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sábado, 11 de janeiro de 2025

Devolução à natureza de fauna autóctone

Devolução à natureza na Quinta da Moenda de exemplares da fauna autóctone recuperados pelo Centro de Ecologia, Recuperação e Vigilância de Animais Selvagens.

Programa Florestas

Defender a floresta autóctone é, desde a sua fundação, um dos principais objetivos da LPN.

A Quinta da Moenda, única propriedade da LPN a norte do Tejo, localiza-se em Vila Nova de Poiares, freguesia de Stª Maria-Arrifana. Foi doada em 2008 pela Drª Maria do Carmo Albuquerque, na esperança de criar um espaço dedicado à proteção e sensibilização para a natureza. Atualmente os seus cerca de 4 ha de floresta nativa ao longo da ribeira de Poiares (um afluente do Rio Mondego), contrastam vivamente com a paisagem circundante dominada por espécies exóticas.

O espaço em torno da Quinta da Moenda tem as características típicas dos espaços rurais desta zona do centro do país – pequena propriedade agrícola e florestal. Grande parte dos antigos espaços agrícolas está abandonada e encontra-se ocupada por espécies invasoras e silvados. Os espaços florestais foram quase exclusivamente ocupados por eucaliptais que são, frequentemente, pasto dos grandes incêndios que têm assolado esta zona do país. A Quinta da Moenda era um exemplo desta realidade – uma quinta agrícola abandonada, colonizada por acácias e silvados.

Nos anos noventa, mercê da dedicação do atualmente colaborador da LPN, Samuel Vieira, foi iniciado um trabalho de restauro com medidas de gestão simples que passaram sobretudo pela redução ou eliminação da vegetação arbustiva de modo a proteger a abundante regeneração natural de espécies arbóreas autóctones. O trabalho de proteção do arvoredo autóctone foi sendo complementado com a remoção dos ramos mais baixos, sempre tentando maximizar o crescimento em altura e o ensombramento e minimizar o desenvolvimento do mato.

Atualmente a Quinta da Moenda é um exemplo de boas práticas de restauro ecológico, apresentando-se como uma floresta modelo, dominada por carvalhos (Quercus spp.), bordos (Acer pseudoplatanus) e castanheiros (Castanea sativa). Esta ilha de biodiversidade, no meio de uma paisagem dominada pelo eucalipto, é o resultado de uma gestão ativa, trabalhando com a natureza e ajudando a sucessão ecológica no sentido de obter uma floresta mais diversa, mais estável, mais resistente à passagem do fogo e mais autossustentável.

Defender a floresta autóctone é, desde a sua fundação, um dos principais objetivos da LPN. No caso da Quinta da Moenda, este esforço tem sido reconhecido pelo número crescente de pedidos de esclarecimento ou ajuda por parte de entidades oficiais e particulares. De entre estas há a destacar o apoio inestimável do município de Vila Nova de Poiares que celebrou em 2019 um protocolo de colaboração com a LPN, com o objetivo de promover a floresta nativa no Concelho e de apoiar a manutenção e a divulgação da Quinta da Moenda.

https://www.lpn.pt/pt/conservacao-da-natureza/programa-florestas


 




 

Programa Castro Verde Sustentável - A conservação das aves estepárias do Campo Branco

O Programa Castro Verde Sustentável (PCVS), desenvolvido pela LPN desde 1993, teve início com o Projeto “Conservação da Avifauna Estepária de Castro Verde”, cofinanciado por um Programa LIFE-Natureza da União Europeia para a Conservação da Natureza (1993 a 1999).

O Programa Castro Verde Sustentável visa promover a conservação das aves estepárias da região do Campo Branco e do seu habitat. As pseudo-estepes ou estepes cerealíferas desta região são reconhecidas nacional e internacionalmente pela importância para várias espécies de aves como a Abetarda (Otis tarda), o Peneireiro-das-torres (Falco naumanni), o Grou (Grus grus), o Sisão (Tetrax tetrax), o Cortiçol-de-barriga-negra (Pterocles orientalis) e o Tartaranhão-caçador (Circus pygargus), entre outras. As duas primeiras são consideradas como espécies globalmente ameaçadas, estando incluídas no conjunto de aves consideradas de conservação prioritária pela União Europeia.

A LPN tem desenvolvido diversos projetos LIFE de conservação da natureza em Castro Verde, já premiados. Mas a conservação destas aves está dependente da manutenção do habitat e, como tal, a LPN tem também implementado diversos projetos que abordam problemas associados à preservação dos sistemas agrícolas arvenses de sequeiro, à conservação do solo e da água, ao melhoramento em tecnologias agrícolas, à valorização de resíduos, à educação e sensibilização ambiental e à sócio-economia rural.

Agricultura em sinergia com a conservação

A conservação das aves da região do Campo Branco, com cerca de 80.000 ha considerados importantes para as aves, é ditada pelas decisões individuais de várias centenas de agricultores e proprietários. Uma mudança do tipo de atividades agrícolas ou o abandono destas atividades seria o fim das possibilidades de sobrevivência da avifauna associada ao ecossistema estepário. 

Deste modo, e paralelamente às ações do Programa Castro Verde Sustentável, a LPN tem promovido ações de conservação global em toda a região do Campo Banco, colaborando com a Associação de Agricultores do Campo Branco para compreender as principais dificuldades encontradas na implementação do Plano Zonal de Castro Verde (atualmente designado como Intervenção Territorial Integrada de Castro Verde).

O Plano Zonal de Castro Verde é uma Medida Agroambiental, elaborado especificamente para a região do Campo Branco (abrangendo cerca de 60000 ha), cuja filosofia assenta no pagamento de um serviço de conservação da paisagem e da avifauna ameaçada aos agricultores que pratiquem uma agricultura compatível com a conservação do património natural. O Plano Zonal de Castro Verde teve início em 1995 e a adesão voluntária dos agricultores é contratualizada como o Ministério da Agricultura, do Mar, do Ambiente e do Ordenamento do Território Ambiente  por um período de 5 anos. Os compromissos, a que os agricultores ficam obrigados quando aderem a esta medida para assegurarem a conservação das aves, tem custos adicionais associados e alguma perda de rendimento. Entre os compromissos destaca-se a interdição de trabalhos agrícolas (lavouras e ceifas) durante a época de reprodução de aves e a sementeira de culturas de leguminosas para as aves.

No CEAVG a LPN acolhe inúmeros turistas de diversas nacionalidades, essencialmente estrangeiros interessados pela observação de aves. A LPN através de técnicos especializados fornece informações acerca das espécies, dos locais onde frequentemente são observáveis, as melhores alturas do ano e também do dia para as observar!

A LPN realiza as seguintes Atividades:

OBSERVAÇÃO DE AVES ESTEPÁRIAS:

Visitas guiadas, a pé ou em veículo todo-o-terreno, nas Reservas de Biodiversidade da LPN e por toda a ZPE de Castro Verde;

FOTOGRAFIA DE AVES ESTEPÁRIAS: 

Em abrigos colocados em pontos estratégicos para observação de aves nas Reservas de Biodiversidade da LPN. TEMPORARIAMENTE INDISPONÍVEIS.

Estas atividades podem ser complementadas com outras, de acordo com os interesses dos visitantes:

Visitas para conhecimento do património histórico-cultural da região;

Contacto com a gastronomia e artesanato, entre outras atividades.

https://www.lpn.pt/pt/conservacao-da-natureza/programa-castro-verde-sustentavel

Programa Lince - O lince-ibérico (Lynx pardinus)

O Programa Lince tem como principal objetivo assegurar a conservação e a gestão a longo prazo de áreas com habitat Mediterrânico adequado ao lince-ibérico (Lynx pardinus) em Portugal.

A Liga para a Protecção da Natureza, em parceria com a organização internacional Fauna & Flora International (FFI), lançou, em 2004, o Programa Lince, contando com a participação e o apoio técnico e científico de um grupo composto pelos principais especialistas nesta espécie em Portugal. O lince-ibérico é considerado um dos felinos mais ameaçados do mundo. Até 2015, devido à sua reduzida e fragmentada distribuição, fazia parte da Lista Vermelha da União Internacional para a Conservação da Natureza (UICN) como espécie Criticamente em Perigo de extinção. Hoje, a situação é um pouco mais favorável – o lince-ibérico encontra-se no caminho da recuperação, tendo reduzido o nível de ameaça à escala global para Vulnerável e à escala nacional para Em Perigo.

Durante o século XX a distribuição desta espécie sofreu um acentuado declínio que teve como consequência a redução e o desaparecimento de algumas das suas populações, ficando estas cada vez mais dispersas e afastadas. Este declínio deveu-se sobretudo a dois factores: a regressão da sua principal presa, o coelho-bravo, como resultado de doenças virais (mixomatose, febre hemorrágica), do abandono das práticas agrícolas tradicionais e de algumas práticas cinegéticas desadequadas; e a perda e deterioração do seu habitat, os matagais e bosques Mediterrânicos, nomeadamente devido à sua substituição por plantações de espécies florestais exóticas e/ou de crescimento rápido (ex. eucalipto, pinheiro-bravo), à construção de grandes infra-estruturas (ex. barragens, estradas) e aos recorrentes incêndios florestais. Outros fatores como a morte não natrual (ex. atropelamentos, furtivismo), doenças (ex. tuberculose bovina) e a perturbação nas áreas de reprodução continuam a representar sérios desafios à actual sobrevivência da espécie.

O lince-ibérico é uma espécie emblemática. Trata-se do único grande mamífero carnívoro endémico da Península Ibérica e o mais ameaçado da Europa. Só uma intervenção urgente poderia travar o seu processo de extinção e evitar o primeiro desaparecimento de um felino na Europa nos últimos 2000 anos.

A espécie, que em Portugal chegou a atingir um cenário de pré-extinção, em 2002 contava apenas com cerca de 100 indivíduos na natureza. Graças aos esforços de conservação em Espanha e, mais tarde, também em Portugal, a população de lince-ibérico começou a crescer e a recuperar parte da área de distribuição histórica. Mais de vinte anos passados, a espécie atingiu os 2.021 exemplares em liberdade, distribuídos por 14 núcleos populacionais de presença estável e reprodução confirmada, um dos quais em Portugal. O censo de 2023 indicou a presença de 291 linces em território nacional, distribuídos por um vasto território que se estende entre os concelhos de Serpa e de Tavira. Passo a passo, o lince-ibérico está a regressar aos seus territórios históricos na Península Ibérica.

Em 1979, o lince-ibérico foi alvo de uma campanha para reconhecimento da situação da espécie em Portugal – Campanha LPN/ICN "Salvemos o Lince e a Serra da Malcata".

A campanha conseguiu recolher mais de 46.500 assinaturas para proteger a serra. Estava aberto o caminho para que em 1981, reconhecendo-a como “um dos últimos refúgios naturais no território português, guardando no seu interior valores botânicos e faunísticos que a tornam num ecossistema privilegiado e especialmente importante (…) que urge proteger”, fosse criada a Reserva Natural Parcial da Serra da Malcata. À data, era ali que o núcleo mais notável de lince-ibérico se encontrava localizado.

Em 2010, a LPN e a Lisboa Editora produziram o vídeo "O Lince-ibérico". A distribuição da espécie e os números populacionais são hoje manifestamente maiores. Mas serve este vídeo para sensibilizar a população em geral e em particular a escolar para as particularidades do lince-ibérico, os riscos a que está sujeito e as medidas que têm vindo a ser realizadas para a sua recuperação.

https://www.lpn.pt/pt/conservacao-da-natureza/programa-lince