terça-feira, 3 de abril de 2018
Notícia - A Associação Portuguesa de Gemologia quer dignificar a arte das pedras preciosas
Os amantes das gemas podem a partir de hoje inscrever-se na primeira associação nacional de pedras preciosas. A Associação Portuguesa de Gemologia (APG), criada por José Baptista, quer tornar a ourivesaria portuguesa numa referência mundial, fazer parcerias com os Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa (PALOPS) para a prospecção e investigação das jazidas desses países, e dignificar a arte.
“Os portugueses têm de voltar a ser uma referência mundial, sobretudo na arte da lapidação e nas artes e técnicas usadas nas ourivesarias, tais como os esmaltes”, disse José baptista em comunicado. O especialista de 60 anos herdou um negócio com décadas de experiência em pedras preciosas e gemas e quer com a APG tornar o sector mais credível a nível profissional e científico.
A associação quer trazer mais conhecimento e matéria de trabalho a todos os gemólogos, ourives, joalheiros, escolhas de arte e de desenho. “Um dos grandes objectivos da APG é fazer parcerias e assinar protocolos e convénios com as instituições dos Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa (PALOP) ligadas à prospecção das jazidas de pedras preciosas”, disse o especialista.
Com esta aposta, José Baptista visa explorar as riquezas mineiras destes países, investigar e expor as gemas extraídas. “Queremos internacionalizar a associação e o instituto, formando pessoas dos PALOP na área da Gemologia”, referiu.
A APG também tem projectos a nível da criação de cursos e formação profissional, e do funcionamento de um laboratório e de uma biblioteca, ou seja quer apostar na investigação científica. Globalmente, há um esforço para “acabar com o preconceito e a desinformação que fazem com que as lojas sejam muitas vezes vistas como lugares de luxo”, explicou o gemólogo.
A apresentação oficial da associação vai ser a 31 de Janeiro, às 16h00, na Sala Fernando Pessoa do CCB, em Lisboa. Vão ser realizadas duas palestras com os temas “Esmaltes – um olhar sobre algumas peças de ourivesaria do Museu de Alberto Sampaio” e Arte Nova e os Esmaltes no Museu Calouste Gulbenkian” e “As Jóias e os Esmaltes René Lalique”.
in Público
“Os portugueses têm de voltar a ser uma referência mundial, sobretudo na arte da lapidação e nas artes e técnicas usadas nas ourivesarias, tais como os esmaltes”, disse José baptista em comunicado. O especialista de 60 anos herdou um negócio com décadas de experiência em pedras preciosas e gemas e quer com a APG tornar o sector mais credível a nível profissional e científico.
A associação quer trazer mais conhecimento e matéria de trabalho a todos os gemólogos, ourives, joalheiros, escolhas de arte e de desenho. “Um dos grandes objectivos da APG é fazer parcerias e assinar protocolos e convénios com as instituições dos Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa (PALOP) ligadas à prospecção das jazidas de pedras preciosas”, disse o especialista.
Com esta aposta, José Baptista visa explorar as riquezas mineiras destes países, investigar e expor as gemas extraídas. “Queremos internacionalizar a associação e o instituto, formando pessoas dos PALOP na área da Gemologia”, referiu.
A APG também tem projectos a nível da criação de cursos e formação profissional, e do funcionamento de um laboratório e de uma biblioteca, ou seja quer apostar na investigação científica. Globalmente, há um esforço para “acabar com o preconceito e a desinformação que fazem com que as lojas sejam muitas vezes vistas como lugares de luxo”, explicou o gemólogo.
A apresentação oficial da associação vai ser a 31 de Janeiro, às 16h00, na Sala Fernando Pessoa do CCB, em Lisboa. Vão ser realizadas duas palestras com os temas “Esmaltes – um olhar sobre algumas peças de ourivesaria do Museu de Alberto Sampaio” e Arte Nova e os Esmaltes no Museu Calouste Gulbenkian” e “As Jóias e os Esmaltes René Lalique”.
in Público
Notícia - Novo acelerador de partículas do CERN só vai reabrir em Setembro

Só no final de Setembro o novo acelerador de partículas do Laboratório Europeu de Partículas vai recomeçar a funcionar, anunciou ontem a direcção daquele organismo de investigação científica internacional, conhecido como CERN. Até agora, esta previsto que o laboratório recomeçasse a funcionar no início de Julho.
As primeiras colisões de partículas subatómicas aceleradas até velocidades muito próximas das da luz só devem acontecer em Outubro, e só haverá resultados dessas primeiras experiências em 2010.
As novas datas resultam de um encontro realizado na semana passada em Chamonix, diz um comunicado do CERN.
A causa do atraso para o reentrada em funcionamento do LHC (sigla em inglês de Grande Acelerador de Hadrões), depois da avaria que obrigou a encerrá-lo, poucos dias após a inauguração, em Setembro de 2008, prende-se “com vários factores” técnicos, que tornam esta data mais realista, diz o comunicado. Muitas prendem-se com o reforço das medidas de protecção da grande máquina subterrânea.
Público
Notícia - Geologia conventual
Embora a dimensão territorial do nosso país seja pequena basta observar superficialmente uma carta geológica de Portugal para, de imediato, se constatar a enorme diversidade dos nossos recursos geológicos. Esta diversidade encontra-se, obviamente, reflectida nas inúmeras produções literárias nacionais e na obra de variadíssimos autores. Não é difícil, assim, enquadrar uma saída de campo a um qualquer local do país numa teia de relações entre a Literatura e a Geologia, sendo esta interdisciplinaridade de particular importância nalgumas situações. É o que sucede entre a a história geológica da região de Sintra-Mafra e a obra de José Saramago, Memorial do Convento.
Tendo participado numa incursão a Mafra com alunos do ensino secundário (cruzando as disciplinas dePortuguês e de Biologia e Geologia), aqui ficam alguns registos dessa jornada.
O excerto seguinte relata a história geológica da região onde se insere o Palácio e Convento de Mafra:
"As rochas encontradas na região de Sintra - Mafra reflectem duas fases importantes e distintas da História Geológica da região. Por um lado, testemunham vários episódios sedimentares em que se formaram espessos depósitos calcários, muitas vezes intercalados com níveis margosos ou até areníticos (Jurássico – Cretácico, entre 160 a 90 Ma atrás). Por outro lado, são evidência dos fenómenos magmáticos e vulcânicos que se deram na região por volta dos 100 e 70-80 Ma e que levaram à formação de Filões basálticos ainda hoje observáveis na região de Mafra, e à instalação do Maciço Eruptivo de Sintra, que se encaixou entre formações do Jurássico Superior.
De facto, com base nos tipos litológicos sedimentares, suas características (fácies) e conteúdo fóssil, é possível inferir a paleoecologia da região antes da instalação do Maciço, ou seja, a sequência de ambientes que se sucederam ao longo do tempo e que serviram de base à formação das rochas sedimentares. De seguida será, então, apresentada a síntese geológica da região envolvente , baseada nas rochas que actualmente se encontram na região e parcialmente representadas no edifício do Palácio.
De facto, com base nos tipos litológicos sedimentares, suas características (fácies) e conteúdo fóssil, é possível inferir a paleoecologia da região antes da instalação do Maciço, ou seja, a sequência de ambientes que se sucederam ao longo do tempo e que serviram de base à formação das rochas sedimentares. De seguida será, então, apresentada a síntese geológica da região envolvente , baseada nas rochas que actualmente se encontram na região e parcialmente representadas no edifício do Palácio.
As rochas mais antigas expostas nesta região datam de há cerca de 160 milhões de anos , do Jurássico Superior e depositaram-se em ambiente marinho relativamente profundo, longe da influência dos materiais trazidos do continente emerso. No entanto, até ao início do Cretácico, a profundidade foi diminuindo progressivamente e o ambiente de deposição passou, sucessivamente, a marinho menos profundo, recifal, laguno-marinho, fluvial e lacustre. Testemunho destas alterações são as rochas que se foram formando e encerrando em si informações que nos permitem estas inferências, quer em termos da variação da granularidade dos sedimentos, quer em termos do seu conteúdo fóssil. Durante o Cretácico continuam a verificar-se oscilações do nível do mar e, consequentemente, os ambientes de deposição variaram ciclicamente: marinho mais ou menos profundo, recifal, laguno-marinho e fluvial. É de referir que o ambiente fluvial é mais importante neste Período do que no Jurássico, pois são frequentes e espessas as intercalações de arenitos, conglomerados e argilas com vegetais fossilizados, que traduzem o depósito de material trazido pelos rios e proveniente da erosão continental das rochas dos maciços antigos (granitos, quartzitos, grauvaques, chertes, etc.). Esta evolução dos ambientes de deposição nesta zona (antiga Bacia Lusitânica) foi fortemente condicionada pelas diversas fases de abertura do Oceano Atlântico, o que explica, por isso mesmo, as oscilações do nível de costa no litoral do nosso país.
Durante os Períodos Jurássico (Superior) e Cretácico, o território português encontrava-se a latitudes mais baixas do que as actuais (entre 20 a 30º N), onde o clima era quente e húmido, com alternância de estações menos bem marcada. Aliás, as rochas que datam do Cretácico Superior (Calcários com Rudistas ou Lióses, as mais abundantes no edifício do Convento), são testemunho de um ambiente tropical, com águas quentes, pouco profundas e límpidas, propícios à formação dos chamados "Bancos de Rudistas", aglomerados coloniais destes organismos, com características recifais. Neste Período (há 91-92 MA) verificou-se um novo máximo transgressivo - o Atlântico avançou sobre o continente dando origem a um golfo de pequena profundidade.
Actualmente, a entidade geológica dominante na Região de Sintra é o Maciço Eruptivo de Sintra. Este maciço instalou-se, em grande parte, em profundidade, em períodos de idade que vão desde os 95 a 72 milhões de anos, encaixando-se entre formações do Jurássico Superior e dando origem a uma cintura de rochas metamórficas, os calcários de S. Pedro e os 'Xistos' do Ramalhão.
Nesta região, pode, então, falar-se em duas fases geológicas distintas - um conjunto de episódios sedimentares (Jurássico-Cretácico) e uma fase magmática (instalação do Maciço Eruptivo de Sintra) que modificou, evidentemente, o registo sedimentar existente."
(in Cachão, Silva e Santos, PALEOMEMORIAL DO CONVENTO: O Património Geológico do Palácio e Convento de Mafra, Departamento de Geologia, Faculdade de Ciências, Universidade de Lisboa.) www.cienciaviva.pt/veraocv/geologia/geo2001/paleomemorial.pdf
Escrito por José Salsa
sábado, 24 de março de 2018
Notícia - Nós, os neandertais, os denisovanos e como tudo se complicou
A ponta de um dedo veio evidenciar ainda mais que, se há coisa que não é simples, é a história da evolução humana. Descoberto em 2008 na gruta Denisova, nos montes Altai, Sibéria, o pequeno osso da falange era afinal de um grupo de humanos desconhecido - os denisovanos, que viveram até há 30 mil anos. E se as surpresas não chegassem, também eles, tal como os neandertais, se reproduziram com a nossa espécie. Uma equipa publica nesta sexta-feira, na revista Science, a análise do genoma completo dos denisovanos, a partir do fragmento de dedo: dentro de nós há um pouco de neandertal e de denisovano, é verdade, mas a genética revelou agora uma nova teia de migrações e relações complexas entre nós e estes dois humanos já extintos.
A equipa de Svante Pääbo, do Instituto Max Planck para a Antropologia Evolutiva, Alemanha, já tinha ficado surpreendida com o que representava a descoberta da falange e de dois dentes molares. Quando os cientistas sequenciaram o ADN das mitocôndrias (as baterias das células), herdado só da parte da mãe e que está fora do núcleo celular, perceberam que era um novo grupo de humanos. O osso é de uma menina de cinco a sete anos de idade, que viveu há 80 mil anos. Tinha a pele escura, cabelos e olhos castanhos.
Em Maio de 2010, a revelação da sua existência espantou o mundo e, em Dezembro desse ano, a equipa de Pääbo avançava com a publicação de um primeiro rascunho do ADN do núcleo. Dizia já que os denisovanos se tinham misturado connosco e que a herança desse passado "promíscuo" não era igual em toda a Terra. Os europeus têm ADN dos neandertais, mas não têm material genético dos denisovanos, que por sua vez deixaram a sua pegada genética para os lados das ilhas da Melanésia.
No meio desta viagem à história da evolução humana através do ADN, a equipa de Pääbo disponibilizou na Internet, no início deste ano, toda a sequenciação do genoma dos denisovanos, para quem a quisesse usar na investigação. A leitura deste ADN antigo já era bastante rigorosa, graças a um método desenvolvido por Matthias Meyer, também do Instituto Max Planck, que permite ler até 30 vezes as letras do genoma (pequenas moléculas que compõem a grande molécula de ADN). Agora, a equipa aprofunda na Science as reflexões sobre essa informação e faz mais revelações, comparando o genoma da nossa espécie (os humanos modernos), dos denisovanos e dos neandertais.
"Pudemos confirmar que parentes de um indivíduo da gruta Denisova contribuíram geneticamente para os antepassados das pessoas actuais na Nova Guiné, mas esse fluxo genético não afectou o resto das pessoas da Eurásia continental, incluindo o Sudeste da Ásia continental", disse um dos autores do artigo, o geneticista David Reich, da Faculdade de Medicina de Harvard, numa conferência organizada pela revista. "No entanto, é claro que os denisovanos contribuíram com 3% a 5% de material genético para os genomas das pessoas da Austrália, Nova Guiné, os nativos das Filipinas e de algumas ilhas das redondezas. A confirmação foi muito forte", acrescentou.
Como se explica que o material genético dos denisovanos não se encontre sequer na Ásia continental, onde viveram, como mostra a falange e os dentes? "Diria que a mistura entre os denisovanos e os antepassados dos habitantes da Melanésia, Papuásia-Nova Guiné e aborígenes australianos deu-se provavelmente no Sudeste da Ásia continental. Quando os antepassados dos humanos modernos chegaram a essa área, encontraram-se com os denisovanos, misturaram-se e depois partiram para colonizar a Melanésia", disse Pääbo.
E agora vem a última descoberta, aquela que complica tudo. Envolve os neandertais, extintos há cerca de 28 mil anos e que durante mais de 150 anos estiveram no centro da polémica sobre se eles e nós tínhamos feito sexo e deixado descendentes. Sim, tinham já concluído outros estudos de Pääbo.
"As pessoas das regiões Leste da Eurásia [Ásia] e os nativos americanos têm mais material genético dos neandertais do que as da Europa, apesar de os neandertais terem vivido sobretudo na Europa, o que é mesmo muito interessante", considerou David Reich. "Vemos que há uma contribuição dos neandertais ligeiramente superior na Ásia do que na Europa- em cerca de 20% -, o que é surpreendente, porque os neandertais viveram na Oeste da Ásia e na Europa", acrescentou Pääbo.
Como aconteceu isto? De início, pensava-se que tinha havido um único intercâmbio genético entre neandertais e humanos modernos, que saíram de África há cerca de 50 mil anos. Talvez quando os dois tipos de humanos se encontraram no Médio Oriente. Depois a nossa espécie espalhou-se pelo mundo inteiro e teria levado consigo essa herança.
"Agora tudo se tornou mais complicado com os neandertais", disse Pääbo. "Vemos que toda a gente fora de África teve uma contribuição dos neandertais. A maneira mais simples de explicar isto é que algo ocorreu assim que os humanos modernos saíram de África, se encontraram com os neandertais no Médio Oriente e se misturaram com eles."
Como hipóteses, a equipa diz que pode ter havido uma segunda mistura entre humanos modernos e neandertais na Ásia Central, reforçando aí a carga genética destes. Ou a contribuição genética dos neandertais na Europa foi diluída com a chegada tardia de humanos modernos vindos de África e que não tinham um pouco de Neandertal no genoma.
Noticia retirada daqui
Notícia - Dois novos fósseis lançam mais confusão sobre o aparecimento dos mamíferos
Há 65 milhões de anos, no final do Cretácico, um cataclismo livrou a Terra dos dinossauros e deu aos mamíferos a oportunidade de prosperarem. Rapidamente, estes pequenos animais ocuparam muitos nichos que então ficaram livres. Desta forma, este grupo, do qual o homem descende, divergiu e acabou por evoluir nas formas que hoje conhecemos. Cem milhões de anos antes, em pleno parque Jurássico, os mamíferos já existiam mas não é unânime há quanto tempo tinham aparecido. A descoberta agora de dois fósseis de espécies diferentes, mas aparentadas, de animais que morreram entre há 165 e 160 milhões de anos veio lançar ainda mais confusão.
Uma das espécies, mais primitiva, sugere que os mamíferos tinham acabado de aparecer. Outra tem características morfológicas mais evoluídas e sugere que o aparecimento dos mamíferos deu-se 215 milhões de anos, ainda durante o Triásico. Um comentário da edição desta quarta-feira na Nature aos dois artigos, publicados também nesta revista, defende que será preciso esperar pela descoberta de novos fósseis para tentar destrinçar este paradoxo paleontológico, que está ligado às nossas origens mais remotas.
Depois do fim dos dinossauros e em relativamente poucos milhões de anos, os mamíferos ocuparam o mar, a terra e o ar. Há animais com trombas, longos pescoços, membranas aladas ou barbatanas. Há mamíferos adaptados a viver nas árvores e outros que ficaram cegos por se manterem uma vida inteira debaixo de terra, como algumas espécies de toupeiras. Os marsupiais têm uma bolsa na barriga, onde se dá parte do desenvolvimento das crias, e algumas espécies como o ornitorrinco põem ovos. A divergência é muita, portanto.
Mas os fósseis têm mostrado que há 165 milhões de anos, quando os dinossauros reinavam na Terra, havia ainda outros grupos que, se não eram mamíferos, tinham pelo menos características anatómicas que associamos a esta classe. Grupos, esses, que entretanto se extinguiram. O Arboroharamiya jenkinsi e o Megaconus mammaliaformis, as duas espécies agora descobertas, faziam parte da ordem Haramiyida – um dos grupos que existiu nessa época ancestral e confusa da evolução dos mamíferos e que, entretanto, não sobreviveu ao tempo.
Ainda não se sabe se os Haramiyida eram mamíferos ou apenas partilhavam características desta classe de animais. Aliás, estas duas descobertas vêm pôr mais lenha na fogueira desta discussão e de toda a origem dos mamíferos. O Megaconus mammaliaformis, descoberto pela equipa de Zhe-Xi Luo, da Universidade de Chicago, viveu entre há 165 e 164 milhões de anos no que é hoje o interior da região da Mongólia Interior, no Nordeste da China.
No chão…
O Megaconus seria do tamanho de um grande esquilo e vivia ao nível do chão. O fóssil está bastante bem preservado e mostra que este animal tinha pêlos por todo o corpo, menos na barriga. Os dentes indicam que era omnívoro, já que estavam adaptados a mastigar plantas, mas também insectos e minhocas, e talvez outros pequenos vertebrados.
Esta espécie tinha os três ossos que nos mamíferos servem para ouvir, mas neste animal os ossos ainda estavam ligadas à mandíbula, o que já não acontece nos mamíferos. Por outro lado, o osso do tornozelo é semelhante ao do tornozelo de outros animais pré-mamíferos. Estas são características consideradas primitivas colocam, segundo os autores, os Haramiyida fora do grupo dos mamíferos e levam à equipa a concluir os mamíferos teriam então de ter evoluído mais recentemente.
Mas a sul do local onde se encontrou o fóssil do Megaconus mammaliaformis, na continuação da mesma formação geológica mas já na província chinesa de Shandong, a equipa de Xiaoli Wang, da Academia de Ciências Chinesa, descobriu um fóssil de outra espécie classificada também como Haramiyida. Mas as características deste outro fóssil obrigaram a equipa a desenhar outra árvore evolutiva dos mamíferos.
…E nas árvores
O Arboroharamiya jenkinsi vivia nas árvores há 160 milhões de anos. Pesaria cerca de 354 gramas, teria uma pequena cabeça e seria herbívoro ou omnívoro. Os ossos do ouvido deste pequeno animal estão dispostos como os dos mamíferos. Ora de acordo com esta e outras características, a equipa de Xiaoli Wang coloca os Haramiyida dentro dos mamíferos, onde estão os placentários, os marsupiais, os monotrématos como o ornitorrinco, e os multituberculados, outro grupo que já desapareceu.
A inclusão dos Haramiyida nos mamíferos “implica que estes tenham surgido há pelo menos 215 milhões de anos – uma data muito mais antiga do que muitos paleontólogos aceitam, mas que que está de acordo com uma estimativa recente”, escrevem Richard Cifelli, do Museu de História Natural de Oklahoma, e Brian Davi, da Universidade de Louisville, no Kentucky, Estados Unidos, num comentário na Nature. Para apresentar aquelas características dos mamíferos, o antepassado do Arboroharamiya jenkinsi e de todos os outros mamíferos teve de ter surgido muitos milhões de anos antes.
Richard Cifelli e Brian Davi consideram que estas duas alternativas obrigam a novas interpretação sobre a história inicial e as adaptações mais importantes que determinaram o aparecimento dos mamíferos. “Mas, em última análise, serão necessários mais e melhores fósseis para refinar o conhecimento sobre a divergência das espécies no início da evolução dos mamíferos”, conclui o comentário.
Noticia retirada daqui
Notícia - É a ferramenta mais antiga da Europa ocidental. Tem 1,4 milhões de anos
Na serra de Atapuerca, perto de Burgos, no Norte de Espanha, os arqueólogos encontraram uma lâmina de sílex talhada há 1,4 milhões de anos, o que a torna a ferramenta de pedra mais antiga da Europa ocidental. De apenas três centímetros, é também o vestígio humano mais antigo no sítio arqueológico de Atapuerca, classificado pela UNESCO como Património Mundial da Humanidade em 2000.
O fragmento de sílex estava em Sima del Elefante, uma das jazidas de Atapuerca, num nível dois metros abaixo da camada onde, em 2007, já se tinha encontrado uma mandíbula humana com 1,2 milhões de anos – e que foi então considerada como os restos do “europeu mais antigo”.
Coberto por três toneladas de sedimentos, o fragmento tem “um grande valor”, sublinhou Eduald Carbonell, um dos três directores da escavação arqueológica, durante a apresentação dos resultados da campanha anual de escavações, durante este mês de Julho.
“Com esta descoberta, pensamos que nos aproximamos do limite admitido da primeira ocupação da Europa ocidental, que remonta há 1,5 milhões de anos”, referem, por sua vez em comunicado, os investigadores.
De riqueza excepcional, as jazidas da serra de Atapuerca estão em escavação desde a década de 1970. Embora as jazidas cubram um período que recua até 1,5 milhões de anos, jamais foi descoberta uma ferramenta ou resto ósseo humano tão antigo.
Em contrapartida, refere o comunicado, várias ferramentas de pedra trazidas à luz do dia durante a última campanha com “cerca de um milhão de anos confirmam a continuidade do povoamento humano da Europa desde o seu início, há cerca de 1,5 milhões de anos, até ao aparecimento do Homo antecessor, há cerca de 850 mil anos”.
O mundo soube da existência do Homo antecessor como uma espécie nova de humanos em 1997, na revista Science: esses ossos revelavam que a Europa ocidental já era ocupada por humanos há mais tempo do que se supunha. A equipa de Atapuerca também considerou o Homo antecessor o antepassado comum da nossa própria espécie – o homem moderno, ou Homo sapiens sapiens – e dos Neandertais.
Originário de África, o Homo antecessor veio para a Europa, onde terá depois dado origem ao Homo heidelbergensis e este originou, por sua vez, os Neandertais, um ramo evolutivo que acabou por se extinguir há cerca de 28 mil anos. Em África, o Homo antecessor acabaria por desembocar no homem moderno, que depois de lá saiu e se espalhou pelo mundo.
Para a equipa de Atapuerca, as descobertas da campanha de 2013 “contradizem as hipóteses avançadas por alguns que consideram que o primeiro povoamento da Europa foi uma sucessão de pequenas vagas humanas, sem continuidade no tempo e condenadas à extinção devido à sua incapacidade em se adaptarem a novos espaços”. “Embora sejam ferramentas muito arcaicas, já reflectem actividades complexas, como a recuperação de animais apanhados em grutas [que funcionavam como armadilhas]”, acrescenta o comunicado.
Ainda dessa altura, as escavações permitiram descobrir diversos restos daqueles que eram há um milhão de anos os “reis das grutas de Atapuerca”, o Ursus dolinensis, ainda que se encontrassem também ossos de outros animais como rinocerontes, veados gigantes, bisontes e burros-selvagens: “Era um urso de grande porte, antepassado directo dos futuros ursos das cavernas e muito próximo do antepassado comum dos actuais ursos-castanhos.”
No final da campanha de 2013, os arqueólogos apresentaram ainda uma peça muito rara: uma omoplata fossilizada identificada como sendo de uma criança de quatro anos de idade, datada de há 800 mil anos. Era, portanto, uma criança da espécie Homo antecessor. Descoberto em 2005, este fóssil estava preso num bloco de argila calcificado e exigiu sete anos de trabalho para ser finalmente separado do seu invólucro. Depois de analisado, deverá ter lugar no Museu da Evolução Humana de Burgos, onde estão expostos os vestígios mais notáveis das jazidas de Atapuerca.
Noticia retirada daqui
Notícia - A Evolução Culminou no Homem?
A bióloga e professora universitária Teresa Avelar acaba de publicar, na Bertrand Editora, um novo livro, A Evolução Culminou no Homem?, subtitulado Progresso, Contingências, Catástrofes e Extraterrestres. Trazemos-lhe a introdução e o primeiro capítulo, para aguçar a curiosidade.
A noção de progresso, no sentido de uma mudança direccional conduzindo a um estado que se assume ser “melhor”, influencia profundamente o pensamento contemporâneo, a ponto de se pensar frequentemente que não só existe progresso cultural e tecnológico como progresso ao nível biológico: ou seja, que a evolução tem levado os seres vivos a “progredir” ao longo do tempo. Esse progresso culmina em nós, seres humanos, que somos “evidentemente” a espécie mais “evoluída” que existe. Expressões como “animais inferiores e superiores” (os “superiores” são aqueles que são mais parecidos connosco), espécies mais ou menos “evoluídas”, linhagens “progressivas e degeneradas” são outros indicadores da crença em progresso evolutivo culminando nos humanos. Melhores do que nós só eventuais inteligências extraterrestres (visto que outros tipos de seres “superiores”, como anjos ou deuses, já não são do domínio científico). Quantas vezes vimos a nossa evolução representada como uma série de macacos cada vez mais “evoluídos” e verticais, até vermos um homem (é praticamente sempre um indivíduo do sexo masculino) a caminhar, de modo quase heróico, em direcção ao futuro?
De facto, é difícil ter uma ideia mais errada do que esta relativamente ao processo evolutivo. Mas a crença na existência objectiva de progresso ao nível dos fenómenos e processos biológicos é extraordinariamente persistente. Parece-nos chocante que, no século XXI, uma noção tão subjectiva e antropocêntrica não só continue a ter aceitação geral por parte de leigos, como até seja defendida por alguns cientistas. A convicção de que há progresso biológico, e que é praticamente inevitável que a evolução conduza a seres semelhantes a nós, é ilustrada pelo pressuposto de que, se ocorrer vida extraterrestre, haverá necessariamente, algures, inteligência extraterrestre, como se uma coisa implicasse automaticamente a outra. É essa ideia de progresso inevitável, “garantido” pelos processos biológicos, que vamos discutir neste livro.
O conceito de progresso em geral é relativamente recente, uma vez que só é possível quando se admite que o mundo mudou ao longo do tempo. Os Gregos raramente consideraram essa ideia, visto que, em geral, imaginavam o mundo como sendo estático. Em relação aos seres humanos, uma ideia frequente era a de uma queda e regressão após uma “Idade do Ouro” ou uma idade heróica – por exemplo, na Ilíada, o velho Nestor contrasta o presente com a sua juventude, quando os homens eram “maiores” em todos os aspectos, e em geral Homero fala dos seus heróis como sendo “superiores” às pessoas a quem estava a contar a história. No entanto, mais tarde, vários pensadores gregos admitiram que os humanos haviam progredido: por exemplo, o autor da peça Prometeu Agrilhoado descreve o progresso cultural dos humanos desde um estado inicial miserável. Certos filósofos pré-socráticos como Protágoras e, mais tarde, o romano Lucrécio, inspirado pelo filósofo grego Epicuro (cujas obras em grande parte se perderam), referem-se ao progresso humano desde a “barbárie” até à civilização.
O cristianismo foi inicialmente ambivalente em relação ao progresso. Por um lado, baseia-se na ideia de queda e expulsão do “Jardim do Éden” e na crença em que qualquer melhoria e salvação só são possíveis pela graça de Deus e não devido a esforços humanos. Por outro lado, admite que houve progresso desde os pagãos até à instauração do cristianismo e projecta um futuro paradisíaco (e.g., Santo Agostinho, na Cidade de Deus, século V). Além disso, ao introduzir a noção de que o mundo (e não apenas os seres humanos) tem uma história mais ou menos linear, ou seja, que se alterou desde a Criação e que se modificará até chegar ao Juízo Final, contribuiu para preparar o terreno relativamente à possibilidade de progresso secular em geral.
A convicção generalizada relativamente ao progresso humano só se espalhou após a Renascença. Por exemplo, em França, no século XVII, teve lugar a famosa Querela entre Antigos e Modernos, em que os partidários dos Antigos (e.g., Boileau e, em Inglaterra, Jonathan Swift) defendiam que nada se tinha produzido que chegasse à altura da Antiguidade clássica e os partidários dos Modernos afirmavam, pelo contrário, que os modernos eram superiores porque podiam construir sobre os alicerces elaborados pelas épocas anteriores. No século XVIII, com o iluminismo, influenciado pelos triunfos científicos de Galileu e Newton, a crença num progresso cultural inevitável e cada vez maior generalizou-se. O fim da Revolução Francesa abalou um pouco este optimismo, mas não o conseguiu eliminar. Por exemplo, o reverendo Thomas Malthus (1766–1834) escreveu o seu famoso livro (Essay on the Principle of Population) em 1798 para demonstrar que a população humana tende a crescer geometricamente mas os recursos apenas crescem aritmeticamente, de onde se conclui que, a menos que as pessoas refreiem a sua actividade sexual (concebida como só sendo lícita quando se trata de procriar), haverá sempre intensa competição por recursos e muita miséria. Esta visão parecia ir contra a crença iluminista no progresso, mas para Malthus a situação fora elaborada por Deus precisamente para encorajar as pessoas a se esforçarem, trabalharem e comportarem com virtude (i.e., pouco sexo).
Durante todo o século XIX e grande parte do século XX, a fé no progresso perdurou, afirmada por filósofos como Auguste Comte, John Stuart Mill, Herbert Spencer, Karl Marx e Friedrich Engels, e vários outros. No fundo, continuamos a subscrever esta ideia de progresso inevitável da cultura humana.
As ideias evolucionistas foram influenciadas pela noção de progresso cultural humano, estendendo essa ideia e tornando possível a concepção de um progresso já não só humano e cultural, mas biológico, i.e., dos seres vivos em geral. Mais tarde, a influência foi recíproca, ou seja, o próprio evolucionismo favoreceu a crença no progresso humano.
A hipótese de evolução surgiu em parte a partir de uma modificação da concepção da Grande Cadeia dos Seres (ou Scala Naturae), uma escala linear ascendente ordenando todos os seres, do mais simples até ao mais “perfeito”. Na sua versão inicial, esta cadeia remontava a Aristóteles, e foi muito difundida na Idade Média. A cadeia era obviamente estática e, na Idade Média, incluía tudo, desde os minerais, em baixo, até aos anjos, em cima, logo abaixo de Deus, passando pelas plantas e pelos animais, e assumindo, claro, que todos coexistiam no mesmo momento, sem alteração desde a Criação. Em versões posteriores, evolutivas, como as de Erasmus Darwin (o avô de Charles Darwin) e de Lamarck, a cadeia passou não só a ter uma dimensão temporal (os seres mais simples davam origem a seres cada vez mais complexos), mas a dividir-se em duas (uma para as plantas e outra para os animais, ficando os minerais fora da biologia) e a culminar no homem em vez de nos anjos. Assim, a vida tinha uma história (não ocorrera uma Criação única e definitiva) e essa história mostraria um progresso indo dos seres mais “simples”, como as criaturas unicelulares, aos invertebrados mais “complexos”, destes aos vertebrados, e finalmente atingindo o “apogeu” no homem. Ainda hoje essa ideia perdura em expressões do tipo “da bactéria ao homem”, como se a evolução seguisse um caminho previamente traçado para chegar finalmente até nós.
Erasmus Darwin (1731–1802), médico bem-sucedido e avô paterno de Charles Darwin, foi o primeiro autor a propor uma teoria evolutiva, quer num tratado em prosa, Zoonomia (1794, e reeditado pelo autor em 1801), quer, de modo ainda mais explícito, em verso, no livro póstumo The Temple of Nature (“O Templo da Natureza”, 1803). A evolução e o progresso estavam indissoluvelmente associados para Erasmus Darwin. A vida teve uma origem única (uma entidade microscópica inicial, microscopic ens) e desenvolveu-se, passando por fases sucessivamente mais aperfeiçoadas, até culminar, até ao momento, no homem, e, eventualmente (no futuro), em formas ainda mais perfeitas, visto que o processo de aperfeiçoamento continua a operar e continuará para todo o sempre (FOR EVER AND EVER, como escreveu Erasmus, com maiúsculas). O mecanismo desta mudança não era claro, mas Deus estava por detrás dele: Erasmus Darwin era crente, deísta, como muitos autores do século XVIII, para os quais Deus ainda era o Grande Arquitecto, o Autor de todas as coisas, embora posteriormente à Criação inicial do universo tivesse essencialmente deixado de interferir (os deístas, ao contrário dos teístas, não aceitavam a existência de milagres).
As especulações evolutivas de Erasmus Darwin não foram tomadas muito a sério e assim foi Jean-Baptiste Antoine de Monet, chevalier de Lamarck (1744–1829), o primeiro autor a propor uma teoria evolutiva que teve algum efeito sobre os contemporâneos (mesmo que fosse sobretudo negativo). Lamarck ganhara credibilidade científica ao publicar obras em botânica (a primeira Flora completa de França, 1778) e depois em zoologia, em especial sobre invertebrados (termo inventado por ele), em tratados publicados em 1801 e 1815–1822, após se tornar curador dos invertebrados no Museu de História Natural de Paris (reorganizado após a Revolução Francesa). As suas ideias evolutivas estão subjacentes a várias das suas obras, mas foram principalmente dadas a conhecer na Philosophie Zoologique (“Filosofia Zoológica”, 1809). A sua teoria, tal como a de Erasmus Darwin, baseava-se na transformação da Scala Naturae, tornando-a dinâmica: os seres vivos mais simples (unicelulares) originam-se permanentemente por geração espontânea e depois transformam-se e aperfeiçoam-se ao longo do tempo até chegarem ao último estado da scala, que é o dos seres humanos. Lamarck foi mais claro do que Erasmus ao explicitar os mecanismos que levam os seres vivos a progredir. O primeiro mecanismo era uma “força que tende permanentemente a compor a organização” e que portanto levava os seres vivos a “melhorarem” linearmente. Mas, como os ambientes estão permanentemente a variar, outro mecanismo, a “influência das circunstâncias”, pode causar desvios relativamente à cadeia linear, produzindo ramificações, embora de menor importância. A sua capacidade permanente de mudança faz com que os organismos não se extingam, mas se transformem noutros, mais bem adaptados.Curiosamente, embora acreditasse firmemente numa tendência progressiva inerente aos seres vivos, Lamarck não aceitava claramente uma mudança direccional do mundo ao longo do tempo, visto que, para ele, haveria sempre espécies em todas as fases do “avanço”. Por essa razão, Lamarck pouco se interessou pelo registo fóssil que começava a ser conhecido na época e nunca acreditou na existência de extinção (segundo ele, as espécies aparentemente extintas cujos fósseis começavam a ser descritos ainda existiam algures na Terra). Embora a sua “força” motora nos pareça hoje milagrosa, Lamarck considerava-se um mecanicista (falava de fluidos orgânicos) e opunha-se ao “vitalismo” aristotélico. Ao contrário de Erasmus Darwin, não invocava a acção directa de Deus sobre a matéria viva.
As especulações evolutivas de Lamarck foram no entanto classificadas pelos seus contemporâneos como fazendo parte do seu lado menos científico, junto com teorias químicas já completamente ultrapassadas na época de Lavoisier e especulações meteorológicas delirantes (Lamarck estava convencido de que podia prever o clima de todo o ano e publicou almanaques com previsões para cada dia).
O inglês Charles Lyell (1797–1875) é um caso curioso, visto que foi dos poucos que, embora acreditasse no progresso humano, começou por negar não só o progresso biológico mas inclusivamente mudanças direccionais no registo fóssil. Lyell começou por ter uma formação de advogado, mas cedo se “mudou” para a geologia, a sua grande paixão. Foi o autor do famoso livro Principles of Geology: Being an Attempt to Explain the Former Changes of the Earth’s Surface by Reference to Causes now in Operation (“Os Princípios da Geologia: Uma Tentativa para Explicar as Mudanças Passadas da Superfície da Terra Invocando Causas hoje em Operação”), publicado em três volumes entre 1830 e 1833. Neste livro, Lyell defendeu a causa do que veio a chamar-se “uniformitarismo” (o nome foi inventado por um opositor), contra a ideia vigente em geologia, o “catastrofismo”. Segundo os geólogos catastrofistas, a sucessão de floras e faunas observáveis no registo fóssil explicava-se através de uma sucessão de catástrofes de magnitude superior ao que ocorria no presente e que haviam dizimado as espécies do passado. Após cada catástrofe, novas espécies surgiam (criadas directamente por Deus), substituindo as anteriores, e cada vez mais semelhantes às actuais, dado que Deus estava por assim dizer a “preparar o terreno” para a criação do homem. Lyell insinuou, como crítica, que essas “catástrofes” eram consideradas como tendo uma origem sobrenatural, o que não era necessariamente o caso: muitos “catastrofistas” apenas argumentavam que certos fenómenos como tremores de terra haviam sido mais violentos do que o que era observável no presente. Apenas a criação de novas espécies resultava da acção directa de Deus (e Lyell não se opunha a esta ideia).
No seu livro, Lyell avançou três hipóteses. Em primeiro lugar, as leis da natureza não se alteraram com o tempo: esta componente da teoria de Lyell não era controversa e era aceite por todos os contemporâneos. Em segundo lugar, a intensidade dos processos que existem no presente não se alterou com o tempo, ao contrário do que era afirmado pelos “catastrofistas”. Lyell acumulou uma impressionante quantidade de factos para apoiar a sua afirmação de que os fenómenos observáveis no presente, como o vulcanismo, os tremores de terra, a erosão pela água e pelo vento, a sedimentação, etc., são suficientes para explicar todas as observações do registo do passado. Por exemplo, no frontispício do livro, Lyell apresentou uma gravura das colunas do templo de Serápis em Pozzuoli para mostrar que se tinham mantido de pé (o que não seria possível se tivessem sofrido alterações violentas) apesar de terem sido submergidas no passado, como se demonstrava pelos vestígios de perfurações por bivalves marinhos. Esta componente da sua teoria, inicialmente controversa, acabou por conquistar a comunidade científica, dada a sua vantagem metodológica relativamente às teorias “catastrofistas”.
O terceiro elemento da teoria de Lyell era que a própria Terra não se alterou direccionalmente com o tempo. Esta sugestão parece-nos hoje (e assim pareceu aos seus contemporâneos) muito estranha, mas segundo Lyell a aparente direccionalidade do registo fóssil é um artefacto da preservação, e a Terra existe num estado global de equilíbrio, de modo que as faunas se substituem ciclicamente (daí a sua frase famosa: “o enorme iguanodonte pode reaparecer nos bosques, e o ictiossauro no mar, enquanto o pterodáctilo pode voltar a voar através de bosques de fetos gigantes”). A única excepção a este estado de equilíbrio sem alterações temporais irreversíveis é o ser humano. Nós, obviamente, surgimos uma única vez.
Dada esta ideia de que a Terra não mudou direccionalmente, mas apenas se alterou de modo cíclico, com repetições dos mesmos fenómenos, Lyell constituiu uma excepção em relação à crença contemporânea no progresso biológico. De facto, praticamente todos os cientistas admitiam que havia progresso biológico ao longo do tempo, mesmo antes de as ideias evolucionistas serem geralmente aceites. O progresso biológico podia ter ocorrido por saltos bruscos (e.g., após sucessivas catástrofes), e substituições dos seres de uma dada época por seres posteriores “superiores” (entenda-se mais perfeitos, melhores, ou seja, mais semelhantes aos humanos), mas praticamente ninguém duvidava de que ocorrera. Os processos que tinham levado a esse progresso não eram especificados, embora a ideia subjacente era que de algum modo se deviam à intervenção mais ou menos directa de Deus.
Lyell acabou por renunciar a esta parte da sua teoria uniformitarista. Em 1866 admitiu que a Terra havia de facto mudado ao longo do tempo – e que essa mudança havia, obviamente, sido progressista. Ou seja, logo que Lyell aceitou a ideia de direccionalidade, aceitou concomitantemente a ideia de progresso, como se as duas noções fossem inseparáveis. É sintomático que a “conversão” de Lyell ao progresso não foi devida à sua “conversão” às ideias evolucionistas do seu amigo Darwin (na realidade, Lyell nunca aceitou plenamente o mecanismo evolutivo proposto por Darwin, ou seja, a selecção natural), mas sim à sua admissão de que havia direccionalidade na história da Terra (e portanto já não podemos esperar que o iguanodonte ou o ictiossauro regressem...). A partir dessa admissão, o progresso biológico era automático e Lyell não o questionou.
Em 1844 surgiu em Inglaterra um livro de divulgação intitulado Vestiges of the Natural History of Creation (“Vestígios da História Natural da Criação”), delineando uma teoria evolutiva eminentemente progressista, segundo a qual leis de “desenvolvimento” (não especificadas mas semelhantes às leis que governam o desenvolvimento embrionário dos seres vivos mais complexos) estariam subjacentes à evolução dirigida (por Deus) dos seres vivos, com um objectivo final, o de produzir o homem. O último capítulo do livro é precisamente intitulado “Objectivo e condição geral da criação animada”. Nele o autor garante que “o sistema presente é apenas parte de um todo, uma etapa numa Grande Progressão, e a Compensação está garantida”. Segundo o livro, “o mundo inorgânico tem uma lei final abrangente, a GRAVITAÇÃO. O mundo orgânico, a outra grande secção de coisas terrenas, apoia-se de modo semelhante numa única lei, e esta é – DESENVOLVIMENTO”. Não fica claro se o autor dos Vestiges se considerava o Newton da biologia... O autor era na realidade um editor escocês bem-sucedido, Robert Chambers (1802–1883), que publicou Vestiges anonimamente, porque não queria arriscar a sua reputação (Vestiges só foi oficialmente assumido como sendo de Chambers na 12.ª edição, póstuma, em 1884). O livro foi atacado pela comunidade científica, em grande parte com razão porque continha inúmeras incorrecções factuais (chegando a sugerir que seres tão complexos como insectos eram produzidos por geração espontânea), embora muitas das críticas se devessem mais à sua ideia de evolução do que aos erros factuais. No entanto, essas críticas ajudaram à enorme popularidade do livro, o qual vendeu mais exemplares do que A Origem das Espécies. Mais uma vez vemos como ideias de mudança ao longo do tempo estavam indissoluvelmente associadas à ideia de progresso: i.e., essas mudanças só podiam ser concebidas como sendo no sentido de uma melhoria (entenda-se: no sentido da produção de seres cada vez mais semelhantes a nós), e o estado final (nós) estava predeterminado desde o início (tal como no caso do desenvolvimento do embrião).
Spencer foi o maior apologista da inevitabilidade do progresso. No seu tempo, foi considerado como um filósofo de primeira grandeza, e mais importante como pensador do que Darwin, embora tivesse sido subsequentemente esquecido a ponto de nem sequer ser referido por Bertrand Russell na sua História da Filosofia Ocidental. O próprio Darwin chamou-lhe “o maior filósofo vivo” numa carta, mas noutras cartas a outros correspondentes afirmou que Spencer o deixava sempre confuso e na sua Autobiografia (privada e escrita para os filhos) escreveu que as generalizações de Spencer, embora valiosas do ponto de vista filosófico, não lhe pareciam de qualquer utilidade científica. Thomas Henry Huxley, o grande defensor de Darwin, era amigo pessoal de Spencer, mas céptico relativamente às suas teorias ambiciosas, e disse uma vez que, para Spencer, a ideia de uma verdadeira tragédia era a de uma linda dedução destruída por um pequeno facto.
Spencer foi um defensor precoce da evolução, tendo sido influenciado pelo livro Principles of Geology de Lyell, por Lamarck (tal como Lyell o descrevera) e outros, incluindo Malthus, e provavelmente pelos Vestiges. A sua primeira publicação sobre evolução foi em 1852: The Development Hypothesis (“A Hipótese do Desenvolvimento”). Como muitos contemporâneos, Spencer usou a palavra evolução para designar quer o desenvolvimento embrionário quer as transformações evolutivas propriamente ditas. Segundo ele, a competição pelos recursos obrigaria à utilização crescente das faculdades mentais e levaria ao seu aumento durante a vida de um indivíduo. Ora isso estaria associado a uma diminuição da fertilidade, visto que a energia vital é limitada e se mais energia for investida no cérebro sobra menos para os órgãos genitais e para a fertilidade. O aumento das faculdades intelectuais durante a vida seria herdável e daria portanto origem a uma sucessão de formas cada vez mais inteligentes, culminando (obviamente) no homem inglês vitoriano. Neste, sempre de acordo com Spencer, ter-se-ia chegado perto de um equilíbrio populacional estável, porque a fertilidade teria diminuído relativamente não só aos animais como a populações humanas menos “evoluídas” e mais férteis, por exemplo os irlandeses (a grande fome da Irlanda ocorreu em 1848). Note-se que Spencer, solteiro, sem filhos e muito inteligente, seria um bom exemplo de “perfeição evolutiva”.
Em 1855, Spencer publicou uma nova obra, Principles of Psychology (“Princípios de Psicologia”), a qual, de acordo com a sua “modesta” opinião, seria colocada a par da obra de Newton, e em 1859 publicou um artigo intitulado “Progress: its law and cause” (“Progresso: a sua lei e causa”). Segundo Spencer, tudo (incluindo a física) estaria abrangido por uma vasta lei global de progresso e de desenvolvimento. Esta lei (tão abrangente como a da gravidade) consistiria numa mudança do “homogéneo” para o “heterogéneo”. Esta mudança iria desde a condensação da nebulosa homogénea inicial que originou o sistema planetário heterogéneo actual até ao aparecimento do homem. Entre os seres vivos, a progressão parecia óbvia a Spencer: os peixes seriam mais “homogéneos” do que os répteis (e.g., têm um corpo mais simples, não têm membros), que por sua vez seriam mais “homogéneos” do que as aves e os mamíferos.
Após ter proposto esta lei universal, Spencer passou o resto da sua vida a preencher os detalhes. Não mostrou muito apreço pela teoria evolutiva de Darwin, considerou a selecção natural como um mecanismo absolutamente menor e defendeu energicamente as ideias de hereditariedade das características adquiridas, as quais considerava necessárias e suficientes para o processo evolutivo.
Convém sublinhar que as ideias de Spencer só começaram a ter repercussão após a publicação de A Origem das Espécies de Darwin em 1859 – antes disso ele não convencera ninguém relativamente à ocorrência da evolução. Relativamente ao progresso, pelo menos no seu aspecto pré-evolutivo, não era necessário convencer as pessoas, dado que a existência de progresso, com os ingleses do sexo masculino no cume, era considerada evidente por quase todos. Após a publicação de A Origem das Espécies, como veremos, a ideia de progresso biológico, com os seres humanos no cume, foi praticamente imediata.
N.R. – Os subtítulos deste texto são adaptações das divisões originais do livro.
SUPER 152 - Dezembro 2010
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