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sexta-feira, 27 de julho de 2018

Alterações climáticas podem levar lince-ibérico à extinção neste século



Modelo mostra que nas próximas décadas o Sul da Península Ibérica deixará de ter condições para o felino mais ameaçado da Terra. Paradigma de conservação tem de mudar para salvar a espécie, defende estudo

O lince-ibérico é o felino que está mais próximo da extinção. Na última década, o número de animais não ultrapassava na natureza a centena e meia. Em Portugal, avistar um deles passou a estar no patamar dos sonhos, com uma ou outra excepção. Os imensos esforços de conservação reverteram, para já em Espanha, esta tendência e a população de linces tem aumentado. Mas de acordo com um novo estudo, este esforço não chega. As alterações climáticas podem mudar, em poucas décadas, as paisagens do Sul da Península Ibérica e tornar inviáveis as regiões onde hoje o felino tem condições para viver: se nada for feito, o lince desaparecerá da face da Terra ainda neste século, avança um artigo publicado agora na revista Nature Climate Change.

"As alterações climáticas vão rápida e severamente diminuir a abundância do lince e provavelmente levar à extinção da espécie na natureza dentro de 50 anos, mesmo que haja um forte esforço global de mitigar as emissões de gases com efeito de estufa", avança o artigo da equipa internacional que conta com dois portugueses.

A equipa teve em conta os cenários anuais do clima futuro na Península Ibérica fornecidos pelo Painel Intergovernamental para as Alterações Climáticas das Nações Unidas, mas cruzou esses dados com a ecologia das populações de lince-ibérico e coelho-selvagem. "A maior parte dos modelos aborda as alterações climáticas e os solos, nunca aborda as interacções bióticas", explica ao PÚBLICO Miguel Araújo, coordenador do estudo e que divide o seu tempo entre a Universidade de Évora e o Museu Nacional de Ciências Naturais de Madrid.

Para sobreviver na natureza, o lince-ibérico (Lynx pardinus) está dependente do coelho-bravo (Oryctolagus cuniculus), que perfaz 90% da alimentação do felino. Nas últimas décadas, o coelho tem-se debatido com duas doenças que dizimaram as populações. Além disto, a diminuição do habitat disponível, a caça e uma terceira doença que afecta o lince-ibérico têm sido fatais para este felino. A área do lince reduziu 33 vezes entre 1950 - quando existiam mais de 5000 animais na Península Ibérica - e 2005. Neste ano, já só ocupava 1200 quilómetros quadrados, em Espanha. E as alterações climáticas podem dar o golpe de misericórdia, se nada for feito. "Se houver menos pluviosidade [um dos efeitos esperados para o Sul da Península Ibérica], há menos vegetação e menos coelhos", diz o biogeógrafo. "Menos coelhos implica menos linces."

O artigo mostra que, na melhor das hipóteses - tendo em conta a conservação actual que só contempla a reintrodução da espécie no Sul e uma mitigação agressiva da emissão de gases com efeito de estufa -, o lince-ibérico tem 89% de probabilidades de extinção. O que ocorrerá por volta de 2065. Apesar de os modelos não incluírem todos os aspectos, "a mensagem qualitativa da extinção nas próximas décadas é robusta", diz o investigador português.

Mas há uma alternativa. "Está nas nossas mãos assegurar a continuação da espécie, só que isso exige uma alteração de paradigma", defende o biogeógrafo. "Se tivermos uma política de reintrodução do lince-ibérico tendo em conta critérios geográficos e ambientais, poderemos esperar um aumento da população até aos 800 indivíduos [no final do século]."

Atendendo a esses novos critérios, o lince-ibérico deveria ser introduzido em várias zonas mais a norte da Península Ibérica, como a meseta ibérica, a costa da Catalunha, a zona perto dos Pirenéus e ainda na Beira Alta, a Beira Baixa e Trás-os-Montes. Todos estes locais, onde o lince-ibérico já existiu no passado, vão ter no futuro as condições climáticas para o coelho e o lince viverem.

"A mensagem mais geral é que as políticas de conservação têm de passar a considerar as mudanças de paisagem devido às alterações climáticas", resume o cientista.

Para Eduardo Santos, da Liga para a Protecção da Natureza e um dos coordenadores do Projecto LIFE Lince Moura/Barrancos - um dos potenciais locais onde o lince poderá ser reintroduzido em Portugal -, este artigo é importante quando se pensa na conservação a médio prazo deste felino. "O tempo e o investimento para fazer a conservação é grande e depende do esforço de diferentes entidades, não só das da conservação mas de proprietários, agricultores, caçadores e da sociedade em geral", considera. "A reintrodução sozinha não tem sucesso", diz.

Mas Eduardo Santos concorda com esta nova equação que inclui os efeitos das alterações climáticas: "Enquanto novo paradigma, faz todo o sentido."

Noticia retirada daqui

quarta-feira, 25 de julho de 2018

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Um em cada cinco répteis está ameaçado de extinção



Aproximadamente um em cada cinco espécies de répteis está em risco de desaparecer para sempre da Terra, segundo um estudo que faz pela primeira vez uma avaliação global da situação desta classe de animais.

No estudo, publicado na revista Biological Conservation, cientistas avaliaram uma amostra aleatória de 1500 espécies de répteis e concluíram que 19% estão ameaçadas de extinção. Não havia, até agora, uma indicação fidedigna do estado dos répteis a nível global. A Lista Vermelha de Espécies Ameaçadas, mantida e actualizada anualmente pela União Internacional para a Conservação da Natureza (UICN), identifica 807 répteis “criticamente ameaçados”, “em perigo” ou “vulneráveis”. Mas apenas 39% das 9547 espécies descritas de répteis foram até agora avaliadas, segundo dados da Lista Vermelha. E a avaliação não tem sido sistemática, incidindo mais sobre determinadas áreas do globo ou sobre alguns tipos de répteis.

Está em curso uma avaliação completa dos répteis do mundo (Global Reptile Assessment). Mas enquanto isso não fica concluído, o estudo agora publicado oferece um atalho, através de uma amostra com representatividade global. “É basicamente um retrato imediato do estado dos répteis”, disse ao PÚBLICO Philip Bowles, da Comissão de Sobreviência das Espécies da UICN e um dos autores principais do estudo.


Cerca de duas centenas de cientistas, de vários países, estiveram envolvidos nesta avaliação. Os resultados serão validados à medida que a avaliação global dos répteis for avançando, explica Philip Bowles.

A percentagem estimada de espécies ameaçadas não é tão grande como a da classe dos anfíbios – onde duas em cada cinco corre o risco de se extinguir. “Não é tão mau como poderia ser. Mas não são boas notícias”, afirma Philip Bowles.

As espécies ameaçadas concentram-se sobretudo nas regiões tropicais, onde têm sido vítimas da destruição do seu habitat, para dar lugar à agricultura ou à exploração de madeira. Os répteis de água doce apresentam maior número de espécies em risco: 30% no total e 50% só para as tartarugas.


De acordo com Philip Bowles, o estudo, embora seja apenas uma primeira abordagem à escala global, permite identificar desde já espécies para as quais é prioritário adoptar medidas de conservação.

segunda-feira, 23 de julho de 2018

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Tubarão, um senhor dos mares ameaçado

Os tubarões são dos mais bem sucedidos predadores de sempre, tendo surgido há cerca de 350 milhões de anos e tendo permanecido particamente imutáveis nos últimos 70 milhões. Só agora é que o Homem os está a ameaçar.

"Tudo nele era lindo, excepto as mandíbulas". É com esta frase que o escritor norte-americano Ernest Hemingway começa a descrever um magnífico tubarão, no seu célebre romance "O Velho e o Mar".

Os tubarões são um grupo fascinante de peixes que sempre provocaram nos seres humanos sensações de temor, até certo ponto exageradas, mas que podem ser comparadas aos sentimentos de medo e respeito que todos os grandes predadores despertam. No entanto, apesar de existirem muitos predadores marinhos, é ao tubarão que se aplica a identificação estereotipada de "assassino dos mares".

Inúmeros mitos sobre tubarões têm sido construídos ao longo dos tempos. Em determinadas regiões, onde este animal está presente desde sempre, verdadeiras religiões foram criadas divinizando-o, como aconteceu nas Ilhas Salomão, onde é conhecido por "takw manacca". Ainda no ínicio do século XX, os habitantes destas ilhas realizavam sacrifícios humanos ao deus tubarão. Mas embora na cultura ocidental os mitos tenham expressões bem diferentes, assistimos com frequência a manifestações mistas de receio e admiração materializadas, por exemplo, nos sucessos de bilheteira de filmes em que o tubarão é o vilão protagonista, como a sequela "Jaws" (O Tubarão), de Steven Spielberg ou, mais recentemente, o filme de Renny Harlym, "Deep Blue Sea" (Do Fundo do Mar).

Na realidade, os tubarões têm muito mais motivos para recear os seres humanos, do que o contrário, pois nesta história os papéis estão invertidos e é o tubarão que necessita de protecção. Todos os anos são mortos mais de 50 milhões de tubarões, para fins comerciais. Para além da sua carne ser muito apreciada, muitas das capturas têm apenas como objectivo as barbatanas, usadas na preparação de uma famosa sopa asiática. O fígado destes animais, por ser muito rico em óleos, é ainda utilizado como lubrificante, a pele como matéria-prima na produção de lixas e as cartilagens são extraídas para utilizações terapêuticas "duvidosas".

Estas mortes têm um impacto bastante relevante nos ecossistemas oceânicos e são responsáveis pelo desequilíbrio das cadeias alimentares de que os tubarões fazem parte, uma vez que a maioria das espécies são predadoras de topo. É por este motivo que conseguem regular o balanço entre as diferentes espécies marinhas. Quando estes predadores são removidos, espécies comercialmente importantes podem entrar em competição com espécies de menor interesse, que anteriormente eram por eles controladas. Um outro aspecto negativo da alteração da estrutura dos ecossistemas marinhos pode ser demonstrado pelo que aconteceu na Austrália, há alguns anos atrás. A pesca excessiva do tubarão desencadeou um crescimento explosivo da população de polvos, o que não parece ser muito grave, já que o polvo é um molusco muito apreciado. O problema é que o aumento da população de polvo provocou uma diminuição acentuada nas populações das suas presas, o que já é extremamente preocupante em termos económicos, quando estamos a falar de lagostas!

Por outro lado, os tubarões não predam indiscriminadamente, mas realizam uma selecção relativamente ao tipo, ao tamanho e ao estado de saúde das presas. Deste modo, são responsáveis pela remoção dos animais mais fracos e debilitados do ecossistema, actuando como uma ferramenta da selecção natural, impelindo a evolução a continuar o seu curso.

Em Abril deste ano, realizou-se a XI Conferência da CITES em Nairobi, no Quénia, onde 150 países discutiram quais as espécies ameaçadas do mundo que precisam de maior protecção. A tentativa por parte de organizações ambientalistas e de alguns governos de colocar certas espécies de tubarões (nomeadamente o Tubarão Baleia e o Tubarão Branco) no anexo II da Convenção, que impõe restrições ao seu comércio, revelou-se infrutífera, pois não se atingiram os dois terços necessários para a aprovação desta medida.

Para além da necessidade de travar a comercialização não controlada, a desmistificação do tubarão "caçador-de-homens" é fundamental para a sua conservação. Esta visão universal e simplista está a ser, lentamente, substituída por uma visão mais equilibrada e racional do papel que este animal desempenha nos ecossistemas dos quais faz parte e do balanço entre prejuízos/benefícios que pode causar.

Mas qualquer que seja a visão que se possui, existem factos inegáveis que permitem olhar para os tubarões como uma obra-prima no mundo dos predadores. Eles surgiram há mais de 350 milhões de anos, muito antes do Homem e permaneceram praticamente imutáveis nos últimos 70 milhões de anos. Apesar de viveram num ambiente que é razoalvelmente tolerante às alterações e que, até agora, não tem sido muito afectado pela actividade humana, para sobreviver tanto tempo numa escala geológica, deverão estar a fazer "as coisas bem feitas"!

No entanto, as mesmas características que lhes garantiram tão grande sucesso, estão agora a ameaçar a sua sobrevivência. Uma vez que cada fêmea produz apenas um número suficiente de crias para substituir as taxas naturais de mortalidade, as populações que sofrem maiores pressões estão a declinar perigosamente porque, devido à intervenção humana, actualmente essas taxas nada têm de natural. Como os fenómenos evolutivos só produzem resultados à escala de tempo geológico, muitos destes "senhores dos mares" correm sérios riscos de deixarem de o ser.

Maria Carlos Reis