Páginas

sexta-feira, 4 de janeiro de 2019

Acidez dos oceanos aumenta a um ritmo sem precedentes desde há 300 milhões de anos

As emissões de dióxido de carbono estão a elevar a acidez dos mares e oceanos a um ritmo sem precedentes desde há 300 milhões de anos, que, a manter-se, impedirá a vida marinha em poucas décadas, revela um estudo.

A investigação, que a revista científica Science publica na sexta-feira, refere que a química marinha sofreu “profundas alterações” nos últimos 300 milhões de anos, embora nenhuma “tão rápida, grande e global” como a de hoje.

A acidez marinha produz-se à medida que o dióxido de carbono emitido pela actividade humana - originada fundamentalmente pela queima de combustíveis fósseis - é absorvido pelos mares e oceanos.

Um terço das emissões vai directamente para os oceanos e mares, que se tornam progressivamente tanto mais ácidos quanto mais frias são as suas águas.

A acidez, que prejudica muitas formas de vida marinha, interfere, sobretudo, com o desenvolvimento das espécies com carapaça ou esqueleto de carbonato cálcico, como corais e moluscos.

Uma equipa de cientistas dos Estados Unidos, Reino Unido, Espanha, Alemanha e Holanda examinou, para a investigação, centenas de estudos paleoceanográficos, incluindo de fósseis de sedimentos marinhos.

Em declarações à agência Efe, Carles Pelejero, investigador do Instituto de Ciências do Mar espanhol, advertiu que a acidez dos oceanos já está a afectar algumas espécies de fitoplâncton próprias de altas latitudes, que são a base principal da dieta dos salmões e das baleias.

De acordo com o investigador, “as águas de altas latitudes, como as do Oceano Glacial Árctico e Antárctico, que são muito frias e, por isso, muito ácidas e ricas em dióxido de carbono, atingirão, numa ou duas décadas, condições químicas que impedirão que os organismos com carapaça sobrevivam”.

Actualmente, a zona mais afectada, segundo Carles Pelejero, é a costa oeste do Pacífico, onde os criadores de ostras observaram que a fertilidade e o crescimento dos moluscos estão cada vez piores.

Projecto de Coimbra revisita rotas dos naturalistas em África desde o século XVIII

O botânico Jorge Paiva, 78 anos, professor e investigador reformado da Universidade de Coimbra, corre dez quilómetros todos os dias. A sua forma física vai ser necessária agora para uma nova tarefa: servir de guia em quatro documentários que serão produzidos até 2013, sobre as missões botânicas da universidade em África.

Para entender o que significam estas missões, basta olhar para o herbário da universidade. Ali estão hoje armazenados cerca de 700.000 exemplares de flora – a maior colecção do país e a segunda maior da Península Ibérica. Uma parte significativa resulta de sucessivas campanhas científicas para a recolha e o estudo de espécies vegetais em vários países africanos, que os documentários agora irão retratar.

Uma parte da história à volta destas campanhas estava de certa forma escondida do público em geral, em gabinetes e armários do antigo Departamento de Botânica. “Percebemos que havia uma riqueza documental enorme”, afirma Helena Freitas, directora do Jardim Botânico de Coimbra. Desde 2005, a documentação tem vindo a ser organizada e disponibilizada através de uma biblioteca digital.

A partir daí surgiu a ideia de mostrar, também numa série de documentários, a história das missões botânicas dos naturalistas de Coimbra. O projecto foi viabilizado por uma candidatura ao programa COMPETE do QREN, com um financiamento de cerca de 500 mil euros – 65% de Bruxelas e 35% do Estado, através do programa Ciência Viva.

As “viagens filosóficas” são o mote do primeiro documentário – uma espécie de enquadramento daquelas que foram as primeiras expedições de cunho estritamente científico, no século XVIII. Os outros serão filmados em três países diferentes – Angola, Moçambique e São Tomé e Príncipe.

Jorge Paiva irá conduzir as histórias, percorrendo parte dos trajectos que outros naturalistas de Coimbra fizeram no princípio do século – Júlio Henriques, em São Tomé, em 1903, e Luís Carrisso, nas décadas de 1920 e 1930. Paiva, ele próprio, participou de expedições a Moçambique, na década de 1960, que serão objecto de um dos documentários. “Estive lá oito meses, sempre a acampar, e fiz 33.000 quilómetros”, relembra. “Estive em zonas onde lá não voltou mais ninguém”, completa.

As filmagens começam em Setembro, em São Tomé, e os documentários deverão estar concluídos até ao final de 2013. Serão transmitidos pela RTP. “Pretendemos que não seja algo académico, mas alargado ao público”, explica o coordenador do projecto, António Gouveia, biólogo do Centro de Ecologia Funcional da Universidade de Coimbra.

O conteúdo científico será assegurado pela universidade, enquanto os documentários em si ficarão a cargo da produtora Terratreme, escolhida por concurso, entre oito concorrentes. Cinco realizadores diferentes estarão à frente dos filmes: Susana Nobre (“viagens filosóficas”); Luísa Homem e Tiago Hespanha (Moçambique); João Nicolau (S.Tomé e Príncipe); e André Godinho (Angola). “Não ser um mesmo realizador para toda a série traz mais riqueza ao projecto”, afirma o produtor João Matos, da Terratreme.

Os filmes procurarão complementar as informações sobre a flora e os ecossistemas com a sua interacção com as comunidades e as tradições locais. “São filmes de divulgação científica, mas há muitas formas de divulgar ciência”, diz João Matos.

Um milhão para recuperar água

São doze as autarquias da região Norte que vão receber mais de um milhão de euros para a concretização de parcerias que permitam requalificar e proteger os recursos hídricos nas zonas Litoral e Interior.
Esta verba (1 175 000 euros), a distribuir pelos municípios, é proveniente do Fundo de Protecção de Recursos Hídricos, constituído a partir da Taxa de Recursos Hídricos, que é cobrada aos consumidores domésticos, comerciais e industriais, na factura da água, para compensar o benefício que resulta da utilização privativa do domínio público hídrico.
"A Taxa dos Recursos Hídricos começa a cumprir o propósito com que foi criada, melhorar os recursos hídricos e a qualidade de vida das populações. Este apoio às autarquias constitui um bom exemplo do que pode ser a parceria entre a administração central e local", explicou a ministra do Ambiente, Dulce Pássaro, em declarações ao Correio da Manhã.
A maior fatia dos mais de um milhão de euros destina-se à autarquia de Vila Nova de Gaia, uma das mais populosas do País, com mais de 310 mil habitantes.
A ministra entrega as verbas depois de amanhã, numa cerimónia na Sala da Biblioteca da Alfândega do Porto.

Muita Terra, Muita Terra

Em muitos lugares do país, um dia o comboio partiu e nunca mais voltou. Para trás, deixou populações resignadas e centenas de quilómetros de linhas férreas abandonadas. Enquanto a desejada reactivação do transporte ferroviário se mantém uma miragem distante, surge uma nova esperança para o desenvolvimento local e para o turismo sustentável: a transformação dos antigos corredores ferroviários em pistas ecológicas. O biólogo Jorge Nunes faz o ponto da situação.

O fim do que restava da mítica linha do Tua, considerada uma das mais belas de Portugal, foi apenas o último capítulo, e porventura o mais badalado (com destaque para o documentário Pare. Escute. Olhe., de Jorge Pelicano, que teve honras de visionamento nas salas de cinema), de uma triste história que tem levado à lenta agonia do transporte ferroviário português e ao encerramento de muitas linhas férreas espalhadas pelo país.

Os argumentos a favor dos encerramentos assentaram essencialmente nos elevados custos de manutenção, na demora de alguns trajectos em virtude dos seus traçados sinuosos e concomitantemente na sua fraca rentabilidade económica, dado que alguns itinerários nem sempre passavam onde a economia e a demografia aconselhariam. As vozes que se fizeram ouvir contra o fim das linhas alegaram razões de identidade e desenvolvimento regional, falta de outras acessibilidades válidas como alternativas ao comboio com graves implicações para o despovoamento do interior e ausência de coragem política e empresarial para investir na ferrovia como promotora da tão proclamada mobilidade sustentável.

Mesmo sabendo-se que algumas das linhas mais antigas, como as do Tua, do Corgo, do Sabor e do Vouga, entre outras, mantinham interesse regional e poderiam ter potencialidades turísticas promissoras, a racionalização da exploração ferroviária falou mais alto. Especialmente entre os anos de 1985 e 1987, pouco antes de comemorarem os seus centenários, diversos ramais e linhas, especialmente de via estreita, foram apagadas do mapa ferroviário português.

Impulsionada pela política de obras públicas de Fontes Pereira de Melo, a aventura do caminho-de-ferro em Portugal nunca foi um processo fácil. Desde as críticas acérrimas de muitos contestatários, passando pela geografia montanhosa das terras lusas e culminando nas dificuldades financeiras do país, muitos foram os grãos que ajudaram a emperrar a engrenagem. Há quem advogue, inclusivamente, que “o financiamento da ferrovia representou um esforço desmesurado que agravou o endividamento externo do país, abrindo uma crise financeira que se terá arrastado, pelo menos, até à queda da monarquia”.

Seja como for, a rede ferroviária acabou por arrancar lentamente em 1856 (com um pequeno troço entre Lisboa e o Carregado), sendo rapidamente elevada à condição de desígnio nacional que levou o país a semear-se de carris, túneis, pontes, estações e apeadeiros. Mesmo os locais mais ermos da nação, onde nunca chegaram estradas de jeito, passaram a ser visitados por vagões apinhados de gente e mercadorias, assistindo-se ao rápido desenvolvimento de alguns lugarejos que até aí haviam servido apenas para decorar os mapas portugueses. Pode mesmo dizer-se, com algum exagero, que o comboio foi para muitas regiões recônditas a internet do século XX português: o primordial meio de comunicação com o resto do mundo.

Desde o final do século XIX, a via férrea foi considerada a peça fundamental para tirar Portugal do seu atraso ancestral. Contrariando a geografia acidentada do território, o comboio foi trilhando progressivamente o país de lés-a-lés e encurtando as distâncias entre as povoações, abrindo-as ao mundo e ao desenvolvimento. Porém, volvidos pouco mais de cem anos, o entusiasmo pela aventura do caminho-de-ferro começou a desvanecer-se e a racionalização da exploração ferroviária impôs, nas últimas décadas, o encerramento de muitas linhas férreas.

Os troços encerrados até à actualidade ultrapassam já os 20 por cento da rede ferroviá­ria nacional, ou seja, mais de oitocentos quilómetros de trilhos votados ao abandono. Na região Norte, assinala-se o fecho dos ramais entre Valença e Monção (17 quilómetros), entre Póvoa de Varzim e Famalicão (29 km), entre Guimarães e Fafe (21 km), entre Pocinho e Barca d’Alva (28 km), e das linhas do Tâmega (entre Amarante e Arco de Baúlhe, 39 km), do Corgo (entre Régua e Vila Real, 72 km), do Tua (entre Tua e Bragança, 126 km) e do Sabor (entre Pocinho e Duas Igrejas, 105 km).

No Centro, o destaque vai para o fim das linhas do Vouga (entre Sernada do Vouga e Viseu, 76 km) e do Dão (entre Viseu e Santa Comba Dão, 49 km).

Na região Sul, mais propriamente no Alentejo, foram desactivados os ramais do Montijo (entre Pinhal Novo e Montijo, 11 km), de Montemor (entre Torre da Gadanha e Montemor-o-Novo, 13 km), de Mora (entre Évora e Mora, 60 km), de Reguengos (entre Évora e Reguengos de Monsaraz, 40 km), de Moura (entre Beja e Moura, 59 km), de Vila Viçosa (entre Estremoz e Vila Viçosa, 16 km), das antigas minas do Lousal (3 km) e de Portalegre (entre Estremoz e Portalegre, 63 km).

Com a partida do último comboio, muitas das regiões do interior ficaram cada vez mais longe de tudo e de todos. Eu próprio pude sentir isso e ouvi-lo de viva voz da boca de ilustres desconhecidos com quem entabulei conversa quando há meia dúzia de anos palmilhei Portugal de Norte a Sul à cata de imagens e testemunhos para arquitectar o livro Pelos Trilhos de Portugal, uma ode às memórias ferroviárias das gentes – “os esquecidos do progresso”, como lhes chamou Jorge Pelicano – que jamais esquecerão o apito do seu comboio.

Com o encerramento do tráfego de passageiros e mercadorias em várias linhas e ramais, o património ferroviário, votado ao abandono, rapidamente foi vandalizado e degradado, correndo mesmo o risco de desaparecer. No entanto, a constituição da Unidade de Gestão do Património Desactivado da REFER, em 2000, fez nascer uma nova esperança para as linhas desactivadas e para a preservação e valorização do património que lhes está associado, como estações, apeadeiros, pontes e túneis.

Seguindo as pegadas de outros países europeus, estabeleceu-se o Plano Nacional de Ecopistas, que pretende “agregar políticas, vontades, interesses, em conjunto, de modo a que as ecopistas integrem e catalisem novos produtos turísticos em Portugal que sirvam o país, as regiões e as comunidades locais, com respeito pelo desenvolvimento sustentável”. Este plano visa a utilização de caminhos, canais e vias ferroviárias desactivadas que constituem um suporte privilegiado para o desenvolvimento das “vias verdes”, conforme a Declaração de Lille para uma Rede Verde Europeia, aprovada em 12 de Setembro de 2000.

Com o passar dos anos, os corredores ferroviários desactivados têm vindo a ser transformados nessas “vias verdes”, que em Portugal são denominadas “ecopistas”. Estas são caminhos pedonais onde os comboios foram substituídos pelos veículos não motorizados (como as bicicletas, os patins e os skates), garantindo uma utilização em convivência, acessibilidade universal e segurança a todos os utilizadores, independentemente da idade e das condições físicas. A comprová-lo, deixo registo do que vi: dezenas de crianças de tenra idade e alguns deficientes e idosos que se passeavam em cadeira de rodas na Ecopista de Viseu. Por essa razão, as ecopistas estão vedadas a veículos motorizados (excepto em caso de acidente ou de apoio técnico), não podem apresentar declives superiores a 3%, devem ser independentes em relação a outras vias de comunicação, se possível com reduzido número de cruzamentos com estradas, e devem ser vias totalmente públicas e de acesso livre.

Estas pistas ecológicas existem por toda a Europa sob diferentes denominações (voies vertes, voies douces, greenways) e são coordenadas pela Associação Europeia de Vias Verdes, conhecida pela sigla anglo-saxónica de EGWA (European Greenways Association), instituída em 8 de Janeiro de 1998, na Bélgica. Esta federação de instituições e associações de diversos países europeus, incluindo Portugal, persegue os seguintes objectivos: preservação de vários tipos de infraestruturas como as ferrovias desactivadas, promoção dos transportes não motorizados, apoio e coordenação do intercâmbio de informação e experiências entre os diferentes parceiros europeus e colaboração com as autoridades europeias, apoiando políticas de sustentabilidade, do meio ambiente, de equilíbrio regional e de emprego.

De modo a vencer a geografia acidentada das terras lusitanas e por razões economicistas, os traçados de muitas ferrovias privilegiaram os vales dos principais rios e dos seus afluentes, dos quais herdaram muitas vezes os seus nomes (Linha do Douro, Linha do Minho, Linha do Tâmega, Linha do Corgo, Linha do Tua, Linha do Sabor, Linha do Vouga, só para citar alguns exemplos). Este facto faz que os corredores ferroviários, entretanto abandonados, atravessem vastas extensões bravias e despidas de gente (muitos locais remotos acabaram por ser definitivamente abandonados após o encerramento das linhas que lhes davam serventia), bem como espaços naturais de grande valor paisagístico, muitos deles incluídos na Rede Natura 2000.

Compreende-se assim que as ecopistas, que usam os antigos corredores ferroviários onde outrora passaram as históricas locomotivas a vapor e mais recentemente os comboios a diesel, surjam como a forma mais adequada para desbravar esses territórios selvagens. A partir delas, podem descobrir-se recantos encantados de Portugal e um riquíssimo património arquitectónico, histórico, arqueológico e cultural, que extravasa as memórias ferroviárias.

Neste momento, dos 748 quilómetros de linhas abandonadas elegíveis para transformação em ecopistas, estão já em utilização 129 quilómetros (17%) em todo o país: Ecopista do Minho (Valença–Monção), Ecopista de Guimarães (Guimarães–Fafe), Ecopista de Famalicão (Famalicão–Gondifelos), Ecopista do Corgo (Vila Pouca de Aguiar–Pedras Salgadas), Ecopista do Sabor (Torre de Moncorvo–Larinho), Ecopista do Vouga (Paradela–Foz do Rio Mau, na região de Sever do Vouga), Ecopista do Dão (Viseu–Figueiró), Ecopista de Montemor (Montemor-o-Novo–Torre de Gadanha) e Ecopista de Mora (Évora–Vale do Paio).

Está planeado converter mais troços, e em fase de obras e com inauguração prevista para breve estão as antigas linhas do Tâmega (troço de Amarante–Chapa) e do Dão (Santa Comba Dão–Viseu). Todos os outros ramais, linhas e troços sem exploração ferroviária fazem parte do Plano Nacional de Ecopistas, mas estão em fases menos avançadas de concretização.

O plano afirma que “em todo o Território, as Ecopistas (e demais património adjacente) estão submetidas a todos os instrumentos de ordenamento em vigor e uma vez concluí­das, constituirão um travão ao abandono e preservarão uma parte significativa do nosso território rural e do interior mais profundo”. No entanto, vozes mais contestatárias fazem-se ouvir gritando bem alto que estas infraestruturas seriam “muito mais úteis se cumprissem o desígnio para que foram construídas” e que a verdadeira “racionalização teria sido a sua modernização” e não o seu encerramento compulsivo.

Seja como for, as vias verdes são uma iniciativa que se integra no esforço de promover o desenvolvimento sustentável e a qualidade ambiental, pelo que têm sido apoiadas por diversos fundos comunitários, que financiam parte destes projectos conjuntamente com as entidades dos locais onde as ecopistas são executadas. Aproveitando financiamentos europeus, por todo o país não param de aumentar as ecopistas, de forma a travar a degradação dos traçados ferroviários desactivados, potenciando actividades culturais, educativas e recreativas, fomentando as actividades económicas, contribuindo para a criação de emprego e trazendo novas dinâmicas às regiões desfavorecidas que haviam anoitecido com a partida do comboio.

O Plano Nacional de Ecopistas prevê a utilização e recuperação dos traçados ferroviários, potenciando um sistema nacional de passeios de natureza. Porém, a dispersão geográfica das linhas abandonadas não permitirá constituir só por si uma verdadeira rede nacional, sem recorrer a outros corredores (sejam cicláveis ou percursos pedestres) ou à articulação com o transporte ferroviário (considerado um transporte rápido, seguro e não poluente). Porém, não restam dúvidas de que, através das janelas de muitos comboios ou a partir dos seus corredores ferroviários entretanto transformados em pistas ecológicas, ainda é possível surpreender algumas das mais belas paisagens de Portugal.

Ecopista do Rio Minho: um projecto pioneiro e ganhador
Nesta década da Educação para o Desenvolvimento Sustentável (2005–2014), não sendo possível devolver os antigos cavalos-de-ferro aos seus trilhos desactivados, a conversão das velhas linhas em ecopistas parece ser uma interessante aposta de turismo sustentável. A comprová-lo, estão o aumento significativo do número e extensão destas vias verdes, a crescente quantidade de utilizadores e o recente prémio atribuído pela EGWA à Ecopista do Rio Minho, a primeira construída em Portugal (inaugurada a 14 de Novembro de 2004) e a única portuguesa a ter obtido, até ao momento, um galardão num concurso de âmbito europeu. O júri enalteceu o projecto, entre outras razões, pelo seu potencial e pela peculiar localização fronteiriça, a bordejar a raia húmida do Alto Minho.

Os 13 quilómetros da Ecopista do Minho tiveram um custo total de 815 mil euros, financiados pelas autarquias valenciana e monçanense e pelo INTERREG. Após a reabilitação, a antiga linha férrea ficou quase irreconhecível: toda a estrutura dos carris e das travessas de madeira foi removida e substituída por uma película sintética que forma um piso de textura lisa apropriada para deslocações não motorizadas. A renovação não se ficou pelo corredor ferroviário mas estendeu-se igualmente aos equipamentos ferroviários anexos, como estações, apeadeiros e abrigos.

O percurso inicia-se nas imediações de Valença, junto da antiga casa da vigia, onde um pequeno Centro de Interpretação da Ecopista dá a conhecer aos visitantes as memórias da antiga linha do caminho-de-ferro e os valores naturais da região. O magnífico passeio pode iniciar-se com visita prévia à Praça-Forte de Valença e terminar com uma deambulação contemplativa pelos recantos da vila termal de Monção, considerada o berço do vinho Alvarinho. Pelo meio, atravessam-se vinhedos e campos de cultivo, descobrem-se monumentos como a Torre da Lapela e desfruta-se de uma vista exclusiva sobre o rio Minho, ao qual se podem fazer pequenas escapadas para apreciar com maior intimidade as praias fluviais, as pesqueiras e as ínsuas.

Um estudo desenvolvido pela Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, realizado em 2005/2006, no âmbito da disciplina de Teorias e Políticas de Desenvolvimento Regional, concluiu que “a Ecopista do Minho é uma aposta que Valença e Monção estão a ganhar”: “A sua concretização revelou-se um caso de sucesso, comprovado pela forte adesão popular, não só de Portugal como do outro lado do Rio Minho”, acrescentava. Por essa altura, já se vaticinava que a Ecopista do Rio Minho seria a primeira de muitas espectáveis vias verdes em Portugal. Volvida meia dezena de anos, o presságio parece estar a concretizar-se.


J.N.
Super Interessante

quarta-feira, 2 de janeiro de 2019

Conteúdo - Factores Bióticos e Abióticos


Download 1 - Dropbox
Download 2 - Mega
Download 3 - Google Drive
Download 4 - Box

Aves citadinas usam beatas na construção do ninho para repelir parasitas


Num estudo publicado na revista Biology Letters uma equipa de investigadores mexicanos revela que o pardal e outra espécie de ave citadina comum no norte do continente americano usam o conteúdo das beatas como substituto de vegetação fresca para repelir parasitas, como é o caso dos ácaros.

O estudo teve como objetivo determinar se o recurso às folhas de tabaco no interior das beatas vulgar em aves urbanas, poderia ser uma variação do comportamento ancestral das aves que utilizam para revestir os ninhos certo tipo de vegetação rica em compostos que afugentam parasitas.

Para tal, a equipa liderada por Monserrat Suaréz-Rodríguez, do Instituto de Ecologia da Universidade Nacional Autónoma de México, começou por identificar, no campus universitário, vários ninhos de pardais (Passer domesticus) e de Carpodacus mexicanus, uma espécie de pássaro do mesmo género que o pintarroxo-vermelho (C. erythrinus), de ocorrência rara em Portugal.

Depois, mediram a composição, de um componente das beatas – acetato de celulose - dos ninhos e contabilizaram o número de ácaros presentes, tendo observado que, quanto mais representativa a matéria das beatas, menor o número de parasitas.

Numa segunda fase, os investigadores quiseram comprovar que era o conteúdo em nicotina do material das beatas que era responsável pela reduzida presença de parasitas, e não outras características, como a sua estrutura. Para tal, colocaram armadilhas em 28 ninhos. Cada armadilha atraía os parasitas recorrendo ao calor, e possuía fibras de celulose, filtros de cigarros usados ou intactos e fita-cola. Passados apenas 20 minutos, verificou-se que, entre os ninhos com ovos, aqueles que possuíam filtros de cigarros intactos, apresentava o dobro de parasitas dos ninhos que possuíam beatas.

Desta forma os autores concluem que os meios urbanos colocam novos desafios às aves, que se adaptam com base em adaptações evoluídas noutros contextos. Para além disso, os investigadores alertam que, embora este estudo sugira que as beatas pareçam ser úteis para as aves urbanas, o seu aproveitamento pode ter consequências nefastas para a sua saúde, dado que muitos dos componentes das beatas são carcinogénicos e alguns são usados como pesticidas.

Fontes: Filipa Alves/www.nature.com e rsbl.royalsocietypublishing.org

Direito do Ambiente


Download 1 - Dropbox
Download 2 - Mega
Download 3 - Google Drive
Download 4 - Box

Legislação comunitária no domínio do Ambiente - Principais diplomas legais 2009 - 2016


Download 1 - Dropbox
Download 2 - Mega
Download 3 - Google Drive
Download 4 - Box

Legislação comunitária no domínio do Ambiente - Principais diplomas legais em 2016


Download 1 - Dropbox
Download 2 - Mega
Download 3 - Google Drive
Download 4 - Box

Legislação comunitária no domínio do Ambiente - Principais diplomas legais 2009 - 2016


Download 1 - Dropbox
Download 2 - Mega
Download 3 - Google Drive
Download 4 - Box

Legislação comunitária no domínio do Ambiente - Principais diplomas legais em 2016


Download 1 - Dropbox
Download 2 - Mega
Download 3 - Google Drive
Download 4 - Box

quarta-feira, 26 de dezembro de 2018

Plano de Trabalho - Atividade "A vida selvagem por cá"


Download 1 - Dropbox
Download 2 - Mega
Download 3 - Google Drive
Download 4 - Box

Vídeo - Áreas Protegidas

O tema central dete episódio do programa Biosfera são as áreas protegidas. Veja também uma reportagem sobre os efeitos da radiação electromagnética na saúde. Pode ainda conhecer melhor o bisonte-europeu.

Autoria - Farol de Ideias. Programa emitido pela RTP
tempo:24min47s
língua: português

Fotografia - Macro

quinta-feira, 20 de dezembro de 2018

Dispersão e Filopatria - estratégias para a distribuição de aves e mamíferos

Os etólogos repararam numa curiosa tendência: chegada a altura de abandonar o local onde nasceram, entre as aves geralmente dispersam-se as fêmeas, mas nos mamíferos são mais frequentemente os machos que abandonam o território natal.

Muitos animais vivem em comunidade, formando grupos sociais, compostos por elementos da mesma espécie: bandos, alcateias, cardumes, etc. Há também animais que vivem isolados. Mas até estes têm necessidade de se juntar para se reproduzirem, nem que seja apenas no acto do acasalamento. Além disso, mães e crias formam grupos, mais ou menos temporários, conforme as espécies. A fêmea de Urso-pardo passa cerca de três anos com a cria. Por outro lado, algumas espécies de aves são nidífugas, isto é, assim que nascem abandonam o ninho, o que não quer dizer que os pais, ou pelo menos um deles, não acompanhem a prole. No fundo, todos os animais têm a necessidade de, pelo menos em algum momento, partilhar o espaço com outros animais da mesma espécie.

Qualquer grupo obedece a regras internas, normalmente definidoras de hierarquia social, mantendo assim o equilíbrio dos laços existentes. São inúmeros os comportamentos sociais das diversas espécies que os etólogos tentam registar e compreender. O facto de os animais poderem viver isolados ou em comunidade, poderá estar ligado a factores derivados da pressão competitiva: em grupo aumenta a pressão por alimento, por parceiro sexual ou pelo local de reprodução. O risco de contágio por doença aumenta também, além de que vários animais juntos são mais facilmente detectáveis pelos predadores, do que quando se encontram isolados. Mas viver em comunidade também aumenta o número de olhos, narizes e orelhas alerta para o perigo. Entre os predadores, a cooperação conjunta torna mais fácil a caçada, além de poder proporcionar a captura de presas muito maiores do que seria possível obter isoladamente. Existem também casos de cooperação na criação da prole, com as evidentes vantagens de tal facto.

Os jovens adultos, dependendo de vários factores, podem ficar no grupo familiar ou partir para formarem a sua própria família ou para viverem isoladamente. O habitat, a distribuição de alimento, o sistema de acasalamento e os riscos de endogamia, parecem determinar, em grande medida, o nível de dispersão dos jovens animais em relação ao seu local de nascimento. Dependendo da espécie, os factores que mais influenciam a dispersão variam, e dentro de cada espécie, pode também haver diferentes formas de dispersão.

Quando os jovens ficam na sua área natal, partilhando o território com os progenitores, falamos em filopatria natal. Esta estratégia tem vantagens e custos. O grau de parentesco entre os elementos do grupo aumento o risco de endogamia, com a consequente redução de variabilidade genética, o que é uma evidente desvantagem evolutiva. No entanto, a consanguinidade pode favorecer a “selecção” de genes que determinem uma boa adaptação a um determinado habitat.

Entre outros custos da vida em grupo, podemos referir o aumento da densidade populacional, que fará subir a competição por recursos e parceiros sexuais, bem como por abrigos ou locais de reprodução.

Segundo algumas teorias sociobiológicas, porém, a vida em sociedade leva à redução da agressividade entre os membros e ao aumento dos comportamentos altruístas. Outra vantagem da vida social dos animais é a de um melhor conhecimento do local onde o grupo habita.

A dispersão tem, também, custos e benefícios. Se, por um lado, evitam assim a consanguinidade, por outro, dispendem muita energia deambulando à procura de novos territórios, além de que não conhecem as novas áreas para onde se deslocam. Podem ainda encontrar muita resistência e agressividade por parte de indivíduos que habitem territórios por onde passem ou para onde se desloquem.

Portanto, a dispersão e a filopatria têm, cada qual, os seus custos e benefícios. Uma solução de compromisso, que adoptasse comportamentos de dispersão e de filopatria poderia ser uma boa estratégia. Foi o que fizeram muitas espécies, especialmente entre as aves e os mamíferos. Em geral, dá-se uma diferenciação por sexos: enquanto os elementos de um dos sexos ficam no local de nascimento, os do outro sexo partem. Assim, evitam os problemas de endogamia, e os membros que permancem, desfrutam das vantagens da filopatria.

Curiosamente, parece haver uma tendência para que, nas aves, se dispersem as fêmeas, enquanto nos mamíferos são os machos que maioritariamente se dispersam. Alguns etólogos têm tentado explicar esta tendência que, reafirme-se, é uma tendência, com excepções.

Um dos etólogos que se debruçou sobre o assunto, Paul Greenwood, publicou um artigo em 1980, onde explana duas hipóteses para explicar o comportamento de aves e mamíferos quanto à dispersão. Começando por admitir que uma separação comportamental entre sexos, um deles ficando no local onde nasceu o outro partindo para novas paragens, traria evidentes vantagens para a espécie, e acrescenta uma explicação para as diferenças entre aves e mamíferos. Essa diferença, segundo Greenwood, baseia-se no modo diverso como os machos de aves e de mamíferos competem por parceiras. Os mamíferos são maioritariamente poligínicos, isto é, cada macho defende um grupo de fêmeas, competindo com outros machos pelas parceiras. Os machos jovens e os subordinados, impedidos de chegar às fêmeas, aumentam as suas possibilidades de acasalamento quando se dispersam. As fêmeas, normalmente, vivem em grupos matralineares (compostos por mães, filhas e netas), beneficiando das vantagens daí decorrentes. Assim, os machos são “forçados” a dispersarem-se para evitar os problemas de uma elevada taxa de consanguinidade.

Por outro lado, as aves são maioritariamente monogâmicas. Os machos, em vez de competirem directamente pelas fêmeas, competem por locais com bons recursos (em alimentação e em locais de nidificação), locais esses que atrairão as potenciais companheiras. O conhecimento do local será, então, mais importante para os machos do que para as fêmeas. Estas, dispersando-se evitam os problemas genéticos da endogamia e escolhem os territórios com melhores recursos.

Mas estas hipóteses, funcionando bem na generalidade, têm muitas excepções, como no caso dos mamíferos territoriais, em que seria de esperar que se verificasse a hipótese dos machos teritoriais das aves, e que ocorresse a dispersão das fêmeas. Tal não acontece na maioria dos casos.

Surgiram então mais hipóteses para explicar as diferenças entre sexos na dispersão. Primeiro, em 1989, em relação aos mamíferos, por Clutton-Brock, e depois expandido às aves, por Wolff e Plissner, em 1998. Em ambos os casos, os autores partem do princípio de que a filopatria é preferencial à dispersão. E que o primeiro sexo a ter oportunidade de se reproduzir será o que escolherá ficar no território, enquanto o outro sexo irá dispersar-se. Uma vez que as fêmeas dos mamíferos amamentam e cuidam das suas crias, os machos, geralmente, não apresentam cuidados parentais. Daqui resulta que os machos estão livres para vaguear para longe. Quando a sua descendência feminina alcança a idade de reprodução, muito provavelmente, o pai não estará presente, permitindo às filhas não terem de se ausentar para evitar a consanguinidade. Se o macho reprodutor estiver presente quando as suas filhas atingem a idade reprodutora, são estas que se dispersam.

Uma outra hipótese, sustentada por Stephen Dobson em 1982, afirma que nos mamíferos poligínicos, a competição por parceiros sexuais é maior nos machos do que nas fêmeas, daí serem os machos a dispersarem-se. Por outro lado, nos mamíferos monogâmicos, os níveis de competição por parceiros sexuais serão mais equivalentes, pelo que a dispersão entre sexos tenderá a efectuar-se em proporções equivalentes. Os dados parecem corroborar esta hipótese. Mas também aqui existem lacunas: como explicar, então, por exemplo, o comportamento das fêmeas nas espécies de aves monogâmicas, em que, maioritariamente, são estas a dispersar-se?

Em 1985, surge uma terceira hipótese, desenvolvida por Olof Liberg e Torbjörn von Schantz, apelidada de Hipótese de Édipo. Aqui, os autores colocam a enfase nos reprodutores e não nos jovens adultos, como o fizeram os anteriores autores. Segundo esta nova hipótese, são os pais que expulsam os jovens do território, forçando-os a dispersarem-se, e não estes que tomam a iniciativa de o fazerem. Para Liberg e von Schantz as diferenças na dispersão entre sexos, tanto nas aves como nos mamíferos, reduz a competição em termos reprodutivos entre pais e filhos. Assumem que para a descendência, na maioria dos casos, seria preferível ficar. Mas os pais ocupam uma posição hierárquica superior, e são estes que “decidem” da partida ou não dos filhos, e de qual dos sexos. E se os progenitores beneficiarem com a permanência dos filhos, mas não houver recursos suficientes para tamanha prole, poderão determinar a expulsão de alguns membros, até que o número de efectivos se “encaixe” nos recursos existentes.

Assim, o sistema reprodutivo de aves e mamíferos está intimamente ligado com o tipo de competição entre os progenitores e as descendências masculina e feminina. Genericamente, nas espécies com um sistema de reprodução poligâmico ou promíscuo, a descendência masculina, se ficar em casa, tenderá a competir com o pai por fêmeas, enquanto a descendência feminina não é uma ameaça para nenhum dos progenitores. Já nos sistemas monogâmicos, seria de esperar que nem filhos nem filhas competissem com qualquer dos pais, precisamente porque estes são monogâmicos. Mas, como já vimos, as fêmeas das aves têm tendência à dispersão, o quer dizer: são expulsas pelos pais, enquanto as fêmeas dos mamíferos são toleradas. Porquê? Pelos seus diferentes modos de reprodução: postura versus gestação e nascimento. Nas aves, uma filha a quem seja permitida a permanencia junto dos pais, poderá enganar os pais colocando ovos no ninho da família, deixando assim os custos da nidificação para aqueles. Quanto às filhas dos mamíferos, estas não têm como esconder a gravidez e o nascimento aos pais, pelo que não os poderão enganar e, então, os pais nada têm a temer, em termos de competição reprodutiva com as filhas.

Deste modo, segundo a Hipótese de Édipo temos quatro possibilidades: (1) nas aves monogâmicas, os progenitores expulsam as filhas, porque estas, apesar de não enganarem os pais quanto a cópulas, porque estes são monogâmicos, podem, no entanto, pôr os seus próprios ovos no ninho familiar, enganando ambos os pais. Os filhos, como não podem enganar os pais, são tolerados. (2) Nas aves poligínicas ou promíscuas, ambos os sexos da descendência são forçados a abandonar a área natal, porque ambos podem trair os progenitores. (3) Nos mamíferos monogâmicos, nem machos nem fêmeas descendentes podem enganar os progenitores, pelo que ambos os sexos tendem a ser tolerados no território dos pais. (4) Nos mamíferos poligâmicos ou promíscuos, a descendência masculina é expulsa porque poderão enganar o pai, acasalando com uma das fêmeas. As filhas, como não podem enganar os progenitores tendem a ficar em casa. A Hipótese de Édipo explica muitas contradições das outras hipóteses; no entanto, também tem a sua falha: não explica o facto de alguns descendentes abandonarem “de livre vontade” a área natal, o que se poderá ficar a dever à procura de melhores recursos ou para evitar a endogamia.

Como sempre, a Natureza é equilibrada mas complexa. Nenhuma hipótese explica, por si só, todas as situações que podemos encontrar quando procuramos entender as diferenças entre sexos, em aves e mamíferos, quanto à dispersão ou à filopatria. Portanto, tendo em conta o papel que jogam tanto progenitores como descendência, e as variações que poderão ocorrer de acordo com a espécie, o sexo ou o indivíduo, devemos atender a que os animais, aves e mamíferos, se tenderão a dispersar, ou não, de acordo com a satisfação de três factores básicos: a redução da competição por recursos, a redução da endogâmia e a redução da conflitualidade entre progenitores e descendência.

Eduardo Barrento

Estudo prevê extinção de cerca de 900 espécies de aves até 2100

Entre 600 a 900 espécies de aves, especialmente as tropicais como os colibris, poderão extinguir-se até 2100 se as temperaturas médias do planeta aumentarem 3.5ºC, prevê um estudo científico publicado na revista Biological Conservation Journal.

O estudo, coordenado por Cagan Sekercioglu – biólogo na Universidade do Utah – concluiu que as aves mais afectadas serão aquelas que vivem em zonas montanhosas tropicais, nas florestas perto da costa, aquelas que já ocupam um território muito limitado e as que não têm acesso a territórios com altitudes mais elevadas.

"Em aguns modelos, a perda de habitat pode aumentar as extinções causadas pelas alterações climáticas em 50%", escrevem os autores no artigo.

Os investigadores estimam que 89% das extinções vão acontecer nos trópicos.

“A percepção das pessoas é que a maioria das aves é migradora e que, por isso, as alterações climáticas não são um problema. Mas a verdade é que a maioria das espécies do planeta são extremamente sedentárias”, disse Sekercioglu, citado pela BBC.

Para sobreviver a temperaturas mais elevadas, as aves terão de se adaptar fisiologicamente e escapar para zonas de floresta húmida mais elevadas. Estas vão recuando para o cimo das montanhas, onde têm de competir com povoações humanas, notou o investigador.

“As espécies que vivem na zona costeira também são muito vulneráveis. As florestas costeiras são muito sensíveis à salinidade e podem ser muito afectadas por tempestades, eventos que se prevê aumentarem de intensidade e frequência”, acrescentou Sekercioglu.

“Já sabemos que muitas espécies de aves tropicais não são muito boas a dispersar para outros territórios. Por isso, este será um grande problema no futuro se os climas adequados para elas se deslocarem centenas de quilómetros. Algumas aves não serão capazes de mudar os seus territórios suficientemente rápido”, notou Mike Crosby, da federação Birdlife International para a Ásia.

Os autores do estudo acreditam que "as áreas protegidas serão mais importantes do que nunca, mas devem ser desenhadas tendo em consideração as alterações climáticas". Ainda assim, salientam, no espaço de um século, 92% das áreas protegidas actuais correm o risco de se tornarem climaticamente desadequadas. Na Europa também.

Num artigo publicado em Abril de 2011 na revista Ecology Letters, o investigador Miguel Araújo – da Universidade de Évora e do Museu Nacional de Ciências Naturais de Madrid e um dos autores do estudo – salientou que no final do século, se os modelos climáticos se vierem a verificar, mais de metade das espécies que ocorrem nas áreas protegidas europeias encontrar-se-ão numa situação de stress climático. De acordo com o especialista, entre as espécies mais vulneráveis às alterações do clima estão “as espécies tolerantes a ambientes frios” e as “menos tolerantes a períodos de seca prolongada, as espécies de mobilidade reduzida, espécies especialistas no uso de determinados recursos ecológicos ou muito dependente de interacções com outras espécies, espécies com baixa fertilidade”.

Para Sekercioglu, vai tornar-se claro que as novas áreas protegidas do planeta terão de ser definidas “tendo em conta territórios com maior altitude e deixando mais espaço para as espécies ameaçadas se moverem para maiores altitudes”.

“Temos de nos preparar para começar a medir as temperaturas, a precipitação e monitorizar o que se passa com os animais nas áreas protegidas, para que consigamos dar uma resposta adequada”, comentou Crosby.

Lontras Mariza e Ronaldo foram pais de três crias

Após um namoro de quase cinco anos, as lontras "Mariza" e "Cristiano Ronaldo", do Fluviário de Mora, tiveram três crias, aumentando para cinco o número de exemplares desta espécie de lontras-de-garras-pequenas em exposição no fluviário.

As crias nasceram no início de Dezembro e ainda não têm nome. Para já ainda não saíram do ninho mas quando crescerem poderão usufruir do lontrário, ainda em construção e integrado nas obras de ampliação do Fluviário de Mora.

O casal, que recebeu os nomes da fadista e do futebolista - à semelhança das lontras Amália e Eusébio (que entretanto já morreu), do Oceanário de Lisboa - vive actualmente num tanque, que será transformado num aquário para peixes de grande porte, explica o Fluviário em comunicado.

Com mais de 500 peixes de 55 espécies diferentes de todo o mundo em habitats naturais, aquáticos e terrestres, num percurso entre a nascente e a foz de um rio, o Fluviário de Mora já recebeu desde Março 2007 mais de 660 mil visitantes.

Encontrado gene que protege rãs de fungo devastador

É mais um ponto para a variabilidade da natureza, um grupo de cientistas encontrou numa espécie de rã o gene que protege contra o fungo que tem sido o terror dos anfíbios pelo mundo fora. O estudo foi publicado na revista Proceedings of the Natural Academy of Sciences.

Há mais de três décadas que os cientistas identificaram que um inimigo novo andava a matar os anfíbios, principalmente sapos e rãs. Mas só na década de 1990 é que se descobriu a causa da quitridiomicose: o fungo Batrachochytrium dendrobatidis.

Desde aí, os cientistas têm tentado encontrar uma resposta para a doença que já matou várias espécies, dizimou populações de um grupo que já tem ameaças que chegue como as alterações climáticas ou a diminuição de habitat.

Anna Savage e Kelly Zamudio, ambos da Universidade de Cornell, no estado de Nova Iorque, deram um passo em frente ao descobrirem um gene que está a salvar certos indivíduos de uma espécie de rãs.

Os investigadores trabalham com um tipo de rãs leopardo, a espécie Lithobates yavapaiensis . E recolheram indivíduos de cinco populações diferentes. No laboratório infectaram estes indivíduos com o fungo. As rãs de três das cinco populações morreram todas, mas alguns indivíduos das outras duas populações sobreviveram.

Através de estudos genéticos, perceberam que as rãs sobreviventes tinham uma variação num dos genes que pertence ao Complexo Maior de Histocompatibilidade. Esta região, que vários grupos de animais partilham, incluindo os mamíferos, tem uma grande importância para o sistema imunitário, porque ajuda os glóbulos brancos a identificar corpos estranhos no corpo provocando uma resposta imunitária e combatendo as infecções.

Os investigadores chamaram de Q ao novo alelo que encontraram – chama-se alelo a cada variante de um dado gene que se encontra na natureza. “Examinámos o ADN onde estava o alelo Q, e descobrimos que tinha existido uma mudança recente”, disse Savage citada pela ABC News. “Esta mudança no ADN dá-nos provas que as rãs podem estar a adaptar-se à quitridiomicose ao evoluírem novas variantes dos genes que combatem melhor [a doença].”

É provável que estas duas populações já tenham sido expostas ao fungo desde a década de 1970 e por isso, ao longo das últimas décadas, tenha havido uma selecção natural muito intensiva. Estes indivíduos conseguem debelar os fungos, uma situação diferente de outros indivíduos de outras espécies que podem ter o fungo, mas não apresentam sintomas da doença.

Esta é a primeira prova que existe pelo menos um potencial para estes animais ultrapassarem a doença com a sua própria genética. Mas os cientistas defendem projectos de conservação para os anfíbios mais susceptíveis a esta doença, que não parecem estar a reagir à epidemia.