaus de casco negro em seis zoos membros da EAZA, mas, graças ao “sucesso pioneiro” do zoo da Feira na reprodução da espécie, os indivíduos mais jovens foram confiados a outras instituições europeias e atualmente a população da ‘Ceratogymna atrata’ aumentou para 30 aves distribuídas por 11 parques.

A primeira cria de calau de casco cinzento concebida em Lourosa nasceu em 2009. Já a ave mais jovem da espécie a juntar-se a essa família terá agora entre quatro a seis meses.

A sua idade exata é desconhecida porque, embora se tenha ouvido “uma cria a piar em julho, a mãe manteve-a selada no ninho durante algum tempo, como é típico dos calaus, e só em outubro a deixou sair pela primeira vez”.

Nessa altura, recorda Salomé Tavares, foi dupla a surpresa: “Contávamos só com uma cria, mas afinal eram duas”.

O Zoo de Lourosa abriu oficialmente as suas portas ao público em outubro de 1990, sendo nessa altura propriedade de um particular.

Em 2000 o espaço foi adquirido pela Câmara Municipal de Santa Maria da Feira, que impôs ao local as normas comunitárias relativas à exposição de animais ao público.

Após algumas obras de remodelação, a reabertura do parque aconteceu em 2001, sendo que hoje o Zoo conta com cerca de 500 aves de 150 espécies diferentes, muitas delas raras ou ameaçadas de extinção.

https://greensavers.sapo.pt/zoo-de-lourosa-lidera-programa-internacional-sobre-calau-de-casco-cinzento/

domingo, 17 de janeiro de 2021

Descoberto no Brasil um dos ancestrais mais antigos do T-rex

Uma nova espécie de dinossauro, classificada pelos cientistas como um dos antepassados mais antigos do Tirannosaurus rex, que viveu há cerca de 230 milhões de anos durante a ascensão da era dos dinossauros, foi descoberta no Sul do Brasil.

O Erythrovenator jacuiensis, que os cientistas acreditam ser um trisavô do tiranossauro Rex (T-rex), também era um predador, mas menor, sendo classificado como um dos membros mais primitivos da linhagem dos terópodes, à qual pertencem outras espécies conhecidas, como o Velociraptor.

A descoberta foi obra do paleontólogo brasileiro Rodrigo Temp Müller, da Universidade Federal de Santa Maria, cujo estudo foi publicado recentemente na revista Journal of South American Earth Sciences.

Rodrigo Müller identificou a nova espécie num fémur fossilizado que descobriu em 2017 numa propriedade rural no município de Agudo, no estado brasileiro do Rio Grande do Sul.

“Tínhamos poucos fósseis desse tipo de dinossauro, a maioria bastante fragmentado. Este que descobri é apenas um osso, bastante danificado, mas tem características que só são vistas na linhagem de terópodes”, explicou Müller em declarações à agência de notícias espanhola Efe. “E, dentro dessa linhagem, pertence a um animal que não conhecíamos até agora. Embora seja apenas um osso, é possível ver traços que não tínhamos visto em outros dinossauros”, completou.

O nome científico do Erythrovenator jacuiensis significa “caçador vermelho do rio Jacuí”. Rodrigo Müller disse que lhe deu esse nome por causa da coloração avermelhada do fóssil e por causa do rio que corre próximo ao local onde o fóssil foi descoberto.

Uma análise para identificar o grau de parentesco revelou que o “caçador vermelho” seria um dos dinossauros da família dos terópodes “mais primitivos já descobertos”.

“O [tiranossauro] Rex chegava a 12 metros de comprimento e pesava cerca de dez toneladas. Esse dinossauro era muito pequeno, podia ter cerca de dois metros de comprimento e pesava não muito mais de dez quilos”, disse o investigador. “Isso é muito interessante porque mostra que essa linhagem de dinossauros famosos, como o Tyrannosaurus rex ou o Velociraptor, veio de um grupo de pequenos dinossauros”, acrescentou.

Porém, apesar de seu pequeno tamanho, a nova espécie foi provavelmente um predador extremamente ágil, pois o fémur fossilizado tinha estruturas de fixação musculares bastante desenvolvidas. A descoberta dessa nova espécie ajudará a entender a evolução do grupo ao longo de milhões de anos.

Roberto Müller concluiu dizendo que agora espera continuar com o trabalho de campo e as expedições para encontrar materiais mais completos e reconstituir o quebra-cabeça dos antepassados dos dinossauros.

https://www.publico.pt/2020/12/03/ciencia/noticia/descoberto-brasil-ancestrais-antigos-trex-1941661

domingo, 10 de janeiro de 2021

Descobertos em Moçambique achados dos primeiros vertebrados da idade dos dinossauros

Fósseis dos primeiros animais vertebrados, com cerca de 245 milhões de anos, da era dos dinossauros, foram descobertos em Moçambique, segundo um estudo publicado agora na revista científica sul-africana Palaeontologia Africana, podendo surgir achados de dinossauros.

O português Ricardo Araújo, o autor principal do artigo, anunciou à agência Lusa que a equipa de oito investigadores descreve a descoberta de “várias partes de crânios e esqueletos fragmentados de dicinodontes Lystrosaurus”.

Os achados descobertos na última expedição, ocorrida entre Setembro e Outubro de 2019, foram estudados e agora validados pela comunidade científica, com a publicação do artigo. Os fósseis datam de há cerca de 245 milhões de anos, do período do Triásico, em que começaram a surgir os primeiros dinossauros.

“Com esta descoberta, temos os primeiros vertebrados da história da vida na Terra em Moçambique” desde o início da era dos dinossauros, sublinhou Ricardo Araújo, paleontólogo do Instituto de Plasmas e Fusão Nuclear do Instituto Superior Técnico, em Lisboa. Os achados, acrescentou o investigador, “vão abrir a janela para a descoberta de dinossauros em Moçambique”.

Para o paleontólogo, a descoberta coloca ainda “Moçambique no mapa do estudo sobre a extinção de 95% dos seres vivos existentes no planeta, ocorrida na transição do Pérmico para o Triásico”.

“Na altura em que os ancestrais dos mamíferos viveram estava tudo dizimado e nas rochas onde estes achados foram encontrados há sinais dessa extinção em massa”, explicou.

O artigo científico é ainda assinado pelos norte-americanos James Crowley (Universidade Estadual de Boise, nos EUA) e Kenneth Angielczyk (Museu de História Natural de Chicago, nos EUA), pelos ingleses Roger Smith (Universidade de Witwatersrand, na África do Sul) e Stephen Tolan (Centro de Educação de Vida Selvagem de Chipembele, na Zâmbia) e pelos moçambicanos Dino Milisse (Museu Nacional de Geologia de Moçambique) e João Mugabe (Universidade Eduardo Mondlane, em Moçambique).

Em África, os Lystrosaurus são sobretudo conhecidos na África do Sul.

https://www.publico.pt/2020/12/11/ciencia/noticia/descobertos-mocambique-achados-vertebrados-idade-dinossauros-1942695

domingo, 3 de janeiro de 2021

Icebergue gigante que se soltou da Antártida está agora a fragmentar-se

O icebergue gigante A-68a que anda à deriva no Atlântico Sul está a dividir-se em grandes fragmentos, disse em comunicado o Centro Nacional de Dados sobre Neve e Gelo dos Estados Unidos. Na semana passada já se tinha fragmentado e dado origem ao A-68d, que tem cerca de 144 quilómetros quadrados. Agora, surgem dois novos pedaços: o A-68e com 655 quilómetros quadrados; e o A-68f com 225 quilómetros quadrados.

O icebergue A-68 separou-se da plataforma Larsen C, na Antárctida Ocidental em Julho de 2017, e viajou lentamente para oceano aberto. Na altura, tinha cerca de 5800 quilómetros quadrados, mas três anos depois já “só” tinha 3900 quilómetros quadrados e ameaçava colidir com a Geórgia do Sul, podendo colocar em perigo a sua vida selvagem.

Depois de se ter identificado a fragmentação deste icebergue na semana passada e o surgimento do A-68d, surgem agora novidades. Na terça-feira, dados do satélite Sentinela-1 do programa Copérnico da Comissão Europeia e da Agência Espacial Europeia mostravam que há mais dois fragmentos que se separaram do icebergue, o A-68e e o A-68f. Há uns tempos, já se tinham separado deste icebergue o A68b e o A68c. Agora, o A-68a (o que resta do icebergue original) terá ainda 2600 quilómetros quadrados, de acordo com os cálculos de Laura Gerrish, do British Antarctic Survey (BAS), que é responsável por assuntos do Reino Unido na Antárctida.

“Quase três anos e meio depois de se ter separado da plataforma Larsen C, o icebergue A68a – o quarto maior de que há registo – está finalmente a começar a desintegrar-se”, notou ao site da BBC Adrian Luckman, especialista em glaciologia da Universidade de Swansea, no Reino Unido.

E o que acontecerá a seguir? Embora já mais pequeno, o A-68a continua na rota de colisão da ilha da Geórgia do Sul e poderá ser um obstáculo para a sua vida selvagem. Uma das preocupações tem sido a grande população de pinguins na ilha. Se o icebergue se pode prender ao flanco da ilha e permanecer aí durante dez anos, poderá bloquear a passagem dos pinguins para a água e impedi-los de alimentar os seus filhos.

Em breve, voltaremos a ter mais informações sobre este icebergue ainda gigante. No próximo mês, uma missão científica liderada pelo BAS rumará à Geórgia do Sul para estudar esse bloco de gelo. Nesta missão, usar-se-ão veículos robóticos subaquáticos e instrumentos de amostragem para perceber como é que a massa do icebergue está a influenciar o ambiente envolvente.

https://www.publico.pt/2020/12/24/ciencia/noticia/icebergue-gigante-soltou-antarctida-fragmentarse-1944037

domingo, 29 de novembro de 2020

Já imaginou uma ilha coberta com 50 milhões de caranguejos? O fenómeno está a acontecer na Ilha Christmas

Apesar de parecer um acontecimento saído de um filme, é mesmo real, e típico, nesta época do ano. Trata-se na migração dos caranguejos.

É entre outubro e dezembro que se realiza a migração dos caranguejos vermelhos na Ilha de Christmas, na Austrália.

    

Milhões de caranguejos atravessam a ilha, desde a floresta até ao mar, com o objetivo de se reproduzirem.

Apesar de parecer saído de um filme, o fenómeno é bem real, e comum para os habitantes. A ilha está preparada para esta enchente, tendo já colocado sinalizações em diversas áreas e construído uma ponte para os animais passarem uma estrada.

https://greensavers.sapo.pt/ja-imaginou-uma-ilha-coberta-de-50-milhoes-de-caranguejos-o-fenomeno-esta-a-acontecer-na-ilha-christmas/


terça-feira, 24 de novembro de 2020

Descoberto fóssil de tubarão com 370 milhões de anos que girava os dentes afiados para caçar

Os cientistas acreditam que o tubarão desenvolveu a sua mandíbula rotativa para acomodar o crescimento dos dentes.

Foram descobertos fosseis de um tubarão pré-histórico que habitava as águas circundantes de Marrocos e com base nestes restos mortais uma equipa de cientistas efetuou um estudo, que sugere que este tubarão possuía a terrível habilidade de girar a sua mandíbula, onde uma fileira de dentes afiados era projetava para fora quando a sua boca abria para se alimentar.

De acordo com a Live Science, este tubarão pré-histórico chamado Ferromirum oukherbouchidates viveu há 370 milhões de anos. Era um predador feroz do oceano com um corpo ágil e esguio, tinha um focinho triangular curto com olhos excecionalmente grandes, com órbitas ocupando cerca de 30 por cento do comprimento total da sua caixa craniana.

Num estudo publicado na revista Communications Biology, os cientistas examinaram o crânio e a mandíbula do tubarão pré-histórico utilizando tomografia computadorizada de raios-X (TC) e, em seguida, criaram um modelo 3D para realizar testes físicos.

A maior diferença que os investigadores encontraram entre o F. oukherbouchidates e os seus irmãos modernos foi a sua estrutura dentária única. Os tubarões modernos perdem facilmente qualquer dente desgastado pela sua poderosa mordida e rapidamente um novo dente nasce no mesmo lugar.

Mas as mandíbulas do tubarão pré-histórico eram completamente diferentes. Sempre que o tubarão pré-histórico perdia um dos seus dentes, um novo dente brotava numa fileira na parte interna da mandíbula, ao lado dos dentes mais velhos. Ao nascer o novo dente não crescia para cima, mas curvava-se para dentro em direção à língua do tubarão, essencialmente achatando a sua fileira de dentes quando a sua boca estava fechada.

Quando o tubarão pré-histórico abria a boca, a cartilagem na parte de trás da mandíbula flexionava-se de modo que os lados da mandíbula “dobravam” para baixo e os dentes mais novos e afiados giravam para cima. Isso permitia que o tubarão pré-histórico lançasse uma mordida notavelmente letal na sua presa utilizando o máximo de dentes possível.

Quando a mandíbula do tubarão fechava novamente, a força da sua mandíbula empurraria a água do mar e a sua presa para baixo em direção à garganta enquanto, ao mesmo tempo, os seus novos dentes afiados giravam para dentro para prender a sua presa. Este método de alimentação horrível é conhecido como alimentação por sucção.

O notável movimento do padrão da mandíbula, escreveram os cientistas, era diferente de tudo já encontrado em qualquer peixe vivo até hoje. Esta mandíbula giratória desapareceu à medida que as espécies modernas de tubarão evoluíram, equipadas com um rápido crescimento dentário.

A descoberta deu aos investigadores uma oportunidade chave para entender melhor as funções biológicas da mandíbula nos primeiros condrichthyans, a classe animal que inclui tubarões e raias.

O novo estudo também pode ajudar os cientistas a perceber como essa combinação especializada de movimento da mandíbula e posicionamento dos dentes foi distribuída pela árvore genealógica dos tubarões e descobrir como os agrupamentos de dentes entre as espécies modernas de tubarão evoluíram.

https://greensavers.sapo.pt/descoberto-fossil-de-tubarao-com-370-milhoes-de-anos-que-girava-os-dentes-afiados-para-cacar/

sábado, 10 de outubro de 2020

Sabe porque temos quatro estações por ano? (não é a distância ao Sol)

Muitas pessoas assumem que a diferença da distância do nosso planeta em relação ao sol causa a mudança nas estações. Parece lógico, mas não é o caso da Terra.

Em vez disso, a Terra tem estações porque o eixo de rotação do nosso planeta é inclinado num ângulo de 23,5 graus em relação ao nosso plano orbital, ou seja, o plano da órbita da Terra em torno do sol.

Ao longo de um ano, o ângulo de inclinação não varia. Por outras palavras, o eixo norte da Terra está sempre a apontar na mesma direção no espaço. Neste momento, essa direção é mais ou menos em direção à estrela que chamamos de Polaris, a Estrela do Norte.

Mas a orientação da inclinação da Terra em relação ao sol muda conforme orbitamos o sol. Ou seja, o hemisfério norte é orientado em direção ao sol durante metade do ano e afastado do sol na outra metade. O mesmo se aplica ao hemisfério sul.

Quando o hemisfério norte está orientado para o sol, essa região da Terra aquece por causa do aumento correspondente da radiação solar. Os raios do sol estão a atingir aquela parte da Terra um ângulo mais direto. Por consequência, é verão.

Quando o hemisfério norte está orientado para longe do sol, os raios do sol são menos diretos e essa parte da Terra arrefece. Logo, é inverno.

As estações do hemisfério sul ocorrem em épocas do ano opostas às do hemisfério norte. Verão do norte = inverno do sul.

A inclinação no eixo da Terra é fortemente influenciada pela forma como a massa é distribuída pelo planeta. Grandes quantidades de massa de terra e mantos de gelo no hemisfério norte tornam a superfície da Terra pesada. Uma analogia para a obliquidade é imaginar o que aconteceria se girasse uma bola com um pedaço de pastilha elástica preso perto do topo. O peso extra faria com que a bola se inclinasse quando girada.

Durante longos períodos de tempo geológico, o ângulo da obliquidade da Terra gira entre 21,1 e 24,5 graus. Este ciclo dura aproximadamente 41.000 anos e acredita-se que desempenhe um papel fundamental na formação das eras glaciais – uma teoria científica proposta por Milutin Milankovitch em 1930.

A Terra está a diminuir em obliquidade

As diminuições na obliquidade podem definir o terreno para estações mais moderadas (verões mais frios e invernos mais quentes), enquanto aumentos na obliquidade criam estações mais extremas (verões mais quentes e invernos mais frios).

As geleiras tendem a crescer quando a Terra tem muitos verões frios que não conseguem derreter as neves do inverno. Como falamos de ciclos de 41.000 anos, essas mudanças na obliquidade não são o principal motor do clima da Terra no século seguinte.

As temperaturas na Terra são influenciadas não apenas pela obliquidade, mas também por muitos outros fatores que impulsionam o nosso complexo sistema climático e as temperaturas globais que vivenciamos ano a ano.

Outros planetas no nosso sistema solar também se inclinam em vários graus. Urano gira quase lateralmente a 97 graus e tem estações extremas. A inclinação axial em Vénus é de 177,3 graus. Consequentemente, Vénus tem muito poucas estações.

A distância da Terra ao sol muda ao longo do ano, e é lógico supor que um aumento ou diminuição na distância entre o sol e o planeta possa causar uma mudança cíclica nas estações. Mas – no caso do nosso planeta – essa mudança é muito pequena para causar essa mudança.

As nossas estações mudam devido ao ângulo de inclinação do nosso planeta – 23,5 graus – em relação à nossa órbita ao redor do sol. Se a Terra não se inclinasse, mas em vez disso orbitasse exatamente na vertical em relação à nossa órbita ao redor do Sol, haveria pequenas variações na temperatura ao longo de cada ano, à medida que a Terra se movesse um pouco mais perto do Sol ou um pouco mais longe. E haveria diferenças de temperatura da região equatorial da Terra aos pólos. Mas, sem a inclinação da Terra, não teríamos as maravilhosas mudanças sazonais da Terra e a nossa associação delas com as várias épocas do ano – associando uma sensação de frescor no ar com a primavera, por exemplo.

https://greensavers.sapo.pt/sabe-porque-temos-quatro-estacoes-por-ano-e-nao-e-a-distancia-ao-sol/

sexta-feira, 2 de outubro de 2020

Descargas poluentes no rio Vizela. Inspeção do Ambiente fez dez inspeções ao rio nos últimos cinco anos

A Inspeção-Geral da Agricultura, do Mar, do Ambiente e do Ordenamento do Território (IGAMAOT) realizou, nos últimos cinco anos, 10 inspeções na bacia do rio Vizela, mas não fiscalizou a qualidade da água por não ser da sua competência.

Descargas poluentes no rio Vizela. Inspeção do Ambiente fez dez inspeções ao rio nos últimos cinco anos

A IGAMAOT, nomeadamente o inspetor-geral José Brito e Silva, foi hoje ouvido no parlamento, através de videochamada, no seguimento dos requerimentos de PS e PSD a propósito das descargas poluentes no rio Vizela, ficando por ouvir sobre o mesmo tema a Agência Portuguesa do Ambiente, inicialmente prevista para hoje também.

Aos deputados da Comissão de Ambiente, Energia e Ordenamento do Território, José Brito e Silva explicou que entre 2016 e 2020 foram realizadas 10 inspeções, sendo que da última, à Estação de Tratamento de Águas Residuais (ETAR) de Serzedo, ainda está a ser elaborado o seu relatório.

O deputado do PSD Emídio Guerreiro, um dos partidos que apresentou o requerimento, referiu que, apesar de já serem conhecidas “há muito tempo as descargas no rio Vizela”, estas ganharam “maior amplitude desde 2017” com a constituição de um plano para a despoluição do rio, com a participação de várias entidades.

“Fomos confrontados com a saída do município de Vizela deste plano e ontem [terça-feira] foram aqui ouvidos os presidentes das câmaras de Vizela, Fafe e Felgueiras e ficou evidenciado pelos convidados que o foco principal é da própria ETAR, contrariado pelas Águas do Norte. Há um problema”, explicou.

Emidio Guerreiro salientou a necessidade de ser conhecido o papel da IGAMAOT neste processo e saber as conclusões que têm resultado das inspeções realizadas, sublinhando que “incomoda o passar dos anos e a situação manter-se”.

Brito e Silva esclareceu que a IGAMAOT “faz inspeções aos operadores e aos efluentes” e “não há qualidade da água”, uma vez que não é da sua competência por não ser gestora do recurso hídrico.

O inspetor-geral reiterou que o organismo faz parte do grupo de trabalho para a despoluição do rio “mas não interage”, uma afirmação que gerou burburinho entre os deputados presentes na comissão.

“O plano de despoluição do rio Vizela e o licenciamento são questões que dizem respeito às entidades que emitem licenças. A IGAMAOT não tem competência alguma, logo não tem contributos”, afirmou o responsável, salientando que a sua autonomia em termos de fiscalização “não pode ficar quartada” por fazer parte do plano de despoluição.

Brito e Silva disse ainda aos deputados que já em 2020 a IGAMAOT recebeu “algumas denúncias” de poluição no rio em questão e que estas foram encaminhadas para a Agência Portuguesa do Ambiente e para a GNR, uma vez que trabalham em articulação, tendo a GNR levantado processos de contraordenação depois de encontrados os infratores.

Os presidentes das câmaras de Vizela, Fafe e Felgueiras defenderam na terça-feira, na Assembleia da República, a necessidade de uma solução técnica eficaz que acabe definitivamente com o problema da poluição do rio Vizela.

Para os três autarcas ouvidos pela Lusa depois de terem participado numa audição sobre o tema na Comissão de Ambiente, Energia e Ordenamento do Território, o funcionamento da ETAR de Serzedo constitui a questão central do problema.

O presidente da Câmara de Vizela, Vitor Hugo Salgado, tem liderado a contestação pública ao funcionamento daquele equipamento da empresa de capitais públicos Águas do Norte, que considera ser o principal foco poluidor daquele afluente do rio Ave.

O autarca recordou que a solução pode passar pela construção de um emissário que ligue a ETAR de Serzedo (Guimarães) à ETAR de Lordelo, no mesmo concelho, de acordo com um projeto já executado, mas para o qual não há ainda financiamento.

O presidente da Câmara de Fafe, que também preside à Comunidade Intermunicipal do Ave, recordou à Lusa que a poluição de Vizela é um problema transversal a vários municípios, porque se trata do principal afluente do rio Ave.

Raul Cunha assinala que o problema está, de facto, na ETAR de Serzedo e o facto de drenar num ponto do rio que tem, sobretudo no verão, pouco caudal, situação que se acentuou nos últimos anos, agravando as queixas.

O autarca de Fafe admite que a solução pode passar por um emissário ligando à ETAR de Lordelo, mas sublinhou que essa possibilidade não pode nunca significar transferir o problema de um município para o outro.

https://24.sapo.pt/atualidade/artigos/descargas-poluentes-no-rio-vizela-inspecao-do-ambiente-fez-dez-inspecoes-ao-rio-nos-ultimos-cinco-anos

quarta-feira, 30 de setembro de 2020

Descobertos traços genéticos que explicam maior resistência de gado africano

Uma equipa internacional de cientistas anunciou hoje a descoberta de novos traços genéticos no gado africano, resultantes do cruzamento com espécies asiáticas, que o tornam mais tolerante ao calor e à seca e mais resistente a doenças.

A investigação está a ser realizada pelo International Livestock Research Institute (ILRI), com sede em Nairobi (Quénia) e Adis Abeba (Etiópia), Universidade Nacional de Seul e Universidade de Nottingham, Reino Unido, entre outras instituições.

“Acreditamos que este conhecimento pode ser utilizado para criar uma nova geração de gado africano com algumas das qualidades do gado europeu e americano – que produzem mais leite e carne por animal – mas com o rico mosaico de características que tornam o gado africano mais resistente e sustentável”, explicou Olivier Hanotte, cientista sénior do ILRI.

O estudo, que procurou compreender como o gado evoluiu rapidamente com traços que lhe permitiram prosperar em todo o continente africano, traçou mil anos de criação pastoril africana e sequenciou os genomas de 172 bovinos nativos.

Os resultados, publicados na edição de outubro da revista científica ‘Nature Genetic’, indicam que ocorreu um “choque evolutivo” entre 750 e 1.050 anos atrás com a chegada de raças de gado asiáticas à África Oriental, portadoras de traços genéticos adaptados ao exigente ambiente africano.

O cruzamento resultou em gado com características para sobreviver em climas quentes e secos, típicos do gado asiático conhecido como “Zebu”, e ao mesmo tempo suportar climas húmidos onde doenças como a tripanossomíase (doença do sono) são comuns, traços típicos das raças de gado africanas chamadas “Taurine”.

“Sem gado milhões de pessoas em África teriam sido forçadas a caçar animais selvagens em busca de proteínas”, apontou, por seu lado, a especialista do ILRI, Ally Okeyo Mwai.

“Isso teria sido devastador para o ambiente africano e para a sua incrível diversidade de vida selvagem”, acrescentou.

Para muitas famílias africanas, especialmente as mais pobres, o gado continua a ser o bem mais valioso, fornecendo uma fonte de rendimento, mas também de proteínas e micronutrientes.

Os animais também fornecem estrume para as culturas e algumas raças pecuárias africanas podem sobreviver em condições onde não são viáveis culturas alimentares, o que permite aos agricultores uma potencial estratégia de adaptação para lidar com a crise climática.

“Ao estudar os genomas do gado nativo, pode ver-se que a adaptação tem sido a chave para o sucesso da produção pecuária em África”, disse Steve Kemp, outro autor de estudo e cientista do ILRI.

“E isso tem de ser o fator nos nossos esforços futuros para criar animais mais produtivos e mais sustentáveis. Se o objetivo é apenas a produtividade, está condenado ao fracasso”, acrescentou.

https://www.agroportal.pt/descobertos-tracos-geneticos-que-explicam-maior-resistencia-de-gado-africano/

terça-feira, 29 de setembro de 2020

Governo diz que, em 2030, 80% da eletricidade de Portugal será de fontes renováveis

O ministro do Ambiente, Matos Fernandes, disse hoje que 80% da eletricidade de Portugal será de fontes renováveis em 2030, mas prometeu que em termos de exploração de novos modelos “todos os projetos grandes” terão “avaliação de impacto ambiental”.

“Portugal está e estará preparado para os desafios do futuro e para a sustentabilidade da economia. São muito claros os limites do sistema terrestre. Não vale a pena colocarmos isso em causa. O crescimento europeu da economia e em Portugal também, tem de passar por investimentos no setor da sustentabilidade. Mobilidade suave, energias renováveis, eficiência energética”, disse João Pedro Matos Fernandes.

O ministro, que falava aos jornalistas no Porto à margem de uma conferência sobre os desafios estratégicos na ação climática, disse que atualmente “57% da eletricidade consumida em Portugal tem origem em fontes renováveis”.

“E vamos mesmo chegar a 2030 com 80% da eletricidade a partir de fontes renováveis. Isso significa muito menos importações e grandes ganhos para a balança comercial e autonomia energética. Mas a eletricidade não resolve todos os problemas. Tem de continuar a existir gás – numa fase de transição, o gás natural – mas devemos passar para gases renováveis”, acrescentou.

Já sobre o uso de hidrogénio, Matos Fernandes referiu que “o que começou por ser um projeto do Governo português, é agora um projeto de Portugal”, mas prometeu “acautelar cuidados”.

“Todos os projetos grandes têm de ter avaliação de impacto ambiental. Não podemos dizer que queremos energias renováveis e depois não ter onde fazer parques escolares, mas teremos em conta as diferenças dos territórios”.

O ministro do Ambiente sublinhou a convicção de que “Portugal não pode ter um metro quadrado de território abandonado”, avançando que “o próximo quadro comunitário de apoio vai desenhar políticas concretas para as regiões que onde há uma maior necessidade de intervenção”.

“Temos de definir planos de mobilidade adaptados aos territórios de baixa densidade. Rede equipamentos capaz para esses cuidados”, concluiu.

https://24.sapo.pt/atualidade/artigos/governo-diz-que-em-2030-80-da-eletricidade-de-portugal-sera-de-fontes-renovaveis

quarta-feira, 9 de setembro de 2020

De que forma os raios prejudicam as árvores e os ecossistemas tropicais?


A trovoada é um fenómeno metereológico comum em todo o mundo, com uma ocorrência média de 20 milhões anualmente, cita o IPMA.

Um novo estudo da Universidade de Louisville, publicado na revista Global Change Biology, investigou a ocorrência da trovoada e as consequências das descargas elétricas nas florestas tropicais. A equipa concluiu que as florestas com maior incidência de raios têm menos árvores grandes por hectare, afetando a longo prazo sua biomassa no total. Um só raio pode afetar mais de 20 árvores, e num ano, cerca de 6 morrem.

Os cientistas utilizaram satélites e sensores de solo para avaliar o impacto. “Achamos que cerca de 830 milhões de árvores são atingidas por raios e um quarto delas, cerca de 200 milhões, são mortas”, afirma Evan Gora, uma das autoras do estudo, ao Scientific American.

Entre 2013 e 2018, os ecossistemas tropicais tiveram perto de 100.4 milhões de relâmpagos por ano.

Além da ação humana, também fatores naturais como estes afetam as florestas, que são vistas como os pulmões do Planeta. Os especialistas temem que o aquecimento global propicie a uma maior frequência de trovoadas, levando à diminuição destes seres vivos essenciais para a nossa sobrevivência; É por isso fundamental fazermos o que está ao nosso alcance para mitigar as alterações climáticas.

https://greensavers.sapo.pt/de-que-forma-os-raios-prejudicam-as-arvores-e-os-ecossistemas-tropicais/

Tubarão-frade: um turista acidental nos Açores


O tubarão-frade é poucas vezes observado nos Açores, mas isso pode apenas querer dizer que a espécie é ainda mal conhecida…

O dia 10 de Fevereiro de 1956, num dos meses mais frios de que há memória em Portugal e que levaria inclusivamente neve ao Algarve, John Collins, telegrafista de profissão, estava prestes a assistir a um acontecimento inédito nos Açores. Do corpo de um enorme cachalote que ocupava a rampa de desmanche da fábrica da baleia do Porto Pim, no Faial, foi retirada uma presa inesperada: um exemplar de tubarão-frade, o segundo maior peixe do mundo. Este tubarão não era conhecido como presa de cachalote e os seus avistamentos eram uma raridade nos Açores. A primeira ocorrência documentada da espécie no arquipélago fora descrita apenas em 1939. Em que circunstâncias extraordinárias se encontrava ali aquele exemplar?

Meio século mais tarde, ao largo da ilha de São Miguel, foi pela primeira vez fotografado um exemplar vivo desta espécie no arquipélago. De permeio, segundo documentaram os biólogos Filipe Porteiro e Pedro Niny, alguns tubarões-frade arrojaram em São Miguel e na Terceira, mas os avistamentos deste gigante no arquipélago dos Açores continuaram a ser acidentais. Observado com alguma regularidade junto à costa continental portuguesa, o animal continuou a ser visto nos Açores como uma raridade. 

O hábito de se deslocar vagarosamente junto à superfície e próximo da costa tornou o tubarão-frade um alvo para a pesca nas águas costeiras da maioria dos países onde é avistado. O método tradicional de captura desta espécie era igual ao da baleia, através do arremesso de um arpão. Esta prática abrandou na década de 1910.

O nome tubarão-frade é uma derivação da sua designação original – tubarão-peregrino. Este nome resulta do seu hábito de deambular, aparentemente sem rumo definido, à superfície da água. O nome científico Cetorhinus maximus provém do grego e designa um monstro marinho de grande rostro. É provável que esta injusta descrição se baseie na percepção que os primeiros naturalistas tiveram de uma enorme silhueta que pode medir 12 metros de comprimento, muitas vezes observada junto à superfície, com a sua boca de tal forma aberta que o nariz parece saltar fora de água.

Actualmente, porém, sabe-se que as deslocações vagarosas deste animal nos dias soalheiros próximo da costa e junto à superfície se devem ao facto de o tubarão-frade, tal como outros grandes peixes cartilagíneos, ser um tubarão filtrador que se alimenta de plâncton, principalmente, de crustáceos, pequenos peixes, larvas e ovos de peixes. 

Na chegada da Primavera, inicia-se o seu ciclo biológico nas águas temperadas frias. O progressivo aumento da temperatura desencadeia um frenesi de produção de organismos microscópicos que compõem o fitoplâncton, multiplicando-se em densidades astronómicas e originando explosões de vida. Os tubarões-frade perseguem esta abundância primaveril próximo das costas. Ao seguirem selectivamente manchas de maior densidade de plâncton, podem filtrar o equivalente a cinco mil toneladas de água por hora. E é nessa fase, em que navegam perto da superfície, que são avistados.

Em terra, seria impossível que um animal do tamanho de um autocarro e com o peso equivalente a quatro veículos ligeiros passasse despercebido nas suas deambulações migratórias. Nas profundezas do mar, porém, o tubarão-frade é uma gota de água, um gigante tímido e desconhecido. Durante décadas, soube-se pouco sobre a sua distribuição e comportamento e o pouco que se sabia resultava de encontros ocasionais em alguns sítios historicamente visitados por esta espécie no final da Primavera e início do Verão, a que se seguiam longos meses de ausência. 

As investigações recentes descobriram que o tubarão-frade mergulha frequentemente a profundidades na ordem dos 1.000 metros. É possível que se movimente com mais frequência do que o esperado junto das ilhas atlânticas portuguesas, mas a profundidades que o tornem quase indetectável. 

A quebra do volume de zooplâncton nas zonas costeiras era apontada como a causa da migração no Inverno dos tubarões-frade para águas mais profundas. Chegou a ser levantada a hipótese de estes animais hibernarem durante meses, fazendo uso das reservas energéticas do seu enorme fígado. Também a informação sobre a sua anatomia era tão escassa que a maioria dos estudos se baseava em dados recolhidos por dois cientistas (Leonard Matthews e Hampton Parker) em 1947. A convite do dono de uma fábrica pesqueira na ilha escocesa de Soay, os dois britânicos dissecaram e estudaram dez tubarões-frade, recolhendo dados que, 50 anos mais tarde, ainda serviam de fundamentação para estudos científicos. No entanto, a ajuda à ciência desta vez veio literalmente do céu.

No dia 10 de Setembro de 2007, um satélite da NOOA (Agência Norte-Americana para os Oceanos e Atmosfera) captou informações transmitidas de um emissor que flutuava no Atlântico Norte. Oitenta e dois dias antes, uma embarcação licenciada pelo Departamento de Agricultura, Florestas e Pescas da ilha de Man aproximara-se de um tubarão-frade fêmea com oito metros de comprimento. Um dardo foi projectado da embarcação, alojando-se na base da barbatana dorsal que se projectava da superfície. Ligado por um fio de nylon a este dardo, encontrava-se um aparelho colector e emissor de dados programado para se soltar cerca de cem dias mais tarde e emitir dados de temperatura, profundidade e níveis de luz durante este período. Mauvis Gore, o coordenador deste projecto, talvez não sonhasse então com o volume de informação que viria a ser fornecido por um único animal.

Alcunhado Tracy, o tubarão marcado percorreu 9.589km, iniciando a sua viagem no mar da Irlanda, abandonando a plataforma continental, atravessando o Atlântico, passando a norte do arquipélago dos Açores e chegando ao largo da Terra Nova, no Canadá, em apenas 82 dias. A sua rota é a primeira prova da utilização de águas profundas para além da plataforma continental e de uma migração transatlântica das populações de tubarão-frade da Europa e da América, o que leva Pedro Afonso, biólogo do Departamento de Oceanografia e Pescas da Universidade dos Açores especializado em estudos de telemetria, a referir que “as investigações recentes demonstraram que o offshore também é um habitat relevante para esta espécie e que a amplitude desse habitat é bem maior do que se pensava”.

Os dados relativos à migração vertical deste tubarão foram igualmente surpreendentes. Após permanecer em águas pouco profundas durante cinco dias, Tracy seguiu para profundidades na ordem das duas centenas de metros, nas quais se manteve durante dez dias. Ao chegar ao fim da plataforma continental, realizou mergulhos até uma profundidade recorde de 1.264 metros e passando pelo menos uma dúzia de vezes a profundidades superiores a mil metros. A informação sugere uma procura activa de alimentos na coluna de água, uma vez que é aí que existem os copépodes mesopelágicos, as suas presas naturais. Os últimos 40 dias foram passados junto à superfície numa zona abundante da sua presa favorita, o pequeno copépode da espécie Calanus finmarchicus, de apenas 5mm de comprimento. 

É perigoso extrapolar os dados obtidos com um indivíduo para toda uma espécie, porque existe grande plasticidade comportamental entre indivíduos. Pedro Afonso refere mesmo que “o comportamento do mesmo indivíduo pode variar muito ao longo dos anos”. De todo o modo, os dados da rota migratória de Tracy ofereceram mais uma pista para compreender os avistamentos ocasionais da espécie, que se julgava confinada às plataformas continentais. Na verdade, Tracy dispersou-se muito mais do que aquilo que era admitido pela comunidade científica. 

Este indício viria a ser suportado um ano mais tarde, em 2009, com a publicação de um artigo mais abrangente, que utilizou a mesma técnica de recolha de dados no Massachusetts, agora aplicada a 25 diferentes tubarões-frade. Os dados recolhidos por satélite pela equipa de Gregory Skomal indicaram que o tubarão-frade é um dos poucos animais marinhos capazes de atravessar o equador durante as suas migrações. Nada entre 200 e 1.000 metros de profundidade, seguindo zonas de termoclinas frias, passando semanas a meses longe do olhar humano, a grande profundidade em águas tropicais. Vários indivíduos marcados no Verão em zonas costeiras nas águas temperadas do Massachusetts atravessaram o equador, permanecendo em locais tão improváveis como a boca do rio Amazonas e orientando provavelmente o seu comportamento em função da disponibilidade de presas. 

Os Açores encontram-se provavelmente no limite meridional do seu território de alimentação estival, o que explicaria os avistamentos ocasionais à superfície. Mas para Pedro Afonso há uma hipótese adicional: é possível que a espécie “passe com mais frequência na região mas a grandes profundidades, tal como demonstrado neste estudo com a população americana, ao passo que nas águas do Norte já estará em ‘modo de superfície’”. O biólogo acrescenta: “Está por esclarecer de que forma os comportamentos sociais afectam também as movimentações da espécie.” Por outras palavras, podem existir outras razões que expliquem a presença em habitats profundos que não a alimentação, tais como o acasalamento.

Os Açores encontram-se provavelmente no limite meridional do seu território de alimentação estival, o que explicaria os avistamentos ocasionais à superfície.

Graças a estes esforços, tem-se hoje como provável que o tubarão-frade se sinta à vontade em águas profundas, tenha capacidade para sobreviver em águas tropicais e realize migrações de um hemisfério para outro. Ao mesmo tempo, estes dados demonstram a necessidade de esforços globais para a protecção desta espécie classificada na “Lista Vermelha da União Mundial de Conservação da Natureza” como “vulnerável” em termos globais e “em perigo” no Atlântico e Pacífico Norte. “Tal como já se demonstrou com várias outras espécies, como a tintureira, é preciso conceber o habitat em toda a sua extensão, na medida em que ele nada muito para lá da plataforma continental, e nas várias profundidades em que ele vive”, comenta Pedro Afonso.

No entanto, talvez o maior desafio para a preservação da espécie seja o preenchimento das lacunas ainda existentes em relação à ecologia da segunda maior espécie de peixe dos nossos oceanos. As descobertas sobre as rotas migratórias dos tubarões-frade obrigaram à revisão de dados que eram tidos como certos em relação a esta espécie, mas ainda há lacunas. Dada a plasticidade de comportamentos e as usuais variações oceanográficas entre anos, quem sabe para onde nadará Tracy no próximo ano? 

https://nationalgeographic.sapo.pt/natureza/actualidade/2272-tubarao-frade-um-turista-acidental-nos-acores

terça-feira, 1 de setembro de 2020

Investigadores da Universidade de Évora descobrem uma nova planta rara nos charcos temporários



Os charcos temporários do Parque Natural do Sudoeste Alentejano e Costa Vicentina, continuam a revelar-se uma “arca de noé” de plantas que resistem, nalguns casos, há milhões de anos. Carla Pinto Cruz, professora do Departamento de Biologia da Universidade de Évora (UÉ) acaba de anunciar a descoberta de uma nova espécie de planta “endémica, rara e fortemente ameaçada”, a Helosciadium milfontinum, que cresce nestes habitats. A designação atribuída é uma alusão à sua área de ocorrência, ou seja, Vila Nova de Milfontes.

Nas informações prestadas ao PÚBLICO, a investigadora refere que o levantamento efectuado permitiu confirmar que a planta de se encontra “restringida a nível mundial a pequenas áreas da Costa Vicentina.”

Na descrição que faz da nova espécie é realçada a “importância da descoberta”. Trata-se de uma planta que se apresenta com um conjunto de flores que “faz lembrar um pequeno guarda-chuva, semelhante às flores do agrião que floresce entre Julho e Agosto e frutifica no início de Setembro”. Tem caules rastejantes, “que enraízam em nós e as folhas são lobadas e têm as margens dentadas”, acrescenta a investigadora.

O trabalho de investigação realizado envolveu botânicos da Universidade de Évora e da Universidade de Oviedo e permitiu diferenciar a nova espécie de uma outra previamente identificada como Apium repens, uma planta com flor pertencente à família Apiaceae de que fazem parte a cenoura, o aipo, a salsa, a erva-doce, os cominhos e outras plantas aromáticas. Esta espécie tem uma área de distribuição mais abrangente no território europeu que o habitat da Helosciadium milfontinum, que se reduz a algumas zonas do parque natural, observa Carla Cruz. Com efeito “foi através da identificação de pequenas sequências de DNA, que tornou possível a descoberta da Helosciadium milfontinum” acrescenta a investigadora, frisando que a planta “já foi alvo de alguns esforços de conservação”, quer nos charcos temporários da região onde pode ser encontrada.

Assim, cada espécie de planta é designada por uma combinação exclusiva de duas palavras em latim: primeiro o “género” e depois o epíteto específico, atribuindo-se um nome único para cada espécie -reconhecido mundialmente por todos os cientistas - tal como se verifica com esta descoberta e cujo epíteto específico atribuído milfontinum” por ser alusivo à sua área de ocorrência, ou seja, Vila Nova de Milfontes.

Carla Cruz destaca o trabalho coordenado pela UÉ que correspondeu a uma iniciativa do Instituto de Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF), em parceria com o Fundo Ambiental através do projecto “Recuperação de Valores Naturais - Habitats e Espécies de Zonas Húmidas Temporárias.”  

O levantamento que foi feito dos charcos temporários da região alentejana permitiu constatar que as ameaças à sua conservação são cada vez mais fortes. São “um habitat único que alberga uma grande diversidade de organismos e onde a diversidade biológica vai sendo perdida à medida que cada espécie se extingue”, alerta a investigadora.  

A realização de acções de conservação e o seu planeamento adequado “é essencial” recorda, referindo que, “são observadas diariamente as consequências das nossas acções no planeta e o ritmo acelerado a que se produzem alterações”, motivo para afirmar “que só tendo um bom conhecimento das espécies, como neste estudo viemos demonstrar, podemos perspectivar e priorizar adequadamente os esforços de conservação” concluiu Carla Cruz.

https://www.publico.pt/2020/09/01/local/noticia/investigadores-universidade-evora-descobrem-nova-planta-rara-charcos-temporarios-1929970

segunda-feira, 24 de agosto de 2020

Quercus considera que Fundo de Recuperação e Pacto Ecológico europeus devem promover postos de trabalho em conservação da natureza e restauro ecológico

Uma saudação especial a quem faz Conservação da Natureza

O Dia Nacional da Conservação da Natureza é celebrado todos os anos no dia 28 de julho, tendo sido instituído pela Resolução do Conselho de Ministros n.º 73/98, de 29 de junho, para celebrar o quinquagésimo aniversário da fundação da Liga para a Proteção da Natureza (LPN), a primeira e mais antiga Associação de Defesa do Ambiente da Península Ibérica. Por isso, e em primeiro lugar, a Quercus parabeniza o trabalho da LPN em prol da conservação da natureza, aproveitando para chamar a atenção para os desafios que todas as Associações conservacionistas portuguesas, ou seja, as que realizam projetos de conservação da natureza no terreno, enfrentam, sobretudo os de ordem financeira.

Conservação da natureza: um esforço hercúleo para as Associações

As Associações que fazem conservação do património natural, atuam numa área que é também uma das competências do Estado. No entanto, tal como a maioria das restantes Organizações Não Governamentais de Ambiente (ONGA) não recebem para o seu funcionamento regular qualquer subsídio do Estado, ao contrário de outro tipo de Organizações Não Governamentais, como as IPSS, que recebem comparticipações do Estado para pagar despesas de funcionamento correntes e que mesmo assim, manifestam dificuldades (1). O único apoio regular que existe para algumas ONGA é um protocolo que permite o destacamento para estas entidades de um professor do quadro do Ministério da Educação, para desenvolver e coordenar projetos de educação ambiental.

Frequentemente, para financiar projetos de conservação da Natureza, sobretudo os de maiores dimensões, as associações preparam candidaturas a financiamento europeu, nomeadamente ao programa LIFE, que financia a 75%, sendo necessário, contudo, encontrar a restante parte do financiamento, através de angariação de fundos junto de cidadãos, empresas ou outras organizações, e mais recentemente, através de candidaturas ao Fundo Ambiental. Deve ainda notar-se que para a execução desses mesmos projetos, as Associações têm de pagar taxas e impostos ao Estado português, como o IVA dos bens e serviços adquiridos ou o IRS e a TSU dos trabalhadores afetos.

Fundo Ambiental e Conservação da Natureza

Se é certo que o Fundo Ambiental reforçou no presente ano o apoio previsto à conservação da Biodiversidade e da Educação Ambiental em 1,7 milhões de euros, há que ver que a esse Fundo concorrem não apenas Associações, mas também Universidades, Fundações e empresas. No ano passado, o Fundo Ambiental financiou um total de apenas 500.000€ na área da Conservação da Natureza (2) destinados a 8 organizações, ficando de fora 15 candidaturas elegíveis e 4 consideradas não elegíveis. No entanto, o que queremos frisar aqui, não é a desadequação de critérios de análise aos projetos, que devem ter qualidade, mas sim a limitação de verbas que globalmente o Estado dispõe para os projetos de conservação da natureza, quer realizado pelas ONG, quer até pelo próprio Estado, através do Instituto de Conservação da Natureza e das Florestas.

Pacotes financeiros europeus: O Fundo de Recuperação e o Pacto Ecológico

Fundo de Recuperação

A recente aprovação do Fundo de Recuperação europeu no valor de 750 mil milhões cria, temporariamente, um instrumento importante de combate à recessão provocada pelo coronavírus e o confinamento. Para Portugal, isso representará um impacto financeiro muito significativo, com entrada de um volume ainda maior de financiamento do que na época “dourada” dos fundos europeus pós adesão à CEE. Sabendo que estes fundos são destinados  à recuperação da economia, a Quercus manifesta o desejo de que na sua aplicação fique prevista a criação de postos de trabalho na área da conservação da natureza. De facto, a conservação e valorização do património natural está intrinsecamente ligada à possibilidade do desenvolvimento de atividades conexas, como o Turismo de Natureza, atividade económica de forte componente out-door com viabilidade mesmo em contexto de pandemia.

Ao nível da União Europeia, estima-se que a Rede Natura 2000 apoie 104 mil empregos diretos em áreas protegidas de gestão e conservação de áreas protegidas e mais 70 mil empregos indiretos ou induzidos. No futuro, espera-se que as necessidades de biodiversidade possam gerar até 500 mil empregos (4).

Pacto Ecológico Europeu

O Pacto Ecológico Europeu (“European Green Deal”) prevê um roteiro com ações para que incluem restaurar a biodiversidade. No entanto, falta garantir compromissos claros para a integração da biodiversidade nas iniciativas principais do Pacto Ecológico Europeu, incluindo a Estratégia “Farm to Fork”. O Pacto Ecológico inclui uma ação prioritária para as cidades europeias verdes, que se espera venha a beneficiar também a componente biodiversidade. A Quercus espera que Portugal, ao assumir a Presidência Portuguesa em 2021, não esqueça os compromissos da Estratégia Europeia para a Biodiversidade 2030 e que contribua decisivamente para a afinação de um pacote financeiro substancial para a conservação da biodiversidade.

Para além da Conservação: O restauro ecológico

A ONU declarou 2021-2030 como a Década do Restauro de Ecossistemas, para ilustrar como o restauro ecológico pode contribuir para combater grandes problemas ambientais. Restauro ecológico é o esforço para reverter áreas que sofreram degradação para o retorno a uma situação mais próxima do estado inicial. Pode significar dar nova vida a áreas fora das áreas protegidas nacionais ou da Rede Natura 2000, mas cujo valor seja importante no contexto de corredores ecológicos (ex: galerias ripícolas) ou a nível local. Investir em restauro ecológico pode significar empregos locais diretos e indiretos que trazem vida de volta às comunidades locais (4).

REFERÊNCIAS

(1) https://www.tsf.pt/portugal/sociedade/estamos-em-sufoco-ipss-pedem-ao-estado-reforco-urgente-do-financiamento-11757171.html

(2) https://www.fundoambiental.pt/ficheiros/aviso-n-94512019-conservacao-da-natureza-relatorio-final-pdf.aspx

(3) https://ieep.eu/news/what-the-green-deal-means-for-europe-s-biodiversity

(4) https://ec.europa.eu/info/strategy/priorities-2019-2024/european-green-deal/actions-being-taken-eu/EU-biodiversity-strategy-2030_en

(5) https://www.decadeonrestoration.org/

Lisboa, 28 de Julho de 2020

A Direção Nacional da Quercus – Associação Nacional de Conservação da Natureza


 https://www.quercus.pt/comunicados/2020/julho/5935-quercus-considera-que-fundo-de-recuperacao-e-pacto-ecologico-europeus-devem-promover-postos-de-trabalho-em-conservacao-da-natureza-e-restauro-ecologico

Em 30 anos derreteram 28 biliões de toneladas de gelo

Um grupo de cientistas britânicos concluiu que, nos últimos 30 anos, a Terra perdeu 28 biliões de toneladas de gelo devido ao aquecimento global, exponenciado pelo efeito de estufa que, por sua vez, foi intensificado pela poluição atmosférica.

Os cientistas, das universidades de Leeds e Edimburgo e do Colégio Universitário de Londres, estudaram imagens de satélite dos pólos, cordilheiras montanhosas e glaciares para calcular quanto gelo se perdeu. Os resultados são “impressionantes” e a equipa concluiu que, até ao final do século, o nível da água poderá subir um metro por causa do degelo nos pólos.

“Para contextualizar, cada centímetro de subida da água do mar significa que cerca de um milhão de pessoas será deslocada das suas terras em terrenos baixos”, disse Andy Shepherd, director do Centro de Observação e Modelação Polar da Universidade de Leeds, ao jornal britânico The Guardian.

Os cientistas fazem ainda uma série de alertas relativamente ao desaparecimento do gelo no planeta. Com menos gelo nos pólos, a Terra perde capacidade de reflectir luz solar e irá aquecer mais depressa; além disso, a água gelada que provem de glaciares derretidos ameaça ecossistemas e comunidades em vários pontos do globo.

“Há poucas dúvidas de que a maioria da perda de gelo na Terra é uma consequência directa do aquecimento global”, refere um resumo da investigação, publicado na revista científica Cryosphere Discussions.

Andy Shepherd acrescentou que este estudo foi “a primeira vez que alguém olhou para todo o gelo que está a desaparecer do planeta inteiro”. “O que encontrámos atordoou-nos”, disse.

A investigação utilizou imagens de vários continentes, além da Antárctida e da Gronelândia, procurando analisar a progressão do degelo na Terra entre 1994 e 2017.

“Vinte e oito biliões de toneladas de gelo cobririam toda a superfície do Reino Unido com uma camada de gelo com 100 metros de espessura. É surpreendente”, disse Tom Slater, um dos investigadores da Universidade de Leeds.

https://www.publico.pt/2020/08/23/ciencia/noticia/30-anos-derreteram-28-bilioes-toneladas-gelo-1929009