sábado, 21 de julho de 2018
Tubarões do Mediterrâneo e do Mar Negro em risco de extinção
As populações de tubarões nos mares Mediterrâneo e Negro estão em risco de extinção, podendo levar a graves consequências para os ecossistemas marinhos e a cadeia alimentar, adverte um estudo divulgado nesta quinta-feira pela Organização das Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação (FAO).
De acordo com a investigação feita pela organização, o número de tubarões tem vindo a diminuir significativamente ao longo dos últimos dois séculos. O estudo Elasmobrânquios do Mediterrâneo e do Mar Negro: estado, ecologia e biologia, foi realizado pela Comissão Geral das Pescas do Mediterrâneo (CGPM), um dos órgãos regionais da FAO dedicado à indústria da pesca.
“O número de tubarões e o peso das capturas no Mediterrâneo diminuíram mais de 97% nos últimos 200 anos. Se a actual pressão da pesca continuar, correm o risco de extinção”, refere o documento. No Mar Negro, embora a informação seja escassa, as capturas das principais espécies de tubarão também diminuíram para quase metade em relação às capturas do início dos anos de 1990.
“Esta perda de grandes predadores pode ter implicações graves em todo o ecossistema marinho, afectando substancialmente a cadeia alimentar na região”, de acordo com o estudo.
O documento adverte que as espécies de peixes cartilaginosos, como os tubarões e as raias, “são de longe o grupo mais ameaçado de peixes marinhos no Mediterrâneo e no Mar Negro, onde se conhece a existência de até 85 espécies diferentes”. Das 71 espécies estudadas no Mediterrâneo em 2007, constatou-se que 30 (42%) foram consideradas ameaçadas.
Os peixes cartilaginosos têm os esqueletos constituídos por cartilagem em vez de ossos e dentro desse grupo, os tubarões e as raias têm o nome científico de elasmobrânquios. As suas características biológicas, incluindo a baixa fecundidade, a maturidade tardia e o lento crescimento, tornam-nos mais vulneráveis do que os peixes ósseos devido às suas taxas de regeneração mais lentas.
Em geral, os tubarões e as raias não têm sido pescados propositadamente no Mediterrâneo e no Mar Negro, mas são capturados acidentalmente.
Os desembarques totais anuais registados no Mediterrâneo e no Mar Negro são actualmente de cerca de 7000 toneladas, em comparação com as 25.000 toneladas em 1985, uma indicação da gravidade do declínio das espécies. No entanto, tem-se intensificado a captura de tubarões devido à crescente procura por barbatanas, carne e cartilagem.
A situação é ainda agravada pelos danos ou alterações aos seus habitats, causados pelo transporte marítimo, pela construção e mineração submarina ou por poluentes químicos, pelo ruído e pela contaminação electromagnética.
Entre as medidas mais recentes tomadas pela comissão para proteger os tubarões e as raias encontra-se a proibição da prática de finning (remoção das barbatanas no mar e descarte das carcaças) e limitações à pesca de arrasto a menos de três milhas da costa para aumentar a protecção aos tubarões costeiros.
A comissão também recomendou aos países da bacia do Mediterrâneo e pelo Mar Negro que invistam em programas de investigação científica destinados a identificar áreas potenciais de criação e que considerem encerramentos sazonais de certas áreas para proteger os tubarões e as raias juvenis das actividades pesqueiras.
Outras iniciativas levadas a cabo pela comissão incluem a organização de várias reuniões e cursos que visem uma melhor compreensão destas espécies e dos seus habitats e a criação de uma base de conhecimento regional para orientar os membros da CGPM no desenvolvimento de planos nacionais para proteger as principais espécies.
http://www.publico.pt
quinta-feira, 19 de julho de 2018
Aquecimento global afeta crescimento dos peixes
O aumento das temperaturas atrasou o ritmo de desenvolvimento das larvas dos peixes, o que os tornou mais vulneráveis aos predadores reduzindo a sua possibilidade de sobreviver.
O aumento da temperatura da água do mar está a prejudicar o desenvolvimento dos peixes na zona equatorial, ameaçando a sua sobrevivência e a das comunidades que vivem da pesca, alerta um estudo divulgado hoje na Austrália.
A investigação, realizada por cientistas da Universidade James Cook, analisou o impacto do aumento da temperatura da água em larvas de peixes recolhidas numa área de 2.000 quilómetros entre o sul da Grande Barreira de Coral e o norte da Papua Nova Guiné, próxima da linha equatorial.
"Descobrimos que onde as temperaturas aumentaram acima de um ponto perto do Equador, para 29 graus, o ritmo de desenvolvimento das larvas atrasou-se", disse o autor do estudo, Ian McLeod, num comunicado da universidade.
A maioria dos peixes marinhos atravessa uma etapa de desenvolvimento larval no mar aberto que os torna mais vulneráveis aos predadores e se passam muito tempo nesta situação têm menos possibilidades de sobreviver.
"O crescimento rápido durante a etapa larval dá-lhes vantagens de sobrevivência porque podem desenvolver-se mais cedo e sair com mais rapidez dos perigosos ambientes marítimos", explicou o cientista australiano.
O coautor do estudo, Philip Munday, alertou para a vulnerabilidade dos peixes equatoriais ao aquecimento global, enquanto outro investigador, Geoffrey Jones, advertiu que milhões de pessoas nas zonas equatoriais dependem da pesca para viver.
"Muita gente nas regiões equatoriais como a Papua Nova Guiné depende dos peixes, que são a sua principal fonte de proteínas, pelo que o estudo faz-nos refletir sobre o futuro da segurança alimentar nestes lugares", sublinhou Geoffrey Jones.
terça-feira, 17 de julho de 2018
A diversidade de formas de vida e a sua classificação
As primeiras tentativas de organizar o mundo vivo, categorizando-o, deram-se na Antiguidade. As Ciências que se constituíram com este objectivo são actualmente ferramentas indispensáveis para compreender o equilíbrio da Biosfera.
Desde há mais de 3000 milhões de anos atrás, quando surgiram as primeiras formas de vida sobre a Terra, até aos dias de hoje, o número de espécies de seres vivos tem vindo a aumentar. Este processo, designado por especiação, tem sido, no entanto, acompanhado por diversos períodos de extinções maciças. Calcula-se, por exemplo, que no Ordovício se tenham extinguido 50% das espécies animais que existiam até então, no Devónico 30%, no Pérmico 50% e no Triássico 35%. No entanto, durante os intervalos de milhões de anos entre cada vaga de extinções, o aparecimento de novas espécies foi-se dando a um ritmo superior ao dos desaparecimentos, sendo esta a razão para que o número máximo de espécies, alguma vez existente sobre a Terra, tenha sido atingido na nossa era, há apenas 30 000 anos. Desde então, esse número tem vindo a decrescer a um ritmo inversamente proporcional ao do aumento da população humana.
De todos os seres vivos que constituem actualmente a biosfera, já foram identificadas cerca de 1 413 000 espécies. Estas incluem: 1 032 000 espécies de animais, das quais apenas 10% são vertebrados, 248 500 espécies de plantas, 69 000 de fungos e 26 000 de algas. Apesar destes números serem muito elevados, é de esperar que o número real de espécies se possa situar entre os 5 e os 10 milhões ou, de acordo com alguns autores, até entre os 30 e os 150 milhões de espécies, pois grande parte da biodiversidade ainda não é conhecida. Mesmo assim calcula-se, por exemplo, que o número de espécies de plantas e animais vivas represente apenas cerca de 1% de todas as espécies que já existiram.
Se alguns grupos, como os vertebrados ou as plantas, são bastante estudados, outros, como as bactérias ou os fungos, permanecem bastante desconhecidos. Crê-se, por exemplo, que para além das 4 800 espécies de bactérias já descritas, possam existir ainda 1 000 000 espécies por descrever.
Estas divisões entre categorias de seres vivos resultam do trabalho de uma ciência designada por Taxonomia. Uma das primeiras pessoas a fazer uma tentativa para classificar e organizar os seres vivos em diferentes categorias foi Aristóteles. Apesar de não se ter baseado nos mesmos critérios que hoje utilizamos, Aristóteles idealizou uma organização que, tal como a que actualmente vigora, partia do geral para o particular, associando os organismos em grupos cada vez mais restritos. A visão de Aristóteles perdurou por quase 15 séculos, até serem realizadas novas tentativas para solucionar o problema. Isto aconteceu quando, como complemento da Medicina, foram desenvolvidos diversos estudos no domínio da Botânica, (que propiciaram o desenvolvimento da Taxonomia. Nessa sequência viria, por exemplo, a ser proposta, em 1703, uma divisão dentro das Angiospérmicas, que actualmente corresponde a duas subclasses, as Dicotiledóneas e as Monocotiledóneas.
Em 1758, o pai da Nomenclatura moderna, Carolus Linnaeus, propõe finalmente a nomenclatura binominal. Apesar do contributo de Linnaeus ter sido fundamental, ele era um fixista, pois achava que o número de espécies era constante e imutável. No entanto, o rigor da sua classificação era fundamentalmente superior ao de Aristóteles, porque levava em consideração um maior número de características, na organização dos grupos de seres vivos. Fruto do seu rigor, Linnaeus chegou indirectamente a grupos evolutivamente coesos.
A par dos desenvolvimentos das teorias da evolução, e como resposta a avanços técnicos, como o aparecimento do microscópio, foi necessário abandonar um modelo de dois Reinos: Animal e Vegetal. Em 1866, Haeckel propõe um sistema de classificação com três Reinos: Animal, Vegetal e Protista, que serviria para agrupar os animais primitivos. Já no século XX, Copeland proporia a separação dos Protistas sem núcleo individualizado num novo Reino: Monera. Finalmente, em 1969, Whittaker elabora o modelo actualmente mais aceite, que reconhece a existência de cinco Reinos: Monera, Protista, Fungos, Plantas e Animais.
A Taxonomia moderna, ao contrário da clássica, que se limitava a agrupar os organismos em função de características comuns, frequentemente resultantes de evolução convergente (como agrupar os peixes com os cetáceos, porque ambos nadam), passou, a partir do desenvolvimento das teorias da evolução, a recorrer à leitura dessas características para construir árvores filogenéticas. Desta forma, a arrumação dos seres vivos (ciência da Sistemática) passou a obedecer a uma lógica de proximidade evolutiva entre os membros de um determinado grupo. Em ambos os casos, a identificação dos organismos e das suas características são o primeiro passo para os rotular de acordo com uma categoria já existente, ou para criar uma nova. O constante desenvolvimento de métodos de diagnóstico, como a comparação genética de diferentes organismos, obriga a permanentes revisões das classificações anteriormente efectuadas. A Sistemática é, por isso, forçosamente dinâmica, e deve ser concebida como uma abstracção, ou uma esquematização de um processo contínuo e extremamente complexo. O próprio conceito de espécies é bastante ambíguo e seria seguramente possível dividir todos os seres vivos de acordo com outros critérios, e noutros grupos, não se chegando forçosamente a um resultado incorrecto.
De qualquer das formas, a Taxonomia e a Sistemática têm conseguido responder, por um lado, à necessidade de estabelecer e esquematizar as relações de proximidade e distanciamento entre todos os organismos e, por outro lado, têm sido uma ferramenta imprescindível para a identificação das espécies e para a homogeneização da nomenclatura.
De acordo com o sistema de classificação proposto por Whittaker, todos os seres vivos conhecidos estão dispostos numa árvore filogenética, que está compartimentada em cinco grandes grupos, os Reinos. Por sua vez, cada Reino está subdividido em grupos ou Taxa sucessivamente mais restritos: Filo, Classe, Ordem, Família, Género e Espécie. Cada uma destas categorias pode ainda ser subdividida noutras mais restritas. O Homem é, por exemplo, um animal, cordado, mamífero, primata e hominídeo.
Apesar da diversidade de formas de vida ser imensa, frequentemente focamos a nossa atenção sobre grupos razoavelmente restritos de organismos. As Plantas e os Animais são claramente os Reinos a que temos dedicado maior atenção. Mesmo assim, se pensarmos que 90% das espécies animais são invertebrados, rapidamente percebemos que tendemos a prestar desproporcionadamente maior atenção aos vertebrados que nos estão mais próximos. Mesmo numa perspectiva conservacionista, tendemos por vezes a menosprezar Reinos inteiros. É seguramente mais difícil compreender a importância de investimentos avultados para preservar um microorganismo, do que um animal felpudo, de aparência enternecedora, como o Panda. Não obstante a importância da conservação do Panda, nos tempos que correm, é um desafio reflectir sobre a riqueza do património biológico como um todo, em que nada fique para trás.
Na realidade, os esforços de conservação concentram-se nas espécies mais mediáticas, enquanto os restantes organismos são menosprezados. Entre estes últimos estão aqueles que pertencem ao Reino Monera, como as Bactérias ou as Algas azuis . Algumas Bactérias são responsáveis por graves doenças, como a cólera, e presentemente discute-se a legitimidade de exterminar da face da Terra seres como estes. Também entre os unicelulares Protistas podemos encontrar os responsáveis por diversas patologias, como a doença do sono ou a malária, e o dilema ético do seu eventual extermínio também se coloca. Os Fungos foram os últimos seres a surgir sobre a Terra, e entre eles podemos encontrar formas tão distintas quanto o bolor, os cogumelos ou as leveduras. Alguns deles são prejudiciais ao Homem e outros são muito úteis, tal como o que produz a penicilina.
O conhecimento de todas as formas de vida que colonizam a Terra é uma tarefa interminável, mas a percepção da riqueza e da importância do equilíbrio da biosfera, são uma razão de peso para que se continue a investir no aprofundar dos conhecimentos nesta área. Num universo tão vasto, são necessárias regras que padronizem a identificação, a classificação e a nomenclatura biológica, mas actualmente existe um reconhecido défice de taxonomistas, provavelmente porque nos dias que correm se estejam a preterir as ciências descritivas em favor das analíticas.
Alexandre Vaz
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