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quarta-feira, 12 de abril de 2017

Notícia - Abutre do Egipto colonizou ilhas Canárias graças à presença humana

O abutre do Egipto é o protagonista daquilo que pode ser uma “união feliz” entre vida selvagem e humanos. Segundo investigadores espanhóis da Estação Biológica de Doñana, a espécie colonizou as ilhas Canárias graças às pessoas e que estas podem favorecer a biodiversidade.

Esta espécie (Neophron percnopterus) fixou-se nas Canárias há 2500 anos, data que coincide com a colonização humana daquele arquipélago, salientam os investigadores, em comunicado.

Os resultados da investigação, publicada na última edição da revista “BNC Evolutionary Biology”, indicam que a chegada ao arquipélago das primeiras populações, provenientes do Norte de África, transformaram-no num espaço com fontes de alimento abundantes, graças aos rebanhos de cabras. Isto “facilitou a colonização do abutre do Egipto, classificado como espécie em perigo de extinção pela União Internacional para a Conservação da Natureza” e propiciou mesmo a sua expansão, escrevem os investigadores. Antes da chegada dos colonos, as ilhas Canárias ofereciam apenas às aves os restos de roedores, aves e algumas espécies marinhas. “A ausência de grandes mamíferos terrestres e animais domésticos é o motivo para que esta espécie só se interessasse pelas Canárias depois da chegada dos colonos”, acrescentam.

Mas a equipa da Estação Biológica de Doñana descobriu ainda que os abutres do Egipto das ilhas Canárias têm “importantes vantagens físicas em comparação com” as populações da mesma espécie na Península Ibérica.

Depois de comparar 242 abutres de Fuerteventura e 143 na Península Ibérica, o estudo concluiu que as aves nas Canárias são 16 por cento mais pesadas e três por cento maiores do que as aves peninsulares.

“Os resultados sugerem que a actividade humana pode provocar a evolução divergente de uma espécie numa escala de tempo relativamente breve”, explicou Rosa Agudo, uma das responsáveis pela investigação.

Em Portugal, o abutre do Egipto está hoje classificado como Em Perigo mas houve tempos em que se distribuía por todo o país, incluindo escarpas costeiras. Mas no século XIX sofreu uma regressão acentuada e um censo de 2000 contabilizou a população em 83 a 84 casais em território nacional. A perturbação humana em zonas de nidificação, a colisão e electrocussão em linhas aéreas de distribuição e transporte de energia e o abate a tiro são alguns dos factores de ameaça.

terça-feira, 11 de abril de 2017

Lista das Áreas Protegidas

Para além das Áreas Protegidas da Rede Nacional o ICNB tem conhecimento da existência de outras três, que não solicitaram a inclusão na RNAP:

- Reserva Natural Local do Estuário do Douro
Criação: Deliberação da Assembleia Municipal de V.N.Gaia, (Regulamento 82/2009, de 12 Fev, D.R 2.ªsérie)

- Paisagem Protegida Local das Serras de Santa Justa e Pias
Criação: Deliberação Assembleia Municipal de Valongo (Aviso 3175/2011, de 28 de Janeiro, DR 2.ªsérie)

- Paisagem Protegida Local do Rio Antuã
Criação: Deliberação Assembleia Municipal de Oliveira de Azeméis (Regulamento nº221/2011, de 4 de Abril, DR 2.ªsérie)


Listagem das Áreas Protegidas da RNAP e respectivo Diploma de Criação 



segunda-feira, 10 de abril de 2017

Notícia - Bióloga descobre espécie de insecto com milhões de anos em gruta algarvia

Existe há milhões de anos numa gruta algarvia mas só agora foi encontrado por uma bióloga portuguesa. O Litocampa mendesi, animal com três milímetros e sem olhos ou asas, será mais primitivo do que os insectos que hoje conhecemos. Mas as novidades do frágil mundo vivo cavernícola só agora estão a começar.

Sofia Reboleira, do Departamento de Biologia da Universidade de Aveiro, tem estado atarefada a estudar as amostras que trouxe para a superfície, fruto de doze meses de trabalho de campo em 2009, a dezenas de metros de profundidade nas grutas portuguesas.

A 22 de Dezembro, a revista "Zootaxa" publicava a descoberta do Litocampa mendesi. “Procurámos a fauna das grutas através da observação do interior das cavidades e com a ajuda de armadilhas de queda colocadas no chão”, explicou hoje ao PÚBLICO a bolseira da Fundação para a Ciência e Tecnologia (FCT). Nas armadilhas foram colocados iscos odoríferos para atrair os insectos. “Este tipo de armadilhas também ajuda a medir a actividade dos animais, porque os que mais andam são os que mais caem” nas armadilhas.

Mas este é um trabalho exigente. “São animais muito raros que apenas vivem em zonas difíceis de estudar”, disse Sofia Reboleira, também espeleóloga. Investigar a espécie em laboratório está fora de questão. “É impossível manter estes insectos em cativeiro. É muito difícil. Eu nunca vi [o Litocampa mendesi] vivo”, referiu.

A investigadora, que estuda a fauna cavernícola do país, está em condições para dizer que este insecto desenvolveu, ao longo de milhões de anos, impressionantes estratégias de poupança energética para conseguir sobreviver na escuridão das grutas, como a ausência de olhos e asas e a grande resistência ao jejum. Estima-se que este será um animal “mais primitivo do que os insectos” actuais.

A fragilidade das espécies cavernícolas

Sofia Reboleira estuda os animais que não vivem em mais nenhum local que não nas grutas, até aos 220 metros de profundidade, sob a orientação de Fernando Gonçalves (do Departamento de Biologia da Universidade de Aveiro) e Pedro Oromí (da Faculdade de Biologia da Universidade de La Laguna, em Tenerife, Espanha). Até agora anunciou cinco novas espécies. Em Maio foi anunciada a descoberta de duas novas espécies de escaravelhos nas grutas das serras de Aire e Candeeiros e no início de Dezembro outra espécie de escaravelho em Montejunto e um pseudoescorpião nos maciços calcários do Algarve. Agora foi a vez do Litocampa mendesi, numa gruta algarvia a 30 metros de profundidade.

A maioria dos invertebrados que constituem a fauna cavernícola são artrópodes, como as aranhas e insectos. Apesar de viverem em ambientes até agora pouco estudados, estas espécies merecem atenção. "As espécies cavernícolas não conseguem sobreviver em mais nenhum local, logo têm a sua distribuição geográfica muito reduzida. Qualquer perturbação pode pôr em causa a sua sobrevivência", sublinhou Sofia Reboleira. A investigadora lembrou, nomeadamente, a poluição por pesticidas e insecticidas que se podem infiltrar nas grutas e a perturbação ou mesmo destruição daqueles locais por actividades humanas.

Além disso, estas populações nunca são de grande dimensão. "Não tendo luz, as grutas onde vivem estes animais não têm plantas e as fontes de alimento são muito escassas. Por isso, as populações não podem ser muito grandes. Na verdade, estes são exemplares raríssimos".

Sofia Reboleira acredita que 2011 poderá trazer mais surpresas. “Ainda estamos a estudar a fauna encontrada no ano da amostragem, em 2009”, salientou.

domingo, 9 de abril de 2017

Biosfera - Vídeo sobre Áreas Protegidas

O tema central dete episódio do programa Biosfera são as áreas protegidas. Veja também uma reportagem sobre os efeitos da radiação electromagnética na saúde. Pode ainda conhecer melhor o bisonte-europeu.

Autoria - Farol de Ideias. Programa emitido pela RTP
tempo:24min47s
língua: português

segunda-feira, 27 de março de 2017

Lista de Links Interessantes




Agência Portuguesa para o Ambiente - Link

Legislação Ambiental - Link

 Evolução do Direito e da Política do Ambiente - Link


quinta-feira, 23 de março de 2017

Notícia - Há formigas a cuidar da borboleta mais rara do país

O movimento dos carvalhos segue de longe as nuvens escuras que atravessam a paisagem verde da serra do Alvão. Entre os gigantescosblocos de pedra, respira-se esta calma nos riachos que correm, na rã que salta, nas vacas que caminham calmamente por cima do alcatrão seco, prontas a entrar nos terrenos onde se alimentam.

A lagarta da Maculinea alcon transportada pela formiga
(Paulo Ricca)

Entramos também num destes terrenos, o lameiro da dona Libânia, a poucos quilómetros da aldeia de Lamas de Olo, a 20 minutos de carro de Vila Real. O Outono não revela o que se passa debaixo dos nossos pés. Mas a professora Paula Seixas Arnaldo conhece estes 3,2 hectares de uma ponta a outra e sabe que no solo está a acontecer algo único. Formigas atarefadas estão a alimentar lagartas cor-de-rosa que vão dar... borboletas.

Ninguém sabe onde estão os ninhos das formigas, que estão sempre a começar novas casas. Por isso, a professora da Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro e a estudante de mestrado Maria da Conceição Rodrigues levam consigo material para as procurar. Botas de borracha, espetos de metal para cavar a terra, um copo de plástico com rosca para guardar formigas, ovos e lagartas de borboletas.

"Horas. Passamos horas à procura de ninhos de formigas e ao fim do dia não encontramos nada", diz Paula Seixas Arnaldo, enquanto arranca mais um pedaço de terra à procura da Myrmica aloba, a espécie de formiga que em Portugal é a hospedeira da Maculinea alcon, a borboleta mais ameaçada do país.

História a três

Estar debruçado sobre a terra à procura de formigueiros é uma actividade que faz parte dos últimos anos de investigação da cientista. Desde 2006 que o lameiro é estudado por Paula Seixas Arnaldo. Este é um dos melhores locais da Europa para seguir o estranho ciclo de vida da borboleta-azul-das-turfeiras. Uma das causas é a presença frequente da Gentiana pneumonanthe, ou genciana-das-turfeiras, uma planta rasteira de flor azul arroxeada.

"A borboleta só põe os ovos nesta flor, em Julho. Os ovos eclodem uma semana depois, nascem as lagartas que se alimentam das sementes durante 30 dias", explica a investigadora enquanto Maria da Conceição Rodrigues continua a arrancar mais vegetação em busca da Myrmica aloba, queixando-se da falta de um canivete, o que facilitaria o seu trabalho.

"Quando estão no terceiro estádio as lagartas atiram-se para o chão. As formigas que se encontram a menos de dois metros detectam a presença da lagarta, vão lá buscá-la e transportam-na para dentro do formigueiro", continua a cientista.

As formigas são literalmente enganadas. As lagartas da Maculinea alcon exalam feromonas que fazem as formigas acreditarem que as lagartas são larvas de formiga e que precisam de ser levadas para o ninho. "No formigueiro as formigas oferecem-lhes substâncias açucaradas. Quando há pouco alimento a lagarta pode chegar a comer outras larvas de formigas, mas é raro", diz a especialista. A lagarta dá protecção pelo tamanho e também produz substâncias para as formigas, mas a troca não é equilibrada."Há cinco espécies do género da Maculinea na Europa. Esta não é predadora, mas quando não tem alimento..."

Durante nove meses a lagarta de borboleta vai crescendo no formigueiro, e nos primeiros dias de Julho a crisálida faz a metamorfose e a borboleta "nasce" da terra. A corrida até à superfície tem que ser rápida porque a borboleta perde a capacidade de enganar as formigas e estas podem atacar o insecto. "Este ano vimos a primeira Maculinea alcon a 6 de Julho", relembra.

As investigadoras passaram Julho e Agosto a contar borboletas, para saber o estado da população. Utilizam o método de contagem e recontagem: capturam uma borboleta, escrevem o número por baixo da asa e todos os dias voltam à caça, acabando por recapturar o mesmo lepidóptero. Isso permite tirar conclusões quanto ao número de indivíduos, os dias que vivem ou a distância que são capazes de voar.

Entretanto Maria da Conceição tem um sucesso parcial e descobre um formigueiro de Myrmica ruginodis. Uma espécie irmã que também existe ali, mais vermelha e agressiva que a Myrmica aloba.

No formigueiro, caiu um cataclismo humano e as formigas entram num movimento frenético, os ovinhos brancos que vão ser futuras formigas são alvo imediato de protecção. Lagartas cor-de-rosa de menos de um milímetro, nada.

Em Espanha a Myrmica ruginodis cuida das borboletas, aqui nunca foi visto tal coisa. Porquê? "Boa pergunta, temos estudos genéticos a decorrer, poderão ser populações periféricas que já sofreram alterações genéticas", diz-nos Paula Seixas Arnaldo, referindo-se à borboleta.

Hoje, a Maculinea existe em 13 pontos em Portugal, nove na região do Alvão, numa área com menos de um quilómetro quadrado. São as populações da espécie que estão mais a sudoeste em toda a Europa, fragmentadas e isoladas não se sabe há quanto tempo. Por serem dependentes da flor e da formiga para viver, são vulneráveis a qualquer intervenção no habitat.

O melhor conhecedor da situação da borboleta em Portugal é Ernestino Maravalhas, que identificou a população deste lameiro em Agosto de 1999. O especialista em lepidópteros trabalha no Porto em seguros, mas percorre o país a estudar a natureza. Estuda e sonha com borboletas, libélulas e outras criaturas. O espírito com que se entrega às coisas é o mesmo com que chega ao pé de nós a pedir desculpas pelo atraso - enérgico e entusiasta.

De batatal a lameiro

"A primeira vez que vi a Maculinea alcon foi em Agosto de 1983, em Boticas [perto de Chaves]", diz o especialista. Depois, só voltou a encontrar a espécie no Alvão, 16 anos mais tarde. Durante muito tempo, Maravalhas foi à caça das várias populações de Gentiana pneumonanthe que existem no Norte e no Centro de Portugal, procurando mais borboletas desta espécie.

Aqui, as populações estão saudáveis porque há pouca intervenção e o sistema de lameiro com o pastoreio feito pelas vacas continua, o que é importante para manter controladas as plantas que competem com a genciana. "As vacas são importantes para assegurar o sistema", explica Paula Seixas Arnaldo. Só durante os meses em que a borboleta está activa é que é preferível não haver visitas dos bovinos.

Mesmo assim, nada está assegurado, como é um caso de um lameiro fora do Parque Natural do Alvão, que de um momento para o outro, passou a ser um batatal. "Foi há três anos, era um dos locais que pensávamos que não estivessem ameaçados. Quando chegámos lá parecia que não estávamos no mesmo sítio", explica Maravalhas. "Passaram o bulldozer por cima. Tinha umas belas batatas. Como se não existissem mais locais para plantar batatas..."

É por isso que o especialista acredita que a forma de assegurar a manutenção deste lameiro é a aquisição do terreno, que se manteria com o pastoreio tradicional.

Desde a primeira contagem das borboletas, em 2002, o efectivo cresceu de 500 para seis mil, um número pequeno comparado com a borboleta-da-couve, uma das mais comuns, que atinge dezenas de milhões de indivíduos. Paula Seixas Arnaldo defende que o pastoreio, as queimadas feitas no final do Outono e a visita anual de um grupo de ingleses de uma associação ambientalista, que limpa este terreno em regime de voluntariado, têm mantido a turfeira saudável e feito aumentar o número de borboletas, que não voam mais do que cerca de 150 metros e, por isso, têm uma capacidade de dispersão pequena.

Há um projecto inserido no plano de biodiversidade da Câmara de Vila Real para transformar o lameiro num observatório de borboletas e construir um centro científico em Lamas de Olo com informação sobre este sistema. "É só um quilómetro quadrado que nós gostávamos de proteger, um grão de areia em relação à área de Portugal", diz Maravalhas.

De repente, Paula Seixas Arnaldo, que se tinha afastado para enfiar a estaca na terra e tentar a sorte mais uma vez, chama-nos: "Mirmicas!" Corremos para lá, algumas formigas denunciam que um ninho está perto. A investigadora retira mais um pedaço de terra e zás. Muitas formigas, movimento, ovinhos brancos. Pelo meio, outras estruturas diferentes, em menor número, com lagartas rosa-escuro. "Lagartas de Maculinea!" Um espanto. Pequeninas. Vão crescer mais alguns milímetros até Julho.

Por agora é cedo. As formigas estão preocupadas com a "suas larvas". Agarram as lagartas e começam a carregá-las para dentro da terra. Para os meses silenciosos do Alvão, de descanso e crescimento.

Powerpoint sobre Proteção e Conservação da Natureza

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quarta-feira, 22 de março de 2017

Notícia - Cafeína poderá prevenir cancro de pele causado pelo Sol

Um dos mecanismos que faz com que a cafeína previna o cancro foi comprovado em ratinhos submetidos a raios ultra-violeta que demoraram mais tempo a desenvolver cancro da pele. O estudo foi publicado nesta segunda-feira na revista Proceedings of the National Academy of Sciences (PNAS).

Há muitos estudos que sugerem que beber café pode prevenir certos tipos de cancro. Esses resultados, muitas vezes dependem de mais de seis cafés por dia.

Sabe-se que um dos outros efeitos da molécula que faz do café uma bebida estimulante, é a inibição de uma proteína chamada ATR que controla o ciclo celular. A ATR pára a divisão celular quando encontra danos no ADN de uma célula. Se esta enzima for inibida, uma célula com danos no ADN continua a dividir-se e no final acabará por morrer. Desta forma não há oportunidade da célula se tornar cancerosa.

Uma equipa de cientistas dos Estados Unidos, testaram esta teoria no caso do cancro da pele originado pela exposição aos raios ultra-violeta (UV) que se apanham, por exemplo, durante a exposição ao Sol.

Em vez de utilizarem a cafeína, alteraram directamente o funcionamento da ATR, utilizando ratinhos transgénicos, para que a função da proteína nas células da pele ficasse comprometida.

Depois, submeteram uma população de ratinhos normal e outra transgénica a raios UV durante 40 semanas. O aparecimento de tumores aconteceu três semanas mais tarde nos ratinhos transgénicos do que na população normal. E depois de 19 semanas do início da experiência, havia menos 69 por cento de tumores em ratinhos com a ATR comprometida.

“Tudo isto sugere a possibilidade de que a cafeína terá um efeito inibitório no cancro de pele induzido pelo sol”, disse citado pelo Guardian Allan Conney, um dos investigadores do estudo, da Universidade Rutgers, New Jersey. Apesar do efeito protector, na experiência todos os ratinhos acabaram por desenvolver cancro da pele devido ao período de tempo prolongado que foram submetidos aos raios UV.

Os cientistas querem agora perceber se a aplicação de cafeína na pele poderá ter efeitos semelhantes.

terça-feira, 21 de março de 2017

Notícia - Bióloga descobre espécie de insecto com milhões de anos em gruta algarvia

Existe há milhões de anos numa gruta algarvia mas só agora foi encontrado por uma bióloga portuguesa. O Litocampa mendesi, animal com três milímetros e sem olhos ou asas, será mais primitivo do que os insectos que hoje conhecemos. Mas as novidades do frágil mundo vivo cavernícola só agora estão a começar.

Sofia Reboleira, do Departamento de Biologia da Universidade de Aveiro, tem estado atarefada a estudar as amostras que trouxe para a superfície, fruto de doze meses de trabalho de campo em 2009, a dezenas de metros de profundidade nas grutas portuguesas.

A 22 de Dezembro, a revista "Zootaxa" publicava a descoberta do Litocampa mendesi. “Procurámos a fauna das grutas através da observação do interior das cavidades e com a ajuda de armadilhas de queda colocadas no chão”, explicou hoje ao PÚBLICO a bolseira da Fundação para a Ciência e Tecnologia (FCT). Nas armadilhas foram colocados iscos odoríferos para atrair os insectos. “Este tipo de armadilhas também ajuda a medir a actividade dos animais, porque os que mais andam são os que mais caem” nas armadilhas.

Mas este é um trabalho exigente. “São animais muito raros que apenas vivem em zonas difíceis de estudar”, disse Sofia Reboleira, também espeleóloga. Investigar a espécie em laboratório está fora de questão. “É impossível manter estes insectos em cativeiro. É muito difícil. Eu nunca vi [o Litocampa mendesi] vivo”, referiu.

A investigadora, que estuda a fauna cavernícola do país, está em condições para dizer que este insecto desenvolveu, ao longo de milhões de anos, impressionantes estratégias de poupança energética para conseguir sobreviver na escuridão das grutas, como a ausência de olhos e asas e a grande resistência ao jejum. Estima-se que este será um animal “mais primitivo do que os insectos” actuais.

A fragilidade das espécies cavernícolas

Sofia Reboleira estuda os animais que não vivem em mais nenhum local que não nas grutas, até aos 220 metros de profundidade, sob a orientação de Fernando Gonçalves (do Departamento de Biologia da Universidade de Aveiro) e Pedro Oromí (da Faculdade de Biologia da Universidade de La Laguna, em Tenerife, Espanha). Até agora anunciou cinco novas espécies. Em Maio foi anunciada a descoberta de duas novas espécies de escaravelhos nas grutas das serras de Aire e Candeeiros e no início de Dezembro outra espécie de escaravelho em Montejunto e um pseudoescorpião nos maciços calcários do Algarve. Agora foi a vez do Litocampa mendesi, numa gruta algarvia a 30 metros de profundidade.

A maioria dos invertebrados que constituem a fauna cavernícola são artrópodes, como as aranhas e insectos. Apesar de viverem em ambientes até agora pouco estudados, estas espécies merecem atenção. "As espécies cavernícolas não conseguem sobreviver em mais nenhum local, logo têm a sua distribuição geográfica muito reduzida. Qualquer perturbação pode pôr em causa a sua sobrevivência", sublinhou Sofia Reboleira. A investigadora lembrou, nomeadamente, a poluição por pesticidas e insecticidas que se podem infiltrar nas grutas e a perturbação ou mesmo destruição daqueles locais por actividades humanas.

Além disso, estas populações nunca são de grande dimensão. "Não tendo luz, as grutas onde vivem estes animais não têm plantas e as fontes de alimento são muito escassas. Por isso, as populações não podem ser muito grandes. Na verdade, estes são exemplares raríssimos".

Sofia Reboleira acredita que 2011 poderá trazer mais surpresas. “Ainda estamos a estudar a fauna encontrada no ano da amostragem, em 2009”, salientou.

Powerpoint sobre a Agenda 21 Local e a Educação Ambiental

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segunda-feira, 20 de março de 2017

Notícia - Safari na praia


Com a abertura da época balnear, todos os caminhos vão dar ao litoral. Todavia, uma ida à praia pode ter outros motivos de interesse para além dos banhos de mar e de sol. O biólogo Jorge Nunes convida-nos a descobrir a bicharada da zona entre marés e a passar um dia diferente.

A palavra "safari" remete-nos de imediato para as ambiências de África e para a observação dos grandes mamíferos que aí habitam. No entanto, o convite não é para viajar até lugares exóticos, mas para olhar de forma diferente a "sua" praia, aquela que julga conhecer como a palma da sua mão. A aventura não oferece a adrenalina de uma expedição na savana africana, mas será com toda a certeza uma forma interessante de combater o tédio das longas horas de praia e permitirá jornadas inesquecíveis de observação da vida selvagem.

Sem nos darmos conta, partilhamos as praias portuguesas com um sem-número de organismos curiosos. Mesmo durante a agitação das épocas balneares, quando os areais se enchem de veraneantes, muitos dos animais que aí habitam prosseguem as suas actividades diárias quase indiferentes à presença humana. Outros, mais espantadiços, tentam manter-se afastados dos olhares indiscretos, como acontece, por exemplo, com as aves marinhas que visitam os areais essencialmente ao amanhecer e ao entardecer.

As pequenas dimensões e os comportamentos recatados fazem que muitos desses seres vivos sejam ignorados pelas pessoas que coabitam com eles durante o Verão. No entanto, basta um pequeno passeio pela praia, um olhar atento e alguma perseverança para começar a descortiná-los. Caracterizam-se pela multiplicidade de cores e a diversidade de formas, que indiciam fisiologias invulgares e adaptações especiais que lhes permitem sobreviver na zona de fronteira entre o mar e a terra. Embora pareçam insignificantes, alguns organismos que habitam a zona das marés são criaturas singulares, pois vivem num ambiente extremamente hostil, que fica parte do dia submerso e outra parte emerso ao ritmo das marés. São verdadeiros sobreviventes que vivem fustigados pela força das ondas, pelas variações bruscas da salinidade e da temperatura e pelo risco eminente de desidratação.

Mesmo os leigos em ecologia marinha ficam espantados com a diversidade de organismos que é possível encontrar numa singela poça de água deixada a descoberto durante a baixa-mar. Apesar da sua aparente simplicidade, estes seres vivos, quais liliputianos, são um desafio à nossa curiosidade. O seu pequeno mundo imita na perfeição os grandes ecossistemas da Terra, sendo possível encontrar as relações entre os vários seres vivos e destes com o meio ambiente, tal como numa enorme floresta ou num extenso oceano.

Os adultos mais reticentes em renunciar à preguiça da toalha e do guarda-sol para partir à descoberta do outro lado da praia rapidamente serão contagiados pelo entusiasmo e deslumbramento das crianças, que rejubilam com cada novo bicho avistado e fotografado. Dado que a água do mar é altamente corrosiva para os equipamentos electrónicos, basta ter à mão um telemóvel com câmara fotográfica para fazer o registo fotográfico da bicharada. Ao fim de algum tempo, já é possível começar a compor um álbum fotográfico da fauna e flora da costa que lhe permitirá partilhar com os amigos as suas inauditas aventuras na praia.

A diversidade faunística que pode ser observada numa ida à praia justifica que se leve na mochila, junto com as revistas, os livros de bolso ou os jornais, um guia de campo que possa auxiliar na identificação dos seres vivos que venham a ser encontrados. As deslumbrantes fotografias de qualquer "Guia de Campo do Litoral" não deixarão ninguém indiferente e serão certamente um motivo acrescido para despertar a curiosidade de miúdos e graúdos pela vida à beira-mar, e servirão de mote para aventuras palpitantes pelos areais. Afinal, um passeio pela praia pode ser tão educativo como uma aula de ciências naturais.

O tipo de praia que se visita determina a variedade de organismos que poderão ser descobertos, dado que as praias rochosas e arenosas, devido às suas distintas características edafoclimáticas, revelam uma fauna e uma flora bastante distintas. Em geral, as praias rochosas, embora sejam varridas pelo perpétuo movimento das ondas e fustigadas pelas tempestuosas brisas marítimas, oferecem uma superfície dura que facilita a fixação de algas, plantas e animais, possibilitando uma biodiversidade elevada, que encontra refúgio seguro nas múltiplas saliências, fendas, fissuras e grutas oferecidas pelas rochas.

Já as praias de areia, como constituem substratos instáveis (sujeitos às permanentes alterações provocadas pelo movimento da água do mar e pela força do vento), acolhem uma flora e uma fauna aquáticas relativamente mais pobres: vermes poliquetas, pequenos crustáceos e alguns bivalves a que se juntam, esporadicamente, insectos, aves e mamíferos vindos da zona terrestre.

Embora a variedade de seres vivos aquáticos seja menor nas praias arenosas, não faltam motivos de interesse para o naturalista amador. São os locais ideais para procurar conchas trazidas pela ondulação e para investigar os tufos de algas (arrancados nos substratos rochosos e arrastados pelas correntes), que servem de abrigo a pequenos burriés, aos casa-alugada (minúsculos caranguejos que se refugiam no interior de pequenos búzios) e às curiosas pulgas-do-mar. Os despojos trazidos pelo mar (sejam de origem natural ou de proveniência humana) podem esconder ainda outras surpresas, como ovos e conchas de chocos, cápsulas dos ovos de pata-roxa (tubarão costeiro que vive essencialmente sobre fundos de areia) ou de raia, conchas de bivalves e caracóis, pinças e carapaças de crustáceos, ouriços-do-mar, peixes mortos e até, em situações particulares, cadáveres de tartarugas e mamíferos marinhos.

Em muitas praias arenosas, é comum encontrar afloramentos rochosos, quer salpicando os areais, quer constituindo arribas e falésias que delimitam as mantas de areia. Esses locais constituem habitualmente verdadeiras ilhas de diversidade fauno-florística, devendo ser os principais refúgios a explorar.

Quem chegar cedo à praia ou puder ficar por lá até ao entardecer tem boas hipóteses de observar ainda diversas aves aquáticas (gaivotas, pilritos, borrelhos, ostraceiros e garças) que aproveitam esses períodos de acalmia para de alimentarem à beira-mar. Nas praias que se localizam nas imediações de estuários ou zonas húmidas, como lagoas costeiras ou desembocaduras de pequenos rios ou ribeiros, a observação pode realizar-se ao longo de todo o dia.

As praias rochosas, nomeadamente as mais abrigadas, merecem destaque por ostentarem uma elevada diversidade de espécies, num espaço relativamente limitado. São bastante comuns os caranguejos, as estrelas, os ouriços, os camarões e vários moluscos (mexilhões, lapas, burriés, caramujos, etc.). Durante a baixa-mar, os moluscos refugiam-se nas suas conchas, que fecham hermeticamente (como os mexilhões) ou fazem aderir às rochas (como as lapas), retendo a água essencial ao funcionamento das suas brânquias. Quanto aos crustáceos, como os caranguejos e as sapateiras, protegem-se nas fendas húmidas das rochas, que partilham geralmente com pequenos polvos. Já os peixes, os camarões, as anémonas, as estrelas e os ouriços, devido à sua fragilidade e à grande dependência hídrica, escolhem as poças de água, onde mantêm a sua actividade habitual. Apesar das difíceis condições de vida nas praias rochosas, devido ao rebentamento constante das ondas, quase todas as rochas estão usualmente cobertas por uma miríade de organismos.

Tal como acontece com um prédio dividido em andares, onde vivem as diversas famílias, também o litoral rochoso se apresenta organizado em zonas ou andares. Existem assim conjuntos de organismos característicos que correspondem a determinadas condições ecológicas, sensivelmente constantes em função da distância ao nível do mar, e que permitem definir o espaço correspondente a cada zona. O litoral pode assim ser dividido em quatro andares diferentes: o supralitoral, o mediolitoral, o infralitoral e o circalitoral.

O andar supralitoral está apenas sujeito aos salpicos das ondas, sendo uma zona que raramente é coberta pela água, excepto nas marés vivas (mas sempre por pouco tempo). Esta zona é caracterizada pela existência de um pequeno caracol da espécie Melaraphe neritoides, que se encontra em grandes quantidades principalmente nas fissuras das rochas. Também é comum encontrar-se um líquen negro (Verrucaria maura) com aspecto de alcatrão derramado na rocha. Em substrato arenoso, o povoamento marinho característico resume-se à ocorrência das vulgares pulgas-do-mar (Talitrus saltator).

O mediolitoral corresponde à zona entre marés (também designada por "zona intertidal" ou "eulitoral"), sendo descoberta e coberta pelo mar duas vezes por dia. Aqui, a distribuição dos organismos faz-se em função do hidrodinamismo, ou seja, é influenciada pelo constante movimento da água e dos seus efeitos (intercalando períodos de imersão e de emersão). Trata-se de ecossistemas muito ricos, com uma fauna e flora extremamente diversificadas. São comuns os densos povoamentos de mexilhões, algas calcárias e castanhas (como a bodelha), lapas e crustáceos cirrípides (como cracas e balanos).

É nesta zona que abundam as poças de água que se formam com a descida da maré, geralmente forradas por algas calcárias e ouriços-do-mar. Dado que estão permanentemente repletas de água, constituem enclaves do infralitoral, pelo facto de as condições ambientais serem semelhantes às desse andar. As poças de maré, como também são conhecidas, constituem verdadeiros paraísos visuais, onde as algas, as lapas, os mexilhões, as anémonas, os ouriços, as estrelas, os camarões e vários pequenos peixes fazem as delícias dos mais curiosos.

O infralitoral vai desde o limite inferior da baixa-mar até cerca de 24 metros de profundidade (o que em Portugal corresponde grosso modo à máxima profundidade até onde podem encontrar-se as algas fotófilas, isto é, as que necessitam de luz), sendo por isso acessível somente aos mergulhadores. Trata-se de uma zona geralmente forrada por várias espécies de algas e com uma enorme diversidade de animais marinhos (peixes, anémonas, camarões, estrelas, polvos, esponjas, entre muitos outros) que só estão ao alcance dos olhos dos praticantes de mergulho em apneia (mergulho superficial com máscara aquática ou a pequena profundidade sustendo a respiração) ou com escafandro autónomo (pode saber mais sobre a modalidade em http//www.fpas.pt ou em http://www.cpas.pt). Vale a pena colocar a máscara, o tubo respirador e as barbatanas para espreitar esse admirável mundo novo.

Conhecer para proteger

Uma ida à praia poderá ser uma oportunidade sublime para sensibilizar os mais novos para a riqueza do património natural do litoral e para lhes mostrar ainda como preservar a natureza. Regras básicas de cidadania ambiental (não apanhar plantas ou animais, não colocar organismos aquáticos em baldes ou sacos de plástico para além do tempo necessário para a sua observação, não levar para casa os seres vivos, dado que morrerão rapidamente fora dos seus habitats naturais, não deitar lixo para o chão) serão comportamentos facilmente apreendidos pelas crianças e jovens, especialmente se o exemplo lhes for dado pelos adultos. É importante ensinar-lhes que na praia devem deixar apenas as suas pegadas e que no regresso a casa só precisam de levar as fotografias para mais tarde recordar.

Embora o litoral seja um mundo único e fascinante, onde habitam seres muito curiosos e complexos, também é um lugar cheio de problemas. A sua destruição tem geralmente causas humanas tão diversificadas como a poluição, a construção civil e a urbanização desregrada, a pesca profissional e desportiva, a extracção de areia, a destruição das dunas e o turismo massificado, entre outras.

Convém não esquecer que as praias estão sujeitas à acção destrutiva dos visitantes, umas vezes em resultado de comportamentos descuidados, outras como consequência da delapidação intencional dos recursos. A principal causa é a procura e apanha de organismos marinhos, como minhocas para isco dos pescadores, perceves, mexilhões, burriés, lapas, ouriços, navalheiras, polvos, etc. À actividade regular dos apanhadores profissionais e desportivos junta-se, durante a época balnear, a acção dos veraneantes e turistas, que muitas vezes recolhem organismos cujo tamanho é muito inferior às dimensões adequadas para apanha e consumo ou pura e simplesmente destroem-nos com o seu pisoteio imprevidente.

Algumas espécies que habitam a beira-mar são raras e podem necessitar de vários anos para atingir o estado adulto, razões que as tornam particularmente vulneráveis a uma recolha exagerada ou a uma destruição descuidada. Por estranho que pareça, muitos seres vivos são pura e simplesmente esmagados pelas pessoas. Os casos mais comuns são o pisoteio dos bancos de mexilhões e da barroeira (ou brueira, como é conhecida em várias regiões da costa portuguesa).

Os "recifes" de barroeira apresentam uma grande beleza devido às suas curiosas formas, que imitam colunas, barreiras e cogumelos. São frágeis estruturas arenosas edificadas por colónias de anelídeos poliquetas da espécie Sabellaria alveolata, que constroem pequenos casulos semelhantes a favos de mel onde se abrigam. As suas inúmeras fendas e galerias oferecem protecção para várias espécies animais, especialmente durante a fase larvar e juvenil, constituindo locais de maternidade e verdadeiros refúgios de biodiversidade marinha. O pisoteio dos veraneantes curiosos que se sentem atraídos pela sua beleza e a cobiça dos pescadores desportivos à cata de isco tornam estas delicadas construções alvos de destruição maciça, em especial durante o Verão.

A exploração do litoral deve fazer-se sempre tendo em conta a menor perturbação dos ecossistemas intertidais e dos organismos que aí habitam. O simples facto de virar as pedras e de não as colocar no mesmo local e na mesma posição poderá originar grandes desequilíbrios nos mundos em miniatura, como são, por exemplo, as poças de maré. Para observar, identificar ou fotografar os organismos não será sequer necessário removê-los do local onde vivem. No entanto, se tal se justificar, o manuseamento dos animais deve ser feito de forma rápida, evitando tocar-lhes com as mãos secas e mantendo-os durante pouco tempo fora de água ou expostos ao sol.

Em circunstância alguma se justifica colocar em risco a vida ou o bem-estar da bicharada. Por isso mesmo, deve evitar-se o uso de instrumentos cortantes e afiados (que são igualmente perigosos para as crianças!) e puxar ou arrancar animais que se agarram firmemente às rochas, como as anémonas e as estrelas-do-mar (infelizmente, muitas pessoas têm o péssimo hábito de secá-las ao sol e levá-las para casa como lembrança). Embora a palavra "safari" também seja sinónimo de "caçada de animais selvagens", não foi essa a intenção do seu uso neste texto. Afinal, nenhuma fotografia ou recordação que leve da praia será mais valiosa do que a vida dos maravilhosos organismos que aí, todos os dias, lutam pela sua sobrevivência.

J.N.

SUPER 148 - Agosto 2010

domingo, 19 de março de 2017

Notícia - Descobertas duas espécies de invertebrados no Algarve e em Montejunto

Duas novas espécies cavernícolas, um pseudoescorpião e um escaravelho, foram descobertas para a ciência em grutas do Algarve e do Montejunto pela bióloga e espeleóloga portuguesa Sofia Reboleira. O pseudoescorpiao foi encontrado em cavidades nas grutas algarvias.

O pseudoescorpião – apenas semelhante ao escorpião no exterior – Titanobochica magna representa a descoberta de uma nova espécie e de um novo género, explicou a investigadora. O escaravelho Trechus tatai é uma nova espécie, juntando-se às três espécies de escaravelhos cavernícolas já conhecidas em Portugal Continental, no maciço calcário das Serras de Aire e Candeeiros, todas endémicas. Duas delas foram oficialmente descobertas no ano passado, no âmbito do Mestrado da investigadora.

A descoberta do pseudoescorpião, depois de um ano de trabalho de campo, "foi uma enorme surpresa", contou Sofia Reboleira, do Departamento de Biologia da Universidade de Aveiro. "Quando vamos para o campo estamos à espera de encontrar alguma coisa nova, mas quando realmente a encontramos, é sempre uma grande surpresa".

A espécie, que só foi encontrada em quatro cavidades dos maciços calcários do Algarve - da zona de Portimão à de Olhão -, pode ser considerado um “gigante”, com os seus cerca de dois centímetros, dado que o tamanho destes animais oscila, normalmente, entre um e cinco milímetros. "Esta espécie não tem parentes à superfície, todos se extinguiram com as glaciações, alterações climáticas ou perturbações das placas tectónicas", explicou. "São verdadeiras relíquias" que só conseguiram sobreviver graças ao ambiente muito estável das grutas, nomeadamente às temperaturas constantes ao longo do ano.

Além do pseudoescorpião, Sofia Reboleira descobriu ainda uma nova espécie de escaravelho cavernícola, Trechus tatai, numa cavidade de Montejunto. “É despigmentado e tem os olhos muito reduzidos” descreveu.

Apesar de viverem em ambientes até agora pouco estudados, estas espécies merecem atenção. "As espécies cavernícolas não conseguem sobreviver em mais nenhum local, logo têm a sua distribuição geográfica muito reduzida. Qualquer perturbação pode pôr em causa a sua sobrevivência", sublinhou Sofia Reboleira. A investigadora lembrou, nomeadamente, a poluição por pesticidas e insecticidas que se podem infiltrar nas grutas e a perturbação ou mesmo destruição daqueles locais por actividades humanas.

Além disso, estas populações nunca são de grande dimensão. "Não tendo luz, as grutas onde vivem estes animais não têm plantas e as fontes de alimento são muito escassas. Por isso, as populações não podem ser muito grandes. Na verdade, estes são exemplares raríssimos".

Ainda assim, Sofia Reboleira acredita que a dimensão das populações destes insectos ainda não é conhecida na sua totalidade. "As grutas são apenas uma janela para observarmos a fauna, à qual temos acesso. Depois há uma rede de fissuras, por onde os animais passam, à qual não podemos chegar."

A descoberta das duas espécies, publicadas há duas semanas e na sexta-feira passada em revistas científicas especializadas em Zoologia, ocorreu durante o trabalho de campo no âmbito do doutoramento de Sofia Reboleira, orientado por Fernando Gonçalves (do departamento de biologia da Universidade de Aveiro) e Pedro Oromí (faculdade de biologia da Universidade de La Laguna, em Tenerife, Espanha).

O trabalho foi financiado pela Fundação Para a Ciência e Tecnologia da qual Sofia Reboleira é bolseira há dois anos e meio.

Powerpoint sobre Educação Ambiental - Conceito e Evolução

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sábado, 18 de março de 2017

Notícia - A descoberta rara de um elefante esquartejado na Grécia pré-histórica



Perto da cidade grega de Megapólis, escavações arqueológicas revelaram que os humanos comiam elefantes há 300.000 a 600.000 anos. Os resultados deste trabalho, de uma equipa do Ministério da Cultura da Grécia e da Universidade de Tübingen, na Alemanha, dão conta da descoberta de variados instrumentos de pedra usados pelos humanos daquela altura, juntamente com o esqueleto fossilizado de um elefante com sinais de esquartejamento.

Há 300.000 a 600.000 anos, o clima, a vegetação e a flora eram muito diferentes de hoje, permitindo inclusivamente a existência de elefantes na Europa. “No entanto, até agora os vestígios encontrados de elefantes desta época não estavam associados a actividades humanas”, conta  Eleni Panagopoulou, arqueóloga do Ministério da Cultura grego e coordenadora do estudo, publicado este ano na revista científica Antiquity. “Esta é a primeira descoberta de vestígios de corte e processamento de carne de elefante com artefactos de pedra nos Balcãs, e uma das poucas com esta idade em toda a Europa”, sublinha a investigadora.

Durante as escavações foram descobertos objectos de pedra talhada – feitos de radiolarito, sílex, calcário e quartzo – e ossos fossilizados de vários animais (bovídeos, cervídeos, roedores, aves, repteis, anfíbios, moluscos ou insectos), datados também com 300.000 a 600.000 anos. A descoberta mais surpreendente da escavação foram ossos dispersos e com sinais de corte, que correspondiam ao esqueleto completo de um elefante. Pertencia à espécie “Elephas antiquus”, que viveu na Europa, incluindo Portugal, e que se extinguiu há mais de 30 mil anos.

“As pessoas comiam elefantes. Eles eram muito valiosos para carne, gordura e até para fazer objectos em osso”, explica Eleni Panagopoulou. No entanto, não é claro como é que os elefantes eram obtidos para consumo humano. “A questão da caça de elefantes neste tempo está ainda em aberto. Ainda não sabemos se os elefantes seriam caçados, se seriam aproveitados elefantes encontrados mortos ou ambos.”

Tudo isto se passou muito antes do aparecimento do homem moderno, ou Homo sapiens sapiens, a nossa espécie. “Naquela altura, provavelmente naquela região vivia o Homo heidelbergensis”, explica a investigadora. Esta espécie de humanos foi identificada pela primeira vez em 1907 na região de Mauer, na Alemanha, e pensa-se que terá dado origem ao homem de Neandertal, extinto há cerca de 28.000 anos do seu último reduto na Europa, a Península Ibérica.

Designado Marathousa 1, o sítio arqueológico onde estava o esqueleto do elefante fica numa mina de carvão a céu aberto, tendo sido a própria exploração mineira a pôr à mostra os primeiros vestígios arqueológicos. Pensa-se que neste local existiu há milhares de anos um grande lago e um pântano com águas pouco profundas.

Marathousa 1 é o primeiro sítio de escavação na Grécia continental do Paleolítico Inferior (período iniciado há cerca de três milhões de anos, indo até há 250.000 anos). Apesar de a Grécia ter uma grande riqueza arqueológica, os estudos têm incidido fundamentalmente no período clássico e no final da pré-história, e são raras as investigações sobre a pré-história mais recuada. A equipa vai prosseguir a investigação no local. Os estudos nesta região são centrais para a compreensão da pré-história, refere um comunicado recente da Universidade de Tübingen, uma vez que se pensa que terá feito parte das rotas de migração dos primeiros humanos de África para a Europa e também um refúgio importante para as populações humanas, a fauna e a flora durante os períodos glaciares.

Texto editado por Teresa Firmino
Informação retirada daqui